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  • 30.12.04
    Para não ficar sem palavras

    É verdade que também vejo televisão, oiço notícias de rádio. É verdade que conheço alguns dos lugares destruidos (Galle, Matara) das minhas viagens.
    Mas não tenho nada a dizer, que não fráses desadequadas e totalmente inconsequentes.

    Enoja-me o voyeurismo dos telejornais, o jargão da consternação e comiseração, que nem quero chamar desonesto ou hipócrito, dos reporters. Irrita-me a concentração dos media alemães nos dramas humanos dos turistas alemães. Mas ignorar os telejornais sabe-me a um gesto de indiferênça que também não me parece certo.
    O azarado

    Há uma história dum homem, que era perseguido pela má-sorte. Quer que seja o empreendimento que tentava, este estava condenado à partida. Nunca as coisas acabaram bem para ele. Não era que não tentava, mas não lhe era dado ver os acontecimentos tomar um rumo favorável para ele; sempre um imprevisto, um inesperado e inevitável azar acabava de lhe negar o sucesso. Ao longo dos anos, essa experiência moldou-o, e no fim, o insucesso deixou de ser uma coisa que lhe acontecia e passou a ser uma parte inerente da sua identidade. Ele era um azarado, o que era óbvio para todos, e para ele antes de todos os outros.

    Um dia, porém, ganhou o grande prémio da lotaria!
    Não podia acreditar. Por muito tempo atrasou o momento de levantar o prémio. No dia em que finalmete o fez, foi à pé ao banco e levantou o chéque. E no caminho para casa, perdeu a carteira.

    Era a solução melhor para ele: Antes perder a fortuna do que revogar a ideia que tinha de si próprio.
    ____________

    Esta história nao é minha. Li a há muitos anos num livro de Max Frisch. Tenho a certeza disso, embora que nunca mais a encontrei, apesar de repetidas tentativas.

    Playmate da semana: Odalisque (Ingres)
    27.12.04
    Agradecimento aos comentadores

    A mim, nao me agrada a ideia de fazer listas, dos melhores blogues, do melhor disto ou daquilo, ou de atribuir prémios etc.
    Prezo a minha subjectividade, e embora reconheco que a subjectividade nao é um impedimento ético para fazer listas ou atribuir prémios, sinto me mais confortável a nao fazê-lo. Naturalmente, também tenho as minhas preferências: quanto aos blogues, constam elas na coluna aqui ao lado. Tem que ser dito que nao sao os que acho os melhores, mas aqueles que gosto de ler regularmente. (E se nao há blogues entre eles que considero maus, é verdade que há blogues que considero excelentes, sim, que admiro, mas cujo link nao coloquei aí.)

    O que acho mesmo valer a pena é aproveitar este fim do ano para agradecer, muito sinceramente, aos leitores/comentadores do Quase em Português: sem eles este blogue nao seria o que é; quase de certeza, já nao existia.

    Pensei em fazer uma lista deles, mas depois hesitei, por medo de omitir um ou outro que nao merecia de ser esquecido. Pois os comentários apagam-se depois de umas semanas, e assim a minha miserável memória de nomes tende a penalizar os que contribuiram nos tempos um pouco mais remotos. Mas antes de dizer nome de nenhum, prefiro pedir desculpas aos que nao vêem o seu nome aqui e acham que o deviam ver, e pelo menos afirmar de que este blogue tem dívidas à Sara Monteiro, Susana, António P., Marcus Pimenta, Laura Rubin, Timshel, José, José Flávio Teixeira, Fernando Macedo, Carlos Cunha, Marco Oliveira, Miguel Silva, Rui Amaral, Rui MCB, Lourenco Cordeiro, Luís Miguel Rocha, Joao Pinto e Castro, Afonso Cruz, Joao Sousa, Teresa, Pedro, Manuel Resende, ...
    (em actualizacao)
    26.12.04
    Obrigado ao Nuno Guerreiro!
    21.12.04

    Playmate da semana: Menina (Pascin)

    A menina vem um pouco cedo, eu sei, mas amanhã vou para a minha terra de onde só voltarei no ano novo. Não sei se entretanto terei oportunidade - ou vontade - para blogar.
    Pelo seguro, desejo já um bom Natal e um bom Ano Novo!
    Outro plágio do Público!

