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"Aqueles que ficaram espantados com as afirmações recentes do Presidente Ahmadinejad do Irão são os mesmos que não percebem porque é que Israel continua armado até aos dentes, porque é que Israel insiste em manter um arsenal nuclear considerável. Os israelitas não gastam 10% do PIB em defesa porque gostam (mais do que qualquer outro país do mundo); não mandam os seus filhos e filhas para a tropa anos a fio por prazer e não violam resoluções das Nações Unidas porque é giro. Fazem tudo isto porque têm medo. Muito medo. E porque aprenderam que para todos os efeitos, em último recurso, só podem contar com eles próprios. Exemplo: Iraque, 1981, prestes a adquirir uma bomba nuclear; 16 F-16 israelitas destruiram a central de Osirak; a comunidade internacional suspirou de alívio mas criticou ferozmente Israel pela acção indubitalvelmente ilegal." [...] A ler: todo o post, no Boina Frígia. Mesmo a propósito do meu post em baixo, encontrei este artigo no SPIEGEL: From Pornography to Withdrawal 30.10.05
Nem tudo que é chamado voyeurismo é voyeurismo, mas escopofilia. Serve esta introdução intelectual - a explicação dos conceitos pode ler-se no Babugem - como pretexto para publicitar o site com a mais bela pornografia que vi até hoje. 29.10.05
Ai, Susana!
Sei que parece desvergonhada promoção do blogue duma amiga da vida não-virtual, o que vocês chamam um "frete", mas como posso deixar de referir posts como este: "[...] E que mantenho que os rapazes são mesmo os nossos melhores amigos, mesmo quando são infiéis, a nós, às outras, tanto faz; e que acho uma infâmia causar o mínimo tremor de medo, de dúvida, de insegurança, na difícil condição masculina." David Smith: Wagon II 28.10.05
...declaro aqui expressamente que não concordo com a opinião do presidente eleito do Irão, Mahmoud Ahmadinejad, que apelou para que Israel seja riscado do mapa. Digo-o como toda a clareza: Não quero que Israel seja riscado do mapa! Mais: considero essa declaração um criminoso apelo ao genocídio! Uff! Espero que chegue... Se não teria feito esta declaração, com certeza muitas pessoas como este senhor achariam que me identificasse mais com o presidente iraniano do que com o presidente americano. O que não é verdade. Levado a escolher, preferia sem hesitação ser governado por George W. Bush do que pelo Sr. Ahmadinejad. A sério! Talvez custa a acreditar, mas é mesmo verdade! Também na escolha do regime político, entre o dos Estados Unidos e o do Irão opto, pasme-se, pelo primeiro! Acho porém muito estúpido e - admito-o, eticamente questionável - assassinar umas dúzias de Iranianos em resposta às declarações do seu presidente. Acho ainda que quem propõe medidas destas como se fosse nada, está muito mais próximo em termos éticos e de estrutura mental ao presidente Ahmadinejad do que qualquer pessoa decente que se permite questionar certas medidas do governo americano, como p.ex. os campos de Guantánamo. (Oops, esta última frase ficou comprido demais. Quis dizer: ... do que qualquer pessoa decente.) Andreas Gursky: Bibliothek A biblioteca pintada é a famosa biblioteca municipal de Estocolmo, de Gunnar Asplund. (Clicar para ampliar a imagem.) A direita não tem candidato.
