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  • 30.6.07

    Pois é, Henrique. Um eufemismo para uma coisa muito mais desprezível. Dos defeitos de quem aqui vive, tão mau ou pior como a sua irmã, a inveja. Mete me nojo.
    E a minha raiva, quando oiço este conselho, é tanto maior quanto sei que não estou tão imune ao seu poder persuasivo como a minha auto-estima me exige.
    28.6.07
    My 70s



    Thick as a brick (Jethro Tull)

    Naquela altura, conhecer uma nova pessoa de que se tinha ouvido falar, por amigos, num tom de respeito e admiração, era um acontecimento emocionante, uma eventual porta no caminho para aquilo que se procurava, um mundo novo, misterioso, assustador e promissor.
    Entrava-se pela primeira vez na casa da pessoa, assegurando cuidadosamente uma aparência cool, trocava-se cumprimentos, parcos em gestos e palavras, escolhidas com critério, e aceitava-se com naturalidade, que se destinava a mostrar rotina, o shillum, quando chegou a sua vez. Ouvia-se o disco que não se conhecia, outra porta para aquilo que estava ali, longe, sim, difuso e mal visível, impossível de denominar ou descrever, mas não menos ansiado por isso, e do qual o anfitrião, proprietário e conhecedor do disco, era uma espécie de sacerdote a quem se prestava um respeito inquestionado.

    Mais tarde, com a próxima mesada, fazia-se uma viagem de autocarro para a vila vizinha, e comprava-se o disco: "Thick as a brick". Um passo em direcção ao mistério, e um passo na ascensão ao sacerdócio.
    27.6.07

    Toda a gente a discutir o sexo anal...
    26.6.07
    Mas é a religião!

    Calhou que, entre tanta notícia merecedora de indignação, me irritaram especialmente as palavras de Lorde Ahmed. Sempre me repugnaram especialmente a hipocrisia e raciocínios perversos. Daí este post.

    Dizem-me que não se deve responsabilizar "os muçulmanos" pelo terrorismo fundamentalista. Nem pela fatwa de Chomeini contra Salman Rushdie. De acordo. Que não se deve estigmatizar uma religião inteira por causa dos crimes cometidos por alguns fanáticos. Está bem também.
    Mas não é natural perguntar como aquele raciocínio torto surgiu na cabeça do Lorde? Seguramente ninguém propõe que devo excluir certas respostas, a partida, só por serem inconvenientes ou politicamente incorrectas. Certo?
    Não vou excluir então, neste caso, a ideia para mim muito plausível de que o que permite ao Lord Ahmed responsabilizar aquele que os seus irmãos na fé quiseram mas não conseguiram matar pelas mortes dos que mataram em seu lugar, é a deformação do seu raciocínio pela sua religião.

    Depreendo de que Lord Ahmed é membro da Câmara de Lordes, que é um cidadão respeitado e respeitável do Reino Unido, um muçulmano "moderado", com quem esperamos encontrar uma base comum no combate ao fanatismo e ao terrorismo.
    Common ground. Pois...
    Não sabia que a minha chancelerina tinha mamas tão apetitosas!



    Confesso que a capa não me choca. Mau gosto? Estilo de tablóide? Que seja. Também é uma prova da liberdade de imprensa na Polónia. Não ignoremos que, se alguém fica mal na fotografia, não é a chanceler alemã, mas o Presidente e o Primeiro Ministro do país em que a revista é publicada.

    Claro que não me agrada se por detrás da capa se esconde um ressentimento anti-alemão. Não me agrada, não acho justo e não aprecio jornalismo que atiça ressentimentos, sejam elas, à luz da história, compreensíveis ou não. Mas o que dele transparece pela capa, não me choca. E sobre o que de resto consta no texto não sei dizer nada porque não leio polaco.
    Incomoda-me antes o argumento esgrimado pelos irmãos Kascinsky que a UE devia pagar em votos pelos mortos da ocupação nazi, sintoma de que não só o ressentimento como um espírito de vítima persiste na Polónia de hoje. Não é saudável. E não é bom para Europa.

    A capa, esta, não acho problema nenhum. E em termos de obra de marketing, até merece a minha admiração.

    P.S.:
    Para esta semana, considero já cumprida a minha obrigação de fornecer uma playmate.
    My 70s



    Whole Lotta Love (Led Zeppelin)
    25.6.07
    Religião e tolerância

    «Este homem não só causou violência em todo o mundo, também foram mortas muitas pessoas por sua causa. Perdoar e esquecer é uma coisa, mas homenagear um homem cujas mãos estão manchadas de sangue, isto é ir longe de mais.»

    Lord Ahmed, membro da Câmara de Lordes do Reino Unido, sobre Salman Rushdie.

