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  • 28.7.07
    Duty calls



    No cumprimento das minhas obrigações profissionais, terei que ausentar-me de Lisboa nas próximas duas semanas. Fiquem bem...
    27.7.07
    Ainda uma nota sobre a questão do Museu Judaico de Berlim

    Num comentário do 24.7., o Vasco (?) da Memória Inventada chama atenção ao facto de que a minha postura não é necessariamente representativa da dos alemães em geral. Obviamente, só posso falar por mim e da ideia que tenho dos meus compatriotas.
    Mas adianto um dado histórico que reforça a minha tese:
    Em Dezembro 1970 o Chanceler Willy Brandt ajoelhou-se publicamente no gueto de Varsóvia, em reconhecimento dos crimes da Alemanha nazi. Este gesto, que lhe mereceu o Prémio Nobel da Paz, foi na altura muito polémico na Alemanha. Mas é um facto que Willy Brandt foi reeleito em 1972, com o melhor resultado na história do SPD.
    Como foi possível? No meu entender, porque aqueles alemães, que não tinham culpa nenhuma do Holocausto, podiam rever-se perfeitamente naquele gesto, e na pessoa que o fez. Como na altura notou o suiço Max Frisch, lembrando o currículo de Brandt como resistente anti-nazi:
    Ajoelha-se aqui alguém que disto não tem necessidade nenhuma, em lugar daqueles que têm necessidade, mas não o fazem.
    25.7.07

    Notice me
    (Bruno Surdo)
    24.7.07
    Eficiência alemã

    O meu breve encontro blogosférico com Pedro Arroja lembrou-me um outro que tive, há muitos anos, como jovem turista de mochila, em Hyderabad, Índia. Já não me lembro de muitos pormenores, mas foi num café próximo da estação de comboio, onde travei conhecimento com um simpático senhor, um homem culto que falava um excelente inglês, e acabei por aceitar o seu convite de jantar em sua casa. Era um muçulmano bastante moderno, que me apresentou não só os seus filhos como também a sua mulher, antes de ficarmos, entre homens, a beber chá à espera da refeição.
    Confessou-me que a razão de me convidar foi, entre outro, a grande estima que tinha por Alemanha e os alemães: o rigor, a disciplina... e tantos grandes homens! Cientistas, estadistas... Hitler, por exemplo. Calculava que não seria fácil para mim assumir em público, no estrangeiro, o meu orgulho pelo Führer, mas aqui com ele, dizia, podia estar a vontade. Não havia aqui nenhum inglês. [Risos] Talvez Hitler terá ido um bocado longe de mais, mas no fundo, no fundo, o homem tinha razão. Pena é que – sem ofensa, digo isso a brincar [sorriso] - pena é que vocês os alemães, apesar da fama de tão eficientes, não terem conseguido levar esta tarefa até ao fim: acabar com os judeus de vez.

    Reunindo toda a minha coragem, disse o que achava do meu grande compatriota Hitler. Cedo, logo depois do jantar mais confrangedor da minha vida, saí da sua casa, deixando atrás um anfitrião defraudado, consternado e muito ofendido.

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    23.7.07

    Depois de mais de três anos de amizade meramente virtual, o bloguista português residente em Maputo e o bloguista alemão residente em Lisboa descobrem que têm uma amiga comum. Uma muito boa amiga, aliás! Foi ela que promoveu o encontro no real, que aconteceu no dia 16, na Avenida de Roma.
    22.7.07
    Fábula

    Num país fictício, um ditador louco acabou por concluir que toda a lástima que estava o seu país, era culpa dos seus cidadãos cujos apelidos começavam com a letra A. E com uma energia e uma brutalidade nunca antes visto, chegou a impor ao seu país a solução final deste problema: o extermínio de todas as pessoas cujo nome de família começava com a letra A.
    Não com o apoio, mas também sem resistência da restante população, que até tinha saudado a sua chegada ao poder, embora não acreditado que ele fosse tão longe, pôs em prática o seu projecto, servindo-se do aparelho de repressão poderoso de que dispôs. Não poupou nem homem nem mulher, nem velhinho nem bebé, e conseguiu exterminar mesmo todas as famílias A, excepto um resto ínfimo que de uma ou outra forma conseguiu escapar.

