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25.4.08
Nos últimos dias tenho ouvido o "Grândola Vila Morena" umas 20 ou 30 vezes. O meu filho de oito anos veio da escola com o endereço Youtube da canção e esteve a tocá-la incessantemente para decorar a letra toda até ao dia 25. Ele está muito entusiasmado com o que aprendeu na aula. Que uns soldados muito bons fizeram revolução, porque o governo que era mau os obrigava a fazer guerra e prendia as pessoas que diziam o que pensavam. Houve um especialmente bom, que veio de Santarém com os seus homens em cima de tanques e prendeu o governo mau e não teve medo, porque os soldados que também estavam junto do governo eram amigos e não dispararam. As pessoas ficaram tão contentes que ofereceram cravos aos soldados e puseram-nos dentro das espingardas como se pode ver aqui na fotografia. Hoje de manhã toda a família teve de cantar a canção, sob a sua direcção, o que fizemos de bom grado, até o meu filho de 15 anos, embora que ache a música parva. Lembro-me que há uns anos cometi uma gaffe grave aqui na blogos, porque ironizei com a frase "o povo é quem mais ordena" - na altura, sem perceber de onde ela vinha. Achei-a - e ainda acho – na sua simplicidade de uma ingenuidade tocante. Escrevi algo como "Então diga lá, Sr. Povo: o que é que havemos de fazer?" Mas reconheço que há contextos - como na canção - em que ela faz todo o sentido. E faz para o meu filho. Mais tarde perceberá que as coisas são um pouco mais complicadas. Leio no DN que a "quase candidatura" de Alberto João Jardim foi um engenho sofisticado para obrigar o Santana Lopes a "sair da toca". Não sou entendido nestas matérias, mas a ser verdade, tenho que reconhecer, essa gente é boa no que faz, menos no essencial. Não sou muito entendido nestas matérias, mas o suficiente para não ter acreditado um segundo que o AJJ se candidatasse mesmo. Se o fizesse, levava uma banhada tal que acabaria de vez com a sua mística. Se não já na candidatura à presidência do PSD, decerto na candidatura a Primeiro Ministro. E ele sabe-o. Gosta é de fazer de conta que seria um bom candidato ao nível nacional, mas é só vaidade... 23.4.08
(Denis Kardon) 22.4.08
Há dois anos, fui uma das pessoas acenderam uma vela no Largo de S.Domingos, em memória das vítimas judeus portugueses do Pogrom de 1506. Nos dias antes, houve aqui nos blogues uma discussão surpreendentemente difícil e azeda sobre se elas as mereciam. Hoje está lá um monumento. Um monumento que não deveria incomodar ninguém, excepto quem se sente mais próximo dos assassinos do que das vítimas. 21.4.08
Saving Ikarus (Cynthia Breusch) «A crónica de Ferreira Fernandes hoje no Diário de Notícias tocou-me como um violento um soco na barriga: porquê tamanha e generalizada indiferença? A “intelligenzia” dominante criou e alimenta os seus Tabus, Vacas Sagradas e Bodes Expiatórios. Quando preparamo-nos para celebrar uma vez mais o 25 de Abril, convém lembrar que sem a verdade não há efectiva Liberdade: sobram a alienação e o oportunismo que alimentadas pelos poderes, constituem a mais vil das opressões.» (João Távora) É bom que este reparo vem de onde vier, pois isto não é uma questão de esquerda ou direita. Ao contrário do que é infelizmente habitual, não se pode resignar á coexistêencia de várias "verdades dos factos", cada uma de acordo com o respectivo campo político. E é mesmo muito mau que há aparentemente na comunicação social portuguesa intocáveis que podem contar com o silêncio comprometido dos seus colegas, mesmo se cometem um erro escandaloso. (Ou lhes é imputado um erro escandaloso.) 20.4.08