    Realmente, um gajo tenta não criar preconceitos (anti-)religiosos, mas como não perguntar: Este Lorde é um idiota que por acaso é muçulmano, ou é idiota porque é muçulmano?
    24.6.07
    Hitchens vs. Hitchens

    Através do Estado Civil descobri este artigo de Peter Hitchens, em que critica o livro do seu irmão Christopher “Why God is not great”. Peter, conservador e crente da confissão anglicana, refuta as teses ateístas do irmão.

    É um prazer lê-lo, independentemente de se concorde com ele ou não, pela sua elegância. Embora se centrando na questão da bondade ou não da religião, ele abrange mais do que os dois argumentos que aqui quero comentar. Todavia, cinjo-me aos dois argumentos.

    O primeiro é o conhecido princípio antrópico, que consiste basicamente na ideia de que algo tão maravilhoso como o universo, com as suas leis, a sua complexidade e riqueza, inclusive seres conscientes que reflectem sobre a sua existência, não pode ser um mero acaso. Partilho com os defensores deste argumento os sentimentos de espanto e gratidão pelo facto de que algo existe, e não antes nada, mas nunca percebi como a suposição de um criador diminuisse a inquietação intelectual que o milagre da existência provoca. Não há só o conhecido contra-argumento da regressão ad infinitum, que aliás acho válido: Se aceitamos como fonte do universo Deus, então como explicamos a existência de Deus? Há outro: Admitamos que se introduza Deus como explicação do inexplicável que é a nossa existência. Do ponto de vista lógico, o ganho desta operação é zero, pois não se vislumbra qualquer dedução possível desta suposição que não já esteja implícita nos seus pressupostos. Ou seja: logicamente, não posso fazer qualquer afirmação sobre as Suas características, consequências ou propósitos. Sempre que o faço, e todos os crentes obviamente fazem, estas não têm nada a ver com o argumento antrópico. Daí, não excluindo categoricamente a possibilidade da existência de Deus, prescindo por razões de economia de raciocínio de supor a sua existência.

    O outro argumento que Peter Hitchens apresenta, é o da sua utilidade moral e, por seguinte, social. Compreende-se que o apresenta, em resposta directa à tese do livro de Christopher, que atribui às religiões um impacto muito negativo na humanidade. Não me vou aqui alongar sobre se um ou outro está certo na sua opinião da bondade social ou não das religiões. Quero antes lembrar o facto de que este argumento, o da utilidade ou necessidade moral, é inútil como prova de existência de Deus em qualquer argumentação que aceita como base a razão. A verdade duma suposição não é mais ou menos provada pelo facto de ela ser conveniente. Não tenho muitos conhecimentos da religião anglicana, mas pelo que conheço, este segundo argumento assenta como uma luva no seu espírito, até poderia dizer, com alguma maldade: já na sua genese histórica. Pois a religião anglicana existe porque foi (é) conveniente.
    Não posso defender uma crença pelos seus supostos efeitos sociais, sacrificando o valor da verdade.
    23.6.07

    Christopher-Street-Day em Berlim. Orador no comício do encerramento, hoje a noite, o Presidente da Câmara, Klaus Wowereit, acompanhado de namorado.
    Bloguistas

    Um dos grandes bloguistas da nossa praça assinala hoje o quarto aniversário do seu blogue: o blogo...existo. Ao João Pinto e Castro os meus parabéns e obrigado!

    Outro parece ter fechado a loja: a vida breve. Mas confesso que fico pouco preocupado. Eles voltam sempre.
    22.6.07

    Um céu baixo mas largo.
    (Jakob van Ruisdael)
    Mais livros

    Pede-me agora a Isabella recomendar mais livros. Não há remédio, hei de assumir a escassez das minhas leituras. Afinal, para além do emprego e da família, um gajo tem um blogue de escrever. Mas aqui vai:

    Li ultimamente e gostei
    Praia de Chesil, de Ian McEwan - um curto romance perfeito;
    All Souls Day de Cees Nooteboom - sobre um holandês em Berlim;
    Die letzte Welt de Christoph Ransmayr - um livro de que uma pessoa se lembra: Um amigo dos bons dias de Ovid em Roma, viaja para procurar o poeta e o manuscrito das suas metamorfoses no exílio, numa terra triste e esquecida na costa do Mar Negro. A lembrar Kafka, no seu desamparo, e na sua aparente simplicidade e beleza de linguagem.
    Li também A Herança do Vazio de Kiran Desai, que é um bom livro, mas não me entusiasmou para aí além. Uma boa critica aqui.
    Claro que a culpa é do Bush

    Quero aqui fazer o favor (também eu) aos que estão a espera que alguém atribui a guerra civil palestiniano ao presidente americano: Claro que a culpa é do Bush.
    O CMC explicou porquê, em sete linhas. Tão cristalino é o caso.
    21.6.07
    Separados a Nascença

    «Haverá uma imensidão de coisas a dizer sobre o processo que José Sócrates moveu contra António Balbino Caldeira. Por exemplo, que José Pacheco Pereira tem absoluta razão quando diz, no Abrupto, que há no primeiro-ministro, "uma indiferença face à honestidade e à verdade, uma política feita de trapalhices e trapacices, um vale tudo para manter o poder, ganhar uns pontinhos, esmagar um adversário, um autoritarismo com os fracos e subserviência para com os fortes, um parecer mais que ser".