    Cinquenta anos volvidos, e desaparecido o ditador de má memória, os cidadãos da capital deste país fictício olham para o seu Museu da Cidade, e apercebem-se da ausência das famílias A. Lembram-se de como o seu contributo para a comunidade tinha sido grande e determinante, até ao momento do seu extermínio. E lembram-se como horrível e triste é terem sido assassinadas. Decidem então dedicar um departamento do seu museu à memória destes concidadãos, e de dar-lhe destaque, para compensar que eles, ao contrário das famílias com outros apelidos, hoje não têm presença na vida da cidade, e assim não podem, como estes, passar o seu património cultural às futuras gerações por herança familiar. Decidem ainda dar relevo ao acontecimento histórico, insólito na sua perversão, que foi o seu assassinato em massa organizado.

    Um dia, vem um turista dum outro país e irrita-se com este museu. Acha que está mal. Que não devia estar na cidade onde estas famílias viveram. Se teria que existir de todo, devia estar num país longínquo, num onde alguns sobreviventes das famílias A tinham conseguido refugiar-se. Mas não devia estar na cidade onde viveram e hoje fazem falta.

    Os cidadãos do país fictício olham para o turista com ar incrédulo: Seguramente, o homem não bate certo!
    Ou talvez não goste das famílias A.

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    Tresleituras

    O Pedro Arroja não entendeu o meu post anterior. O que não é nenhum crime, mas como na gentil resposta que lhe dedicou, me citou de forma truncada, assim que se entendia que me orgulhasse de Hitler e Himmler, solicitei, num comentário, a rectificação desta falsificação - involuntária, julgo eu, mas lesiva ao meu bom nome.

    Na sequência, o Pedro Arroja modificou o seu post, não sem atribuir a tresleitura à má redacção do meu. Sobre isso, o leitor interessado pode formar a sua própria opinião: o meu post mantém-se inalterado aqui em baixo.
    Infelizmente não pode fazê-lo com o texto do Pedro Arroja, que contém uma alteração não identificada ao parágrafo que motivou a minha reclamação.

    O texto de ontem rezava:
    «Até que o Lutz me chamou à realidade, quando se referiu a Hitler e a Himmler. Deles, tal como em relação aos crimes que eles cometeram, o Lutz também não se envergonha (embora, num plano diferente, se envergonhe, o que me leva a presumir que o Lutz tem formação jurídica). Porém, o golpe fatal ao argumento ocorre um pouco mais abaixo quando o Lutz declara: "(...) a verdade seja dita: orgulho-me deles. Sei que é imbecil.".»

    Agora reza:
    «Até que o Lutz me chamou à realidade, quando se referiu a Hitler e a Himmler. Deles, tal como em relação aos crimes que eles cometeram, o Lutz também não se envergonha (embora, num plano diferente, se envergonhe, o que me leva a presumir que o Lutz tem formação jurídica)..Porém, o golpe fatal ao argumento ocorre um pouco mais abaixo quando o Lutz, referindo-se a Bach e a Thomas Mann, declara: "(...) a verdade seja dita: orgulho-me deles. Sei que é imbecil.".»

    A alteração, marcada em bold por mim, é obviamente substancial.

    O novo parágrafo, a conclusão, reza agora:
    «Pois é. O Lutz tem os valores ao contrário. Considera imbecil orgulhar-se de Bach ou Thomas Mann, mas uma honra não se envergonhar nem de Hitler, nem de Himmler, nem dos crimes que eles cometeram. No mundo do Lutz, os génios destruidores vão poder florescer à vontade, enquanto os génios criadores só serão distinguidos enquanto houver imbecis.»

    Revela que continua a não compreender o que escrevi. Poderia voltar a tentar fazer-me entender, mas não. Dou por encerrado o meu diálogo com o Professor Arroja, por falta evidente de lealdade e honestidade intelectual da sua parte.

    A questão em si, como é possível ter identidade e orgulho nacional sem negar a verdade histórica, continuo a achar interessante, e voltarei a ela quando tiver tempo.
    20.7.07
    Porquê me orgulho do Museu Judaico de Berlim

    Soube através do Arte da Fuga que o Pedro Arroja visitou o Museu Judaico de Berlim e saiu dele irritado. Acho natural que qualquer pessoa que visita este museu sai dele no mínimo incomodado, se não abalado pela confrontação com o Holocausto que lá o esperava.
    (Uma nota sobre o que é o Museu Judaico de Berlim. É uma extensão do museu municipal da história da cidade, o Berlin-Museum, que já existe há muito tempo. Ou seja, o equivalente ao Museu da Cidade de Lisboa.)

