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29.11.07
O ITS, o arquivo sobre os processos de milhões de presos dos campos de concentração, abriu as portas ao público. Agora todos os interessados podem informar-se de primeira mão. Mas ou me engano muito, ou nem isso vai convencer os negacionistas. Pois para estes não contam as provas, mas aquilo em que querem acreditar. (Via O Jansenista) Já lá vai o tempo em que olhei para o Sitemeter ansioso de verificar o aumento do número dos meus leitores. Quatro anos ensinaram-me a ficar-me pelo objectivo mais modesto, que me coloquei no início deste blogue: To be respected by whom I respcet. De resto, revejo-me em muito do que o FNV escreveu sobre o seu bloguismo. No último ano, o número dos leitores tem oscilado, estando o QeP parado ou não, entre 150 e 600. 150 são leitores, o resto são consultas de imagens que moram nos arquivos, e que tendem a aumentar até o Sitemeter, por um processo que não sei como, as corta periodicamente da sua contagem. O que agradeço, pois me facilita o que hoje me interessa: ver quem me lê. Há dias, o número disparou novamente, desta vez em função de uma consulta, aparentemente sempre igual. Uma imagem de Fameni que coloquei aqui, há ano e meio, para ilustrar as minhas férias de Carnaval. Mal retornado, o Miguel Silva escreve um dos posts mais importantes sobre a novela do novo aeroporto. «Na impossibilidade de comentar as opções, resta a faculdade de comentar o processo. Não ficaria surpreendido se uma boa parte das pessoas que acompanham vagamente os avanços e retrocessos deste projecto manifestasse uma opinião negativa em relação ao processo de decisão em curso. Mais, não me surpreenderia que essas mesmas pessoas considerassem que por cada novo estudo que surge, mais do que uma avaliação técnica, surja um interesse oculto qualquer em arrastar a obra para determinado local. Este tipo de opinião negativa em relação aos processos de avaliação e decisão é do pior que pode acontecer a um sistema político que se quer democrático.» Recomendo lê-lo na íntegra. Como o Miguel bem diz, um cidadão comum como ele ou eu não tem conhecimento suficiente para ter uma opinião informada sobre a matéria, nem é exigível que tenha. Muito mais do que a eventual decisão menos correcta na localização do aeroporto, aflige-me o processo da sua discussão e decisão. A mim, e calculo, a muitos outros. Faz parte dos efeitos nefastos deste processo que se instala, para além da convicção de a decisão final não será resultado da melhor opção técnica, mas da vitória do interesse particular mais forte, a ideia fatalista que o que mais falta é a decisão, qualquer decisão. Ou seja que ela alimenta o nosso apreço, como o Miguel diz, por uma "liderança musculada". Esta reacção é compreensível, mas não por isso menos errada. A inclinação para substituir a transparência e responsabilização que falta pela autoridadade é característico de uma sociedade menos evoluída. Não nos falta o homem forte que corta o nó górdio, falta uma cultura e procedimentos institucionais que permitem desemaranhar este nó e de identificar nele o que é merece consideração e o que não. Para isso seria preciso transparência, ou seja, por um lado, a disponibilidade pública dos elementos que enformam a decisão, e, por outro, quem de forma desinteressada possa fazer a sua apreciação. A disponibilização cabe aos decisores, ou seja, o governo, a apreciação à sociedade civil e à comunicação social, que para este efeito recorriam a peritos que têm uma reputação de idoneidade a defender. E seria preciso responsabilização, ou seja, que os decisores políticos tivessem razão para temer que uma decisão em função de outros interesses além do nacional seria severamente castigada - no mínimo em termos eleitorais, senão criminais -, e que a comunicação social e os peritos tivessem razão para temer que uma postura menos idónea prejudicaria seria detectada e abalaria gravemente a sua credibilidade, e por consequência, o seu futuro no mercado. A falta de transparência e responsabilização em Portugal é, mais do que um problema institucional, um problema