    Desta vez ao Arqueoblogo.
    20.12.04

    Oskar Schlemmer: Bauhaustreppe
    19.12.04
    Memória

    Lembram-se do comissário Martin Beck, dos policiais de Sjöwall/Wahlöö, que a dada altura, aos quarenta-e-tantos anos, começou a apontar em papelinhos as tarefas do dia-a-dia, porque a memória lhe começou a falhar? - E as escondia, por se envergonhar deles? - E depois, quando as precisava, não as encontrava por isso?
    Gostos meus

    Não gosto da "Vanessa" (da crónica). Enfim, sou homem. Gosto da Ana Sá Lopes. Pela mesma razão. Gosto geralmente daquilo que ela escreve, de resto. Não gosto nada de ler uma crónica no Espaço Público e descobrir de que se trata dum anúncio publicitário.
    18.12.04
    O Público errou...

    Chama assim roubar uma história a um blogue. A ler no Substrato.
    Obrigado!

    Agradeço ao Portugalidades a honra de ter incluido o Quase em Portugues nos seus Top Ten deste ano!
    Apologia de edifícios faustosos, pagos pelo contribuinte

    "Os edifícios mais faustosos, monumentais, emblemáticos, de traça arquitectónica ímpar, foram construídos pelo Estado ou pela Igreja. Porque será???" pergunta o LR no Blasfémias. A resposta, certa, no meu entender, é dada pelo mesmo nos comentários ao seu post: "...porque estas foram desde sempre as únicas instituições às quais não se colocava o problema de escassez ou de custo dos recursos: sempre os obtiveram de forma duradoura e mais ou menos coerciva."

    No Complexidade e Contradição, o Lourenço responde duma forma que lhe deve custar muito crédito de que goza entre os bloguistas liberais. A sua resposta incide em dois planos: no artístico e no urbanistico. Limito-me neste post ao primeiro: A argumentação estritamente artística e cultural.

    Há uma diferença fundamental entre um edifício concebido estritamente em função do seu objectivo económico e um que tem também ou talvez prioritariamente o objectivo de representação. Entre, por exemplo, o Centro Comericial Colombo e o CCB. O Colombo não é arte, o CCB é. Pode-se discordar dos exemplos, reconhecendo valor artístico ou não a este ou aquele edifício, mas a questão fundamental não muda por isso: O Colombo não foi concebido par ser arte, mas para atrair pessoas e induzi-las a fazer compras; o CCB foi concebido, para além de facultar condições para o uso ao que se destina, para representar, no caso até é seguro dizer, para representar Portugal. E por isso é arte. Que como tal foi muito bem conseguido, como acho, mas isso não interessa para a distinção em questão.

    Costuma dizer-se que os Centros Comerciais são os Catedrais dos nossos tempos. Se isso fosse verdade, significava um declínio cultural profundamente desolador. Mas felizmente não é preciso acreditar nisto. Ainda se fazem grandes obras de arte na arquitectura. Não se fazem, é verdade, em condições económicas normais onde se optimiza a relação custo/proveito, sendo proveito a sua rentabilização económica. Uma obra de arte genuina necessita exactamente o contrário: de que a sua concepção e realização não seja refém da optimização económica. Prioritário tem de ser a optimização artística - se se consguir também uma optimização económica, excelente, se a optimização económica por acaso se integra no conceito artísitco pretendido, ainda melhor! Mas uma obra de arte caracteriza-se exactamente por isso: por transcender o plano da utilidade.

    No domínio privado toda a gente concordará com isso. Ninguém se veste ou decora a sua casa com o intuito de maximizar exclusivamente a relação funcionalidade/preço. Mas como é quando uma comunidade - igreja, estado - constroi equipamentos colectivos? Devem exprimir algo, que vá para além do seu uso? Para mim a resposta é claramente afirmativa: Uma comunidade que não se exprime, que não cria e representa uma ideia de si, uma ideia que transcende o puro utilitarismo da sua convivência, está condenada.
    __________________

    Se tiver tempo, irei explorar num próximo post o argumento urbanístico apresentado pelo Lourenço, que julgo tão válido como o artísitco.

    Etiquetas:


    faz um ano. Parabéns ao Daniel pelo seu blogue belo, inteligente e rigoroso!
    17.12.04

    Giotto: Noli me tangere!
    16.12.04
    Ser Sr. Doutor já não é o que era...

    Porque o acesso ao ensino superior foi privilégio duma minoria restrita, os títulos "Sr. Doutor", "Sr. Engenheiro", "Sr. Arquitecto" ainda representam um estatuto social para uma geração à qual este ainda ficou vedado, mas que agora vê os seus filhos consegui-lo.
    Enganado: Os filhos conseguem os títulos, mas não os privilégios nem o prestígio, que lhe pertencia. Tem lógica: Uma elite, tornando-se maioria, deixa de ser elite.