    Repudia o Pedro Arroja o grande destaque que nele é dado ao Holocausto, em relação às outras épocas históricas. O AMN já disse o óbvio: como se pudesse ser não assim! Pois o Holocausto não é só mais um episódio da rica história judaica em Berlim, mas o seu fim. Depois de séculos de convivência, difícil e dificultada em muitas épocas, mas noutras tão natural que resultou na plena e frutífera participação em todas as esferas da sociedade, chega o extermínio, o apagamento. O vazio, o silêncio da morte, que nem campas tem, e quase ninguém quem as podia visitar. Não se exterminou só indivíduos, mas uma cultura toda que determinou, de forma intrincada e muito benéfica, durante séculos a vida desta cidade e do país de que é capital.

    O Pedro Arroja imagina "aquilo que pode pensar a actual geração de alemães, que nada tem que ver com o holocausto, e mais ainda as gerações futuras. Aquele Museu, cravado ali no coração da sua capital, não pode ser senão um factor de irritação permanente".

    Imagina mal. Pelo menos no que diz respeito a mim e aos compatriotas que conheço. (Aproveito para adiantar que fui cidadão de Berlim entre 1982 e 1994, ou seja, quando o projecto foi discutido, lançado e realizado.)
    Porquê imagina mal?
    O Museu Judaico é meu museu, nosso, dos berlinenses. Fomos nós que o construímos, que o queríamos. Não é, como por exemplo o Memorial Soviético, uma imposição duma potência ocupante em homenagem, justa ou não, de outrem aos seus. Muito menos representa, ao contrário do que o Pedro Arroja acha, um castigo, um dedo acusatório, apontado pelos descendentes ou representantes das vítimas aos filhos e netos dos assassinos. A ideia de que nós, os berlinenses, devíamos sentir-nos irritados, advém desta leitura errada. Mas precisamente porque não aceitamos esta leitura, não nos sentimos irritados. Porque sei que sou tão pouco culpado do Holocausto como o Pedro Arroja ou qualquer outra pessoa que nasceu depois de 1945.
    Contudo, como berlinense e alemão, identifico-me com a cidade e a sua história. É a minha. E quando visito o museu, faço o neste sentimento de pertença, não com culpa que só podia ser individual, mas com a responsabilidade que é colectiva e advém desta pertença. Faço o tanto como descendente dos assassinos como das vítimas, que eram – dado de barato a diferente época histórica - os meus concidadãos. E entristece-me não só o sofrimento das vítimas, mas também a irremediável auto-mutilação que a Alemanha e a minha cidade cometeram a si próprios.
    Como disse na ocasião do debate das velas em memória do pogrom do 19 de Abril de 1506 em Lisboa: Não há aqui um nós e eles, só há um nós e nós.

    Essa questão da pertença, a identidade que dela advém, o orgulho e a eventual vergonha nacional, tem de facto muito que se lhe diga. Porque é verdade que o mesmo argumento que me leva a recusar de envergonhar-me de um Hitler ou Himmler, enquanto alemão, (envergonho-me deles num plano mais alargado, do ser humano ou, em termos cristãos, do pecador) devia impedir-me de orgulhar-me de um Bach ou de um Thomas Mann. E a verdade seja dita: orgulho-me deles. Sei que é imbecil. Mas é assim. Até orgulho-me quando a equipa nacional alemã ganha no futebol (excepto quando joga mesmo muito feio), o que é, apesar de banalíssimo, igualmente imbecil: como se me pudesse orgulhar de algo que não é meu próprio mérito! - Sou assim, somos quase todos assim. E não o acho demasiado grave, desde que - se pensamos bem, o que talvez não somos obrigados de fazer 24 horas por dia - não nos esquecemos que isto é imbecil e desde que continuamos conscientes da nossa responsabilidade, que é reconhecer e acarinhar a verdade.

    É o que fazemos com este museu. E isso enche-me de orgulho, de um orgulho por um mérito colectivo, legítimo e mesmo nada imbecil: Que hoje somos capazes de viver com este passado terrível, sem encobri-lo com silêncio ou mentiras.
    Que todos o fossem.

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    The Secretary of State
    (Luc Tuymans)

    «The apparent inspiration for Mr. Tuymans’s Rice portrait was the reported characterization by a Belgian politician of Ms. Rice as “strong, not unpretty.” Like Mr. Kitaj’s portrait of the cute young fascist, “The Secretary of State” evokes an erotic ambiguity: A presumably left-leaning painter is turned on by a strong, not unpretty woman who personifies policies he abhors. Sexuality complicates political thinking the way painting complicates a straightforward snapshot. The painting has a simultaneous immediacy and otherness that comes from an empirical rendering in blown-up scale of the surface data of a photograph, which itself is not a posed, official portrait but a frozen moment of reportage.

