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31.5.05
Há quem fala em chantágem, quando se diz que o não à constituição seria um não a Europa. Mas o não, o francês ainda por cima, é o golpe mais duro para o sonho europeu de que me lembro, e temo que é assobiar na floresta escura, quando digo que este golpe poderá servir para repôr o projecto europeu em caminhos menos pantanosos. Relativamente ao sonho, não tenho dúvidas. Para nós europeus, de sonhos políticos, ou este ou nenhum. (Excepto delírios inconsequentes.) E sei que não se vá a lado nenhum sem sonhos. Uns calam-se, outros não
Não tenho palavras para o que tenho a dizer. Mas como resistir e não dizer outra coisa qualquer? 30.5.05
Albrecht Altdorfer: Namorados O Luciano Amaral não é um espírito sensível
...e por isso acha Guantánamo legítimo. Luciano Amaral reproduz e defende a justificação oficial da Administração Americana, que nega aos prisioneiros de Guantánamo os direitos de presos acusados de delito comum, alegando que se trata de prisoneiros feitos em guerra, e os direitos de prisoneiros de guerra - fixados na convenção de Geneva - por tratar-se de combatentes inimigos que não são soldados dum estado, pois a Al-Queda não é um estado. O post vem na sequência dum outro, em que ataca a evocação do GULAG pela Amnistia Internacional, na critica ao campo de detenção de Guantánamo, que motivou uma interssantissima série de posts no Mar Salgado. Sobre a legitimidade de comparar Guantánamo ao GULAG ou de simplesmente invocar o GULAG aquando falando de Guantánamo pode e deve discutir-se. Já agora, a minha opinião é um claro Não no primeiro caso e um Sim bastante reservado no segundo: No primeiro caso incide-se numa inadmissível diminuição dum dos maiores crimes contra a humanidade da história, no segundo caso não, mas é exigível a quem o faz, contar com o aproveitamento de má fé por partes interessados neste branqueamento. O que vale ainda mais para uma instituição com as responsabilidades da Amnistia Internacional. Para além disso a invocação do GULAG resulta, como verificamos, não só num re-acender do debate da questão de Guantánamo, o que é bom e seguramente foi objectivo principal da AI, mas também em levar a discussão para os trilhos fartamente pisados da contabilização de "crimes de esquerda" vs. "crimes da direita", o que não acho nada útil para a questão. Porque essa, a questão, é a dos direitos humanos. E do regime do direito. Sobre isso o Pedro Caeiro já escreveu, e melhor, o que eu tenho a dizer. Não é admissível, é um retrocesso civilizacional assustador, que o estado mais poderoso do mundo, o líder do mundo livre, exclui um determinado grupo de pessoas do regime e da protecção da lei. E nisto a Administração Americana e todos que defendem a situação de Guantánamo têm efectivamente algo importante em comum com os criadores do GULAG e dos outros campos de concentração: A ideia de que a Razão de Estado pode destituir humanos dos seus direitos que foram declarados num consenso internacional inalienáveis. Como disse, não acho bem discutir estas questões no quadro da dicotomia "esquerda/ direita". Também não me agrada a dicotomia proposta por Luciano Amaral, de "sensível/insensível". A dicotomia é entre os que acreditam em direitos humanos inalienáveis e os que não. 29.5.05
Amnistia Intencional de FNV Guantánamo: This Parrot is dead! de PC Ao longe parecem moscas de FNV Guantanamo: It's not pining. The Parrot is no more. de PC Também se recomendam os posts de FNV e PC sobre o debate da educação sexual: Mais intendência Espadiana Uma questão de seriedade científica O melhor seguramente é ir simplesmente ao Mar Salgado e lê-los todos de seguida. 28.5.05
os profesores so mandao t.p.c. que nao e trabalhus para casa mas sim trutura para criancas que e capas de mandar uma crianca para o hospital e depois para o manicomio. pur iso os profecores temem de ter cuidado com ico. (Post do Felix, 6º ano, dislêxico.) 27.5.05
A notícia lê-se no Fumaças. Sempre gostei do gajo. Nasceu 1948 como filho dum talhante, retornado 1946 da Hungria onde pertencia a minoria alemã. Abandonou a escola no décimo ano sem exame final. Começou uma formação profissional de fotógrafo, que abandonou pouco depois. Aos dezoito anos passa um ano a viajar: Inglaterra, França, Espanha, Itália, Grécia, Turquia e até Kuwait. Depois da morte do pai e da irmã, em 1967, casa em Gretna Green com a sua namorada, ainda uma menor. Muda-se para Frankfurt, onde vive de empregos ocasionais e atende cursos de Adorno, Habermas e Negt, e estuda Marx, Hegel e Mao. Integra num grupo que se chama "Revolutionärer Kampf" ("Luta Revolucionária"), e destaca-se nas batalhas da rua com a polícia, que lhe merecem uns dias de prisão na celebre cadeia Stuttgart Stammheim. Ao lado do seu amigo Daniel Cohn-Bendit, passa rapidamente a uma das figuras de proa da luta estudantil em Frankfurt. Emprega-se na Opel em Rüsselsheim, mas é logo despedido quando o patrão percebe que está a mobilizar os operários para luta revolucionária. Em 1976 faz o curso de taxista, profissão que exerce até 1981. É o "Outono Alemão", com os seus assassinatos políticos, o