Sempre que acredito, acredito no Deus inútil! 27.10.05
A Rua da Judiaria celebra o seu segundo aniversário. Não lhe faltarão felicitaçãos dos seus muitos leitores e colegas bloguistas. Já eu e outros o disseram noutras ocasiões, a Rua da Judiaria é (concedida a grande diversidade de critérios em que se pode basear um juizo de valor destes) se não o melhor, um dos melhores blogues da blogosfera portuguesa. Seguramente é um dos poucos que merecem mesmo sobreviver a efemeridade deste meio. Não só porque é belo e bem-escrito. Também pela densidade e qualidade do seu conteudo, que se deve muito ao seu caracter monotemático, caracter que se revelou, contráriando o receio do Nuno, como vantagem em vez de handicap. Olhado a posteriori, este receio foi bastante ingénuo, tendo em vista qual é o tema. Dito isso permito-me umas considerações pessoais. Liga-me ao Nuno, para além de termos começado esta aventura blogosférica mais ou menos ao mesmo tempo, e de termos reparado num e noutro logo a seguir, algo de especial. Não que queira equiparar o meu modesto Quase em Portugues à Rua da Judiaria - e aqui não me refiro ao sucesso de audiências, mas à envergadura completamente diferente do projecto bloguístico, - o que não quero esconder é que me agrada olhar estes dois anos de bloguismo também como uma história duma relacão. Liga-nos, embora de forma naturalmente diferente e, por assim dizer, pelos lados opostos, que somos ambos perseguidos pelos mesmos fantasmas. Ele o judeu, eu o alemão. A memória da Shoah acompanhar-nos-á ambos para sempre. O projecto do Nuno inclui-se na longa tradição judáica do exercício da memória como forma de assegurar a identidade, contrariando a ameaça permanente pelas circunstâncias precárias exteriores da sua vida como povo. O proposito do Quase em Português não é algo semelhante. Mas também para mim a questão quem sou tem ganho uma importância acentuada pela experiência do meu "exílio"; sendo no meu caso uma escolha livre e individual, o que para os judeus, de certa forma, há milénios passou à essência da sua condição de vida. Não foi o Nuno que me levou a escrever, com uma reincidência que me surpreendeu a mim próprio, sobre o holocausto. Eu senti a necessidade de reflectir sobre a minha condição de herdeiro daqueles que cometeram/não impediram este crime inimaginável, e tomei consciência de que ele será para sempre o pano de fundo para qualquer encontro meu com qualquer outro cidadão do mundo. E muito mais com um judeu. Aí soube-me muito bem o eco do Nuno. Soube-me e sabe-me bem a experiência, em concreto, de me poder encontrar e relacionar com ele, sem contornar o assunto, sem azedume, sem, não digo totalmente, mas quase sem complexos, no terreno da simples decência e humanidade. O que, pode parecer que não, mas exige um esforço de ambos os lados, generosidade e boa vontade, que no Nuno encontrei. Por isso, a Rua da Judiaria foi e é mais para mim do que o excelente blogue de divulgação da história e cultura judia, que é. 26.10.05
A coligação cristã-democratica (CDU) e liberal (FDP) do estado mais populoso da Alemanha, a Renânia Norte-Vestfália, aprovou, ontem, um projecto de lei que proíbe o uso do véu islâmico nas escolas públicas.[...] Para o chefe de bancada do FDP, esta lei é "um sinal contra o fundamentalismo islâmico". (No PÚBLICO de hoje.) Playmate da semana: Bonjour tristesse (Martin Eder) 25.10.05
"Muitos pintam o que vende, um artista vende o que pinta." (Picasso) Tem razão o Rui AT quando distingue o liberalismo da esquerda e da direita, quando diz que ele não se situa nem num nem noutro lado, nem ao meio. O liberalismo como defendido no Blasfémias - que não é "o" liberalismo! – tem no entanto um aspecto muito importante em comum com a ideologia da direita: O realce do valor da propriedade privada. Embora que seja verdade que o conceito de propriedade defendido pelos conservadores é mais lato do que o dos liberais: ele inclui também estatutos e direitos adquiridos de tipo social e corporativo. Mas o liberalismo como defendido pelo Blasfémias – que não é "o" liberalismo! – tem também um aspecto importante em comum com ideologias da esquerda. Ele é, tal como o marxismo, uma teoria salvífica em que o desenvolvimento “natural” das coisas resolve todos os problemas que podem ser resolvidos. Se o marxista assume o seu papel num processo histórico natural e inevitável (dando “só” uma ajudinha), também o liberal acredita que o natural desenvolvimento da actividade humana conduziria automaticamente para o mundo melhor possível. Isto simplifica a ambos as considerações éticas perante a realidade insatisfatória em concreto. A solução para todos os males é a instalação da doutrina pura, logo não há comportamento mais ético do que promovê-la. Há um outro liberalismo, que não está convencido de que as leis naturais ou a lei da história conduzirão automaticamente à maior felicidade das pessoas. Cujo liberalismo se manifesta porém na crença no direito à liberdade para todo o homem/mulher. E que toma consciência do facto de que propriedade é liberdade, ou melhor, que a total ausência de propriedade resulta na também total ausência de liberdade. Que entende que daí decorre um direito ao estar protegido da total ausência de propriedade. Que, acreditando no princípio de que a liberdade dum encontra os seus límites na fronteira com a liberdade do outro, aceita que se assegure a liberdade mínima duns que têm nada a custa da propriedade doutros que têm muito. Que acredita que há interesses comuns que tem de ser defendidos por instituições criadas e fiscalizadas pela comunidade, em vez de por empresas privadas, só mas sempre que estas últimas se revelam insuficientemente capazes de fazê-lo (como no caso do ambiente, por exemplo), ou que a defesa dos interesses comuns por empresas privadas implicaria uma cedência de tanto poder que isto seria perigoso (como na segurança pública e na justiça). Este liberalismo é meu. 24.10.05
Ainda venho a tempo - depois de 713 dias que já ando aqui, restam 37 minutos - para cumprimentar e felicitar o Welcome to Elsinore pelo seu segundo aniversário. 23.10.05
Francis Picabia: Parade amoureuse 22.10.05
tudo ficou certo, tudo encaixou, sem falhas e sem sobras. Aí a neve! Lembras-te da neve, na luminosa floresta de Pasing? Como corríamos, até aos joelhos na neve! Como ríamos! Moviamo-nos com gestos simples e precisos e com significado. O pulso do mundo era o meu o teu. Pela primeira vez tinha algo a dizer. Pela primeira vez não me faltava a mensagem, só palavras, das que então ninguém precisava. ... Mais tarde gaguejei textos, escrevi poemas na luta contra a mudez. Críptico, falei da minha experiência, essa que não podia ter sido mais clara. A neve já não era a mesma. Nem eu nem tu. 21.10.05
And you think you're so clever and classless and free, but you're still fucking peasants as far as I can see... 20.10.05
Da obra deste homem, que é apreciada só por a uma minoria ínfima de pessoas, e daí não teria sido possível sem dinheiros públicos, declararam-se endividados entre outros: Paul McCartney, John Lennon, Frank Zappa, Pete Townshend, Jerry Garcia, Björk, Miles Davis, George Russell, Anthony Braxton e Charles Mingus. Que ganharam ou ganham bem, como se sabe. Nenhum deles paga royalties ao inspirador. "O Império do Amor" (Das Reich der Liebe) No Mundo de Claudia encontrei este mapa publicado originalmente por uma tipografia em Leipzig, em 1777. Faço, para quem não sabe alemão, um pequeno resumo: No País dos prazeres, encontra-se, entre outro, o Campo do cambaleio e a Demência; na Região das ideias fixas, o Riacho das lágrimas doces, e a Ponte da esperança; no País do amor em luto, que se situa à margem do Mar do desespero, grande parte é ocupado pelo Deserto da melancolia. Mas os lugares com os melhores nomes achei o Pántano dos sentimentos profundos, também aí, e no País do amor feliz o Monte do consentimento. (Para aumentar clicar a imagem) 19.10.05
Caro PMF, não fui eu que introduziu maniqueísmos no debate sobre o sentido ou não do apoio estatal a produção artística. Pode verificar isto através da leitura dos meus comentários ao post em questão. Digo o outra vez: O sucesso comercial duma obra de arte nem a desqualifica, nem a consagra, enquanto obra de arte. A arte e a produção cultural em geral, na qual incluo também a ciência pura, ou seja, aquela que não se destina a soluções de problemas para quais já se prevê procura, tem características que as distinguem de outros produtos ou serviços. O seu valor muitas vezes não é de hoje, mas um valor do futuro. É um investimento. Não me refiro, se falo de investimento, só ao mercado especulativo da arte, em que um Van Gogh que nem valeu pevido nos tempos da vida do seu criador, hoje vale