    Não tenho muito pena pela ambição social frustrada.
    Se agora concorressem os licenciados, sob o critério da competência em vez do da classe, o eventual sobreinvestimento na formação superior até economicamente se justificava. Mas não sei se isso já acontece aqui. Na Alemanha sim: Os médicos, por exemplo, já não ganham fortunas, em vez disto o doente tem escolha e é bem tratado por isso: como cliente.
    "Os Outros"

    Recomendo vivamente a leitura desta série de posts do Filipe Nunes Vicente, no Mar salgado!
    15.12.04
    Como exportar os nossos valores?

    1.
    Não exportar, porque cada cultura tem direito aos seus valores.

    2.
    Como recomenda Ann Coulter: "We should invade their countries, kill their leaders and convert them to Christianity." (On Muslim countries)*

    3.
    Como recomenda Bruno Sena Martins: "Assim, se queremos confrontar lógicas como a excisão do clitóris e a negação de direitos às mulheres devemos, acima de tudo, capacitar aqueles que naquele quadro cultural lutam contra esses estados de coisas, muitas vezes não abdicando dos valores religiosos e locais, mas usando-os ou tentando resignificá-los."
    _____________

    * Via João Miranda do Blasfémias.

    Playmates da semana: Two girls (Marc Riviere)
    O combate ao défice

    ... justifica todos os meios. Para o bem da nação, o estado vende os seus imóveis sem hasta pública.

    Só os hipócritos reagem a essa notícia com indignação. Os honestos, como eu, com inveja: O governo não me abordou com uma oferta de venda.
    14.12.04
    Erlkönig

    Wer reitet so spät durch Nacht und Wind?
    Es ist der Vater mit seinem Kind;
    Er hat den Knaben wohl in dem Arm,
    Er faßt ihn sicher, er hält ihn warm.

    Mein Sohn, was birgst du so bang dein Gesicht? -
    Siehst Vater, du den Erlkönig nicht?
    Den Erlenkönig mit Kron und Schweif? -
    Mein Sohn, es ist ein Nebelstreif. -

    »Du liebes Kind, komm, geh mit mir!
    Gar schöne Spiele spiel ich mit dir;
    Manch bunte Blumen sind an dem Strand,
    Meine Mutter hat manch gülden Gewand.«

    Mein Vater, mein Vater, und hörest du nicht,
    Was Erlenkönig mir leise verspricht? -
    Sei ruhig, bleibe ruhig, mein Kind;
    In dürren Blättern säuselt der Wind. -

    »Willst, feiner Knabe, du mit mir gehn?
    Meine Töchter sollen dich warten schön;
    Meine Töchter führen den nächtlichen Reihn
    Und wiegen und tanzen und singen dich ein.«

    Mein Vater, mein Vater, und siehst du nicht dort
    Erlkönigs Töchter am düstern Ort? -
    Mein Sohn, mein Sohn, ich seh es genau:
    Es scheinen die alten Weiden so grau. -

    »Ich liebe dich, mich reizt deine schöne Gestalt;
    Und bist du nicht willig, so brauch ich Gewalt.«
    Mein Vater, mein Vater, jetzt faßt er mich an!
    Erlkönig hat mir ein Leids getan! -

    Dem Vater grauset's, er reitet geschwind,
    Er hält in den Armen das ächzende Kind,
    Erreicht den Hof mit Mühe und Not;
    In seinen Armen das Kind war tot.

    (Johann Wolfgang von Goethe)
    ___________

    O Rei dos Alamos

    Quem cavalga tão tarde, ao vento e pela treva?
    O cavaleiro é um pai, p'lo filho acompanhado,
    Pai que, nos braços seus, o seu filhinho leva,
    Cingindo-o muito, afim de o ter agasalhado.

    - Porque escondes, meu filho, essa carinha, tanto?
    - Dos álamos o Rei, ó meu pai, não o vês?
    Não o vês tu, meu pai, coroado e com manto?
    - Engana-te, da bruma, algum floco talvez.

    - Vem comigo, meu lindo! Ah, vem comigo! Vens?
    Contigo jogarei jogos bem divertidos;
    Muitas, garridas flores nas minhas ribas tens,
    Minha mãe tem para ti muitos áureos vestidos.