rapto e posterior assassinato do presidente da associação do patronato Hanns Martin Schleyer, e o desvio do avião Landshut, pela "Rote Armee Fraktion" em 1977, que o leva, como ele próprio diz, a afastar-se da esquerda radical. Em 1982 entra nos Verdes, um novo partido que é constituido tanto por ex-militantes da revolta estudantil como por grupos ecologistas de origem conservador. Um ano depois, em 1983, os Verdes conseguem ultrapassar a barreira dos 5% dos votos e entram pela primeira vez no Bundestag; Fischer é deputado. Em 1985 passa a ser o primeiro ministro verde, o Ministro do Ambiente no estado federal de Hessen, onde se apresenta, para o escandalo duns e o gozo de outros, ao juramento solene em ténis e sem gravata. Já é, ao lado de Otto Schily (hoje ministro do Interior do governo Schröder), a figura mais notória da ala direita dos Verdes, dos "Realos". Entre 1985 e 1994 Fischer consegue levar o seu partido (já sem Otto Schily, que em 1989 se mudou para o SPD) a assumir-se claramente como um partido pro-regime, e assim elegível como parceiro da coligação do SPD também ao nível nacional. Em 1992 publica um livro intitulado "A equerda depois do socialismo". Durante estes anos, o ex-street-fighter ganha bastante peso que leva-o também neste domínio a concorrer sériamente com Helmut Kohl, com quem partilha o gosto pela culinária. Mas em 1996, depois do seu terceiro divórcio, muda de vida e transforma-se num maratonista, levando adiante uma vida frugal e ascética. Contra a resistência do seu partido, que frequentemente desaprova maioritariamente as suas posições, mas está consciente das sua grande popularidade para além do seu eleitorado, assume a defesa da participação de tropas alemãs na intervenção internacional na Bósnia e apoia o alargamento da NATO para a leste. Quando em 1998 o SPD e os Verdes ganham as eleições nacionais, e terminam a era Kohl, Fischer é a escolha natural para o cargo de Ministro de Negócios Estrangeiros da Alemanha, como qual ganha rapidamente o respeito dos seus colegas e até adversários, como Jack Straw e Colin Powell. Na Alemanha é, desde então, já novamente também fisicamente um peso pesado, constantemente e por larga margem o político mais popular. 26.5.05
Deitei fora o guarda chuva que bom molhar-me contigo Samurai Zen Um exemplo duma tradução que supera o original. 25.5.05
Playmates da semana: Gabrielle d'Estrée e irmã (Escola de Fontainebleau) 24.5.05
O Afonso Bivar chamou num comentário ao meu post sobre a "merda" a atenção à multiplicidade semántica dos vocábulos. Que tem como consequência a necessidade de atentar para o contexto em que é utilizado, tanto da situação como também o social. Lembrei-me a este propósito disto: Ao aprender a segunda língua apercebi-me que o significado das palavras não é "discreto", como os matemáticos dizem, mas que lhes pertençe um campo de significado, cujas margens são esfumadas. E que os campos de significado de vocábulos dados como equivalente em línguas diferentes não se sobrepõem completamente. E mais: Se fizessemos um mapa com estes campos, víamos que há frequentemente mais do que um campo de significado para uma palavra, e que estes frequentemente estão muito afastados uns dos outros. O facto de - excepto em linguas científicas, que dependem disso e por isso se esforçam, nem sempre com sucesso, para conseguí-lo - não existir para os vocábulos que usamos uma definição única, claramente delimitada e consensual, é aliás a razão porque na comunicação é imprescindível a boa-fé dos interlocutores. Só se existir a vontade de procurar e reagir ao sentido intendido pelo outro, há qualquer hipótese de a conversa, o debate, produzir algo novo, que se aprende algo. Os exemplos em que isso não acontece temos presentes todos os dias, lá fora e cá dentro da blogosfera, no debate político. Por mais do que um ano estou a protelar duas coisas que queria fazer. Primeiro, elogiar o Universos Desfeitos, pelo fantástico serviço publico que faz (fez) ao compilar o seu poemário. Segundo, começar com a cópia e o arquivo sistemático deste poemário, prevenindo-me para o dia em que este deixa de estar disponível online. Faço-o agora, muito em cima da hora: O Juraan Vink anuncia destruir os universos no 31 de Maio. Terei de despachar-me com a segunda tarefa. Entretanto, a boa notícia é que o Juraan Vink reaparece, como HMBF, na Insónia. 23.5.05