    The pervasive unease in Mr. Tuymans’s work amounts to a sublimated violence. His imagery deals with conflicts and problems obliquely: Seemingly intent on capturing the banality of evil rather than its drama, his strategy is the antithesis of the Renaissance theorist Alberti’s definition of *istoria*, which is to capture the most telling moment or episode that encapsulates the tale, and the moral lesson.»

    (David Cohen)

    Ver alguém fazê-lo, é reconfortante.
    19.7.07
    Fora do terreno comum

    Um comentário do MP-S ao meu post anterior e uma nota oportuna do PC no Mar Salgado, levam-me a considerar que fui curto no que ai escrevi.

    Uma das grandes mais-valias da blogosfera, em relação a opinião pública tradicional, é ser um espaço muito mais amplo do que esta, para tomar conhecimento de opiniões e sensibilidades diversas, e de debatê-las. Mesmo se a Comunicação Social portuguesa fosse menos atrofiada e condicionada pelo “regime” do que é - e não há dúvida que é -, ela não podia concorrer com a sua abrangência, que por vezes me pode chocar, mas que aprecio muito. Através dela aprendi o que pensam e como argumentam aqui, para além dos conservadores, liberais, socialistas e comunistas, que têm presença nos média tradicionais, os anárquicos, os fascistas, os nacionalistas, monárquicos e outros saudosistas dos bons velhos tempos, e os fundamentalistas religiosos e políticos da mais variada ordem.

    Claro que há blogues, e não poucos, que realmente não considero dignos de referência, dum link, ou de resposta. Mas outros acho. Apraz-me o facto de que existe um espaço discursivo, com o seu próprio civismo, as suas convenções não escritas, geralmente respeitadas mesmo se ocasionalmente violadas, que extravasa o terreno comum democrático.
    Faço contudo questão de não perder por isso de vista o que isto é, o terreno comum democrático: a base da nossa paz social, e de reparar em quando e quem se coloca fora dele.

    É o caso do João Gonçalves. Não sendo um fascista assumido, deixa cada vez mais claro que quando ataca o “regime”, não só despreza o pessoal político que o encarna, não só as suas estruturas subvertidas ou apodrecidas, não uma determinada falha na sua construção, mas a própria democracia representativa e, como agora se percebe, também as suas próprias leis.

    Isto é preciso notar. O homem está fora do terreno comum não só da democracia portuguesa, mas das suas leis. Se tivesse um projecto político alternativo, poderíamos chamá-lo um revolucionário. Não o tem. Só é um revoltado. Como também não propaga a resistência violenta, também não podemos chamá-lo terrorista. É só um inimigo do regime. O que quer dizer, para que não haja equívocos: um inimigo da Democracia e do Estado de Direito.
    Os límites da liberdade do objector de consciência no serviço público

    «Pedir aos clínicos objectores de consciência que assinem declarações como estas - "tenho conhecimento da minha obrigação de prestar assistência às mulheres cuja saúde esteja em risco, em situações decorrentes da interrupção da gravidez" e "tenho conhecimento da minha obrigação de encaminhar as grávidas que solicitem a interrupção da gravidez para os serviços competentes, dentro dos prazos legais" - tem qualquer coisa mais adequada a regime totalitário do que a de "esquerda moderna".»

    Gostaria de saber porque o João Gonçalves acha o dispensável:

    1. Porque acha evidente que um clínico objector de consciência em todo o caso cumpre o seu dever de funcionário público e assegure que quem solicite o apoio que lhe é devido por lei, seja encaminhada a quem na sua instituição o lhe presta.

    2. Porque defende que um clínico objector de consciência tem o direito moral de aproveitar a oportunidade de sabotar os planos de uma mulher que, fazendo uso de um direito que lhe assiste, se dirige a ele com a pretensão de abortar.

    Se a resposta é a 1, basta recordar-lhe a forma e os meios usados na campanha do Não para perceber que há aqui muita gente – também nos serviços de saúde – tentada de colocar a sua moral privada acima da lei. E estes convém advertir. E, se ignoram a advertência, punir.

    Se a resposta é a 2... a resposta 2 é a justificação do terrorista. Neste caso não há nada a discutir, só, como disse, a advertir e punir.