    - Aos teus ouvidos, pai, dize-me cá não chega
    Tudo aquilo que o Rei me promete baixinho?
    - Não te inquietes, meu filho, ó meu filho sossega:
    Co'as folhas sêcas anda o vento em murmurinho.

    - Vê lá, se a vir comigo, ó lindo, te abalanças!
    Tenho filhas que bem te saberão tratar,
    Minhas filhas, verás! Dançam nocturnas danças,
    E assim te embalarão, a dançar e a cantar.

    - O teu olhar, meu pai, ainda não devassa
    Das princesas o grupo, além, na escuridão?
    - Filho, filho, bem vejo o que em tôrno se passa,
    Só os salgueiros vês, que entre as névoas estão.

    - Gosto muito de ti, dessa linda figura,
    Não resistas, senão a força empregarei.
    - Meu pai, o Rei prendeu-me agora com mão dura!
    Ai! Quanto me magoou dos álamos o Rei!

    O pai, todo a tremer, apressura a montada,
    Todo abraçado ao seu queixoso pequenino,
    Depois de apuros tais, chega à sua morada,
    Porém nos braços seus vai já morto o menino.


    (Tradução: Eugénio de Castro.
    Yvette Centeno nota que o título, no entanto, não devia ser "O Rei dos Alamos" mas "O Rei dos Elfos".)
    13.12.04

    Donald Judd: Exhibit at the Chinati Foundation
    Uma acidental apreciação de Napoleão

    Não costumo ler o Acidental, porque prefiro a direita inteligente e civilizada. Mas hoje acabei de por lá passar, e até descobri um post que não estava ao serviço do combate político partidário reles.
    Rodrigo Moita de Deus escreve sobre Napoleão: Este homem, - vergonha! - depois de ter feito carreira sob a bandeira de liberté, egalité, fraternité, coroou-se imperador e distribuiu os feudos conquistados pela sua família.
    Segundo RMD, este comportamento escandaloso tem uma explicação: porque Napoleão era o "primeiro socialista".

    Percebe-se que quer atribuir ao socialismo os feitos criminosos deste homem complexado, ambicioso e sem escrúpulos.
    E porque não um pouco de calúnia?
    Podia apreciá-la se fosse um pouco - vá-lá: bastante - mais bem-feito:
    Ela devia demonstrar que os males proviessem da ideologia socialista em vez dos defeitos do homem, que se limitou a realizar para si, eficazmente, as ambições da aristocracia do ancien regime.

    E convinha não deixar transparecer de que o seu autor prefere este ancien regime àquilo que Napoleão, tendo todos os seus defeitos, - voluntariamente ou não - acabou de espalhar por onde passou: A semente do estado de direito.

    Mas talvez isso o Rodrigo Moita de Deus não sabia...
    Parabéns ao Ma-Schamba,

    ...que julga fazer nestes dias o primeiro aniversário.
    Dizer que o Ma-Schamba é um dos melhores blogues em língua portuguesa não é mais do que afirmar o óbvio.
    É verdade que há outros blogues cujos posts refiro mais: para discordar, ou por dizerem aquilo que também sempre quis dizer e só não consegui.
    Enquanto os posts do Ma-Schamba primeiro me obrigam a pensar...

    Espero não ofender outros amigos na blogosfera, se aqui confesso que o José Flávio Pimentel é, ao lado do Nuno Guerreiro, o bloguista de cujo apreço me mais orgulho.
    12.12.04
    Journal intime

    Se ocasionalmente leio nele, por exemplo porque preciso duma data para a nossa conversa, fico chocado: que há dois ou cinco anos cheguei exactamente a mesma conclusão - só depois esqueci a outra vez, porque não consegui viver de acordo com ela; vivi o contrário com energia tenaz.

    (Max Frisch: Montauk)
    O PR cortou as pernas ao lutador pelos pobres e a justiça social!

    Onde ficaria este país sem homens como Paulo Portas?
    11.12.04

    Piet Mondriaan: Kerk

    (act.)
    Este quadro tão claramente datado como "Art Nouveau", já contém a geometria, o ritmo, a ordem, pelo domínio perfeito o pintor se tornou famoso na sua obra posterior, abstracta.
    10.12.04

    Hoje devia ser feriado.
    Parafraseando Lao Tse:

    Um Deus pelo qual se conclui logicamente, não é o verdadeiro Deus.

    (Acerca desta notícia.)
    9.12.04
    Debajo del chopo, amante,
    debajo del chopo, no.

    Al pie del álamo, sí,
    del álamo blanco y verde.