Stoa "Shaima Rezayee era a única operadora de vídeo no Afganistão. Era, porque acaba de ser assassinada. Tinha 24 anos e era apresentadora de um programa de tv sobre música, versão afgã da MTV. O programa era altamente popular, e fez disparar os índices de audiência da TOLO TV, o canal em que trabalhava. A popularidade era também grande entre os conservadores, embora obviamente pela negativa: acusada de propagandear hábitos ocidentais, de usar o lenço na cabeça demasiado descaído... recebia inúmeras ameaças e a TOLO TV preferiu mesmo despedi-la. Mas Shaima tinha suportado 5 anos de Burkha, para ela ser ameaçada já fazia parte da vida. Mais do que o que fazia, converteu-se ela própria na ameaça. Mataram-na. Curiosamente, neste mundo de imagens não consegui encontrar uma única imagem dela na net. Uma imagem duma operadora de vídeo e apresentadora dum programa de tv. Com 24 anos." (No Blogo Social Português) Só posso salutar que um partido, que governava ininterruptamente, desde 1966, no Estado Renânia do Norte - Vestfália, foi finalmente afastado do poder. Mesmo não tendo grandes simpatias pelos que o vão substituir. O SPD aproveita a ocasião para propor eleições antecipadas. Que dificilmente irá ganhar. Uma "fuga" à Guterres? Nunca percebi essa teoria da "fuga". Querem que um governante que se descobre esgotato se agarre ao posto? Aparentemente Schröder reconhece que o que fez "wasn't good enough". Embora consta que será de novo o candidato nas eleições federais. (Uma diferença para Guterres.) O Governo Schröder tentou e conseguiu, contra a oposição dum grande sector do seu partido e dos sindicatos, impôr reformas estruturais que seriam de esperar dum partido conservador. Será que decidiu poupar um ano ao país e passar deliberadamente a pasta ao CDU? O que incomoda é que os dois protagonistas da oposição não me deixam feliz: Não conheço da presidente do CDU, Angela Merkel, uma única ideia política própria. O que é de dizer dela, disse muito bem a Rita aqui no Boas Intenções. O curriculo económico da Bavária, do estado federal governado por Edmund Stoiber (CSU), ex-candidato e provável novo candidato ao cargo do Bundeskanzler, é bom, mas as suas posições políticas, em relação aos costumes, a família, aos estrangeiros etc. já não me são suportáveis. Ele é um reaccionário, que entre outro, já advertiu contra uma "durchrasste Gesellschaft" ("sociedade racialmente mesclada"). (Actualizado. A ler também o post do CMC, no Tugir.) 22.5.05
Há dias o José lembrou num comentário que "merda" é um palavrão comparativamente inofensivo em Portugal, bastante comum e aplicável em contextos muito variados. Tem razão. A correspondente palavra "Scheisse", na língua alemã, é muito mais forte enquanto palavrão, ocupando nela o lugar que no inglês é dado ao "fuck". Há quem vê nisto um indício para a especificidade do carácter nacional alemão, que dizem, segundo a classificação freudiana, "anal". No meu conhecimento muito superficial destas coisas o carácter anal evidencia-se por uma maior obsessão pela ordem, pela rotina, pela propriedade, e pela hierarquia. Qualidades estas, e a predilecção pelos cães e o comportamento canil, que me parece enquadrar-se aqui, são dados - entre outro - como causas da facilidade com que o nazismo se pôde instalar no nosso país. Há até quem relaciona com o carácter anal a escolha da cor castanha das fardas do Partido. Entretanto, posso felizmente assegurar, o "fuck" já ganhou bastante terreno ao "Scheisse", e a disciplina alemã também já não é o que era; mas ainda há provas irrefutáveis da existência dessa nossa fixação anal. Por exemplo o carinho que dedicamos ao papel higiénico, e a tradição de enfeitá-lo e expô-lo nos guarda-chapéus - diz-se assim ao lugar abaixo da janela traseira? - dos nossos carros. Deixo aqui uma amostra e um site que se dedica ao artesanato destes adornos. Talvez haja aqui quem lhe tome o gosto... 21.5.05
E todos ficamos encantados quando a vida uma vez parece ser como nos romances. 20.5.05
No início dos anos 70 - nos tempos áureas da libertinagem pós-68, ainda sem ser abalado pelo choque da SIDA e inconscientes dos perigos da pedofilia - os meus pais progressistas, que já duma forma mais técnica nos (dois filhos e uma filha) tinham "esclarecido", compraram um livro de educação sexual e deixaram-no disponível, sem mais comentários, entre os outros da divulgação científica na respectiva estante na sala. Chamava-se "Zeig mal!" (="Mostra!") e era um livro de formato grande - maior do que A4 - com fotografias a preto e branco em tamanho de página inteira: dum homem e duma mulher nus; uma sequência impressionante dum nascimento; e de dois adolescentes da minha idade (ca. de 14 anos), rapaz e rapariga, a masturbarem-se, a fazerem fore-play - ainda hoje tenho a imagem bem presente, como ela beija, com carinho, a ponta do pénis erecto do rapaz - e também, no fim, uma sequência deles a copular, em close-up. Tudo acompanhado por um texto explicativo não muito longo - um parágrafo por página - numa fala directa, casual, simpática. Achava óptimo ter este livro disponível, e li-o repetidas vezes com imensa curiosidade, e também utilizava-o pelos fins para que se utiliza pornografia, embora, apesar das imagens mais do que explícitas, ele não era nada, mesmo nada pornográfico. Não eram imagens de que se sente a intenção do apelo erótico. Eram imagens documentais de actos eróticos. O que queria dizer era, que li-o – sempre - em privado. (Uma vez, li o com amigos também.) Mas mesmo se não me dava ao trabalho de esconder aos meus pais, quando levava o livro para o meu quarto, era claro que não quis ser abordado por eles sobre ele. Estava complexado por (de)formação cristã? Não sei. Tímido, sim. A comunicação sobre o sexo com os meus pais incomodava-me, é verdade, embora eles foram tudo menos repressivos ou moralistas connosco. O livro está hoje em casa da minha irmã, onde está a ser aproveitado da mesma forma pelas suas duas filhas, de 12 e de 14 anos. Ele há muito já não está a venda. Quem se atrevia hoje, nestes nossos tempos supostamente tão liberais, produzir um livro destes, arriscava-se a vários anos de prisão, por abuso sexual de crianças. Bunbury Storm, Western Australia, 16.5.2005 19.5.05
