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  • 3.7.09
    E então?

    Quando eu era menino, o meu pai tinha, como designer da indústria téxtil de Wuppertal, a tarefa algo questionável de conceber as fardas das forças armadas de diversas Repúblicas de Bananas, e contou-me o que observou: Quanto mais pindéricos e indignos os regimes, mais exuberante tinha de ser a simbologia do poder e da dignidade.

    Alguém que reclama, com énfase, a honra ou a dignidade, revela não estar muito seguro delas, e que parece acreditar que ela depende do reconheciento por terceiros. Triste e pobre conceito de honra, esse. De facto, confunde-a com prestígio. Enquanto prestígio depende de facto de terceiros, uma pessoa com uma noção séria de honra e dignidade sabe que esta depende, na sua forma mais pura, dela própria e de mais nada.

    Concedo que a dignidade de uma pessoa e de uma instituição não são a mesma coisa: a dignidade de uma instituição realmente não existe sem reconhecimento de fora. Mesmo assim, o empenho dos seus representantes na defesa dos seus símbolos denuncia também aqui a falta de confiança em que esta consiga assegurar o seu prestígio por razões melhores, por exemplo de as merecer pela sua qualidade, pela sua substância.

    Vem isto à propósito do caso Manuel Pinho. A expedita demissão do ministro, pelo seu gesto de cornos no parlamento, fez-me sentir outra vez, mesmo depois de dezasseis anos, estrangeiro em Portugal.
    Não que defenda que os ministros, mesmo no parlamento, abusassem de linguagem vernacular ou de gestos ofensivos, mas que um deslize como o em causa possa motivar a sua demissão, ainda por cima unanimamentemente tida por inevitável, afigura-se para mim uma grave e preocupante distorção da ordem dos valores e prioridades.

    Como um ministro exerce o seu cargo, tem impacto sobre a vida de milhões. A sua performance com vistas neste impacto, deve ser critério se se mantem em funções ou não. Não em que gesto faz num momento infeliz ou noutro, seja no parlamento ou otro lugar qualquer.
    1.7.09


    Pina Bausch 1940-2009

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