    Este "autoritarismo com os fracos* e subserviência para com os fortes" prova-se, aliás, no facto de Sócrates ter processado Balbino Caldeira e não ter processado o próprio Pacheco, que considerou Sócrates a atreito a "trapacices" e "indiferente face à honestidade", coisa que nunca vi escrita no Portugal Profundo.

    Haverá, volto ao princípio, uma imensidão de coisas a dizer. Uma delas, para já, é que se prova, no fim de contas, que Sócrates e a srª drª DREN Margarida Moreira são personagens feitos da mesma massa: gente burra a quem alguém não deu chá em criancinha.»

    Totalmente de acordo com o JPH do Glória Fácil.

    * (corrigi uma gralha óbvia do JPH ao citar o Abrupto)
    My 70s



    Killer Queen (Queen)

    Um gesto de solidariedade com o pessoal da Womenage.
    20.6.07

    Porque é que nos encanta o terrivelmente triste?
    Confissão de fé dum revisionista empedernido

    «Essa conversa de quem destrói o regime são os fascistas (ou os estalinistas). Quem destrói o regime são os partidocratas - a senhora da DREN, que é o caso da moda, por mero acaso parece que antiga chefe de gabinete do Santos Silva. Vamo-nos deixar de merdas, o perigo para a democracia, para o regime, vem de dentro do regime. O PS é esta merda, o PSD não será muito menor, apesar de vestir melhor.

    Eu percebo a história de que os inimigos do regime são os fachos, skins, colonos, etc. Tem duas fontes, a desonestidade intelectual (vejam lá como somos belos democratas, dizem os do regime, dançando o can-can). E a imbecilidade».


    O comentário do JPT a este post, parece-me ser consequência duma leitura vesga do que escrevi, se não dum monumental malentendido.

    Então não me virei expressamente contra as pessoas e grupos que abusam do regime, de dentro, e que aliás enumerei - a título de exemplo, pois não duvido que são representativos para muitos outros?
    Defendi, sim, o "regime". Precisamente o regime vigente em Portugal, a democracia representativa. E insurgi-me contra o abuso da inocente palavra "regime", por pessoas como o João Gonçalves, que lhe conferem uma conotação depreciativa. Por duas razões: uma de princípio, linguística; e uma política. Quis primeiro salvar a honra desta palavra, que em si é, excepto para um anarquista radical, na pior das hipóteses, neutra. Mas antes de tudo quis contrariar que se transfere, sem mais, para as instituições o desprezo pelos seus agentes.
    Estas instituições são preciosas, e quem as critica, deveria fazê-lo, ou com o propósito de melhorá las, ou pelo menos assumindo o que quer em lugar delas. E já agora, com que meios quer realizar a sua substituição. Se não o faz, ou admite o caos, ou joga deliberadamente às escondidas.
    E sobre isto, não leio aqui nos blogues nada que me elucida, salvo algumas, na sua ingenuidade, imbecis invocações de homens fortes de ascendência húngara ou saudades do Dom Sebastião Salazar. Leio e oiço muitas invectivas, insultos, geralmente dirigidas ad hominem, cujos alvos as merecem ou não - o que em todo o caso não seria grave para aí além, se não se visasse igualmente, e talvez antes de mais, o "regime", que permitiu a esta "canalha" a legal chegada ao poder.

    (Não posso, nesta ocasião, deixar de manifestar o meu espanto pela violência da indignação com atitudes e práticas de hoje que não diferem em nada daquelas com as quais se mostraram muito mais complacentes quando o actual Presidente da República foi Primeiro Ministro. Enfim: coisas da tribo, se calhar.)

    O JPT diz que não são os fachos, os skins, os colonos etc. que destroem o regime. Ok. Pode ser que a experiência alemã me condicione a vista: aí foram mesmo as turbas – as da direita mas também as da esquerda – simultaneamente os agentes e o produto da derrocada do regime da primeira democracia alemã. É sabido: Esta derrocada deu-se, não através dum golpe de estado, mas como consequência do colapso da confiança no regime democrático. É sabido também que as instituições duma democracia não sobrevivem, ao contrário do que pode ser o caso noutros regimes, o colapso da confiança dos cidadãos nelas. É por isso, para um democrata, um imperativo defender também esta confiança.