No seu comentário ao meu post de ontem, o João Tunes explica de forma excelente as razões históricas e sociais do facto que me intriga. Agradeço sinceramente. Em complemento, o Miguel Silva deu me, por e-mail, alguns valiosos esclarecimentos. Porque embora que relacionei no meu post a minha intriga com a percentagem de votos que o PC ainda alcança, ela incide, na verdade, mais sobre os votantes e militantes do PC que conheço pessoalmente, e que não são perdedores sociais. São professores, funcionários públicos, profissionais liberais. É aqui onde aplica o argumento que o Miguel adianta: A família, a pertença. Sabem-se eles próprios, os familiares, os amigos comunistas, boas pessoas, generosas, que deram muito e continuam dispostos a dar para uma "boa causa". Percebo que este sentimento pesa muito, e que a experiência humana real ofusca informações que se lêem em livros e jornais, de que se fala na TV. Porém, mas isso talvéz tem a ver com o meu individualismo empedernido, continuo a não perceber como alguém formado e com gosto pela liberdade consegue subordinar-se a "democracia" interna do Partido. (O Miguel diz-me com razão, que a democracia interna dos outros partidos também tem muito que se lhe diga, o que seguramente é verdade, mas não melhora o caso.) Mas o que queria dizer ao João, é, vendo esta nossa troca de posts, que há muito pouco que nos separa em termos de análise e até na avaliação; só uma embirração, mútua, da sua parte sobre alguém que se permitiu um talvéz arrogante e leviano encolher de ombros perante os votantes comunistas, e da minha parte sobre quem chamou o meu estatuto de imigrante para o caso. Proponho que passemos adiante: Mal de nós se deixássemos as nossas embirrações suplantar o que nos une. 18.5.05
(Uma resposta ao João Tunes) Quando entramos pela primeira vez numa sociedade em que não nos conhecem, estamos especialmente cautelosos e empenhados em não cometer gaffes, não dar má imagem, e acima de tudo, não ofender ninguém. Depois, com o tempo, essa preocupação passa, e, se as coisas correrem bem, acabamos por sentir-nos à vontade. Foi o que me aconteceu. Encorajado pela simpatia, por vezes até pelo incitamento por parte de co-bloguistas, que me acolheram neste espaço virtual luso, que, como o João, generosamente deram a sua atenção e até troco ao alemão que aqui se pôs a falar quase em português, fiquei cada vez menos consciente de não estar em casa. E acabei de ferir sensibilidades nacionais. Sempre o disse: Não tenho pretensões nem ambições de me transformar num português, coisa que sei impossível. Cheguei aqui aos trinta e três anos, com tempo de vida suficiente para ter adquirido uma identidade nacional que não se despe como um fato; e por outro lado Portugal não é America: não faz (ainda?) parte da identidade nacional portuguesa ser se imigrante ou descendente de imigrante. Tenho, sim, pretensões de ser cidadão de Portugal, coisa que dou por largamente adquirido. Sou cidadão que vive e trabalha aqui, paga impostos e segurança social, educa os seus filhos e assume, mais limitado pela própria preguiça do que por obstáculos que lhe são colocados por fora, o direito (e dever) do cidadão: intervir, não só votar (nas autárquicas), o que faço com especial alegria e orgulho, como tomar posição na vida quotidiana, por exemplo enquanto pai na escola do filho, ou também aqui, neste divertimento tão aliciante como inconsequente que é o bloguismo. Mas, caro João, não ponho em questão a diferença entre o concidadão que sou e o compatriota que não sou. Como cidadão, por exemplo, permito-me dizer: O sistema de saúde em Portugal é uma merda. Nunca poderia porém dizer, (mesmo se o pensasse, o que não é o caso) o que já ouvi muitas vezes portugueses dizer em jeito de desabafo: Este país é uma merda. Tenho consciência que beneficio, nas minhas intervenções opinativas, da ambiguidade da minha situação, podendo escolher as minhas referências, conforme-me convém, ora alemãs, ora portuguesas. A minha manifestada intriga sobre que num país livre um partido como o PCP possa ter 6%, 7%, ou até 10% de votos, que irritou o João, é um bom exemplo disto; ela provém da minha experiência específica alemã federal: Na RFA, a óbvia presença do simples facto, que o regime comunista atirava para matar sobre pessoas que não fizeram mais do que tentar sair do estado em que viviam, era o suficiente para que o partido comunista da RFA (o DKP) nunca nem um percento dos votos alcançava. Sei que as experiências portuguesas com o PC são outras, melhores. E foi isso que quis reconhecer, dedicando por isso ao facto que me intriga, um mero encolher de ombros, articulado pelo, para a minha surpresa, tão ofensivo enfim. Os dignos comunistas alentejanos, de que falou, conheço bem, por via familiar: a minha mulher é de Beja. É