    (actualizado)
    Quem diria
    18.7.07
    My 70s



    Roundabout
    (Yes)
    16.7.07
    Coisas que se fazem num blogue e ainda não fiz:

    - Apresentar uma foto do meu rosto ou outra parte do meu corpo, em close-up, de modo que fique bem na fotografia, mas não identificável.

    - Apresentar no cabeçalho do blogue retratos de grandes alemães, mudando-os de tempo em tempo.

    - Uma lista dos meus 10 discos/livros/filmes preferidos

    - Plagiar, com referência respeitosa, a série «hoje acordei assim»

    - Colocar uma frase inteligente no cabeçalho, como lema

    - Apresentar, na barra lateral, uma série de personagens que admiro e acho fazerem falta ao país. (Embora, reconheço, a tentação é grande, porque tantos candidatos se me impõe: Sarkozy, Tio Patinhas, Oprah, Churchill, Sarkozy, João Gonçalves, Maggie Thatcher, Emmanuelle, John Wayne, Sarkozy)

    - Fotografias dos meus animais de estimação, semanalmente actualizadas

    - Uma chainletter

    - Um post ilustrado sobre a diversidade anatómica do pénis.
    A culpa é das circunstâncias

    «Estou a fazer uma reflexão pessoal, não escondo, sobre as condições do exercício da acção política em Portugal.»

    (Paulo Portas)
    15.7.07
    Zita Seabra

    Sempre que vejo ou oiço a senhora na comunicação social, dá me uma imensa vontade de desancar nela. O seu tão falado livro seria assim uma óptima oportunidade de fazê-lo. Se não o tivesse de ler antes. Mas para isso, pela minha grande pena mas meu ainda maior alívio, a minha antipatia não chega.

    Às vezes, não é a vossa alma que amamos mais.

    (Comentário a este post da Isabela)
    Quem é uma pessoa de bem?

    O Estado, pelos vistos, não é. Não cumpre sequer decisões do tribunal, no caso, a de remunerar os seus militares pelo serviço prestado no estrangeiro, de acordo com a lei.
    Não me interessa aqui se a lei está bem-feito ou não, se as remunerações são adequadas ou não ou se são convenientes ao erário público ou não.

    Seja isso como for, é inaceitável que o Estado se comporta como uma empresa manhosa, que esgota todos os dispositivos processuais, para não pagar ou pagar tão tarde quanto possível aquilo que deve. Que se aproveita dos seus inesgotáveis recursos humanos para tentar levar o credor à desistência dos seus direitos por esgotamento da sua capacidade financeira muito menor.
    Sou antiquado: mas quem se comporta assim, mete me nojo. Sei, por experiência própria e dolorosa, que assim agem parceiros de negócios e empresas (também públicas) que acham que não precisam de defender o seu bom nome.

    O Estado, que aqui se comporta assim – convém lembrar - age na pessoa do Ministro de Defesa e do Ministro das Finanças. Ou seja, quem não é uma pessoa de bem, é o Governo.

    P.S.:
    A justificação do não pagamento no tribunal não pára de me encantar: “a ter de pagar (...) a situação seria financeiramente incomportável”.
    Está bem visto. Vou já alugar um iate tripulado e fazer uma volta ao mundo. Quando vier a factura, a recusarei com o argumento: “a ter de pagar, a minha situação seria financeiramente incomportável”.
    14.7.07
    My 70s



    Life on Mars (David Bowie)
    Os lideres espirituais dos alemães

    Na ocasião da visita prevista do Dalai Lama à Alemanha o SPIEGEL encomendou um inquérito, em que se pediu aos alemães comparar o Budismo com o Cristianismo, e o Dalai Lama com o Papa alemão, Bento XVI.

    Alguns resultados:

    Acham a religião mais pacífica:
    O Cristianismo: 41% dos alemães
    O Budismo: 43% dos alemães

    Entendem como exemplo a seguir:
    O Papa: 42% dos alemães
    O Dalai Lama: 44% dos alemães

    Os resultados não me surpreendem, mas convêm lembrar que estas opiniões são duma população ainda predominantemente cristã, que paga o "dízimo" para pertencer a igreja.*
    Dos 80 milhões alemães são 52 milhões cristãos, 26 milhões evangélicos e 26 milhões católicos, o que são 65%; só um meio milhão e budista (0,63%).


