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  • 5.5.05
    Porque ajudei ao parvo que fumou um charro em Dubai

    "Faz-me espécie uma sociedade que trata com enlevado carinho e comiseração um puto parvo que foi fumar ganzas para o Dubai e ignora, assobiando para o ar, o drama de dezenas de jovens e chefes de família que, sem trabalho em Portugal, são obrigados a aceitar trabalho em condições infra-humanas aqui ao lado, em Espanha."


    O post de Paulo Querido* é um de muitos que com razão chamam a atenção ao desequilibrio gritante entre a atenção mediática para esta em relação a outras causas bem mais prementes.
    Não me admira o facto de que o realizador, depois de dificuldades iniciais, conseguiu o apoio dos média: É uma human interest story com um protagonista com quem muitos (certamente também jornalistas) se facilmente podem identificar. Tantos de nós que já uma vez fumaram um charro - e que mal isso fez? E a clareza de quem está errado: Estes árabes prépotentes e retrógrados - já sabemos como tratam as suas mulheres, e não gostamos, mas enfim, desde que sejam as deles... Que lhes falta no entanto o respeito pela privacidade e liberdade dum europeu culto e civilizado, no seu quarto de hotel, sinceramente, isso não podemos tolerar. Afinal este rapaz não é nenhum vadio ou junkie...

    Os jovens e chefes de família, que aceitam trabalho em condições infra-humanos em Espanha, também não são vadios, é verdade, mas é melhor não perguntar-me onde os situo em termos sociais, porque teria de responder: claramente muito mais distantes de mim (mesmo aqui ao lado) do que o realizador no longinquo Dubai.

    No fundo, triste verdade, isto é uma questão de classe.

    Eu assinei a petição em favor do Ivo Ferreira, e se hoje estou meio arrependido, não é porque me agora já incomoda o facto de que privilegio alguém com a minha atenção em detrimento de outros mais necessitados, é só porque tenho dúvidas se a petição não acaba por ser contra-producente. Assinei porque me identifico com ele: Já fui tão parvo como ele (embora bastante mais novo, quando o fui), simplesmente tive mais sorte.

    É injusto que nem todos têm o mesmo apoio dos seus concidadãos? É. É natural que ajudamos a quem sentimo-nos mais próximos? É. Mas não acho que faço melhor, se suprimo o impulso de ajudar aos de que me sinto próximo, se posso fazê-lo sem prejudicar outros.


    * encontrado via Fumaças

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