verdade que sofreram e lutaram em condições duras e difíceis contra a opressão. Mas não aceito, que ainda hoje se diga, que foi pela liberdade. Subjectivamente, sim. Não quero negar que muitos, menos bem informados, nestes tempos acreditavam lutar mesmo pela liberdade, acreditavam que seria mesmo isso o que o Partido pretendia instalar. Embora já na altura o exemplo da "democracia" interna do Partido poderia tê-los avisado. Também sei que não houve, em muitos casos e durante muito tempo, alternativas na oposição. Mas entretanto passaram mais do que trinta anos, em que nos chegou farta informação credível e de fontes muito variadas sobre o comunismo do modelo soviético. E depois de descontar os votantes comunistas de hoje, que não sabem ler, e que julgo ser seguramente uma minoria, concluo: Quem hoje ainda acha que o marxismo-leninismo é liberdade, não quer saber, ou não quer tirar as conclusões do seu saber. E perante este não querer saber, ou a incapacidade de tirar as conclusões, é que encolho os ombros. Perante isto mantenho o meu enfim. Que palavra alternativa propõe para quem vote num partido em cujo jornal oficial se escrevem editoriais como este? E mais, mesmo para quem não lê o jornal oficial, como eu, sequer dos partidos em que vota, está à vista a forma "democrática" como eles gerem os seus assuntos internos. É isso aliás que me leva a dar incomparavelmente mais crédito ao BE, também um partido constituido por outros cujas referências foram ou até ainda são regimes e ideologias que se revelaram a pura barbarie, do que ao PC: A prática democrática. Sobre a minha perplexidade selectiva: Ela foi selectiva, é verdade. E concordo, não me lembrando de algo a excluir, integralmente com a sua lista de assuntos que merecem igual perplexidade. Mas essa minha perplexidade surguiu neste caso – não é natural? – de forma espontánea. E logo selectiva. Não vejo mal nenhum na manifestação selectiva das minhas perplexidades, indignações ou dos meus entusiasmos de momento. O equilíbrio faz-se com o tempo. Ou não se faz. Neste caso falaremos. Por fim: Se ouviu alguma arrogância nacional no meu comentário, penso seriamente que ouviu mal! Para dissipar esta ideia, quero lhe referir o exemplo do meu país, onde se verifica, em vários estados federais, que 6%, 7%, ou até 10% das pessoas votam em partidos da extrema direita. Para comentar isto, não me basta nenhum enfim. Playmate da semana: Menina de Sigiriya (Sri Lanka, Séc.5) 17.5.05
Há dias tive uma ilustre visita a comentar no Quase em Portugues. Não sabia quem era, e informei-me: Hipparchia was a Cynic philosopher from Maroneia in Thrace, who flourished around 300 BCE. She became famous for her marriage to Crates the Cynic, and infamous for supposedly consummating the marriage in public. Hipparchia was likely born between 340 and 330 BCE, and was probably in her mid-teens when she decided to adopt the Cynic mantle. She may have been introduced to philosophy by her brother, Metrocles, who was a pupil in Aristotle’s Lyceum and later began to follow Crates. Most of our knowledge about Hipparchia comes from anecdotes and sayings repeated by later authors. Diogenes Laertius reports that she wrote some letters, jokes and philosophical refutations, which are now lost [...]. He adds that myriad stories were told about "the female philosopher".[...] Hipparchia’s decision to become a Cynic was surprising, on account of both the Cynic disregard for conventional institutions and the extreme hardship of the lifestyle. Cynics attempted to live "according to nature" by rejecting artificial social conventions and refusing all luxuries, including any items not absolutely required for survival. They gave up their possessions, carrying what few they needed in a wallet. They wore only a simple mantle or cloak, and begged to obtain their basic needs. Crates’ willingness to marry was also unusual, considering that marriage is a social institution of the sort normally rejected by Cynics, and earlier Cynics like Diogenes and Antisthenes had maintained that the philosopher would never marry. [...] Some later authors, such as Apuleius and Augustine, report that Hipparchia and Crates consummated their marriage by having sex on a public porch. Whether the tale is accurate or not, they were known to conduct themselves in all respects according to the Cynic value of anaideia, or shamelessness. The story of Hipparchia’s Cynic marriage quickly became the premiere example of that virtue, which is based on the Cynic belief that any actions virtuous enough to be done in private are no less virtuous when performed in public. As exemplars of anaideia, Hipparchia and Crates influenced their pupil Zeno of Citium, the founder of Stoicism. His Republic advocates the equality of the sexes, co-ed public exercise and training, and a version of "free love" wherein those wishing to have sex will simply satisfy their desires wherever they happen to be at the moment, even in public. Stoic ethics were generally influenced by Cynic values, such as self-sufficiency, the importance of practice in achieving virtue, and the rejection of the conventional values attached to pleasure and pain. The Stoics also advocated living according to nature in the sense of conforming one’s own reason to the dictates of the rational natural law. (Texto completo na Internet Encyclopedia of Philosophy) A palavra cinismo tem hoje - em todas as línguas que conheço - um significado que muito injustamente desacredita a reputação da filosofia que a originou. ...é dedicado à Carmen, que há bastante tempo acompanha o Quase em Português com muita simpatia. Felicidades e muito obrigado! Jackson Pollock, 1950 16.5.05