    *(Na Alemanha o Estado recolha, para o entregar a igreja, o dizimo a qualquer cidadão tributável que não declara oficialmente a sua desfiliação da igreja.)
    ProntoS

    Embirro com pessoas a dizerem "prontos". Não com todas. Só com aquelas que o dizem em jeito de referência irónica aos que não sabem que "prontos" não é bom português.
    13.7.07
    Trabalhar, trabalhe o preto

    Já há algum tempo não postei uma bela história aqui. (Antes de mais, por falta de tempo.) Para compensar, roubei uma belissima à Isabela do Mundo Perfeito:

    «A acção decorre na rua, frente a uma obra situada perto da Loja do Cidadão, em Sete Rios, Lisboa.
    O dia está claro e soalheiro. É verão.
    Intervêm duas personagens:
    - um arrumador de carros magrito, com pele cinzenta-amarelada; cabelo de tonalidade indefinida, emaranhado, ressequido e empastado; roupa cor-de-esfregona velha, uniformemente larga e solta. Traz uma bandeirinha da qual se serve como instrumento auxiliar para arrumação de veículos.
    - um negro das obras, alto e forte, vestido com roupa de trabalho, e uma ferramenta pendurada no cinto largo.
    (O arrumador colocou-se no centro da rua, gesticulando expressivamente, apontando para o que considera um lugar vago para estacionar. O pequeno espaço situa-se entre o portão de entrada para a obra e a garagem privada de um prédio de escritórios e habitação.
    Os condutores manobram para não o atropelarem, seguindo caminho. Um negro sai da obra com ar sarcástico. Pára a três metros do arrumador.)

    Negro - Não pode estacionar aqui. Aqui é para camiões da obra virem descarregar.

    (O arrumador olha-o de esguelha e mastiga qualquer coisa entre dentes. Não se percebe.)

    Negro - Aqui não pode ser, olha lá. Cai cimento. Tens aqui tabuleta para não arrumar.

    (O arrumador ignora-o.)

    Negro - Vais ficar culpado de carros estragados. Aqui não é bom. Vai lá mais para cima, pá.

    (O arrumador continua a ignorá-lo. Vai murmurando expressões imperceptíveis. O negro fica calado, observando a cena. Volta-se para trás e ri-se. Três homens, brancos e negro, debruçam-se do 1º andar do prédio em construção, e riem também.)

    Negro (para os homens no 1º andar) - Este gajo vai obrigar chamar polícia quando chegar a betoneira...

    (O arrumador volta-se, rápido, e arremete com a bandeirinha em direcção ao negro, explodindo.)

    Arrumador - Vai trabalhar, malandro. Vai trabalhar, malandro. Vai trabalhar. Vai. Desanda. Vai trabalhar. Não fazes nenhum. Vai, malandro.

    (O negro volta-se e vai-se embora, rindo alto.)

    A cena termina com o clamor de risos dos passantes e de quem trabalha na construção do prédio.

    Cai o pano.»
    Meia declaração de voto

    Nas eleições autárquicas votaria em António Costa, se não fosse a sua vitória depois interpretada como voto de confiança no governo.
    Assim, se calhar, voto no Zé. Porque sempre faz falta alguém que denuncia quem tenta corrompê-lo.
    Os restantes candidatos, com excepção da Helena Roseta, são francamente inelegíveis. Muito infelizmente.
    Post gratuito

    Ao ler os Cinco Dias verifico que o problema não é só meu: a malta anda sem assunto. Verifico ainda que, apesar de ser neto de gente muito humilde, não estou livre de arrogância social. Desprezo a foleirice. Que se manifesta nalguns comentários deste post, com destaque pelas respostas da autora.

    Mas enfim, não posso armar-me em fino, pois sempre não resisti e acompanhei, com um deleite mórbido, aquela peixeirada toda...
    A ler

    No Hole Horror, entre outro, trechos do “Na Praia de Chesil”, de Ian McEwan
    Sim, Miguel,

    mas lembra-te que, no drama das caricaturas dinamarquesas, a Igreja Católica colocou-se ao lado dos Mullahs.
    11.7.07

    Gwyneth Paltrow and her mother Blythe Danner
    (Annie Leibowitz)
    Um teste

    Günter Wallraff é um escritor e jornalista alemão, que ganhou notoriedade com o seu trabalho de “undercover”. Por exemplo trabalhou, sob nome falso, como redactor da Bildzeitung (o "Coreio da Manhã" do sítio), e revelou depois em livro como lá se deturpava e fabricava notícias. Ou empregou-se, como trabalhador sem qualificação, e de (falsa) nacionalidade turca, na Thyssen, e escreveu sobre como é estar mesmo em baixo ("Ganz Unten") na hierarquia de trabalho.

