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  • 28.2.05
    Se ela matou a filha...

    ...não me vou indignar sobremaneira, se a mãe da Joana levou umas bofetadas no interrogatório.

    Claro que não defendo isso. Mas quando li a notícia, descobri-me a encolher os ombros e passar adiante. E julgo que este encolher dos ombros foi consequência dum sentimento que se baseava exactamente naquilo que disse não defender. Inconscientemente, e contra o saber melhor, já julguei: Ela matou a filha. Fiz um juizo de proporcionalidade: Matar uma criança indefesa vs. umas bofetadas. E descartei todas essas dogmas "piegas" e "politicamente correctas", como o de que em nenhum caso uma pessoa entregue à polícia deve ser maltratada.

    É mesmo difícil manter a frieza da razão a prevalecer sobre o sentimento!

    Tirei o Aditamento, que escrevi aqui após ter lido um comentário que chamou este post "fascista". A quem acha isso, peço que o leia uma segunda vez. O post fica como está. (O aditamento original guardei nos comentários.)
    for true purity is without thought.
    Thoughts may not be there,
    so I have lost the mine:
    I am decreated.
    He who is unminded has no cares.
    27.2.05
    Peter Benenson morreu

    Um elogio ao fundador da ONG Amnesty International pode ler-se, curiosamente, no Blasfémias.
    26.2.05

    Depois de me ter convencido que já havia muito que teriam passado os tempos em que a música, um grupo, podia ter impacto na minha maneira de sentir a vida como acontecia na minha adolescência, a angustia do belo voltou a apoderar-se de mim, trintão e pai de família, ao ouvir um grupo rock.
    Obrigado, Natalia!

    Fazem a seguinte experiência:
    Vão ao Google, escrevem "Natalia Verbeke", escolhem a opção imagens e clicam no primeio thumbnail que aparece. Devia ser este:

    (No Google, aqui não!)

    O site onde vão parar foi hoje actualizado.
    25.2.05

    elle me fait remarquer que mes dessins sont souvent prétextes à dessiner
    des femmes...ah bon?

    Nesoro, descoberto via a barriga de um arquitecto
    O que nunca poderia escrever, mas cuja leitura me permito recomendar
    Egoísmo cívico

    Este exemplo do Blogo...Existo, de que, ao contrário do que os liberais dizem, as pessoas nem sempre escolhem a vantagem individual imediata, é pertinente. Mas é de notar que este não é um caso como muitos outros onde se coloca a escolha entre a vantagem individual e o bem comum (como a protecção do ambiente, por exemplo): não é um caso de dilema do prisioneiro.
    Aqui é assim:

    - Se não colaboro (voto), mas todos os outros sim, ganho. (Poupo tempo pelo preço zero.)

    - Se não colaboro e bastantes outros também não, perco (representação dos meus interesses), mas quem colaborou nessa situação, ganha!

    - Só se praticamente ninguém colabora, todos perdem.
    Ou seja, ao contrário do que acontece no dilema do prisioneiro, a colaboração é premiada mesmo em caso da deserção dos outros!
    24.2.05

    Paredes caiádas, cuja irregularidade é realçada pelo sol. O chão tão nu como as paredes, apesar dos dois tapetes. Um banco talhado na parede, com o que parece ser a cama. No primeiro plano, a roda de fiar. A roda que hoje figura na bandeira da Índia, que lembra a roda de Buda, e que encarna o trabalho artesanal, em benefício próprio, contra a exploração indústrial dos opressores coloniais.
    A fotografia transporta toda a simbologia da luta deste homem magro e tão nu como o quarto, que lê jornais. Não os lê como distracção: lê atento, como um estudante.
    Mas a beleza vem de além da simbologia política, vem da harmonia, da noção de plenitude do fotografado. Apesar da simplicidade e aparente pobreza, não falta nada. Porque o pouco que lá está, tem a marca do homem, do seu trabalho, da sua dedicação e do seu amor.
    Não falo - neste caso - do homem, que lê o jornal, falo do Homem, que caiou as paredes, que teceu os tapetes, que construiu a roda. E que fez a fotografia.