Actualmente, ninguém tem razão de eleger o PSD, com excepção dos militantes e a clientela no pior sentido, aquela que espera os seus interesses correspondidos através da proximidade com o seu pessoal político. Mas mesmo depois de encontrado e eleito um líder credível, não haverá razão para mais ninguém de votar no PSD. Pois a sua política está já a ser executada e, diga-se o que disser, de forma competente pelo governo de Sócrates. Exactamente pelo que este tem feito e ainda está a fazer, os militantes lhe cantariam hoje loas, se fosse um dos seus. Não creio que as causas de esquerda, com que adorna o seu mandato, as leis do aborto e do divórcio (que eu ambos muito saúdo!) mudariam isto. O dano causado por Santana Lopes ao seu partido não só consiste no desbarato de credibilidade difícil de recuperar. Ele permitiu ao PS de Sócrates usurpar o espaço tradicional do PSD e instalar-se de forma tão sólida no centro, que nem à esquerda nem à direita sobra espaço suficiente para uma alternativa com perspectivas de poder. Só o desgaste real, com o tempo, alterará esta situação. Não quero desvalorizar a evidente falta de nível da direcção demissionária do PSD, nem a sua vacuidade programática, mas essa última resulta de facto da impossibilidade de construir uma alternativa no quadro das suas referências tradicionais. Também daí veio o curso errático da sua oposição, ora atacando pela direita, ora pela esquerda e, quando se aperceberam da sua impotência, o recurso aos golpes baixos. Agradeço à Sofia Loureiro dos Santos a simpática atribuição de um Prémio. Sinto-me genuinamente grato e honrado, não obstante a minha relutância em aderir a correntes internéticas. Aproveito para apresentar as minhas desculpas ao Filipe Tourais que, já lá vai algum tempo, me convidou de enumerar "insignificâncias", convite ao que não respondi. Não é por menosprezo pelo Filipe ou pelo Pais do Burro - muito pelo contrário! - que não o fiz. Para além da relutância referida, acrescentou-se no caso a falta de inspiração: não me ocorreu nada que merecesse ser referido. Quando me aparece o caso no jornal, viro a página. Quando no noticiário se mostra o último episódio da ainda não entrega da menina Esmeralda, mudo de canal. É o que faço as vezes aquando de notícias de horrores vindos de longe, de Darfur, da Costa de Marfim e semelhantes. Custa-me ver isso. Custa-me antes de mais saber a minha compaixão inconsequente. No caso da Esmeralda, acrescenta-se a vergonha e a raiva impotente ver isso passar-se aqui a minha frente, no país em que vivo - perverso, cruel e desnecessário; e mesmo assim, ao que parece, inevitável. Adenda: É certo que os referidos horrores lá fora são incomparavelmente maiores. Até esta história de outra menina, Nojoud Ali Nasser, é infelizmente superada todos os dias. Mas claro que isso não serve como consolo para que cá não conseguimos fazer a coisa certa, ainda por cima tão óbvia e fácil. 19.4.08
«Há qualquer coisa nos sapatos vermelhos do Papa que me perturba. Não sei bem o que é, mas, ao vê-lo de vestes brancas e sapatões encarnados, dou por mim a tentar adivinhar que tipo de roupa interior usará. Parece que estão muito na moda os slips Robert Cavalli. Acho que a Laurinda Alves podia escrever sobre tal assunto. É um tema aliciante. Mais interessante do que aqueles que costuma abordar. As crianças, os idosos, os doentes, as reclusas, os retiros, os doentes, a fé, a esperança.» 18.4.08
"Wichsvorlage" ("Folheto pra punheta") chamámos as revistas do género na faculdade em Berlim. Mas não achas, Lourenço, que esse teu mostra uma filha da pior casa do mundo? ...recomendo ler esta bela prosa. Se o antropólogo já se assume como leigo, o que hei de dizer eu? Continuarei, com acordo ou sem acordo, a escrever quase em português. Já por isso o acordo não me tira o sono. Sei que não o cumprirei, mais p menos p, como não cumpro a ortografia actual. É pena, mas não é realmente importante. De resto confesso a minha aversão a normalizadores em geral, e em especial a normalizadores de algo natural, orgânico e vivo, como uma língua. 16.4.08
Lovers (Andrew Wyeth) 15.4.08