    Um homem de esquerda então, polémico, combativo e alvo do ódio de muita gente de direita: uma espécie de Michael Moore, só que as suas reportagens são feitas de experiências da sua própria pessoa.
    Entretanto, o homem já tem idade de reforma, e vive, pelo que tenho ouvido dele ultimamente, uma vida mais pacata no bairro Ehrenfeld de Colónia.

    Acontece que há uma grande comunidade turca em Ehrenfeld, que tem uma pretensão polêmica: substituir a mesquita provisória e degradada por uma nova, mais bela e maior. A organização cívica turca do local, Ditib, que promove o projecto, teve a boa ideia de convidar o reconhecido amigo dos turcos Wallraff para integrar a sua comissão consultiva.

    Wallraff aceitou. Mas não se limitou a apoiar a construção da mesquita. Entretanto apresentou aos seus amigos turcos o projecto de ler e discutir na velha mesquita os Versículos Satánicos do seu amigo Salman Rushdie.
    Não quer que seja uma provocação, diz ele ao SPIEGEL, mas acha que é a altura que os muçulmanos leiam o que criticam. E tem esperança que a leitura e discussão se realize, até na língua turca.
    8.7.07
    A sétima maravilha

    Pois é Luis, mas o que mais me deprime é que o escolhemos como contributo da nossa época ao lado da Grande Muralha, de Petra ou do Coliseu. Acho que haveria melhor do que o Cristo Redentor, mas pelos vistos, não o merecemos.
    Como se prova a hipocrisia de Al Gore

    O filho de Al Gore foi apanhado com droga e a andar aos 160 km/h.

    Que uma infracção dum familiar duma figura pública possa ser notícia, só pode ser opinião de quem ache que jornalismo é fornecer qualquer informação que vende. Ou seja, jornalismo da merda.
    Mas o raciocínio do “jornalista” deste jornal de referência “Público” e, antes de mais, do seu redactor, obviamente vai mais longe.
    Porque esta notícia só tem o sumo que tem porque é política: Coincide com a actual notoriedade do pai do infractor, Al Gore, com a campanha "Live Earth".
    Ou seja, o redactor aposta em que os seus leitores estabelecem uma relação entre o comportamento ilegal e ecologicamente irresponsável do filho, e a sinceridade da mensagem do pai. Mais ou menos assim: "O gajo faz uma campanha bombástica pela preservação do planeta, mas o que vale, está-se mesmo a ver: ao mesmo tempo o seu filho anda na droga e aos 160km/hora."

    Só resta felicitar o director pelo seu jornal.
    6.7.07
    My 70s



    This Town Ain't Big Enough (Sparks)

    Não é do nível como as dos Zeppelin, Clapton ou Zappa, mas é uma bela canção e muito representativa para a época.
    5.7.07
    Ela não o disse mas poderia ter querido dizer

    Entretanto vi o vídeo, graças ao Youtube e os muitos blogues que o divulgaram.
    Ouvido palavra por palavra, fica claro: A secretária de Estado falou do seu caso.
    Mas como formulou, possibilitou, de facto, a suspeita de que ela talvez realmente acha que a lealdade dum funcionário público devida ao Estado obriga a evitar críticas públicas ao governo. O que seria, para uma secretária de Estado, uma imperdoável falta de espírito democrático. E talvez a tenha.
    Só, queiram quer não, a senhora não disse isso!
    Daí, atacá-la como se tivesse dito o que não disse, como aqui muitos fizeram, tem um nome muito simples: má fé.
    Não surpreende que os adversários políticos exploram a sua evidente inabilidade comunicacional. É feio, e não contribui para a elevação do confronto político, mas enfim.
    E a “imprensa de referência” também não resistiu a esta leitura, demasiado bem cabe ela na ideia actual (e aliás correcta) do governo autoritário e intolerante, para que possa ser desperdiçada, mesmo que se dane por isso rigor e seriedade.
    Então acham que somos parvos?

    Ou são eles mesmo que são os parvos?
    O João Miranda e o João Gonçalves espantam-se com a afirmação duma Secretária de Estado, que diz que entende não dever criticar em público o governo a que pertence.
    Ai que vergonhosa castração da liberdade de expressão! Que espírito submisso e cobarde! Que seguissem o exemplo de outros países, estes realmente livres, em que é acolhido com saudável tolerância quando um Secretário de Estado critica publicamente o seu governo, ou um membro do Conselho de Administração duma empresa a actuação da administração a que pertence. Aqui agradecem-lhe, de certeza, e ainda o promovem!