Arquitecto: Então está aprovado o loteamento, Sr. Jesualdo*. Estamos de parabéns! Promotor: Pois estamos. A: Sempre-lhe disse que foi inevitável ceder uma parte do terreno à câmara. P: Pois foi, mas lixei os gajos! A: Lixou?! P: Armadilhei o terreno. Plantei sobreiros. (* Nome fictício. História verdadeira.) foi "a mais brilhante conquista da história da humanidade". Fico a saber pelo Mar Salgado que isto pôde ler-se no editorial do Avante. O que dizer disto? Que me dou ao luxo de ignorar o que lá se escreve, porque sei que o diálogo com quem diz coisas dessas é tão infrutífero como o diálogo com neo-nazis? Que me sinto menos incomodado por uma afirmação dessas do que por uma dos nazis só por uma razão: que, ao contrário dos neo-nazis, esta gente está a ficar cada vez menos, felizmente? Talvez não chega como razão. Não me agrada muito, mas talvez terei de invocar a estafada razão de eu ser alemão, e daí reclamar uma vocação para preocupar-me com a locura mais intrínsecamente relacionada com o meu país. Não leio o Avante. O que me poupa de ter que ler lixo absoluto como este. E sempre intrigou-me como o PC pode ter, num país livre, 6%, 7%, ou até 10% de votos. Enfim, haverá explicações históricas, sociológicas. Fica o facto: Não tenho pachorra de confrontar-me com essa locura. Agora, caro FNV, essa da Jane Fonda não percebi. Ou seja, não quero perceber: Não queria porventura imputar ao movimento anti-Guerra-do-Vietname uma responsabilidade pelos crimes de Pol Pot? Ou queria? Pois essa seria uma afirmação capaz de concorrer em qualidade - de rigor histórico e de honestidade intelectual - com a do tal editorialista... Há dias linkei os partidos neofascistas alemães NPD e DVU. Agora enchem a minha caixa de correio com propaganda não solicitada. 14.5.05
Horst Janssen: Despedida, segundo Guardi Do L´ottavo libro de Madrigali de Claudio Monteverdi. The Consort of Musicke: Anthony Rooley, Director Emma Kirkby, Soprano Paul Agnew, Tenor Andrew King, Tenor Alan Ewing, Bass No player. Didi quer sempre. Olga e conhecida por isso. Ursel já três vezes teve azar. Heidi não faz segredo disso. Com Elke uma pessoa não sabe ao certo. Petra hesita. Barbara cala. Andrea está farta. Elisabeth faz contas. Eva procura em todo o lado. Ute simplesmente é complicada de mais. Gaby encontra ninguém. Sylvia acha o bestial. Marianne tem ataques. Nadine fala sobre isso. Edith chora enquanto. Hannelora ri-se disso. Erika entusiasma-se como uma criança. Com a Loni, podia-se atirar um chapeu pelo meio. Katharina tem-se persuadir para isso. Ria está logo pronta. Brigitte é de facto uma surpresa. Angela não quer saber disso. Helga sabe fazê-lo. Tanja tem medo. Para Lisa tudo é trágico. Com Carola, Anke e Hanna não vale a pena. Sabine espera. Com Ulla isso e uma certa coisa. Ilse saba dominar-se surpreendentemente bem. Gretel nem pensa nisso. Vera não pensa nada nisso. Para Margot seguramente não é fácil. Christel sabe o que quer. Camilla não pode prescindí-lo. Gúndula exagera. Nina ainda está a fazer-se cara. Ariana recusa simplesmente. Alexandra afinal é Alexandra. Vroni está doida por isso. Claudia ouve os seus pais. Didi quer sempre. (Wolf Wondratschek) 13.5.05
12.5.05
O Ivo Ferreira espera que o seu caso sirva de lição... ao Ministério de Negócios Estrangeiros! O MNE e as agências de viágem deveriam disponibilizar informações sobre os países, diz ele. Eu até acho que o MNE deveria disponibilizar uma Nanny para todos os Ivo Ferreiras, para acompanhá-los nas suas viagens e assegurar que não façam asneiras. Para que é que ele serve, afinal? _______________ Agora à sério: Quando uns turistas estúpidos se perdem nos Alpes (o que acontece todos os anos) e têm de ser resgatados por equipas de salvamento, é lhes depois apresentada a factura da operação. Espero muito, que o MNE faça o mesmo e cobra todas as horas e despesas gastas no seu caso. 11.5.05
Já tem um ano e ainda é girino! Playmate da semana: Vriederich (Janssen) 10.5.05
Holocaust memorial, hoje inaugurado em Berlim. Só para judeus. Há quem acha o monumento demasiado tosco, banal. Mas não sei se é possivel fazer melhor. O próprio crime, tão incompreensível e hediondo, foi, do ponto de vista dos criminosos, um conjunto de actos administrativos. (Em regra foram as próprias vítimas que foram obrigadas a concretizar o acto de matar.) Mas o melhor monumento ao holocausto na Alemanha é uma coisa espantosamente simples: Em Berlim, em inúmeros cruzamentos, normalmente nas saidas das estações do metro, há placas simples com nomes, quase podiam parecer placas de trânsito, se não fossem pretas e com letra amarela. Nelas lê-se: Auschwitz Maidanek Treblinka Sobibor Bergen-Belsen Dachau Buchenwald ... 9.5.05