«Quem hoje quer casar a sério e proclamar à sociedade uma união sólida e perene vai onde, ao registo ou à capela? As modas intelectuais mudam mas a Humanidade fica. Quando daqui a uns anos os políticos voltarem a reconhecer o valor da família, é no seio da Igreja que a vão encontrar.»* Se não se soubesse há muito que o homem é inimputável, sentir-me ia seriamente ofendido e teria de mandá-lo à merda, junto com as suas lengalengas e bujigangas como cruzes, vestes, incenso, etc. Vivo há vinte anos com a mesma mulher, educámos três filhos, e planeio continuar a viver com ela até ao fim dos nossos dias, se o tal Deus quiser. Não casámos pela Igreja, e possivelmente nem teríamos casado de todo, não fosse a razão de assegurar aos nossos filhos também a nacionalidade alemã. Foi uma cerimónia de dez minutos no Registo Civil de Loures, e do mais marcante de que me lembro dela, é a magistrada me ter perguntado se percebia o que se lá dizia em português, o que confirmei, só parcialmente honesto. Depois fomos nós os quatro, a Margarida, eu e as duas testemunhas, meu cunhado e o amigo Rui Filipe, beber uma imperial na tasca ao lado. E pronto. Quinze dias depois nasceu o Frederico. Ninguém me dê lições sobre o que é compromisso ou família! Muito menos um João César das Neves, para quem a Biblia tem um nome: Fariseu. * via Água Lisa às mulheres (sorry Cenas...) do Womenage a trois, que hoje linkaram o Quase em Português em três posts seguidos! Se não fossem vocês, quem visitava este modesto estaminé? Há dias passam pela imprensa fotografias de Angela Merkel com o decote que mostrou na inauguração da nova ópera de Oslo. Hoje, o DN faz capa com a ministra de defesa espanhola altamente grávida, e com roupa adequada à condição, a passar em revista as suas tropas. Compreende-se que é notícia, pelo seu assunto que sempre vende, e porque (ainda) é invulgar. Passámos a ver com maior frequência mulheres em altos cargos do Estado, mas essas quase sempre evitam judiciosamente ostentar esta condição na sua aparência. Vide Angela Merkel, até a semana passada, ou Hillary Clinton, com a sua farda de calças e blazer na campanha americana. A essa contenção subjaz a cedência a uma ideia machista de que, se mulheres possam estar aptas para cargos políticos, o são pela falta da sua feminilidade. Essa, a feminilidade, na vida pública está reservada a modelos e actrizes e às trophy-wives, como Carla Bruni. Adenda: Não resisto a aditar esta fantasia: Situação de crise em Espanha. O Estado Maior reúne na sala de parto para receber, entre gemidos – "respire, ministra, respire! Agora faça força!" - as ordens da sua comandante. 14.4.08
O facto que a direcção do PSD não deixa de insistir no "caso Fernanda Câncio" só se explica com que estes senhores estão convencidos que a maioria dos portugueses vê isto como eles. Alguém me garante, por favor, que estão enganados! É certo que o subvencionamento do Biodiesel foi um tiro no pé, do ponto de vista de quem com essa medida política quis melhorar o bem-estar da humanidade. Não tenho a certeza que esse foi o único motivo para promovê-lo. Pois outro - esse egoísta e de acordo o interesse estritamente nacional - é a redução da dependência de energia estrangeira. Quem tem este objectivo, não estará necessariamente incomodado. Gostava de perguntar aos liberais que com visível prazer apontam o dedo aos ambientalistas estúpidos, em que é que ficámos: Que isto é uma prova que dá sempre barraca quando se tenta interferir na sabedoria natural do mercado, ou que defendem, sim, uma política ambiental, centrada em interesses supra-nacionais. Pois quase parece. Neste caso, bemvindos! Podemos empenhar-nos juntos para fazer melhor. Já variadíssimas vezes irritei-me com Pacheco Pereira, com a sua arrogância, com a sua incapacidade de reconhecer um erro, até já encolhi os ombros quando a sua teimosia o leva, o que já aconteceu mais do que uma vez, ao francamente ridículo. Mas, aparte disso, reconheço lhe o mérito, a independência, a inteligência e a sua curiosidade intelectual. Vem isto a propósito da última crónica no "Público", O Telemóvel. Quando toda a gente se deleitava com a indignação sobre a decadência dos costumes, da disciplina, e anunciava, com o prazer mórbido dos profetas da desgraça, o caminho de perdição para que enveredou a nossa juventude e com ele o país, Pacheco Pereira pôs-se a pensar. Sobre o que realmente muda e mudou na nossa sociedade. Ao que chegou conta-nos aqui. Como ficou (ainda mais) evidente nos últimos tempos, Portugal tem muita gente que o envergonha. Mas também tem um Pacheco Pereira. Felizmente. E agora, depois desta revelação, as autoridades judiciais farão alguma coisa? Move-se-lhe um processo em Portugal ou entrega-se o Almirante