    Admito que isto é um exercício de difícil e perigoso equilíbrio, em face dos óbvios defeitos do regime e dos seus abusos, que não devem ser varridos debaixo do tapete.
    É, já agora, também um exercício da melhor tradição conservadora, que alia uma visão sem ilusões do "que é" (a natureza humana) à continuada exigência do "dever ser".
    Não é fácil passar por este caminho com honestidade, mas para quem não acredita nas miragens de soluções radicais, seja através da vinda do homem providencial, seja através da felizmente igualmente ilusória reanimação do cadáver comunista, não tem outro a percorrer.

    Vika
    (Goncharov)
    19.6.07
    Parabéns ao Salman Rushdie

    - pelos os seus 60 anos;
    - por ter sobrevivido a Fatwa: fisicamente, como escritor e como cidadão interveniente;
    - pela sua grande obra;
    e pela inquebrada coragem, que o levou a aceitar o título de cavaleiro, apesar de isso o coloque de novo na mira dos assassinos.
    My 70s



    Camarillo Brillo (Frank Zappa)

    Teria preferido pôr Dirty Love, mas infelizmente não há no Youtube...
    18.6.07
    "Se tal for possível"

    "A social-democracia, é o compromisso social entre o trabalho e o capital numa base nacional. Ora, hoje, devido especialmente à Mundialização, a relação de forças entre o capital e o trabalho não está mais constrangida pelo contexto nacional. Devido à chegada ao mercado mundial de um bilião de novos participantes, centra-se no nível planetário o repensar e o restabelecimento de um compromisso - se tal for possível". Mas, advertem, "os princípios de diálogo, de concertação, de antecipação, de descentralização e de co-responsabilização permanecem sempre pertinentes, como desde os tempos áureos".

    (No 2+2=5)
    17.6.07
    O estado das coisas

    Teria votado em Sócrates, nas últimas legislativas. E assisti, em 2005 e em 2006, com esperança ao estado de graça do novo governo, à sua visível determinação em concretizar pelo menos parte das suas promessas. Não é que concordava com tudo que pretendiam fazer. Mas como crente na democracia representativa, onde se elege um programa em pacote, e não se pode escolher as políticas à la carte, preparei-me de engolir também os sapos que viessem ao prato.

    A minha esperança de que o governo leve a cabo algumas das reformas urgentes e imprescindíveis, com quais se comprometeu, já esmoreceu, embora ainda não morreu.
    Mas começa a ser-me insuportável a sua arrogância, o desrespeito pelos seus críticos e a descarada ostentação da sua impunidade. Impunidade que infelizmente existe, e que tem as suas origens: Na maioria absoluta, num Presidente da República que concorda tanto com o estilo como com a política do Primeiro Ministro, e na impotência da oposição, hoje tão total como em 2005.
    Tem mais uma causa, que infelizmente não é conjuntural como as anteriormente referidas: A ausência de uma sociedade civil independente e comprometida com os valores básicos do regime. Notem, não disse “comprometido com o regime” – destes não há falta: dos empresários aos sindicatos, das corporações aos intelectuais, abundam os comprometidos com o regime, só é que o são pelas razões erradas, pelo aproveitamento dos seus defeitos – disse: com os valores básicos do regime.

    Muitos não sabem o que são os valores básicos do regime, outros se estarão nas tintas para com eles, enquanto não sentem a sua falta directamente na própria pele. Outros ainda se queixam, mas então do próprio regime, que confundem com o seu status quo viciado.

    Infelizmente, a sociedade civil, em Portugal, não mete medo a governante nenhum. Ao contrário dos lobbies, que são - é preciso dizê-lo? - uma coisa muito diferente. Mas uma sociedade civil que defende, antes dos seus interesses particulares, o regime, ou seja, o bom funcionamento das instituições, a transparência, a responsabilização dos seus agentes e as liberdades cívicas, essa não existe.

    Por isso há instituições do ensino superior de credibilidade duvidosa e quem nelas consegue obter canudos de forma pouco ortodoxa; por isso pessoas como a directora da DREN continuam em funções, mesmo depois de entrevistas em que reafirmam toda a sua falta de cultura democrática; por isso continuam a ser movidos processos, de uma forma aparentemente arbitrária, contra pessoas que publicam informações incómodas para o governo, enquanto outros processos não avançam, por falta de meios.
    E também por isso consegue-se preparar a construção dum novo aeroporto bilionário durante anos, sem que existe um debate transparente e fundamentado sobre as suas vantagens e desvantagens, as suas características e sua localização.

    Mas certamente não é pela destruição do regime, que Portugal ganhe uma cultura de transparência, justiça, rigor e competitividade.
    16.6.07
    My 70s



    Cocaine (Eric Clapton)
    It goes without saying

    Uma brilhante apologia da essência do conservadorismo, aqui. (Só fala das relações de amor, mas a postura vale universalmente.)