cultural. Ainda hoje incomóda-me o provérbio português, que diz "o segredo é a alma dos negócios". Claro os negócios têm de ter o seu lado necessariamente secreto. (O caso já não é tão linear quando envolvem o Estado). Mas o problema de fundo é que toda a actividade económica em Portugal, e nomeadamente a que envolve o Estado, desenvolve-se num clima onde predomina o nevoeiro, a dissimulação, a ambiguidade e a duplicidade de critérios e procedimentos, que os seus actores julgam vantajoso para eles, e que até o são, em muitos casos. Só que no cômputo geral, todos saiem a perder, pois é esse clima terceiro-mundista que distorce a concorrência, sabota as escolhas em função da qualidade, impede que se premeia o mérito, e no fim, impede o progresso. 28.11.07
Ontem, no zapping, cheguei acidentalmente ao SIC Notícias, onde Miguel Sousa Tavares falava sobre o seu novo livro. Em vez de prosseguir no meu passei pela TV-Cabo, fiquei a ver. Queria saber o que MST dizia sobre a crítica de Vasco Pulido Valente. Se seria capaz de resistir à tentação de responder, em público, no plano pessoal. Não foi. Que foleiro. E eu fiquei a ver. Idem. Pink ribbon (Norman Engel) 27.11.07
Felizmente. O David Luz. E o Miguel Silva com um novo blogue: Bios Politikos. Falta só a Maria de Conceição. 26.11.07
«A friend of mine told me about evenings out with her husband, during which they seduce each other all over again and she can’t wait to get home and jump on his beautiful body; but if on the way into the house he pauses to straighten the lids of the garbage cans, the spell is broken. She told him, and he now resists this urge.» (Siri Hustvedt: A Plea for Eros) 23.11.07
O Quase em Português em modo Blackle. Que acham? Cortez the Killer (Neil Young) 22.11.07
21.11.07
Já me ouviram aqui dizer que não sou de "encadeados", e não sou. Mas o bom do blogue é que nele ningém me pode obrigar a ser coerente. Vai então, em resposta ao convite do José Luiz Sarmento, a 5ª frase completa da página 161 de um livro à mão, escolhido às calhas: "Er wird nicht wie ein Tier sterben", sagte ich, "er wird einschlafen wie ein Kind, ohne Schmerzen." (Tradução portuguesa: "Ele não morrerá como um animal", disse, "ele vai adormecer como uma criança, sem dores.") O texto pertence ao romance La Pelle, de Curzio Malaparte, versão alemã, editada no Stahlberg Verlag, em 1950. Penso que as regras estão claras. Os cincos bloguistas que convido para esta brincadeira são Susana, CBS, Marco, Rita e JPT, este último em compensação pelas correntes que já lhe estraguei... Pyromaniac (Josephine Meckseper) 20.11.07
Sinceramente, como é que se pode fazer negócios com um Hugo Chávez!? Porque é que não se fica pelas pessoas decentes, como o José Eduardo dos Santos, ou Ahmedinejad, ou Rei Abdullah de Arábia Saudita, ou Vladimir Putin? 19.11.07
Lembrei-me hoje, ao ler as declarações do Sr. Correia da Fonseca, daquele espanto que exprimi no post Small World: «Tenho entre os meus amigos pessoas que considero decentes e intelectualmente honestas, embora que não partilham certas opiniões políticas comigo. Eles têm entre os seus amigos pessoas que consideram decentes e intelectualmente honestas, embora que não partilham certas opiniões políticas com eles. Pessoas que considero criminosos.» Eu tenho entre os meus amigos – não entre os mais próximos, mas naquele leque mais vasto ao que em Portugal se ainda aplica este termo, comunistas com tudo que vai com isso, ou seja membros do partido, convencidos da sua missão e superioridade moral da sua ideologia. De resto são pessoas muito simpáticas, afáveis e prestáveis. Mas por uma razão que me continua incompreensível, são capazes de chamar camarada uma pessoa como o tal Sr. Correia da Fonseca, que 18 anos após o fim deste monumento de vergonha que era o Muro de Berlim, continua a defendê-lo. Como «recurso possível», medida para impedir a «emigração ilegal». Que tem o descaradamento de criminalizar quem quis fazer uso da sua liberdade de movimento, quem tentou fugir de um território, porque não quer ser preso, ou ser impedido de exercer a sua profissão, e ver sabotado o futuro dos