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  • 12.11.07
    How do we feel?

    Susana:
    Na introspecção que me sugeres, sobre o que penso, como homem, a propósito do que é sentir-se uma mulher, descubro me um tanto inibido de pô-lo em palavras. Instintivamente, algo me diz que não é prudente responder a essa questão. E por outro lado, os termos que me ocorrem são tão parecidos com os estereótipos da sabedoria popular e daquilo que se pode encontrar em obras do tipo “porque os homens nunca perguntam pelo caminho e as mulheres não sabem estacionar”, que arrisco, se não fico calado, arruinar a minha reputação não só como homem mas ainda por cima de pessoa razoavelmente instruída. Contudo, vou fazer uma tentativa.

    Uma coisa que sinto e também observo, é que uma mulher se sente muito mais do que um homem como objecto de desejo, para além de seu sujeito, que ambos naturalmente também são.
    Basta olhar para o vestuário feminino, época e cultura a escolher, para confirmá-lo. Da burqua à mini-saia, ele é uma resposta a essa condição. Julgo que esta experiência é constituinte para o modo de estar na vida duma mulher. Centra a sua consciência no seu corpo, por um lado, e por outro no social. Mais do que o homem, uma mulher é o que é sempre para o outro e outros.

    Vocês saberão melhor do que eu como isto tem o seu lado bom e mau. Siri Hustvedt conta no seu muito recomendável A Plea for Eros como ser atraente é um estímulo, mas como a permanente pressão erótica por vezes acaba de ser um fardo cansativo.
    Também os homens são e sabem-se objectos do desejo, mas em muito menor grau. Continuarão a sê-lo em menor grau, estou certo, apesar do evidente crescimento do culto da beleza física também dos homens nas nossas sociedades ocidentais. E assim penso que o elemento narcisista, auto-erótico, está muito mais forte nas mulheres, do que nos homens. Mulheres querem ser sexy, homens querem sexo.

    Já ouvi da boca de mulheres que “os homens são básicos”, e acho que isso tem a sua verdade.
    Somos mais simples, definimo-nos mais em relação ao que fazemos, não tanto em relação ao mundo onde nos enquadramos. Somos menos sociais. Tendemos a traçar um caminho linear em direcção aos nossos objectivos, e usamos meios mais directos e – se necessário – brutos para os alcançar.
    Também isto parece-me relacionado com o papel sexual. Os jogos neste domínio são complexos, o que faz com que tudo o que digo aqui a esse respeito tem a mácula de simplificação e generalização foleira. Mas acredito que o cliché tem um núcleo que vai para além da convenção, que reza que a mulher atrai, e o homem é atraído. Neste jogo, os comportamentos que cabem ao homem, são de muito maior simplicidade do que os da mulher. A ele compete somente avançar, insistir, até conquistar. A ela cabe a tarefa bem mais sofisticada do jogo duplo de atrair, resistir, de negar mas manter o interesse, e no fim ceder. (Há dias vi no Discovery Channel um programa sobre o ritual de acasalamento das doninhas, que consiste basicamente numa corrida. A fêmea foge, e os machos correm atrás dela. Quando todos se cansaram, menos um, ela deixa se alcançar e rende-se, confirmando Darwin, àquele que se revelou o mais forte.)
    Neste jogo de conquista, de resistência e rendição final há uma componente óbvia de dominação e submissão onde, à face, a parte da dominação cabe ao homem e a submissão à mulher. Mas sabemos que não é bem assim. Quem controla o jogo, é quem detém o poder de atracção, quem pode ceder ou não. (Não estamos na selva.) E a mulher que controla exercita-se, na medida em que isto não é já genético, na arte de manipulação.

    A minha tese pouco original é que desta experiência – embora não só desta - advém a maior competência social das mulheres, a maior capacidade de percepção das nuances, a maior habilidade em gerir as relações interpessoais.
    Nós os homens, somos mesmo mais básicos. Interessamo-nos por coisas, não tanto por pessoas. Queremos fazer o que gostamos e sabemos fazer, de resto, queremos a nossa paz. E sexo.

    Daí, admito que me sinto lisonjeado, Susana, se nos julgas interessantes e enigmáticos, mas não creio que merecemos o elogio.

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