    O "equilíbrio" uma vez alcançado é sagrado. Os que o sustentam devem continuar a sustentá-lo, eternamente.
    15.6.07
    La Grandeur
    Com Deus, há sempre uma solução
    14.6.07
    My 70's



    One more cup of coffee (Bob Dylan)
    Coitados dos especulantes

    Ontem, o Prof. Carlos Borrego explicou, no Jornal das 9 da SIC Notícias, em vinte minutos as vantagens do Aeroporto de Alcochete, de forma estruturada, clara e concisa, distinguindo o que já estudaram e o que ainda falta estudar.
    Porque é que nunca ouvi um discurso da mesma clareza em defesa da Ota, ou - já agora - do Rio Frio? Porque a opacidade da argumentação nestes casos, alegadamente inevitável pela complexidade técnica da questão, serviu antes demais para ocultar argumentos inconfessáveis?

    Enternecedor a candura com que Carlos Borrego respondeu às reclamações dos autarcas da zona da Ota, querendo acalmá-los com o argumento de que Alcochete estaria suficientemente próximo para que o benefício económico do novo aeroporto se manteria praticamente igual para estes concelhos. Então o Sr. Professor não sabe dos terrenos já comprados e vendidos, com base nas suas expectadas valorizações de acordo com o projecto actualmente favorizado? O que eles farão agora com tanto negócio dos últimos anos, feito na base nas planeadas alterações dos seus PDM, se a localização prevista se altera tão drasticamente?
    13.6.07

    Susanna e i vecchioni
    (Artemisia Gentileschi)
    Ainda o "vinhedo do amor"

    Tenho estado a reflectir sobre o meu embaraço com a aventura erótica da Igreja Evangélica Alemã.
    Este advém de algo mais do que da contradição óbvia entre a tradicional postura anti-sex da igreja e desta iniciativa. Advém também, acho eu, de algo mais do que da igualmente óbvia falta de jeito, tanto dos organizadores com o seu programa eroto-artístico, como dos participantes, para entregar-se a essa aventura. Tem no entanto a ver com as razões desta falta de jeito.
    É fácil rir-se dos participantes da missa, das suas posturas tensas e dos seus olhares confrangidos na fotografia. Mas não sei se eu, sentado naquele banco, teria feito figura melhor. Dez vezes mais fácil agarrar as mamas da modelo da feira erótica, do que assistir a esta bailarina sem embaraço, do que massajar a testa da/do meu/minha vizinha/o. - OK, admito: dependeria muito da vizinha. Ou vizinho. Mas, como diria o outro, não é essa a questão. A questão é que o Pastor Beuscher quer muito mais de mim do que a animadora na feira. Não só quer mexer no meu sexo, quer mexer na minha alma! Pior: quer mexer nos dois ao mesmo tempo! E aqui embate nas barreiras do meu pudor.
    Subjaz a este happening um pressuposto incontornável da igreja, que é a ligação entre sexo e o amor. É essa a fonte do embaraço: Erotismo, até sexo em público ainda vai, mas erotismo com amor em público, ainda por cima com estranhos, não é coisa fácil para qualquer um.
    Mesmo com a ajuda do Pastor.


    Adenda:
    A Helena lembra, e bem, que a Igreja Evangélica Alemã não é pioneira em tentar ligar experiências espirituais a experiências eróticas, ou melhor, em integrar as segundas nas primeiras, objectivo que - sem ironias - admito como nobre e válido. Referiu a comunidade do "Burning Man" que, pelo que entendi ao visitar o seu website, faz parte do movimento libertário-espiritual com origens na cultura hippie. Digo isto sem me querer comprometer com uma opinião sobre o Burning Man, que não conhecia. Conheço contudo razoavelmente bem esta fauna em geral.
    Não creio que uma vez a Igreja Evangélica fará concorrência ao "Burning Man". O movimento hippie faz (fez) esta aventura à sério, isto é, com open end, como comprovam as muitas derivas e os muitos fracassos que coleccionou. Enquanto os hippies dançam despidos no deserto de New Mexico, os evangélicos alemães dançam descalços (ou em peúgas) e de mãos dadas no "vinhedo do amor", ou seja em volta da macieira no quintal da paróquia do centro sul de Colónia. E, pelo descanso do Pastor Beuscher, se ficarão por aí.
    12.6.07
    My 70s



    The Musical Box (Genesis)
    10.6.07
    «Missa erótica festeja a sexualidade na Convenção Evangélica»

    Este fim de semana teve lugar, como todos os segundos anos, o "Kirchentag", a Convenção das Igrejas Evangélicas na Alemanha. Costuma realizar-se num ambiente de festa, colorido pelos muitos diversos grupos de leigos. (Se essa distinção faz sentido na igreja evangélica, onde os profissionais da religião, os padres e bispos, ao contrário do que acontece na religião católica, não tem nenhum estatuto especial conferido por Deus, só pelos outros crentes a quem servem.) Há quatro anos pude comprovar o ambiente bem-disposto, esperançado e descontraído, quando passei por acaso, naquele dia, pelas ruas de Berlim.
    Desta vez foi em Colónia. Passo a reproduzir um artigo do DER SPIEGEL a propósito da ocasião:

    «Missa erótica festeja a sexualidade na Convenção Evangélica:

    Sexo e Igreja pouco tem a ver um como outra. Népias, pensaram os organizadores da Covenção das Igrejas Evangélicas - e convidaram para uma missa erótica, sob o lema "no vinhedo do amor". Devido a sobrelotação a igreja teve de ser fechada.