ao TPI em Haia, onde teria companhia do seu calibre? Adenda 15.4.2008: Ferreira Fernandes afirma hoje no DN que a carta é falsa. A ler também a opinião de João Tunes. Adenda à adenda: É estranho que essa história não tem mais eco. Porque a ser verdade ela é grave, mas se não é, a divulgação também é grave. E se fica tudo inconsequente, não se esclarece tudo cabalmente e não se chama os responsáveis à sua responsabilidade, também é grave, embora neste caso típico em Portugal: fazer de conta que não é grave o que é grave. Adenda 5.5.2008: António Barreto admitiu que a carta é falsa. Assim, a minha sugestão de entregar o Almirante ao TPI em Haia perde o fundamento. O que é dizer o óbvio. 12.4.08
O que Daniel Cohn-Bendit era na França, Rudi Dutschke era na Alemanha, o lider carismático do movimento estudantil de '68. Dutschke nasceu em 1940 e viveu até aos 21 anos na RDA. Os tempos na Juventude Evangélica da sua cidade natal marcaram-no para um socialismo de fundamentação religiosa. A repressão da revolta na Hungria, em 1956, levou o jovem a distanciar-se do regime socialista no seu país e a tomar posições públicas cada vez mais críticas. Recusou o serviço militar (na altura na RDA uma opção legal) e incentivou publicamente outros a fazerem o mesmo. Consequentemente as autoridades vedaram-lhe o acesso ao ensino superior, e Dutschke mudou-se poucos dias antes da construção do Muro para Berlim ocidental, onde estudou sociologia, antropologia, filosofia e história. O seu socialismo adquiriu aqui o fundamento teórico marxista que lhe faltava, mas nunca perdeu o seu cariz cristão e sempre se destacou pelo valor que dava a liberdade do indivíduo. Dutschke ficou, destes tempos, amigo de proeminentes teólogos evangélicos na Alemanha. Desde cedo empenhado no movimento estudantil, centrou as suas críticas na continuada presença de estruturas e de personalidades do tempo nazi na vida pública e política na Alemanha. Mais tarde juntou-se a oposição à guerra de Vietnam. Após a morte do estudante Benno Ohnesorg a tiro de um polícia numa manifestação contra a visita do Shah Reza Pahlevi, no 2.6.1967, Dutschke ganhou protagonismo ao nível nacional e passou a ser o principal objecto de ódio para quem se sentia ameaçado pelo movimento estudantil. Nomeadamente a imprensa do editor Axel Springer, com o principal tabloide alemão, o "Bildzeitung", lançou-lhe uma campanha maciça ad hominem, com manchetes como "Apanhem-nos!" e "Rudi Dutschke - Inimigo Público Nº1!". Ontem, há 40 anos, Josef Bachmann, um trabalhador precário de Munique, meteu-se num comboio para Berlim, fez-lhe uma espera e disparou três tiros. Dutschke sobreviveu com ferimentos graves na cabeça, mas demorou anos a recuperar e reaprender a fala. Viveu então com a sua mulher e os seus três filhos na Dinamarca. Quando, no fim dos anos setenta, se julgava capaz de se empenhar novamente na vida pública – estava a preparar com outros o congresso de fundação do partido "Os Verdes" - morreu afogado na banheira durante um ataque epiléptico, consequência ainda do atentado. Entre as brumas da memória, da Joana Lopes. Estes três posts demonstram de forma brilhante como o João Miranda pensa. Deduz da sua ideologia as opiniões sobre qualquer assunto, sem perder tempo com coisas menores como o antes estudar ou sequer olhar para ele. Como para qualquer escolástico, o assunto em si não tem importância nenhuma. Importância tem a ordem divina, e a única a razão de ser do assunto é exemplificá-la - como quem diz, a ideia do mundo de João Miranda. 9.4.08
Venus e Amor (Annibale Carraci) 8.4.08
