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  • 18.12.04
    Apologia de edifícios faustosos, pagos pelo contribuinte

    "Os edifícios mais faustosos, monumentais, emblemáticos, de traça arquitectónica ímpar, foram construídos pelo Estado ou pela Igreja. Porque será???" pergunta o LR no Blasfémias. A resposta, certa, no meu entender, é dada pelo mesmo nos comentários ao seu post: "...porque estas foram desde sempre as únicas instituições às quais não se colocava o problema de escassez ou de custo dos recursos: sempre os obtiveram de forma duradoura e mais ou menos coerciva."

    No Complexidade e Contradição, o Lourenço responde duma forma que lhe deve custar muito crédito de que goza entre os bloguistas liberais. A sua resposta incide em dois planos: no artístico e no urbanistico. Limito-me neste post ao primeiro: A argumentação estritamente artística e cultural.

    Há uma diferença fundamental entre um edifício concebido estritamente em função do seu objectivo económico e um que tem também ou talvez prioritariamente o objectivo de representação. Entre, por exemplo, o Centro Comericial Colombo e o CCB. O Colombo não é arte, o CCB é. Pode-se discordar dos exemplos, reconhecendo valor artístico ou não a este ou aquele edifício, mas a questão fundamental não muda por isso: O Colombo não foi concebido par ser arte, mas para atrair pessoas e induzi-las a fazer compras; o CCB foi concebido, para além de facultar condições para o uso ao que se destina, para representar, no caso até é seguro dizer, para representar Portugal. E por isso é arte. Que como tal foi muito bem conseguido, como acho, mas isso não interessa para a distinção em questão.

    Costuma dizer-se que os Centros Comerciais são os Catedrais dos nossos tempos. Se isso fosse verdade, significava um declínio cultural profundamente desolador. Mas felizmente não é preciso acreditar nisto. Ainda se fazem grandes obras de arte na arquitectura. Não se fazem, é verdade, em condições económicas normais onde se optimiza a relação custo/proveito, sendo proveito a sua rentabilização económica. Uma obra de arte genuina necessita exactamente o contrário: de que a sua concepção e realização não seja refém da optimização económica. Prioritário tem de ser a optimização artística - se se consguir também uma optimização económica, excelente, se a optimização económica por acaso se integra no conceito artísitco pretendido, ainda melhor! Mas uma obra de arte caracteriza-se exactamente por isso: por transcender o plano da utilidade.

    No domínio privado toda a gente concordará com isso. Ninguém se veste ou decora a sua casa com o intuito de maximizar exclusivamente a relação funcionalidade/preço. Mas como é quando uma comunidade - igreja, estado - constroi equipamentos colectivos? Devem exprimir algo, que vá para além do seu uso? Para mim a resposta é claramente afirmativa: Uma comunidade que não se exprime, que não cria e representa uma ideia de si, uma ideia que transcende o puro utilitarismo da sua convivência, está condenada.
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    Se tiver tempo, irei explorar num próximo post o argumento urbanístico apresentado pelo Lourenço, que julgo tão válido como o artísitco.

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