    Colónia - Cerca mil pessoas esperaram a frente da Igreja dos Cartuxos no centro sul da cidade, mas só 400 encontravam lugar na casa de Deus – o resto teve que ficar a porta. Descalço ou em peúgas os crentes entravam na sala – “Bem vindo no vinhedo do amor” estava escrito na entrada.
    O sermão de pastor Armin Beuscher era então sobre sexualidade e eros. “Eros e prazer não são zonas proibidas, demarcadas por Deus” diz o pastor. Admitiu que “hoje em dia no serviço religioso só limitadamente se será capaz disso” mas incentivou então os visitantes de participar num ritual de unção e de massajar testa e mãos do vizinho ao seu lado. As pessoas deviam realizar: “Ambos, espiritualidade e erotismo, vivem do exercício.” Também fizeram parte do serviço religioso representações artísticas, uma bailarina atravessou, se espreguiçando, a sala da igreja.

    A convenção, uma festa de cinco dias dedicadas à fé, estava sob o lema “vivo e forte e mais agudo”. 110.000 participantes permanentes inscreveram-se, a eles somam-se mais algumas dezenas de milhares de participantes diários. Para além de muitos representantes de igrejas, os prémios Nobel Desmond Tutu e Muhammed Yunus, compareceram também o Presidente da República Horst Köhler e quase todo o governo, inclusive Chanceler Angela Merkel. Na missa erótica, todavia, ela não participou.»




    Uma fotografia do evento. Confesso que não consigo ver-la sem um certo embaraço, embaraço que por exemplo não sinto perante actuações hardcore numa feira erótica. Seria interessante explorar o porquê. Há aqui uma conjugação entre boa vontade, falta de jeito e piroseira, que me faz arrepios. Contudo, não me sinto justo perante os participantes, se cedo ao impulso que este embaraço me provoca: o riso.
    De qualquer modo, uma das qualidades que nunca deixam de me impressionar nos pastores evangélicos, é a sua ilimitada resistência ao embaraço, seja o que for que digam ou façam.
    9.6.07
    Cinco livros

    Agradeço o simpático convite da Sabine para recomendar cinco livros. Não sou de chain-letters, mas recomendar livros, como hei de recusar isso?
    Aqui vai:

    1.
    Aquilo que eu amava de Siri Hustvedt - Um livro a todos os títulos brilhante, menos no que respeita a capa que aposta, tanto na versão portuguesa como na original americana como nas alemãs que conheço, em vendê-lo ao grupo alvo da SIC Mulher. Não o merece. Não se deixem então afugentar por isso. Nem pela referência algo humilhante na contracapa que identifica a autora como mulher dum escritor famoso. Não me espantava se este escritor famoso, nos tempos futuros, seria referido como marido da Siri Hustvedt. Sobre quê é o livro? - Está no título. Eu sei, o título condiz com a capa. Mas está certo.
    2.
    Lempriere's Dictionary de Lawrence Norfolk - Infelizmente não traduzido para o português, ao contrário de outro livro do autor, o Um Rinoceronte para o Papa. Lempriere's dictionary é muito melhor, mais fresco e imaginativo do que o Rinoceronte. Um thriller, romance histórico, romance fantástico, história de amor... Um excelente exemplo da literatura anglo-saxónica em que escrever é, sem vergonha, assumido como uma craft.
    3.
    À procura de Sana de Richard Zimler - Ao contrário dos seus romances históricos, este não me custou nada a ler. Sempre um belo livre, mas agradou-me particularmente a visão desassombrada e nada sectária sobre o conflito entre israelitas e palestinianos.
    4.
    Esferas de Peter Sloterdijk - É pena que Sloterdijk não está traduzido para o português. Sloterdijk é o filósofo mais influente na Alemanha actual. Imaginativo, surpreendente, e uma delícia de ler.
    5.
    Ao Encontro de Espinosa de António Damásio - Não porque o autor é um português que tem sucesso no mundo, mas porque o livro é muito bom.
    8.6.07

    Haus Tugendhat
    (Foto: Thomas Ruff, Arquitectura: Mies van der Rohe)
    A ver

    Desenhos de Prisão, de Malangatana, no Ma Schamba.
    7.6.07
    My 70s



    Roll over lay down (Status Quo)
    Os críticos do «regime»
    6.6.07
    Olet

    JPT, não consigo deixar de achar que o facto da aparente impunidade e irreversibilidade da suspensão do professor de boca incauta pela directora DREN, e aquele dado que o Eduardo Pitta hoje referiu de passagem, que em Portugal «cerca de 80% das investigações têm origem em denúncias anónimas» estão relacionados.
    São os dois lados da mesma moeda. Que não é boa e que decerto cheira mal. Mas além de ser do PS, ela infelizmente parece ser a nacional.