«A contínua promoção da igualdade cumpriu um intelligent design que acompanhou o século anterior: as mulheres, os negros, os homossexuais, os deficientes, os imigrantes e agora os símios ( só os distraídos não perceberam ainda as consequências dos últimos vinte anos de investigação em primatologia como no passado não anteciparam os efeitos do darwinismo). Esta agenda reduziu a violência sobre os mais fracos: isso é indiscutível. Sempre que os fracos se tornam fortes, outros fortes se tornam fracos. Na arena reivindicativa duas categorias perderam poder: as crianças e os velhos. As crianças porque são hoje um fardo que impede viagens regulares a Punta Cana; os velhos porque a mensalidade de um lar decente dá para pagar três do jipe novo com controlo de velocidade nas descidas acentuadas. Depois da paz, a comodidade.» (ODI ET AMO LXXIX) Adenda: Gostei do post. Mas o MP-S chamou-me, nos comentários, atenção ao facto de que me deixei iludir pela sua beleza sobre a sua imprecisão, se não falácia argumentativa. A frase «sempre que os fracos se tornam fortes, outros fortes se tornam fracos» postula uma correlação e sugere até uma causalidade no fenómeno que é mais que questionável. Baseia-se na ideia de que a relação de forças é necessariamente um jogo de resultado zero. No caso, o Filipe deduz dela que a conquista de liberdades cívicas por grupos que antes delas não usufruiram é necessariamente acompanhado por uma perda de direitos e privilégios de outros. Este raciocínio só tem alguma plausibilidade, enquanto vemos a questão como um mero jogo de poder. Mas a liberdade não pode ser visto só sob este prisma. Basta um olhar para a história para comprovar que a liberdade não é um bem de quantidade constante. E a julgar pelas suas primeiras frases, o Filipe até sabe-o. Não me parece que quer seriamente postular que os velhos e as crianças pagam, com perda de direitos e reconhecimento, na mesma medida, pelo que as mulheres, os negros e os demais ganharam. Concordo contudo com o Filipe que as crianças e os velhos são - em Portugal - perdedores do "progresso" social - e em parte mesmo por causa da maior liberdade das mulheres que hoje estão livres de fazer outra coisa do que tomar conta deles em casa... Mas o argumento, na sua globalidade, está mais errado do que certo. E também os factos apresentados como premissa têm uma validade muito limitada. Na Alemanha de hoje, por exemplo, os reformados estão mais ricos e privilegiados do que em qualquer outra época histórica, e também do que os seus filhos estarão, quando velhos. 7.4.08
«E, sobretudo, não havia outra coisa: a rasura, na relação entre adultos e crianças, da ideia de que há uma diferença entre adultos e crianças e de que essa diferença se traduz numa relação de autoridade “natural”. Essa autoridade, que quando existe (ou existia) não advinha necessariamente do medo (físico ou outro), é uma espécie de “adquirido” que parece ser cada vez mais raro. Talvez porque o centro de gravidade social foi passando paulatinamente dos adultos para os mais jovens, talvez porque os adultos queiram que essa diferença não exista. Esta rasura é visível todos os dias em todo o lado – na sua casa ou numa casa perto de si, no restaurante, nos transportes públicos, na rua. Mas, porque a escola assenta toda na ideia dessa autoridade “natural”, porque é o lugar onde o confronto adulto/jovem é mais ritualizado, funciona como o espectáculo mais óbvio e público dessa rasura. Não pode haver quem creia, honestamente, que o problema se pode resolver só na escola, com mais ou menos castigos (mesmo se, é claro, tem de haver castigos). A tal autoridade "natural" tem de ser, como sempre foi, construída socialmente. Quer dizer: por toda a gente. Adulta, claro. É, digamos, uma questão de os adultos se portarem como gente crescida.» (Fernanda Câncio) Ora, aí está uma observação certeira que devia colher o aplauso dos comentadores da direita, que tanto gostam de zurzir na Fernanda. Porque o que ela diz, com outras palavras, é o que estes não param de berrar indignados: "Já não há respeito!" - Pois é isso: Já não há respeito. A geração de 68 acabou com ele de vez. É essa a vitória cultural de que Daniel Cohn Bendit falou, quando recentemente fez o balanço da revolta que já faz 40 anos. O que eles viram e não aceitaram mais era o respeito exigido por gente que não o merecia, reclamado como um direito inquestionado e inquestionável, adquirido do status ou pela simples antiguidade. Era absurdo, injusto, revoltante. Por isso a revolta. Para que não fiquem dúvidas: também me revoltei e ainda me revolto. Não posso com pessoas que exigem respeito sem o merecerem. E a apologia do respeito, porque sim, ofende a minha inteligência. Sou méritocrata. Mas o que fazer se o mérito é escasso, se tantos há, colegas, professores, pais, políticos - sim políticos - que não se dão ao respeito? Basta olhar à volta, não é preciso ser para dentro das salas de aula da Carolina Michaëlis, ou da actual sede do PSD, ou do Governo Regional da Madeira, ou do "Corredor do Poder". O respeito à antiga garantia alguma ordem, mesmo se era de prestar a bananas, tontos, hipócritas e filhos da puta. Continuamos com os bananas, os tontos, os hipócritas e os filhos da puta. Perdemos o respeito. Ficamos com quê? Onde, porra, se meteu o Homem Novo?! 4.4.08