seus filhos, só por manifestar uma opinião divergente da dos governantes. Que, hipocritamente, quer equiparar a «emigração ilegal» à «imigração ilegal», como se fosse a mesma coisa fugir de um estado opressivo como invadir um território alheio. Para além de ser uma simples mentira, quando diz que "aquele não era o tempo da livre circulação através das fronteiras, como hoje acontece em grande parte da Europa: quem quisesse passar ilegalmente a fronteira entre a Itália e a Áustria, ou entre Portugal e Espanha, ou entre Espanha e França corria o risco de ser imediatamente alvejado a tiro". Pergunto-me por vezes, se faço bem em comentar estas afirmações asquerosas. Talvez seria melhor ignorar este tipo de gente, e esperar que desaparecem, por via biológica, o que está a acontecer, com o tempo. Mas, por outro lado, ainda são muitos, e mais ainda há que não se escandalizam, e entre estes, como disse, até pessoas que parecem decentes. É por estes que não me calo, enojado. Por estes é que manifesto o meu asco. Não vêem que o vosso camarada é um criminoso? E vocês, o que são? 18.11.07
Vale a pena ler esta triste história. 17.11.07
O blogue mudo ao rapto de criancinhas, Ma Schamba, nomeu-me Mandatário para Minorias Étnicas da sua candidatura! 16.11.07
Isto foi um comentário a este post do Tiago, só quando o quis lançar, ja não pude. Vai então aqui. O Tiago concorda com a obrigação, aparentemente constante no código deontológico dos médicos, de recolher o consentimento do cônjuge, antes de realizar uma vasectomia. Eu não. Entre outro, acho esta regra muito pouco liberal. Por falta de conhecimento meu, vou deixar de parte a questão a que realmente vincula, em pormenor, o contrato que é um casamento civil. Embora o duvido, vou aqui assumir como hipótese que ele realmente obriga os cônjuges a disponibilizar-se para a procriação. Entendo que não se pode subordinar um direito fundamental como o do dominio sobre o próprio corpo de forma irreversível a um mero contrato. Claro que contratos limitam direitos, também os fundamentais. Mas não devem ser irreversíveis. Assim, quando alguém abdica por via de contrato de um direito fundamental, deve sempre poder voltar atrás e reavê-lo. Em concreto: Se eu, casado, optar por uma vasectomia, ou pelo uso sistemático da contracepção, ou pela continuada abstenção sexual, estou eventualmente a violar o contrato do casamento. O lesado (lesada, no meu caso) pode então exigir o seu cumprimento. Mas se não consegue obtê-lo, a solução deve passar pela resolução do contrato e uma indemnização adequada. Não admito que o estado ou, por delegação, uma entidade corporativa ou privada, tenha o poder de impor o cumprimento do contrato. Só podia admitir essa imposição em casos extremos, em que a violação do contrato criaria um dano grave e irreversível ao lesado. Como por exemplo um contrato de assistência médica em que a parte prometente não quer realizar uma operação vital a qual se comprometeu. O casamento não é desses. Pois o parceiro lesado pode sempre realizar o seu objectivo de procriação noutro casamento. Assim, o que acho apropriado no casamento, é que o parceiro que quer proceder a uma esterilização, irreversível ou reversível, seja obrigado de informar o cônjuge. E admito que o estado, no caso por delegação ao médico, assegure que essa informação é mesmo dada antes da intervenção. Informação, sim. Consentimento, não. Para não falar só do casamento, dou outro exemplo: Supomos que celebro um contrato com o Tiago em que me comprometo, contra um honorário pago antecipadamente, de limpar a sua retrete durante o próximo ano. Depois de uma semana, descubro que foi má ideia e que quero desistir. Acho que o Tiago teria, neste caso, direito à devolução do honorário, acrescentado por uma indemnização. Não acho que no restante ano deveria ser obrigado, com escolta policial, de comparecer na casa do Tiago e lhe limpar a retrete. 15.11.07