milhões. Refiro-me, para além disso e antes de mais, ao valor do meme, que uma obra de arte ou de ciência pode constituir. Os girassois de Van Gogh, as ideias de Leonardo, as descobertas de Riemann ou até de Einstein tinham, quando foram feitas, um valor de mercado risível, se não zero, em contraste com o seu valor hoje universalmente reconhecido. Talvez seria mais fácil compreender isto se só falassemos da pesquisa científica. De que a nossa revolução informática e de comunicações, por exemplo, se fez baseada em investigações científicas que na sua altura não tinham nenhuma perspectiva realista de rentabilização: A teoria quântica. Felizmente houve universidades públicas, que permitiram a estes cientistas de fazer o seu trabalho inútil! Agora a minha convicção é de que as obras e descobertas artísticas contribuiram e contribuem tanto como as da ciência para a qualidade da nossa vida. E felizmente houve e há capitalistas inteligentes, seguramente não inimigos do mercado, que também o acharam e criaram fundações para assegurar condições de trabalho para aqueles que julgam potenciais criadores de memes valiosos. Que fizeram isto não pelo interesse no lucro, mas por interesse no futuro da comunidade humana e pelo motivo egoista e muito honroso de associar o seu nome a grandes proezas que o projectam para o futuro. Claro que este apoio às artes e às ciências é um investimento especulativo de alto risco, e que se paga uma descoberta válida com inúmeros investimentos falhados. Mas faz sentido investir. Também prefiro pagar menos impostos. Assim achava óptimo se o mecenato sozinho assegurasse a produção artística e a investigação científca. Em Portugal, não me parece ser isto o caso. E assim acho do interesse meu, e dos outros que vivem neste país, contribuir para preencher esta lacuna. Como investimento, para mim, para os outros, e para os nossos filhos. Playmate da semana: Monika (pedido emprestado daqui) 18.10.05
Quando novo, detestei os guardiões da linguagem, os polícias da gramática e ortografia. Não é que na minha infância - ao contrário de hoje! - tivesse tido muita dificuldade em fazer-lhes a vontade. Mas sempre suspeitei que o seu brio em levar outros ao cumprimento das regras, era a outra face duma extraordinária falta de imaginação. Em última instância, motivado pela inveja e mesquinhez. Enfim, considerações dum adolescente arrogante e desleixado, que no entanto nunca realmente revidi. Também há outros ângulos como se pode olhar para as Paula Bobones da ortografia. Aqui, em português. Compreendo que, do ponto de vista dum liberal como João Miranda, o apoio público à projectos e agentes culturais, escritores, artistas etc. irrita. Mas o que não compreendo, é porque a cultura liberal, aquela que não necessita de institutos, subsídios e patrocinios públicos, se não já impôs pela sua qualidade. Onde é que então fica a superioridade do mercado, caramba? Pensando melhor, ela já cá esta: Veja-se a TVI e a SIC. Mas então qual é o problema? Eu detesto andar angustiado, e sou, no que diz respeito a coisas da saúde, dum optimismo empedernido que sei que roça o irracional. Mas não posso fechar os olhos perante o que leio na Pura Economia (via Adufe): «A ideia de que podemos ter uma estirpe com uma taxa de mortalidade de 55% é um verdadeiro pesadelo. E o mundo não está preparado para isso. É preciso lembrarmo-nos de que de que a gripe de 1918 teve um taxa de mortalidade de menos de 5% e que, ainda assim, matou mais de 50 milhões de pessoas.» 17.10.05
Na coluna ao lado, em português, três posts do da literatura, o último mesmo imperdível, que descobri via Ma-Schamba. "Nunca necessitei de admirar intelectualmente uma mulher para me sentir reconciliado com a Criação." O homem tem coragem. Ou não tem amigas, namorada/mulher inteligentes. Eu tenho. Se dissesse algo como "não é a inteligência o que me atrai nas mulheres", não diria nada muito original e não completamente (énfase no "completamente"!) errado, mas talvez algo que as podia irritar ou ofender. E isto não queria, porque gosto do apreço das mulheres. E diz-me a minha experiência que sou daqueles que para consegui-lo, dependem da sua inteligência... P.S.: Um post que leva uma pessoa a clarificar algo sobre o que não tinha uma posição assumida, merece elogio e um agradecimento especial. Não obstante de ser bastante imbecil o nexo entre a questão da diferença dos sexos, esta justamente realçada, e a inteligência. Este post queria ter escrito eu! 16.10.05