    (Agradeço a lembrança e a fotografia ao Universos desfeitos!)
    23.2.05

    Playmate da semana: Nana com pernas no ar (Niki de Saint-Phalle)

    Sim, é a autora desta obra que figura na capa da LIFE do 26.9.1949. Quem diria...
    Água lisa 2

    Há muito li algures uma história sobre um povo pré-colombiano, que me impressionou tanto que nunca mais o esqueci. Tinha uma cultura sofisticada, com cidades, templos, obras de arte. Mas de 54 em 54 anos, os habitantes abandonavam as cidades, queimavam as casas, partiram a loiça, deixavam os templos e devolviam tudo à selva; mudavam-se para um outro lugar, limpavam uma clareira no mato e comecavam de novo.

    É o que João Tunes faz. De tempo em tempo, abandona o blogue que construiu, template, posts e links, para começar de novo. Assim deixou agora o Água Lisa, como ja antes dois Bota acima. A nova cidade, fresca e cheia de futuro, chama-se Água Lisa 2. Com muito respeito, desejo-lhe boa sorte!

    Na Terra da Alegria de hoje, o Timshel continua a nossa conversa sobre a família. - Não, não são Conversas em Família!
    (Não resisti a essa piada, porque ela ilustra duas das teses centrais na minha crítica: O discurso bondoso-autoritário, que visa sufocar qualquer diálogo com open end; e o perigo da transposição do modelo de relacionamento da família tradicional para a rés pública.)
    Voltarei ao assunto, quando tiver tempo. Entretanto, recomendam-se também os artigos dos outros autores na TdA.
    Que amor não me engana
    Com a sua brandura
    Se de antiga chama
    Mal vive a amargura

    Duma mancha negra
    Duma pedra fria
    Que amor não se entrega
    Na noite vazia

    E as vozes em barcam
    Num silêncio aflito
    Quanto mais se a partam
    Mais se ouve o seu grito

    Muito à flor das águas
    Noite marinheira
    Vem devagarinho
    Para a minha beira

    Em novas coutadas
    Junto de uma hera
    Nascem flores vermelhas
    Pela Primavera

    Assim tu souberas
    Irmã cotovia
    Dizer-me se esperas
    O nascer do dia

    (José Afonso, 2.8.1929 - 23.2.1987)

    Foi a sua música, que tingiu a minha descoberta de Portugal, no início dos anos '80. Com melancolia, esperança, ternura e com mistério. Hoje, este país é - para mim - muito mais prosáico. Não será só porque vivo nele.
    22.2.05

    Hans Scholl (1918-1943), Sophie Scholl (1921-1943), Prof. Kurt Huber (1893-1943)
    Christoph Probst (1919-1943), Alexander Schmorell (1917-1943), Willi Graf (1918-1943)

    No dia 18 de Fevereiro de 1943 o porteiro da Universidade de Munique reparou em folhetos que cairam da galeria do átrio da universidade. Já estava a espera que isso acontecesse, pois não foi a primeira vez que encontrava panfletos contra o regime Nazi no átrio. Mandou fechar todas as portas do edifício e chamou a Gestapo, que prendeu os estudantes Hans e Sophie Scholl. Pouco depois foram presos também os restantes membros do Grupo "Weisse Rose": Christoph Probst, Alexander Schmorell, Willi Graf e o seu mentor, o Professor Kurt Huber.

    A Weisse Rose não era mais do que um grupo de amigos, de jovens estudantes em volta do professor de filosofia Kurt Huber, que acharam impossível ficar calado e inactivo perante a cada vez mais óbvia barbaridade do regime nazi. Sabiam que a simples distribuição dos panfletos, com os quais incentivaram a desobediência civil ao regime, podia custar-lhes a vida. E custou.
    Quatro dias depois de capturados, hoje há 62 anos, Alexander Schmorell, Hans e Sophie Scholl foram condenados à morte e executados na guilhotina. Os outros três membros do grupo foram executados ainda no mesmo ano.

    Segundo o relato da irmã de Hans e Sophie, Inge Scholl, os jovens, nomeadamente Sophie, encaravam a morte com enorme dignidade e coragem, convencidos de terem dado sentido a sua curta vida e de ter cumprido uma missão.

    Os membros da "Weisse Rose" e mais do que todos Sophie Scholl são na Alemanha, já desde os anos '50, os mais famosos representantes da "outra", da "boa" Alemanha, e merecidamente venerados como santos. Uma mancha de luz, radiante mas minúscula, que tem de iluminar quase sozinha essa escuridão imensa de indiferença, cobardia e crueldade, que era a Alemanha destes tempos.
    Total Control?