No post da Helena podem ler como indisciplina internética é castigada em escolas privadas noutros países. 3.4.08
O que pode acontecer a um gajo, se não tem cuidado! Mesmo agora, no zapping, caí num programa da RTP, que pelos vistos se chama "Corredor do Poder". Minha nossa! Uma cambada de putos* pomposos está a falar, todos ao mesmo tempo, sobre o inevitável caso da Carolina Michaëlis. Tanta presunção vácua até o Santana Lopes só alcança nos seus dias melhores! Pacheco, Lobo Xavier, Coelho, estais perdoados. Nunca mais vou me queixar de vós. * (Ana Drago, Margarida Botelho, Nuno Melo, Marcos Perestrello e Marco António Costa.) O Daniel Oliveira apresenta a aliança entre a SPD e "die Linke" ("A Esquerda" - fusão do SED dos ex-comunistas da RDA e uma facção de esquerda que se separou do SPD) no Estado Federal de Hessen, Alemanha, como exemplo de uma normalidade que cá – infelizmente, no seu entender - não é possível. A mim, o exemplo não me entusiasma de forma alguma. Admito que o SPD e "die Linke" possam ter acordado um programa para a legislatura que não põe em causa os alicerces da democracia, e mais, que até podia subscrever. Mas o que me repugna nisto, é mesmo a normalidade que se estabelece com esta coligação. Um partido em que muitos membros e dirigentes ainda defendem, umas vezes abertamente, outras e mais vezes às escondidas, a bondade do Stasi e do Muro de Berlim não merece confiança e não merece, antes de mais, ser tido como "normal". Ontem uma deputada do "die Linke" do parlamento do Estado de Hamburgo defendeu a República Popular de China - noto sempre a insistência na denominação oficial, ao exemplo da insistência na denominação oficial da tão democrática República Democrática da Alemanha no seu tempo - contra os críticos da intervenção no Tibete e comparou o Dalai Lama ao Ayatollah Chomeini. A essa gente não se pode ajudar a parecer respeitável. Não há muito, desafiei o J.J.Amarante, um dos melhores comentadores da bloga portuguesa, para finalmente lançar o próprio blogue. Aqui está: Imagens com texto. E é isso: belas imagens com comentários inteligentes. Até agora, o blogue não contêm a faceta opinativa do J.J. que tanto aprecio nos seus comentários. Mas vamos ver. 1.4.08
Na sequência do sucesso de um projecto piloto, o governo holandês decidiu alterar o regulamento do fardamento das agentes policiais femininas. Durante a época estival, guardas em serviço no exterior terão de usar o novo fardamento mais atraente. Um estudo que acompanhou o projecto piloto, já realizado no verão passado, revelou que a receptividade dos cidadãos em atender às ordens das guardas assim fardadas aumentou em 69%. Perante críticas de organizações feministas, o Secretário de Estado do Ministério do Interior holandês declarou que está previsto um regime de excepção para guardas que invocam motivos religiosos ou psicológicos para não utilizar o novo fardamento. Estas poderão dirigir um requerimento a uma comissão de avaliação, que em caso de considerar válidos os motivos invocados, as relega para o serviço interno. Segundo o Secretário de Estado, esta relegação não se reflectirá em desvantagens de carreira ou perda de remuneração. Porém, as objectoras não usufruirão do prémio de produtividade destinado às guardas utentes do novo fardamento. Toda a notícia aqui. (Via Fim De Semana Alucinante) Já não há saco para essa gente de esquerda, que encontra a culpa por tudo no "sistema"! Enquanto é óbvio para qualquer pessoa decente que a culpa é do regime! |
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