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  • 24.2.07
    Ainda as bonecas

    Tenho estado a pensar sobre as bonecas. Se elas não seriam, sim, a solução.

    Um homem já não teria de preocupar-se com se ela está cansada, ou nervosa, ou irritada, se tem dores de cabeça, ou outra razão para falta de vontade. Não havia dias do período, não havia de pensar no preservativo, não havia necessidade de perguntar se hoje é perigoso, se tomou a pílula, e de acreditar na resposta.

    Não seria necessário pensar em aniversários, em dias de casamento, de São Valentim, de oferecer flores, ou perfume, ou roupas, e de temer que escolhemos mal, o que seria mais uma prova da nossa insensibilidade e falta de respeito. Não teriamos de dizer que está bonita, quando não está, dar-lhe razão quando não tem, simular interesse pela sua conversa quando não há, ou de consolá-la quando está triste e zangada por causa dum desentendimento com alguém que para ela significa o fim do mundo, mas cuja razão de ser nos é inalcançável. E antes de mais deixariamos de ter essa obrigação impossível de cumprir, que é de adivinhar os seus estados de alma e de reagir proactivamente com o nosso comportamento adequado.

    Não precisariamos de passar horas com ela a frente de montras, ou dentro de lojas, com a angústia sobre a despesa que aí vem como único atenuante do nosso tédio. Não teriamos de ouvir comentários ou sugestões sobre o nosso proprio vestimento, não de ouvir que somos iguais a todos os homens.

    Deixariamos as meias usadas debaixo da cama, até já não havia mais limpas para calçar, lavavamos a nossa loiça sem que isso servisse de pretexto para um sermão sobre a nossa falta de empenho na lida da casa, de que esta excepção só é prova reforçante. Faziamo-no nós, de acordo com os nossos critérios ou pagavamos alguém para que o fizesse, calado, sem olhares reprovadores, e pronto.

    Livravamo-nos acima de tudo do parádoxo digno de Catch 22, que é de ter de fazê-la sentir-se desejada, sem que se ache objecto do nosso desejo, porque a sua objectificação é, como se sabe, o maior de todos os crimes contra a mulher. Deixavamos de ficar a mercê da sua graça discricionária, de ocasional- e generosamente ignorar esse nosso pecado, sem o qual não pode haver sexo consentido, porque que mulher quer sexo sem se sentir desejada?

    Não é antes de admirar que o recurso às bonecas não é muito mais generalizado do que é? O preço de 5000 Euros é irrisório comparado com os ganhos. Na verdade, quanto mais penso nisso, mais misterioso me parece este facto. A não ser que me escapa algo. Deve haver algo nas mulheres de carne e osso que, mesmo assim, as deixa em vantagem em relação às bonecas. Não me ocorre de momento o que poderá ser, mas deve haver sim!


    (Margarida: Tu sabes que não estou a falar de ti...)

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