    Não fui o único que reagiu à entrevista, que João César das Neves deu ao Independente, com gozo. Mas o meu amigo Timshel respondeu ao meu post com a sua inconfundível sinceridade e candura, que subscrevia a 100% as declarações de João César das Neves. E obrigou-me assim a explicar-me, a provar-lhe que a minha reacção não era só uma manifestação do politicamente correcto.

    Interessa dizer antes, que discorro sobre este assunto sem me escudar em qualquer doutrina científica ou religiosa, mas como quem se confrontou e confronta com a sua sexualidade e a dos outros, porque ela faz parte da sua - da nossa - vida.

    A repressão da sexualidade não é uma invenção da Igreja Católica. O JCN não o disse, mas todas as culturas desenvolveram regras sobre como se comportar em relação à sexualidade, e por duas razões óbvias: Primeiro porque ela é um instinto tão forte que se impunha o seu controlo para garantir uma convivência sem excesso de conflitos, e segundo porque o seu exercício (não controlado) gera vidas e assim influencia a estrutura social, as relações famíliares, dos clãs, condiciona questões de poder e propriedade, nomeadamente a sua transmissão às futuras gerações. Pode-se assim dizer, do ponto de vista antropológico, que a regulamentação da sexualidade surgiu como necessidade social, quer por causa da sua força perturbadora enquanto instinto, quer pela sua influência fundamental na forma como se garante continuidade da sociedade no tempo, de geração em geração.

    Dos dois argumentos acima apresentados, o primeiro - o que João César das Neves invoca -, continua válido: Ninguem gostaria de estar ele próprio ou ter a mulher ou filhos sob a ameaça de serem violados por quem sente desejo, e que não está inibido por uma norma de conduta.
    Já o segundo, que visa evitar a dispersão da propriedade e do poder através da fornicação e consequente procriação descontrolada, e por isso defende a família como o seu tradicional detentor, hoje já não se pode invocar nos mesmos termos como antigamente. A disponibilidade e o uso generalizado da contracepção desligam o acto sexual (inclusive o coito heterosexual) da necessidade da procriação, e a estrutura social nas civilizações ocidentais já não impõe a família tradicional como único e indispensável garante de qualquer estabilidade social.

    Sei que a Igreja Católica ainda acha que sim, e o JCN também, e um dos grandes objectivos do seu empenho na repressão da sexualidade, é a defesa da família tradicional. Por isso dão tanta importância ao combate ao uso de contraceptivos: Sem eles, garantir a estabilidade social sem recurso à família tradicional seria efectivamente uma tarefa muito mais difícil.

    Mas é manifesto, na argumentação de JCN, que a repressão da sexualidade não é visto só como meio para assegurar um determinado modelo social. JCM teme a força da sexualidade, teme que ela, sem controlo, se apodere da pessoa e a torne em sua vítima indefesa. Que a personalidade fique gravemente danificada pela obsessão sexual que inevitávelmente se instalava.
    Dí-lo, mas também só assim é explicável que insiste tanto nos efeitos maleficos da masturbação. Saímos então da área da sociologia e entramos na psicologia.

    A fome, o desejo de comer, é um instinto tão básico e forte como o desejo sexual. Para comer, os homens já deram prova de serem capazes fazer tudo, inclusive matar e comerem-se uns aos outros. Mas curiosamente conheço poucas pessoas que têm medo do desejo de comer. E são poucos também que conheço que sucumbiram tão completamente ao seu desejo de comer que se tornaram os seus escravos. - Porquê? Porque as pessoas comem regularmente e não vivem numa permanente tensão de desejo insatisfeito.
    Não sou apóstolo das teorias de Freud, nem das de Reich, não milito nenhum movimento de libertação sexual. Mas como muitos dos conceitos e análises desenvolvidos por Marx não perderam validade só porque a sua teoria da luta de classes e a previsão do progresso para o paraíso comunista falhou, assim não descarto o conceito do instinto sexual como energia, cujo fluxo desimpedido é benéfico e cujo bloqueio é altamente perigoso, só porque os sucessos terapeuticos da psico-análise ficaram aquém do prometido e Reich desenvolveu, no fim da sua vida, teorias e aparelhos hilariantes.