Há tempos a Helena especulou que eu deveria ser um tipo baixo, gordo e com caspa, porque quem faz um blogue tão bom como o meu, certamente teria necessidade de compensar algo... Ontem cheguei a conhecê-la em pessoa. Agora posso dizer, se este seu raciocínio fosse correcto e reversível, o Dois Dedos de Conversa seria mau, mau, mau! Robert Rauschenberg: Allegory 14.10.05
Há dias, o Pontos de Vista noticiou, para o meu embaraço, que há uma campanha publicitária na Alemanha, que se destina a levantar a auto-estima dos meus compatriotas. (Pago em grande parte por empresas privadas!) Comentei que esperava que ela aqui passasse despercebida, mas não tive sorte. A Helena até dispôs-se a traduzir alguns dos seus slogans (aqui): "Uma borboleta pode provocar um ciclone. O movimento de ar provocado pelo bater das suas asas pode derrubar árvores a alguns quilómetros de distância. Do mesmo modo que uma aragem pode provocar uma tempestade, também a tua acção pode ter resultados. Irrealista, dizes tu? Porque é que incitas a tua equipa no estádio, se a tua voz é tão insignificante? Porque é que agitas bandeiras quando o Schumacher dá as suas voltas? Tu sabes a resposta: porque da tua bandeira se fazem muitas bandeiras, e da tua voz se faz um coro. Tu és uma parte de tudo, e tudo é uma parte de ti. Tu és a Alemanha. A tua vontade é estimulante. Faz com que o teu avançado preferido e o Schumi sejam mais rápidos. Não interessa onde trabalhas. Não interessa o teu posto. Tu aguentas a empresa. Tu és a empresa. Tu és a Alemanha. O nosso tempo não é fácil. Ninguém afirma isso. Pode ser que estejas perante uma porta fechada, ou encostado à parede. Mas nós já conseguimos derrubar um muro. Na Alemanha há mãos em número suficiente para se unirem e se deitarem à obra. Somos 82 milhões. Sujemos as mãos. Tu és a mão. Tu és 82 milhões. Tu és a Alemanha. Então: que tal se te começasses a incitar a ti próprio? Carrega no acelerador, e não apenas quando vais na auto-estrada. Tira o pé do travão. Não há limites de velocidade na via alemã. Não perguntes o que é que os outros podem fazer por ti. Tu és os outros. Tu és a Alemanha. Trata o teu país como um bom amigo. Não reclames sobre ele, ajuda-o. Dá o teu melhor rendimento. E uma vez chegado aí, supera-te a ti próprio. Abana as tuas asas e derruba árvores. Tu és a asa, tu és a árvore. Tu és a Alemanha." Isto é o texto do spot de 2 minutos na TV. Nos jornais há uma série de anúncios, do género: - tu és Johann Wolfgang von Goethe (convida as pessoas a tentar publicar os seus livros) - tu és Ludwig van Beethoven (convida o grupo de música a sair da cave e tentar fazer um disco) - etc. A Helena e o CA surpreende o meu embaraço. Porque é que tenho-o? No teatro contemporâneo, a tragédia cede cada vez mais a comédia. A comédia porém ganha cada vez mais envergadura e fica mais e mais triste e deprimida. (Gabriel Tarde, c.f. Peter Sloterdijk: Sphären III) 13.10.05
12.10.05
A ler: o excelente post da Helena! E os comentários. Acho, João, que isto tem razões culturais e históricas. Primeiro, os alemães não se conformam se as coisas não funcionam, e por isso levariam muito mal nomeadamente aos grandes partidos CDU e SPD, se estes não garantissem o funcinamento do governo. A República de Weimar fracassou entre outro por causa da instabilidade dos governos. Ao contrário do que era o caso então, hoje é um traço constituinte desta segunda república que tanto os partidos (excepto talvez a nova esquerda) como a população gostam do regime, e querem que ele funciona. A ideia de que existe uma obrigação de chegar ao acordo sob pena de que todos perdem está bastante enraizada, e não só na política. Ela também tem orientada os conflitos laborais. O "milagre económico alemão" construiu-se com uma baixissima incidência de greves, mas com sindicatos fortes. Tanto eles como o patronato sabiam que a greve prejudica ambos, se se concretizar, e que convinha a ambos chegar a um acordo antes. Claro que isto só foi possível porque não houve objectivos políticos de fundo nas greves, ninguem queria, lá está, pôr em causa o regime. (Na RFA, os comunistas tinham pouquissimo peso nos sindicatos.) É verdade que a Alemanha de hoje já não é a antiga RFA, e veremos o que sobrará desta cultura do consenso. Mas acredito que será muito. Playmates da semana: Bikini girls (Marlene Dumas) 11.10.05