    Lot e as suas filhas
    (Otto Dix)
    5.6.07
    Touradas contra o Declinio do Ocidente

    Dos debates sobre o assunto, achei especialmente interessantes os no Arrastão e na vida breve.
    Na vida breve o Luis reconhece, por um lado, a validade da exigência dum critério ético universal, mas acaba por defender, mesmo assim, as touradas, por motivos estéticos, como o Tiago Mendes bem identificou. Bem, mas é claro que “estético” aqui se entende de forma mais abrangente.
    Concordo com quase tudo que o Tiago escreve nos comentários na vida breve, e mesmo assim não só compreendo a posição do Luis como simpatizo com ela, porque partilho o pressentimento de que a abolição das touradas seria mais um passo na desvirilização (antes queria dizer “amaricazação”) da nossa sociedade. Temo como o Luis - mas é melhor falar em nome próprio - a galopante degeneração das nossas forças vitais. Sobre um dos seus indícios, o fundamentalismo securitário (feliz expressão do Eduardo Pitta), ainda escrevi recentemente. A defesa da barbarie, contra melhor saber ético, é um reflexo tardio - e saudável? - do demasiado civilizado que se agarra aos últimos traços atávicos da sua cultura, na esperança de resistir ao já quase inevitável: o definhar perante a próxima civilização bárbara, viçosa e livre de coisas decadentes como impulsos éticos universalistas.

    Também eu leio com nostalgia Joseph Conrad e Jack London e invejo-os por terem vivido num mundo que não exigia mais a um homem do que lutar bem, em primeiro e segundo lugar por si próprio, e em terceiro, se restava oportunidade e energia para isso, pelo lado certo, mas em que estava completamente isento da responsabilidade pelas regras vigentes, que eram injustas e violentas, mas vigoravam num mundo muito mais diverso, palpável e saboroso do que o de hoje.

    É pena que sou nenhum Conrad ou London, nem sequer um Hemingway, a quem essa postura já saiu pose, exactamente porque o que para os outros era destino, no seu caso já era uma escolha.
    Como cidadão privilegiado dum pais rico e seguro, membro da civilização que ainda dita os seus parâmetros ao mundo, não encontro nada que me dispensa da responsabilidade de defender uma ética intelectualmente coerente e universalista.
    4.6.07
    Cidade Proibida

    Também li entretanto "Cidade Proibida".
    Se não vivesse em Portugal o tempo suficiente para poder ter feito as minhas próprias observações, este livro ter-me-ia servido muito bem para compreender a sociedade de classes que ainda caracteriza este país. Na Alemanha também há cidades proibidas. A diferença é que fora delas o mundo é tão grande, o leque de oportunidades tão vasto, que alguém que não lhes pertence ou alguém diferente - aqui pouco importa distinguir entre identidade sexual ou social - pode viver e fazer quase tudo sem uma vez esbarrar nas suas portas.

    Apesar de 30 anos de democracia plural, a identidade de classe e o poder dos seus códigos ainda é forte em Portugal. Essa constatação não é exclusiva para a alta burguesia; isso é a razão porque me pude tão bem identificar com a personagem do Inglês que veio viver no país do namorado. Num ambiente muito diferente, no meu caso pequeno burguês e suburbano, fiz uma experiência de alienação semelhante. Apesar de recebido com genuíno carinho, simpatia e hospitalidade, também fiquei sempre um estranho.
    Se bem que entretanto cheguei a concluir que a condição de exilado não depende da geografia, mas é um preço a pagar pela independência, seja onde for.

    Gostei então do livro, apesar de me ter confrontado, logo no início, com uma lista extensa de personagens e das suas relações familiares e sociais. Mas não tive mais de recorrer à lista para a sua compreensão. Que ela existe, é porém significativo: Cidade Proibida é um romance social. Que o possa ser, em pouco mais de cento e trinta páginas, deve-se à sua linguagem lacónica e precisa. À nenhuma personagem é dada muito espaço para o seu desenvolvimento. E se há simpatia por elas da parte do autor, ela está bem escondida e refreada por um olhar tudo menos sentimental. Em compensação o livro é rico em esboços certeiros, que fornecem alimento à imaginação, e oportunidades para sorrisos cúmplices de reconhecimento.