    Até calculo que o próprio JCN, e o Timshel, não acham desapropriado imaginar o desejo sexual como um fluxo de energia, que pode e deve ser contido e canalizado. Sei quem defende a supressão do desejo sexual advoga a sua sublimação, o que significa pôr a sua energia ao serviço de outras actividades, entendidas como benéficas. Não nego os resultados que a sublimação já deu, mas o alívio da energia sexual através de outras actividades é um processo dificil cujos resultados podem ser e já foram grandes, tanto pela positiva como pela negativa, e por isso necessita um controlo apertado (que a Igreja oferece, claro).
    Mas digo ao JCN que é o próprio bloqueio da energia sexual, o Triebstau, que torna a pessoa emocionalmente instável e dependente de mecanismos e regras para controlar a instabilidade. (As duches frias!) O que teme e talvez deve temer, é a avalanche resultante do bloqueio, não o fluxo natural e saudável.

    Será realmente necessário lembrar todo o universo sórdido que a repressão sexual criou e ainda sustenta? Os complexos de culpa das pessoas, nomeadamente dos adolescentes, que não conseguem – naturalmente – cumprir a exigência de castidade, e não só sofrem, mas, como culpados, se tornam refém dos que lhes dizem poder dar absolvição? Da duplicidade moral generalizada, que a moral sexual da Igreja fomenta, por exigir o impossível? Do contraste perverso entre o mundo límpido da família virtuosa, e do outro do pecado, entre os quais aqueles que têm poder de fazê-lo, os ricos, os homens, oscilam: O pai que volta do bordelo e beija a filha cuja virgindade para ele é um dado adquirido e indiscutivel? A menina que engravidou, porque não usou contraceptivos, e desonrou a família? Do rapaz que se safa? Dos abortos que se fazem para evitar este drama? De tantas outras coisas, que como as referidas me parecem quase ridículo mencionar por julgá-los do conhecimento mais que comum?

    É verdade, viver numa civilização significa controlar os instintos, regulamentar a sua satisfação, de forma que não se prejudique outros e a convivência pacífica. Felizmente as condições que temos hoje, nas sociedades modernas, permitem muito mais liberdade e obrigam a muito menos repressão, do que as sociedades antigas, em que a procriação foi ainda instrumento indispensável para a asseguração do poder, e em que por isso se arranjava casamentos e vigiava a virgindade das filhas, e a fidelidade sexual nomeadamente das mulheres, sob pena de morte.
    Entretanto a sexualidade libertou-se (quase) de ser um instrumento do poder.

    Graças sejam dadas a quem fez por isso, sejam-no homens ou Deus!

    P.S.:
    (Ou mulheres, como a Susana acertadamente repara no comentário.)

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    21.2.05
    E quando abriram as urnas...

    O comentário mais belo e nem menos acertado sobre as eleições foi escrito aqui.

    August Macke: Casaco verde
    A aurora duma nova era

    não vem como a alvorada: após a noite bem dormida!

    (Rosa Luxemburg)
    Também ganhei ontem algo

    Um link do Causa Nossa. Obrigado!
    Não sei qual esperança terei amanhã...

    mas esta noite estou como o Rui:
    Os primeiros anos de Cavaco, os primeiros anos de Guterres... Espero que ao menos também haja os primeiros anos de Sócrates.
    Já há demasiados tempo que não temos "primeiros anos" de jeito.
    20.2.05
    Aviso

    Não pude votar, mas não pensem que essa eleição me passe ao lado. Dei, rangendo os dentes, o meu voto virtual ao PS e José Socrates, para poder responsabilizá-lo integralmente pelo que fará nos próximos quatro anos.
    Pode ter a certeza, se falhar, cair-lhe-ei em cima!
    Politicamente correcto

    "Politicamente correcto" é, desde que Pacheco Pereira assim o definiu também em Portugal, o palavrão que denomina a reprodução acéfala da ideologia dominante, a observação - e exigência de observação - do seu código de conduta, por nenhuma razão melhor do que o conformismo.
    Mas a acusação de "politicamente correcto" passou entretanto a ser a arma predilecta e de uso mais fácil para quem defende uma posição minoritária - ou até maioritária mas divergente da ideologia dominante - e que quer contra-atacar sem se dar ao trabalho de desenvolver uma argumentação no conteúdo.
    Ignora-se deliberadamente - ou pior: inconscientemente -, que o depreciativo no termo só pode advir da estupidez, da origem preguiçosa, cobarde e conformista da posição atacada, e não do facto de ela ser dominante, o que confere à acusação do "políticamente correcto" as características principais daquilo que ela pretende flagelar.