"É uma menina!" 10.10.05
Que nem todos concordam com a micro-causa de Paulo Gorjão, é natural. Que a discordância tem um tom tão azedo, surpreendeu-me. A hilariante e ofensiva ideia do Crítico Musical de que o apoio à micro-causa do Bloguitica foi comprado pelo link oferecido desmente a simples leitura da lista dos blogues apoiantes. Mas mais sério e preocupante é a ideia apresentada, até pelo estimado Luís Novaes Tito do Tugir, de que nós, os subscreventes, nos tornámos vítimas ingénuas duma agenda clandestina do Paulo Gorjão. Não sei se o Paulo Gorjão tem motivos incofessados ou não, e devo dizer que não me interessa. Prefiro supor que cada um dos apoiantes desta causa formou a sua opinião por si e assume-a como a sua própria. No meu caso, entendo como ofensivo a insinuação do contrário. Pode ser que sou ingénuo, mas se sou, sê-lo conscientemente e intencionalmente. A mania de procurar atrás de qualquer empenhamento numa causa motivos diversos e sinistros, pode ser um vício que talvez se ganha inevitavelmente quando se anda na política, mas é um vício que desvaloriza as causas, um veneno que transforma a política em politiquisse, acabando a funcionar como self-fulfilling prophecy. 9.10.05
Fui votar na belissima escola do meu filho (EP 101, no Bairro das Estacas). "Já quase não vinha a tempo de dizer isto. O que me agrada muito nas recentes eleições alemãs e na questão da grande coligação é estar a vê-las a partir daqui e com isso ficar segura de que os outros ao meu lado também assistem à acomodação dos partidos sob a pressão do interesse nacional. Não me interessa nada se os que se acomodam são completamente sinceros (o que é isso?!); delicio-me com o simples facto de se submeterem publicamente a essa prioridade." Gostei. Mas com alguma reserva, pois receio trocar um erro, que é proibir-me por razões de delicadeza comparações desfavoráveis para Portugal com a minha pátria , por outro, este bem português: projectar o como deve ser no que se vê nos vizinhos "mais desenvolvidos", exemplos que não passam de visões nascidas do desejo. 8.10.05
"Não há vida certa no errado." É essa frase de Adorno de que me lembro quando oiço e vejo notícias como estas. O pior é que não tenho comentário para isto. Sinto-me hipócrito se focar a minha indignação na forma implacável e cruel como eles defendem a nossa fronteira europeia. Eles quem? Nós! Eu! Sei que é indefensável o que fazemos, e que não é o tratamento mais ou menos brutal que está aqui em questão. Criticar este é desconversar. Facto é que em cada caso individual, alguém comete, com o meu beneplácito, um crime de negação de ajuda vital. Não sou cristão, mas aqui não tenho dúvidas sobre a coisa certa a fazer. A que Cristo faria. Deixá-los entrar. Só que não sou capaz de fazê-la, penso nos meus filhos e já não quero fazer a coisa certa. Deveria arranjar uma racionalização, algo do tipo "não podemos deixá-los entrar, porque se o fizessemos, ficariamos em breve tão mal como na África, e acabaria por ser ajudado ninguém." O problema é que não acredito nisto. Lêem os posts da Ceu. O José escreveu no seu Guia dos Perplexos um post sobre o casamento gay, que recomendo muito. Não que concorde com tudo o que diz, mas ele acrescenta um ponto de vista importante e interessante à nossa conversa do outro dia. Chama atenção a uma aparente contradição entre a manifesta insistência dos movimentos gay no direito à diferênça e a reivindicação de que as suas formas de vida serem integrados nas instiutuições tradicionais da sociedade, neste caso, o casamento. Claro que esta “contradição” é em grande parte consequência duma generalização ilícita, tanto do “movimento” como da nossa parte, que estamos fora. O espectro das formas de vida praticadas e defendidas dentro do movimento gay é grande, desde do hardcore s/m, a promiscuidade extrema até às de vida monógama, pacata e de cariz famíliar. Para um promíscuo por convicção pouco pode interessar o direito ao casamento em si. Mas no âmbito do seu combate político e cultural interessa a todos. O que os une é a ambição de serem respeitados pela sociedade. O que é mais do que tolerados, como desviados, mesmo que aceites, da norma. Querem ser respeitados como normais. (O que não é a mesma coisa que maioritário.) É esse o “proselitismo” que o José refere. Não querem que todos transformemo-nos em gays, mas querem sim, que mudemos as nossas normas, os nossos valores. O casal de Sr. André e o Sr. Luís, os cabelereiros da rua, quer ser tão respeitável como o da D. Maria e o Sr. João da mercearia. Eu acho que tem todo o direito. ______________ Ao pedido da audiência, passo esta história hilariante, que o José nos ofereceu nos comentários, para o post: "Eu não tenho pedalada para um forum assim mas quero só recordar um caso recente de paneleirice militante. No zoo de Copenhaga há ou havia uma dúzia e picos de exemplares de pinguins (sim de pinguins!) duma determinada espécie em vias de extinção iminente. Acontece que os 8 exemplares masculinos eram todos homossexuais (1 ponto para os que acham que a homssexualidade não é contra-natura...) e assim sendo não havia meio de os pinguins e pinguinas procriare, a bem da preservação da espécie. Daí que os tratadores ou lá o que é, escolheram 3 ou 4 machos e isolaram-nos confinando-os à presença só de fêmeas. Não sei recorreram a meios complementares de estímulo para os rapazes, mas tentaram lá isso tentaram. Eis senão quando várias associações gays e LGBT´s dinamarquesa interpuseram providências cautelares contra o zoo acusando-o de estar a desrespeitar a livre opção dos pinguins pela sua própria sexualidade. da última vez que ouvi falar nisto (e perdi os links, infelizmente) a experiência tinha sido suspensa enquanto decorriam os trâmites judiciais. Ainda bem. Se calhar hoje já não há nenhuns pinguins em Copenhaga (e afinal, que importância tem uma merda dum pinguim?) mas o princípio do direito à diferença sexual saiu fortalecido. Agora que anda por aí um filme a fazer as delícias dos cristãos evangélicos sobre o comovente monogamismo hetero dos pinguins imperiais da Antártida, este assunto vem mesmo a propósito. E já se veem gajos vestidos de pinguins nas parades pride, e um barco duma organização chamada «Yellow peace» ou coisa parecida segue já em direcção ao pólo norte para acções de sensibilização. ;)" Etiquetas: sel 7.10.05
O Paulo Gorjão conseguiu, com persistência, mobilizar já um número considerável de blogues para exigir ao PÚBLICO que fundamente as suas "notícias" sobre as circunstâncias do regresso de Fátima Felgueiras. Adiro também ao grupo. Não estou menos indignado e desiludido. E o PÚBLICO merece esta campanha, exactamente porque é um dos poucos jornais que ainda tem credibilidade a perder. 6.10.05
O CA do Pontos de Vista (re-)lançou o debate sobre o aborto, referindo este post do Casa da Partilha. Vale a pena ler os comentários, nomeadamento o da Susana da Lida insana. Quanto a mim, expliquei-me aqui. Bruce Nauman: One hundred fish fountain The White Stripes: Cold Cold Night 5.10.05
Um bom blogue que já anda por aí mais tempo do que o Quase em Português, e que nunca linkei. Faço o agora por causa destes posts, mas com maior gosto por aquele! Hoje com um post do Timshel, em que se manifesta contra o casamento de homossexuais, porque este não tem como objectivo a procriação. Mas diz-me, Timshel, devo concluir daí, que te opões, por princípio, a casamentos em que este objectivo não pode ou não pretende ser alcançado, como de pessoas inférteis, idosos, deficientes, etc.? The Cripple (John Currin) - A Christina chegou a playmate! 4.10.05
... tão maus, que devemos impedir-lhes que façam arquitectura! Ontem foi o dia mundial da arquitectura. Não escrevi nada sobre a efemeridade, nem sobre o famingerado Dec.-Lei 73/73, que autoriza desenhadores e engenheiros de vária ordem de assinar projectos de arquitectura. Mas depois de ler o Complexidade e Contradição e o Mão invisível, dou aqui a minha achada: O Manuel Pinheiro da Mão Invisível argumenta: "O problema é simples: Há um conjunto de engenheiros, desenhadores, etc., que são capazes de produzir projectos com a legalidade e qualidade suficiente para serem aprovados pelos mesmíssimos arquitectos das autarquias e estruturas consultivas que subscrevem o manifesto da OA onde alegam o contrário dos seus pareceres: que apenas os arquitectos são capazes de produzir arquitectura." Digo com o Lourenço que isto é a mais pura verdade. Só que "a legalidade e qualidade suficiente para serem aprovados" não chega, não chega nem de longe para que haja arquitectura. Basta olhar a nossa volta para ver que não chega! Uma das mentalidades que mais me irritam em Portugal, exprime-se na frase: "Já chega para receber o dinheiro..." Não digo que a qualidade execrável, que a vasta maioria dos projectos urbanísiticos e arquitectónicos têm em Portugal, é só culpa do Dec.