    Na frase que foi citada no Público, ela referiu-se ao seu próprio caso. Que não é, de forma alguma, comparável com o caso da directora do Centro de Saúde. Esta não ocupa - não devia ocupar - um cargo político, mas um da administração pública. E neste, tem o direito e o dever de criticar, também publicamente, a política que afecta a sua área. E devia estar, enquanto não instrumentalize a instituição que dirige para o combate partidário, protegida de ser penalizada por isso. Sabemos que a realidade, escandalosa e comum, infelizmente não é assim.
    Mas o caso da Secretária de Estado não tem nada a ver com isso, e o João Miranda e o João Gonçalves sabem-no muito bem.

    P.S.: Também o Daniel Oliveira espanta-se. Começo a sentir-me isolado, deixado sozinho aqui na blogosfera com os meus instintos pidescos.
    4.7.07

    Venus e Baco
    (Rubens)
    1.7.07
    Ainda mais livros:

    Já esgotei a lista dos livros que ultimamente li e acho recomendável, na ocasião das convites da Sabine e da Isabella. Assim aproveito o desafio do Rui Bebiano para recomendar livros que já li há algum tempo e para fazer campanha pelo escritor que, ao lado de Thomas Mann, me marcou mais: Max Frisch.

    Stiller de Max Frisch (1954)
    Um homem foi preso na Suiça sob suspeita de ser um tal "Stiller", que é procurado. O seu defensor oficioso dá lhe cadernos e uma caneta: para provar quem é. Se não é Stiller, então quem é?
    Frisch provavelmente não conheceu “Lisbon revisited” de Pessoa, quando escreveu o livro, mas o poema teria servido como lema perfeito. Um romance sobre a incapacidade de ser quem os outros acham que se é, sobre a incapacidade de ser outro do que aquele que se é, sobre o desejo e a impossibilidade de não ser ninguém.
    Mas também um romance de aventuras, repleto de histórias inesquecíveis.

    Gantenbein de Max Frisch (1964)
    “Um homem fez uma experiência. Agora anda a procura da história para esta experiência.” Este romance não tem uma história coerente e única. É um enredo de histórias dum grupo de personagens, que estão relacionadas umas com as outras, interagem, mas de repente são postos pelo autor nouto cenário, trocam os papeis, começam de novo noutro enquadramento. “Experimento histórias como roupa”. Um homem tem um acidente de viação. Suspeita-se que fica cego. Não fica. Mas ele finge que sim. Passa a vida como falso cego, “não vê” os casos da sua mulher, é cliente duma “manicure”, o único que realmente só faz manicure. A sucessão de situações hilariantes é alucinante, já a soma das peças faria do livro grande prosa. Mas o livro é mais do que a soma das histórias. Como num quadro do cubismo analítico, em que as perspectivas não encaixam, mas mesmo assim transparece a imagemdoretratado, aqui, apesar da negação do fio narrativo, pinta um quadro convincente: da impossibilidade da convivência entre homem e mulher.
    Ingeborg Bachmann, que viveu com Frisch os anos antes de este romance foi escrito, nunca lhe perdoou ter explorado assim a sua relação. Mas como leitor, agradece-se a traição.

    Outro livro da minha vida é The Lonely Sea and Sky de Francis Chichester (1964)
    Tenho este livro desde o meu décimo aniversário. São as memórias dum inglês que em 1919, aos 18 anoas, fugiu do ambiente pequeno burguês em que cresceu e emigrou para Nova Zelandia, alistando como operário das máquinas no vapor em que fez a viagem. Trabalhou como lenhador, fez dinheiro como vendedor de seguros, comprou um avião, fez o primeiro voo entre Nova Zelândia e Austrália, quase morreu na tentativa de voar de Austrália para Inglaterra, mas completou este projecto. Perdeu o seu dinheiro em 1929, alistou na Força Aérea na 2ª guerra mundial, como navegador. Fundou uma empresa de cartografia, começou a fazer vela, apanhou um cancro terminal, sobreviveu-o, ganhou a primeira regata transatlântica de vela one hand, deu a volta ao mundo como velejador solitário, com apenas uma paragem em Sidney.

    Between Good and Evil (Ein Meister aus Deutschland) de Rüdiger Safranski (1997)
    Uma biografia intelectual de Heidegger, magistralmente escrita.

    A Plea for Eros, uma colecção de ensaios de Siri Hustvedt. Depois de ler este livro, passei a invejar o Paul Auster por ainda outra razão.

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