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    19.2.05

    Oferta ao João César das Neves


    Total control, de Bob Carlos Clarke. Obrigado ao Almocreve das Petas, pela identificação do destinatário.
    18.2.05
    Santana Chumba no Teste para Surrealista

    Um juri [...] considerou que, sim senhor, os meses de governação da parelha tinham constituído um exercício de política automática muito próximo das técnicas surrealistas, mas lhe faltava aquela qualidade libertadora, de busca do ponto sublime, que faz despertar a famosa estrela sextavada em cada um de nós.


    A notícia completa é dada por Manuel Resende no Quartzo.
    A mudança do sentido do "nós"

    Uma excelente reflexão no Viva Espanha. Só estou um pouco menos optimista do que o Miguel, que apesar de tudo acha que se manterá um "nós" suficientemente consistente para poder "definir para onde queremos ir, qual o percurso para lá chegar e quem reúne melhores condições de liderar a viagem". Oxalá.
    Incansável no combate à superstição e a charlatanaria!

    A Universidade do Vaticano vai ministrar um curso para formar exorcistas como resposta à crescente preocupação em Itália com os rituais satánicos.

    (No DESTAK de hoje)
    17.2.05

    Há uns tempos, o Rui Manuel Amaral publicou no Quartzo uma fotografia da jovem Clarice Lispector, deslumbrando-se com a descoberta como a escritora era boa como o milho. Ora aqui está uma foto duma mulher que também ficou famosa pela sua obra, e não por ser igualmente "boa". Como-se depreende das fotografias, elas devem ser vagamente contemporâneas.
    Quem é ela?
    Tony Soprano

    De onde vem a simpatia que tenho por ele, simpatia e respeito?
    De ele ser um homem responsável, corajoso, que se esforça para cumprir um código ético. Que falha às vezes, mas tem a humildade necessária para perceber quando falha e de tentar fazer melhor. Que volta a falhar. Como eu. Admiro o por ser um tão bom pai de família, como a Adriana - que mandou assassinar uns episódios mais tarde - uma vez disse. Só o código é que é apenas parcialmente coincidente com o meu...
    Não li e não vou ler

    Mas gostei do post do Bruno, gostei muito.
    16.2.05
    A família

    O Timshel faz hoje na Terra da Alegria a apologia da família. No fundo, partindo só da minha sensibilidade, alinho com ele. Mas é um alinhamento emocional e não reflectido. A família como a mais eficaz "fábrica de felicidade", o melhor ambiente para garantir afecto e atenção, estabilidade emocional e não só. Eis a minha própria experiência. Não preciso, no entanto, de procurar muito para encontrar quem recorda a família em que cresceu ou em que vive como "fábrica de infelicidade".

    Surpreendeu-me um pouco que o Timshel entendeu dever, na sua apologia, defendê-la antes de tudo contra a suspeita de ela ser - como valor - incompatível com o da solidariedade e da justiça social.
    Claro que a família produz, na mesma medida em que fomenta a solidariedade no seu interior, um egoismo de grupo, que pode entrar em conflito com a justiça social, que é tão - e bem! - valorizada por ele. Mas a minha reacção espontânea e forte, quando oiço o elogio do valor da família - normalmente proveniente da direita -, que é de pele de galinha e de ficar com pé atrás, não se prende tanto com o meu medo pela justiça social como com o medo pela liberdade!

    As condições objectivas no interior da família não são propícias para fomentar relações de liberdade. No interior da família, as relações são entre pessoas que têm dependências e expectativas mútuas. E não obstante da existência dos sentimentos de amor e solidariedade, que (normalmente) marcam essas relações, essas relações são relações de poder. O problema é que o poder no interior da família é exercido num enquadramento muito oculto, baseado por um lado nos poderes de facto (o filho depende com a vida dos pais), e por outro num código de conduta e ético não explicitado e por isso muito dificilmente questionável por quem se sente eventualmente injustiçado ou oprimido.