-Lei 73/73, é também culpa de arquitectos e provavelmente mais ainda devido aos autarcas - vale a pena dar uma vista de olhos! - e a quem os elege. Um bom ambiente urbano e arquitectónico não é um produto como qualquer um. Tão pouco como a saúde ou a justiça. Para produzi-lo é preciso cultura, ética e formação sólida. O que é o que falta. Um homem compra em Berlim um bilhete dos Caminhos de Ferro Trans-Siberianos, pega na sua máquina fotográfica e mete-se num avião para Vladivostok. Volta no comboio, atravessando o permafrost, estepes, serras, prados verdes e paisagens industriais. Não vê nada disto, pois mantém fechada a persiana da sua janela. O que documenta com a sua câmara, durante onze dias, são os seus pés no chão do compartimento. (O homem chama-se Jochen Gerz) 3.10.05
"A philosopher," said the theologian, "is like a blind man in a darkened room looking for a black cat that isn't there." "That's right," the philosopher replied, "and if he were a theologian, he'd find it." Encontrado no Mundo de Claudia. 2.10.05
Rosemarie Trockel: Sleeping Pill (Biennale Venezia, 1999) Por exemplo em viagens de carroça, ou depois duma boa refeição, num passeio ou a noite, quando não consigo dormir, aparecem-me as ideias como em corrente e da melhor forma. As que me então agradam, mantenho na cabeça e talvez também trauteio as para mim, assim pelo menos outros me disseram. Guardo isto, e em breve junta-se um ao outro, que se pode aproveitar um bocado, para fazer um pastel, de acordo com o contraponto, com o som dos diversos instrumentos etc. Isto aquece a minha alma, se não for interrompido; aí isto cresce e cresce, estendo-o cada vez mais vasto e claro, e a coisa fica quase completada na cabeça, mesmo se for comprida, de forma que depois o vejo na minha mente como se fosse um belo quadro ou uma pessoa bonita, e nem sequer oiço na minha mente uma coisa a seguir a oitra, como tem de sair depois, mas tudo junto ao mesmo tempo. Isto é um festim! Tudo, o encontrar e o fazer realiza-se em mim como num sonho belo e forte. Mas ouvi-lo tudo em conjunto, isto é o melhor. (Wolfgang Amadeus Mozart) 1.10.05
1. Finland 2. USA 3. Sweden 4. Denmark 5. Taiwan 6. Singapore 7. Iceland 8. Switzerland 9. Norway 10. Australia 11. Netherlands 12. Japan 13. United Kingdom 14. Canada 15. Germany 16. New Zealand Pois é, Pikkolo. Também soube deste ranking no Público, e calculava que os paladinos do liberalismo o comentariam vastamente. Curiosamente ou talvez nem por isso, não li nem uma linha, em nenhum lado. O ranking agradou-me não porque confirma as minhas teorias económicas - não as tenho, tão pouco como as tenho sobre o nuclear ou o aquecimento global -, mas porque me dá esperança que o modelo social europeu (e não só) está para ficar, e vai sobreviver a globalização. Defendo o estado social não por ser o economicamente mais viável, mas por ser o mais humano e o menos injusto, e estou convencido que muitos que o atacam fazem-no por razões da mesma ordem. Não porque defendem um modelo económico mais eficaz, mas simplesmente porque lhes desagrada a ideia da partilha. Mais forte do que o discurso económico, supostamente científico, surge, como se verifica facilmente na leitura dos blogues chamados liberais, que o que move os seus autores são valores, e antes de mais um: a propriedade. E é isto que me faz um homem da esquerda: Não gosto dele e não tenho respeito pela propriedade enquanto valor, pelo contrário, até desprezo a "virtude" que lhe corresponde: o egoismo. Tudo isto vem antes da razão, reconheço isto para mim mas também para o outro lado, as teorias económicas vêm depois, naõ antes desta convicção. Assim posso desprezar a propriedade como valor e o egoismo como qualidade humana, e mesmo assim reconhecê-lo como instinto natural, aceitá-lo enquanto tal e considerá-lo útil como móbil para a acção humana. Posso reconhecer que uma civilização não funciona sem o conceito da propriedade. Como valor, somente instrumental. Mas tenho para mim que, no fundo, nada do que é meu é meu. Incondicionalmente, nada. Excepto, talvez, a minha vida. |
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