Dois anos de Mar Salgado
Muitos parabéns a todos os marujos, mas especialmente ao PC e ao FNV! Sinceros embora atrasados. Enoksbru (Noruega) Na verdade, o João Miranda deve agradecer a Hitler. Não foi decisão livre dos soldados nazi (e não nazi) lutar até ao último homem para travar o exercito vermelho. Foi a de Hitler. E foi ele que a impôs. E ao João Miranda agradecem os meus compatriotas, do NPD e DVU, que contra grandes dificuldades se empenham em realçar os méritos do Führer. Porque para além de travar o perigo bolchevista, ainda deu emprego aos alemães nos anos trinta (na indústria do armamento) e mandou construir as auto-estradas (para um movimento rápido de tropas). Se continua assim, ainda lhe propõem uma filiação honorária. Hoje com contributos de Helena Araújo (Dois Dedos de Conversa), Filipe Alves (Respública) e Afonso Cruz (Alerta Amarelo). 8.5.05
O colapso. Era este o termo que a geração dos meus avôs usava para denominar o fim do Terceiro Reich. Não: a libertação. Para muitos europeus, em que se incluam os alemães ocidentais, foi a libertação. Para muitos outros não. Embora ser verdade que em qualquer caso, até no pior, o que veio a seguir era muito melhor do que a guerra, e muito melhor do que continuar a viver sob o poder nazi. A libertação para os alemães não veio para todos, e não veio imediatamente. Ainda estava em curso ou para vir: A limpeza étnica, a deslocação de 14 milhões de civís alemães, dos antigos territórios do leste - outros dois milhões não a sobreviveram - as violações em massa de mulheres alemãs, no minimo dois milhões. E a fome. Durante os próximos três anos, Alemanha vivia sob o governo dos aliados, o que restava da indústria foi desmontado e enviado como pagamento (obviamente insuficiente) de reparações para os paises vencedores. A economia estava parada, e quem dependia só da alimentação racionada distribuida oficialmente, morria de fome, o que aconteceu a mais uns três ou quatro milhões pessoas, principalmente idosos que viviam nas cidades. (Só quem tinha algo para trocar para comida, ou que tinha relações familiares ou amigáveis com agricultores safava-se.) Muitos que foram feitos prisioneiros de guerra e levados para os campos da URSS, nunca mais voltaram. Os alemães ocidentais tiveram a sorte que se avizinhava a Guerra Fria, e que por isso em 1946 os americanos abandonaram o Plano Morgenthau, que visava transformar Alemanha num estado rural, com uma população sem formação superior, para que nunca mais constituisse uma ameaça para o mundo. Em vez disto, Alemanha (ocidental) foi integrado no Plano Marshall, que pretendeu e conseguiu a rapida reconstrução dos paises da Europa ocidental, animar e fortalecer a suas economias, para que pudessem fazer frente à ameaça comunista. Na Alemanha oriental o 8. de Maio foi sempre chamado dia da libertação, e não - ou pouco - o foi. Na Alemanha ocidental, que ganhou a sua soberania (vigiada) em 1949, o termo se justifica pelo menos à partir desta data, mas durou 40 anos, até ao 8 de Maio 1985, que um presidente da RFA pôde reconhecê-lo oficialmente. É compreensível que a geração que (sobre)viveu a libertação, tem dificuldade de lembrar-se dela com gratidão, pelo que tiveram ainda de sofrer, embora quase todos reconhecem pelo menos o alívio que o "Zusammenbruch" facultou. Quanto às gerações posteriores, como a minha, mesmo entre nós os alemães, é bem claro: graças a Deus, que a nossa Alemanha foi derrotada de forma tão contundente!
Etiquetas: alemanha, antisemitismo, sel 7.5.05
YES: Close To The Edge (1972) No player. 6.5.05
5.5.05
"Faz-me espécie uma sociedade que trata com enlevado carinho e comiseração um puto parvo que foi fumar ganzas para o Dubai e ignora, assobiando para o ar, o drama de dezenas de jovens e chefes de família que, sem trabalho em Portugal, são obrigados a aceitar trabalho em condições infra-humanas aqui ao lado, em Espanha." O post de Paulo Querido* é um de muitos que com razão chamam a atenção ao desequilibrio gritante entre a atenção mediática para esta em relação a outras causas bem mais prementes. Não me admira o facto de que o realizador, depois de dificuldades iniciais, conseguiu o apoio dos média: É uma human interest story com um protagonista com quem muitos (certamente também jornalistas) se facilmente podem identificar. Tantos de nós que já uma vez fumaram um charro - e que mal isso fez? E a clareza de quem está errado: Estes árabes prépotentes e retrógrados - já sabemos como tratam as suas mulheres, e não gostamos, mas enfim, desde que sejam as deles... Que lhes falta no entanto o respeito pela privacidade e liberdade dum europeu culto e civilizado, no seu quarto de hotel, sinceramente, isso não podemos tolerar. Afinal este rapaz não é nenhum vadio ou junkie... Os jovens e chefes de família, que aceitam trabalho em condições infra-humanos em Espanha, também não são vadios, é verdade, mas é melhor não perguntar-me onde os situo em termos sociais, porque teria de responder: claramente muito mais distantes de mim (mesmo aqui