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  • 3.3.08
    Juízo

    Quando nos ensinaram moral e as regras da sociedade, de como nos devemos comportar enquanto cidadãos e qual a função das instituições, ninguém nos avisou do monumental falhanço que a implementação destes ensinamentos sofreu no passado. Deixaram-nos descobrir sozinhos, com maior ou menor alívio da própria consciência, que esse fracasso é antigo, omnipresente e universal. As pessoas não deviam ser egoísta mas são, não deviam mentir mas mentem, e aquele que tem sucesso tem-no porque não leva as regras demasiado à letra.
    Deixaram-nos descobrir também, por nossa própria conta e com ajuda da comunicação social, que a ordem da sociedade e as suas instituições, cuja importância nos exaltaram, estão longe de estarem perfeitas e que os seus agentes, os quais nos ensinaram olhar com respeito, são tão negligentes e incompetentes como nós mortais comuns. E assim percebemos que a justiça nem sempre é justiça e a liberdade não é bem a liberdade.

    Tudo isso é tão normal que nós, adultos, já mal reparamos nisso. Continuamos a afirmar os valores porque é importante afirmá-los. A parte disso, temos juízo e agimos de acordo com a realidade.

    Que não há valores que resistem se não agirmos como se fossem válidos, que de nada servem as instituições se não agirmos como se servissem para alguma coisa, que não há liberdade se não a exercemos, assumindo os riscos, os dissabores e os fracassos que isso poderá causar, disso lembramo-nos, quando muito, nos Domingos. Nos dias úteis temos juízo.

    Em Portugal, quer me parecer, temos mesmo muito juízo. Demais.

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