    Hoja blanca tú,
    hoja verde yo.

    (Rafael Alberti)
    8.12.04
    "Leitkultur"

    Há dias quis fazer um post sobre a actual discussão da "Leitkultur" na Alemanha. Não o fiz porque tive dificuldade em traduzir o conceito.
    Fá-lo agora e muito bem o Hotel Sossego.

    No DeBLOGar se VOA longe, do 7 de Dezembro 2004.

    Cada vez melhor!
    Maculada: A condição da mulher

    Este post tinha como intenção original anunciar a nova edição da Terra da Alegria. Muito oportunamente, têm um artigo sobra a Conceição Imaculada. Um post aqui, de duas linhas, sobre este tema, gerou mais do que sessenta comentários - recorde para esta modesta casa - e parece me adequado transcrever aqui os últimos, da Sara. Dão que pensar tanto em relação aos dogmas da igreja, como em relação ao meu gosto pela pornografia (vide os meus playmates). Pouco inibido, felizmente, pelos dogmas da igreja, acho este meu gosto inocente. Mas lendo os posts da Sara, pergunto-me se a inocência se mantém independentemente de qualquer contexto.

    Eu fui criança antes do 25 de Abril. Frequentava a catequese e cresci a ouvir dizer que a mulher era a tentação e a fonte de todas as desgraças. Que só por ser como era, ela levava o homem à perdição. Parecia-me isto, à criança sensível que eu era, uma enorme injustiça. Pois se era o homem a desejá-la não seria ele o culpado de sensualidade? Pois não era. Era ela que era culpada por ser desejável. A mulher era culpada de tudo. De ser desejável, de falar muito alto, de não ser modesta, recatada, de ser abandonada, eventualmente até de ser violada e morta. Como modelo de pureza havia a Nossa Senhora, uma figura esquisita, que ninguém queria nem podia imitar. Ela era a única sem pecado.
    Não sei porque estranham o JCN. Ele é católico e como católico aceita os dogmas. Ou então não seria católico, seria outra coisa qualquer.
    Não sei a idade das pessoas que comentam este blog, sei a idade do Lutz, que é a minha. Mas o Lutz é alemão e é homem.
    O que o fascismo fez às pessoas, nomeadamente às mulheres e raparigas, sobretudo a nível íntimo, às vezes é difícil de perceber. Mesmo para as próprias. A trilogia Deus, Pátria Família era imbatível. Foi imbatível. Às vezes só se percebe, quando por exemplo reajo mal a certos posts que eu considero de mau gosto (como aqui há tempos a um post do Lutz) ou a certas piadas machistas que não consigo tolerar. Ou por exemplo agora, quando num tom dispilicente alguns homens perguntam pelo prazer feminino, onde é que ele anda. Olhem: vai andando. Certamente não tão bem como o masculino que sempre me pareceu andar muito bem, graças a Deus (literalmente). Bem Lhe podem dar graças.


    (Sara Monteiro)

    Playmate da semana: menina (Klimt)

    Isto já é pornografia, eu sei. Klimt ou não. Mas boa pornografia.
    7.12.04
    Informação relevante!

    O Terras do Nunca voltou a postar!
    6.12.04
    A raíz da ineficiência

    O Neptuno explica onde está a raiz de todos os problemas do país. Na falta de justiça. Na cultura de irresponsabilidade que é a consequência dela.

    Se o exemplo do Mayor Giuliani em New York, que conseguiu reduzir drásticamente o crime através dum programa de tolerância zero também em relação aos pequenos delitos, aplica ao problema de Portugal, duvido. A receita de Giuliani resultou no combate ao crime. O problema de Portugal (ainda?) não é o próprio crime, mas a irresponsabilidade e a incosequência dos nossos actos e omissões, por falta de aplicação da lei.
    De que Portugal já tem a mais são leis que não se cumpram. E quando são aplicadas , não são aplicadas de forma indescriminada a todos, o que descredibiliza a justiça ainda mais. Penso que o caminho mais acertado seria exigir menos, mas fazer cumprir isso. O que passa, antes de tudo, por criar condições para poder reduzir os prazos dos processos e garantir que eles são concluidos em tempo útil.