    The Golden Age
    (Gottfried Helnwein)
    2.6.07

    @s três autor@s, tod@s um bocado obsecad@s com o sexo (porra, ainda hei de habituar-me à ortografia politicamente correcta!) e sempre bem-dispost@s na militância contra a estupidez, estão de parabéns. O seu blogue, um muito bom blogue, faz um ano. Tenho vindo a linka-lo com frequência, e não por acaso: é impressionante a riqueza de informação e de material interessante com que @s três nos presenteiam. Vejam só este exemplo de ontem.

    Relativamente ao exemplo, deixo ainda esta adivinha com resposta:
    Como se distingue uma sociedade avançada duma retrógrada? Na primeira é possível existir um cómico como o Jesper Oldenberg e passar com sucesso na televisão. A segunda limita-se ao Natal nos Hospitais.
    2. Junho

    Hoje há 40 anos, o comissário da polícia berlinense, Karl-Heinz Kurras, matou a tiro o estudante Benno Ohnesorg, numa manifestação contra a visita do Shah Reza Pahlevi. A morte de Benno Ohnesorg, um membro pacifista da Comunidade de Estudantes Evangélicos, foi um marco na escalada de violência entre opositores ao regime e as autoridades e serviu de justificação e incentivo a grupos radicais de esquerda para a luta armada, que culminou no terrorismo da Rote Armee Fraktion na Alemanha dos anos '70.
    1.6.07
    Contra as touradas

    Nunca vi uma tourada, senão na televisão. As que vi aí não me faziam impressão para aí além.
    Há todavia um assunto que me deixa perplexo, que é a proibição de matar o touro na arena. - Serão esses os famosos brandos costumes dos Portugueses? Devo presumir então que, depois da tourada, o animal exausto, debilitado e encharcado do próprio sange, é acolhido por uma equipa médica veterinária, que lhe administra analgesicos, lhe desinfecta e bandageia as feridas, e depois o envia de volta para a sua herdade, os seus pastos verdes e onde lhe espera uma ainda longa vida de procriação? Ou será que depois de reestabelecido a saúde e as forças, ele volta para outra tourada, outra luta desigual, mas desta vez com hipóteses um pouco melhoradas, porque mais experiente? - Honestamente, estrangeiro que sou, pergunto porque não sei.

    Mas admito que essa não é a questão central. Cresci numa cultura em que não há tradição de touradas ou coisa que se assemelha. Aí, o debate da protecção dos animais passa por outros exemplos: As condições de vida nos centros de criação de gado, a taxa de mortalidade dos suinos devido ao stress, as condições na industria de produção de frango onde se cunhou o termo sugestivo e bastante apropriado de "Hühner-KZ" (Campo de Concentração de frangos), e, naturalmente, o sofrimento dos animais que servem como cobaias para experiências medicinais, na indústria farmaceutica e na indústria cosmética.

    Não tinha, até há pouco tempo, dedicado muito pensamento a essa questão, e foi a recente debate sobre o aborto que me levou de clarificar as minhas ideias sobre o assunto. Apercebi-me que a protecção contra o sofrimento não deve depender duma classificação abstracta, em última instância sempre arbitrária, mas antes ser universal. A arbitrariedade das nossas classificações levou-me a fazer um post que dizia: «A superioridade categórica da raça branca espécie humana sobre as outras é evidente e não necessita de argumentos.»
    Como escrevi então, essa superioridade para mim não é nada evidente. Tem que ser demonstrada. E quanto ao sofrimento: Se há sujeito que possa sofrer, seja ele animal, humano ou máquina, ele merece a minha solidariedade e protecção contra a dor.
    Não decorre dai necessariamente veganismo, nem o fim de experiências medicinais, embora que aquelas para fins cosméticos já acho difíceis de justificar. A questão passa por uma ponderação dos valores em ambos os lados. Benefícos medicinais para pessoas, seres conscientes, por um lado, contra o sofrimento de animais de consciência limitada ou inexistente, por outro. Aqui se pode fazer uma escolha eticamente fundamentada.

    Já no caso das touradas tenho muita dificuldade de reconhecer à tradição e aos benefícios que as touradas trazem aos aficionados, valor suficiente para predominar contra o fim do sofrimento gratuito dos touros.

    Assim, sem grandes emoções, mais por um sentimento de dever de coerência intelectual, não posso deixar de apoiar esta campanha.
    PRINTEMPS

    Tendre, la jeune femme rousse,
    Que tant d'innocence émoustille,
    Dit à la blonde jeune fille
    Ces mots, tout bas, d'une voix douce:

    «Séve qui monte et fleur qui pousse,
    Ton enfance est une charmille;
    Laisse errer mes doigts dans la mousse
    Où le bouton de rose brille.

    Laisse-moi, parmi l'herbe claire,
    Boire les gouttes de rosée
    Dont la fleur tendre est arrosée;

    Afin que le plaisir, ma chère,
    Illumine ton front candide,
    Comme l'aube l'azur timide.»

    (Paul Verlaine: 6 sonnets - Amies)

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