«As vezes digo-me até que a grande diferença, antes de ser entre a esquerda e direita, é entre quem gosta de deixar falar e quem gosta de mandar calar. Há gente de esquerda que gosta de mandar calar - Chávez é um bom exemplo - e também gente que gosta de ver mandar calar, por interposta pessoa, enquanto foi de esquerda ou quando passou a ser de direita. Não estava com eles antes, não estou com eles agora.» Cristalino e elementar, Rui Tavares no Público de hoje. 14.11.07
Sleeping boy (Theodotos) 13.11.07
(An appetizer)
«A few years ago a friend of mine gave a lecture at Berkeley on the femme fatale, a subject he has been thinking about for years. [...] When he finished speaking, he took questions, including a hostile one from a woman who demanded to know what he thought of the Antioch Ruling – a law enacted at Antioch College, which essentially made every stage of a sexual encounter on campus legal only by verbal consent. My friend paused, smiled, and replied, “It’s wonderful. I love it. Just think of the possibilities: ’May I touch your right breast? May I touch your left breast?’ [...] It is safe to assume that the Antioch Ruling wasn’t devised to increase sexual pleasure on campus, and yet the new barriers it made, ones that dissect both sexual gestures and the female body (the ruling came about to protect women, not men), have been the stuff for erotic fantasy for ages. When the troubadour pined for his lady, he hoped against hope that he would be granted a special favor – a kiss perhaps. The sonnet itself is a form that takes the body of the beloved apart – her hair, her eyes, her lips, her breasts. The body in pieces is reborn in this legal drama of spoken permission. Eroticism thrives both on borders and on distance. It is a commonplace that sexual pleasure demands thresholds. My philosopher made quick work of demonstrating the excitement of crossing into forbidden territory – the place you need special permission to trespass into. But there is distance here, too, a distance the earnest crusaders who invented the ruling couldn’t possibly have foreseen. The articulation of the other’s body in words turns it into a map of possible pleasure, effectively distancing that body by transforming it into an erotic object.» (Siri Hustvedt) 12.11.07
Não vejo qual é o motivo de regozijo, ou de admiração, ao ver um tipo responder mal-educado a um tipo mal-educado. O espaço que é dado a este fait-divers durante dias na comunicação social, só confirma a sua falta de critério e nível. Adenda: Depois de uma volta na blogosfera, tenho de admitir que aqui a idiotia acerca deste episódio bem supera a dos media tradicionais. Há verdadeiramente quem encontra nesta cena a prova da superioridade da monarquia! Ao próprio Juan Carlos, que teve no seu tempo, quando ajudou decisivamente abortar o golpe de estado, o seu momento de glória e mérito inegável, não ficará escondido o ridículo de tanto elogio para um acto tão insignificante e de dignidade discutível. Chegar-se a frente na mesa e dizer ao outro: "Porque não te calas?" Se isto é a grande política - que tristeza! Susana: Na introspecção que me sugeres, sobre o que penso, como homem, a propósito do que é sentir-se uma mulher, descubro me um tanto inibido de pô-lo em palavras. Instintivamente, algo me diz que não é prudente responder a essa questão. E por outro lado, os termos que me ocorrem são tão parecidos com os estereótipos da sabedoria popular e daquilo que se pode encontrar em obras do tipo “porque os homens nunca perguntam pelo caminho e as mulheres não sabem estacionar”, que arrisco, se não fico calado, arruinar a minha reputação não só como homem mas ainda por cima de pessoa razoavelmente instruída. Contudo, vou fazer uma tentativa. Uma coisa que sinto e também observo, é que uma mulher se sente muito mais do que um homem como objecto de desejo, para além de seu sujeito, que ambos naturalmente também são. Basta olhar para o vestuário feminino, época e cultura a escolher, para confirmá-lo. Da burqua à mini-saia, ele é uma resposta a essa condição. Julgo que esta experiência é constituinte para o modo de estar na vida duma mulher. Centra a sua consciência no seu corpo, por um lado, e por outro no social. Mais do que o homem, uma mulher é o que é sempre para o outro e outros. Vocês saberão melhor do que