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  • 20.4.04
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    Não fui eu.
    Nem os meus pais, que eram crianças na altura. Nem os meus avôs, de ambos os lados, cometeram crime maior (que já é grande, mas comum) do que olhar para o lado e de não erguer a voz. Mas quando vejo as imágens na Rua da Judiaria (que conheço bem), sinto uma inenarrável vergonha.

    E essa vergonha é merecida, enquanto continuo alemão, me sinto alemão. Desde muito novo, tento, por causa dessa vergonha, suprimir qualquer sentimento patriótico em mim, qualquer sentimento de orgulho nacional: Para não ter que sentir essa vergonha. - Por achar que se não fosse alemão, ou se meu ser alemão fosse um acaso que me calhou sem qualquer mérito ou demerito (racionalmente sei que assim é), não podia orgulhar-me de Kant ou de Beethoven mas também não teria que sentir essa vergonha.
    Por isso tento de não orgulhar-me de Kant ou de Beethoven. E de não estar contente quando a equipa nacional alemã ganha no futebol, por exemplo.

    Houve um tempo em que achei possivel recusar essa herança: tudo, bens e dívidas, como é possivel na vida civil. Mas não é. É evidente que não é.

    Sou alemão, e embora que não acredite nas leis de sangue, não posso devolver nem os benefícios nem as obrigações que vêm com isso, mesmo se quisesse. E assim vou ter que viver com a vergonha. E tentar aprender de fazer com ela algo que sirva para alguma coisa. E pensando nisto, percebi:

    Mesmo se deixasse de ser alemão, não me livrava dessa vergonha. Essa vergonha que é minha enquanto alemão, é também a vergonha de todos os Homens, de todos mesmo.
    Não somos só eu e os meus compatriotas que têm de aprender com ela.

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