ao lado) do que o realizador no longinquo Dubai. No fundo, triste verdade, isto é uma questão de classe. Eu assinei a petição em favor do Ivo Ferreira, e se hoje estou meio arrependido, não é porque me agora já incomoda o facto de que privilegio alguém com a minha atenção em detrimento de outros mais necessitados, é só porque tenho dúvidas se a petição não acaba por ser contra-producente. Assinei porque me identifico com ele: Já fui tão parvo como ele (embora bastante mais novo, quando o fui), simplesmente tive mais sorte. É injusto que nem todos têm o mesmo apoio dos seus concidadãos? É. É natural que ajudamos a quem sentimo-nos mais próximos? É. Mas não acho que faço melhor, se suprimo o impulso de ajudar aos de que me sinto próximo, se posso fazê-lo sem prejudicar outros. * encontrado via Fumaças 4.5.05
O Luis Ene lançou, um ano depois do primeiro, em que tive o prazer de participar, um novo concurso de literatura, desta vez de micro-histórias (até 200 palavras). Divulgem e participem. Contributos podem ser entregues aqui atê ao 31 de Maio. "Não sendo crente, aplaudi a eleição para Papa do cardeal Ratzinger com tanto mais fervor quanto os seus ditames não se me aplicam. Os católicos, pensei, iriam ter à sua frente um teólogo capaz de impor ordem ao rebanho." Hoje tropecei, na leitura do Público, sobre esta extraordinária frase de Maria Filomena Mónica. Não sendo crente (católico) também, não me tinha ocorrido que os católicos necessitam alguém capaz de impor ordem ao rebanho. Nem me tinha ocorrido haver desordem de relevo, mas admito, não fazendo parte do rebanho, que posso ter estado distraído. De qualquer maneira, como não quero presumir que a satisfacção da MFM resulte dum simples reflexo de aprovação em todos os casos onde se impõe ordem pela autoridade (como em Coreia de Norte, por exemplo), presumo então que ela deve achar que o mundo em geral ganha com a nova ordem imposta aos católicos. Ou será que é um impulso altruista, que leva a socióloga a regozijar-se com o facto de que os católicos agora ficarão mais aliviados do risco de perder-se na angústia de dúvidas ao desviar-se da doutrina pura, não interessando para o caso o facto de que ela própria nela não acreditar? Ou será que a professora universitária deposita esperança no efeito pedagógico do poder catedrádico do novo Santo Padre, que este habituará nomeadamente os jovens católicos, que afinal de tudo também lhe aparecem como alunos nas suas aulas, a acatar sem demasiado pensamento próprio às verdades que lhe são providenciadas pela autoridade? Ou será que se trata do alívio duma pessoa, que, apesar ou até por causa da sua experiência profissional, se sente desconfortável com a complexidade do mundo, e por isso se congratula com a perspectiva de que pelo menos uma comunidade de um bilião de cidadãos do mundo terão futuramente só uma voz? Mas talvez sou injusto, e o aplauso confessado é, sim, uma simples reacção humana, sem estar fundado num destes raciocínios - todos discutíveis - que em cima enumerei. Talvéz a Maria Filomena Mónica simplesmente gosta de ver quando outros estão a ser postos na ordem. Gosta de ver mandar. Playmate da semana: A pequena sereia (Edvard Eriksen) 3.5.05
Será que há quem acha a prática do meu cunhado censurável, ou até ímoral? "E no fim, não sobrarão dúvidas a ninguém que é preciso atacar o perigo amarelo. E daqui a uns anos, 9,8 milhões de portugueses estarão a pagar o seu vestuário bastante mais caro e a empobrecer lentamente, para que 250.000 trabalhadores do Vale do Ave possam manter o seu modo de vida no limiar da pobreza a produzir exactamente o mesmo que os chineses fazem consumindo um terço dos recursos, cada vez mais reduzidos principalmente ao mercado doméstico, que por não chegar para todos não vai evitar 80% das falências anunciadas." (via Ma-Schamba. Ainda vou acabar por linkar o Jaquinzinhos, depois de tanto tempo...) 2.5.05
Bons blogues, donde visitas passaram por aqui: A terrível língua alemã: O blogue de PQz, um português que vive em Berlim, que posta imagens que me suscitam uma mal-aguentável saudade pela cidade em que vivi 10 anos, e que explica com carinho e humor como é que se vive lá. Heródoto, um blogue de muito bom gosto e interessante de arqueólogos. Um Ponto de Fuga: mais um bom blogue dum arquitecto. Reiniciar: No dia em que o quis linkar, reiniciou... E ainda uma nota: Na lista dos links ao lado criei um grupo de blogues de imagens, quase todos já uma ou outra vez aqui referidos. 1.5.05
"Estou farta da arrogância dos professores do secundário perante os do primário!" (A presidente do Conselho Executivo da Escola Primária 154 de Lisboa, do Arco do Cego, em resposta à nossa queixa - minha e da minha mulher, professora do ciclo - sobre a ameaça de violência física pela professora do 2º ano aos alunos.) O meu cunhado, que é marceneiro na Alemanha, e faz móveis e interiores à medida, aumenta logo em 20% os seus orçamentos, quando sabe que os seus clientes são professores. E diz que nem isso cobra pela chatice e pelo tempo adicionalemente perdido na realização do trabalho. |
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