    Otto Dix: Visto numa encosta em Cléry-sur-Somme

    A apreciar a celebração da vida e da beleza nos quadros de Macke, lembro me dos seus dados biográficos: 1887 - 1914.
    Otto Dix era seu companheiro de geração, ao contrário do colega, voltou da 1ª Guerra Mundial.
    Este é um dos seus desenhos que trouxe de lá.
    Em defesa da Maria Maculada

    Não percebo o João César das Nêves. Porquê não concede à Maria o prazer na conceição do seu filho? O quê é que há de "sujo, porco, podre" nisto?
    5.12.04

    August Macke: Hutladen
    4.12.04
    Algumas contas

    a) 470.000.000 / (3000+15000) = 26.111,11

    b) 470.000.000 - 330.000.000 = 140.000.000

    c) 140.000.000 / 150.000 = 933,33

    Legenda:

    a) 470.000.000 US Dollar foi a indemnização que a Union Carbide, a subsidiaria da empresa americana DOW Chemicals pagou ao estado indiano para compensar integralmente pelas mortes, deficiencias e lesões das vítimas do desastre de Bhopal no 3 de Dezembro 1984, incluindo todos os danos ambientais.
    3.000 indianos morreram imediatamente na ocasião do acidente.
    No mínimo 15.000 indianos morreram desde então em consequência do seu envenamento pelo desastre.

    b) 330.000.000 US Dollar é o montante da indemnização recebida que o governo indiano ainda, vinte anos depois, não fez chegar às vítimas, nem directa- ou indirectamente.

    c) 150.000 é o número mínimo calculado das pessoas que ficaram com ferimentos ou incapacitações permanentes.

    _________

    Uma perseguição críminal de responsáveis americanos da Union Carbide nunca chegou ao lado nenhum. Várias organizações - entre outro a Greenpeace - alegam que isso não aconteceu para não assustar investidores estrangeiros e assim colocar um entrave na liberalização da economia indiana.

    ... lá vamos ter como primeiro-ministro o Rei das Citações."

    Este apontamento do Hotel Sossego é muito certeiro e muito menos inocente do que possa parecer...
    Autocrítica

    O post anterior é um bom exemplo da minha total falta de talento para escrever sobre a política no sentido restrito. Se continuo assim, ainda me habilito a escrever os editoriais do Expresso...
    É triste ter de discutir a competência em vez do projecto

    Se pudesse votar nas próximas legislativas, preferia poder escolher entre Sócrates e outro político que não é Santana, porque preferia escolher entre projectos políticos em vez de pessoas.
    O benefício da dúvida pode ser uma dádidiva de elevadissimo preço, como os quatro meses de governo de Santana Lopes provaram, mas posto a escolher, elegeria - por esse mesmo motivo - até o pato Donald, se fosse, em vez de Sócrates, o candidato opositor ao actual PM.

    Não é de esperar de Santana Lopes uma campanha que promove um projecto. Nunca teve um. Mas mesmo se tivesse, se soubesse para onde nos queria levar, isso já não interessa, porque provou que não sabe conduzir o barco. E assim basta ao Socrates manter a esperança dos eleitores de não ser um incompetente, para chegar ao governo.
    Se ainda nos elucidar sobre os seus objectivos e projectos políticos, será um favor, que nos faz, que no entanto fica um pouco desvalorizado por o seu programa não se ter de provar no combate com as ideias do adversário.
    2.12.04
    "Berliner Luft"

    ...é o nome duma cancao popular antiga local, que elogia o ar especial de Berlim. Só os verdadeiros berlinenses, que lá nasceram e que sao - descontado a parte leste da cidade, que nao interessa aqui - uma minoria, gostam dela. Entre muitos outros defeitos, os verdadeiros berlinenses sao dum patriotismo local ferrenho e foleiro, que se mostra entre outro na conviccao provinciana de eles viverem no centro do mundo. Com alguma generosidade ainda admitem que, para além de em Berlim, talvez também se possa viver em New York.

    Mas o ar de Berlim é especial, é verdade. É um ar nao própriamente limpo, mas fresco, cortante, que deve conter uma droga parecida a cocaína. Um pessoa fica inevitavelmente excitada, numa mistura de euforia e angústia.
    Basta-me aterrar no aeroporto de Tegel ou chegar ao Bahnhof Zoo, de comboio, e eu sinto isso. Hoje como quando cá cheguei pela primeira vez, em 1981.

    (Post escasso em acentos, escrito num ciber-café no Kurfürstendamm)
    1.12.04

    Playmate da semana - não me lembro do nome dela... (o retrato fez Tom Wesselmann)
    __________

    Vou por uns dias à metrópole (a minha), mas antes queria ainda anunciar a nova Terra da Alegria.

    Ah, e parabéns!

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