eu como isto tem o seu lado bom e mau. Siri Hustvedt conta no seu muito recomendável A Plea for Eros como ser atraente é um estímulo, mas como a permanente pressão erótica por vezes acaba de ser um fardo cansativo. Também os homens são e sabem-se objectos do desejo, mas em muito menor grau. Continuarão a sê-lo em menor grau, estou certo, apesar do evidente crescimento do culto da beleza física também dos homens nas nossas sociedades ocidentais. E assim penso que o elemento narcisista, auto-erótico, está muito mais forte nas mulheres, do que nos homens. Mulheres querem ser sexy, homens querem sexo. Já ouvi da boca de mulheres que “os homens são básicos”, e acho que isso tem a sua verdade. Somos mais simples, definimo-nos mais em relação ao que fazemos, não tanto em relação ao mundo onde nos enquadramos. Somos menos sociais. Tendemos a traçar um caminho linear em direcção aos nossos objectivos, e usamos meios mais directos e – se necessário – brutos para os alcançar. Também isto parece-me relacionado com o papel sexual. Os jogos neste domínio são complexos, o que faz com que tudo o que digo aqui a esse respeito tem a mácula de simplificação e generalização foleira. Mas acredito que o cliché tem um núcleo que vai para além da convenção, que reza que a mulher atrai, e o homem é atraído. Neste jogo, os comportamentos que cabem ao homem, são de muito maior simplicidade do que os da mulher. A ele compete somente avançar, insistir, até conquistar. A ela cabe a tarefa bem mais sofisticada do jogo duplo de atrair, resistir, de negar mas manter o interesse, e no fim ceder. (Há dias vi no Discovery Channel um programa sobre o ritual de acasalamento das doninhas, que consiste basicamente numa corrida. A fêmea foge, e os machos correm atrás dela. Quando todos se cansaram, menos um, ela deixa se alcançar e rende-se, confirmando Darwin, àquele que se revelou o mais forte.) Neste jogo de conquista, de resistência e rendição final há uma componente óbvia de dominação e submissão onde, à face, a parte da dominação cabe ao homem e a submissão à mulher. Mas sabemos que não é bem assim. Quem controla o jogo, é quem detém o poder de atracção, quem pode ceder ou não. (Não estamos na selva.) E a mulher que controla exercita-se, na medida em que isto não é já genético, na arte de manipulação. A minha tese pouco original é que desta experiência – embora não só desta - advém a maior competência social das mulheres, a maior capacidade de percepção das nuances, a maior habilidade em gerir as relações interpessoais. Nós os homens, somos mesmo mais básicos. Interessamo-nos por coisas, não tanto por pessoas. Queremos fazer o que gostamos e sabemos fazer, de resto, queremos a nossa paz. E sexo. Daí, admito que me sinto lisonjeado, Susana, se nos julgas interessantes e enigmáticos, mas não creio que merecemos o elogio. 9.11.07
Estava lá. Há três anos, contei como foi para mim. Destricted Balkan Still 01 (Marina Abramovic) Se esta palavra não merecesse ficar reservada para coisas sérias, chamaria terrível à minha última semana. Dia após dia, voltar depois do jantar, onde só compareço por obrigação de mostrar a cara cansada a mulher e filhos, para um segundo turno de trabalho onde tento reduzir o monte de coisas não resolvidas depois de outra missão fora. E ficar, ainda por cima, roído por um sentimento de culpa por não ter sido capaz de me organizar melhor e evitar este tour de force, que só ficaria bem a um profissional bem mais novo. Ainda falta trabalho, mas entretanto a situação está sob controlo. E assim consigo hoje, ao sair à rua, reparar na lindíssima manhã de Novembro que está, e naquela rapariga que aproveita o dia soalheiro para sair em collants e mini-saia, e que está a correr - para apanhar o comboio, se calhar - e que está a correr com esta elasticidade própria da sua juventude, pondo em oscilação as partes do seu corpo que acentuam a sua feminilidade: tão sugestível, tão saborosa, que a memória do meu sofrimento e o meu cansaço esvanecem e me enchem alegria e desejo que aproveito para escrever este post. 7.11.07
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