    Assim a família não beneficia duma das grandes conquistas da nossa civilização moderna: Da (relativa) transparência das regras do nosso relacionamento, que permite o discurso sobre a sua bondade e adequação, e a sua eventual alteração.
    Não é por acaso que o valor da família aparece tão intimamente ligado ao valor da tradição. O problema da tradição é esse: É intrinsecamente irracional, mesmo se as regras por ela postuladas - a tradição não defende regras, postula as, porque não as submete à crítica - eventualmente se provam correctas numa apreciação racional.

    Tanto mais que exaltamos o valor da família tradicional, quanto mais temos que ter em vista a família no sentido mais alargado, como sistema de solidariedades e entreajudas, que ultrapassa a ideia da família nuclear moderna. Irmãos e compadres, primos, tios, netos, padrinhos e enteados - rapidamente, num piscar de olhos, estamos num universo de relacões humanas e sociais, que tem uma marca muito forte do calor humano, do compromisso inviolável, mas que também é implacável no seu interior e no exterior, num universo que não é tão diferente daquele que nos mostra aquela emocionante saga de família, Os Sopranos.

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    Playmate da semana: Claude em camisa branca (Balthus)
    15.2.05
    Justificação

    Em vez de pensar num post, que podia escrever hoje, vou dedicar o meu tempo ao visionamento das candidatas e à selecção da playmate que vou postar amanhã.
    14.2.05
    O Alexandre Soares Silva é um parolo

    Um parolo pequeno-burguês. A mim não me apanharão a dizer mal da obra de Terragni, só porque este era fascista.

    Ontem vi a exposição de Rebecca Horn no CCB.
    Já não me lembro quando a última vez saí duma exposição tão feliz. Tão deslumbrado e inspirado.
    Feliz, apesar de que os seus desenhos, os instrumentos, as próteses, as máquinas, não têm nada do charme inofensivo que as obras de Tinguely por vezes têm. Realmente, os aparelhos em movimento recordaram-me a Colónia Penal de Kafka. Não por ser referido directamente em várias obras, lembrar Kafka é muito acertado para falar desta obra: Delicada e precisa. Poética, mas implacável. Cheia de graça de bailerina, para poder aguentar a total ausência da outra Graça. A ausência da Graça é o som, o sabor que tudo atravessa. Ou não? De onde é que vem então aquele consolo que ela nos dá? (Do mesmo lugar, de onde o consolo vem, que nos oferece a leitura de Kafka.)

    O meu filho de cinco anos, com quem visitei a exposição, inspeccionou tudo com grande interesse. Quando disse, depois de uma hora e meia, «Vamos embora, comer um gelado», ele não quis ir: «Quero ficar aqui!».
    Talvez devia ficar preocupado...

    Por fim, um elogio ao CCB: Esta retrospectiva abrangente e bem-feita mostra a qualidade dos seus espaços, se forem aproveitados por uma exposição à sua altura.
    Um post para a Terra da Alegria

    Proponho - não é piada! - este post de Rui Tavares para ser publicado na Terra da Alegria.
    13.2.05
    Dresden, 13 de Fevereiro 1945: Moral bombing

    Hoje é o 60º aniversário do bombardeamento de Dresden, da noite em que morreram entre 25.000 e 40.000 pessoas, quase todos civis. Na cidade, que antes da guerra tinha uma população de 630.000, não se encontravam tropas, mas nesta altura ainda ca. de 200.000 fugitivos dos territórios do leste.

    Há muito estava claro, que os bomardeamentos das cidades alemãs não traziam nenhuma vantagem estratégica, ou seja directamente militar. Marechal Arthur Harris, o comandante da Royal Airforce, sabia isso e que as fábricas, as estações e as linhas de comboio não puderam ser atingidas de uma forma relevante, e já tinha adaptada a sua estratégia a essa conclusão.

    O que ele idealizara para a campanha aerea britânica contra Alemanha foi o que chamou "moral bombing", e baseava-se na crença que um sofrimento suficientemente grande infligido à população civil demoralizava esta de tal maneira que ela se levantasse contra o regime nazi e terminasse a guerra. (Uma ideia que fracassou completamente, por um lado porque a população civil - se as uma vez tinha - na altura da guerra não tinha condições de levantar-se contra o regime, e por outro lado porque o resultado psicológico era o contrário: Graças ao moral bombing a última criança percebeu sem sombra de dúvida, que o inimigo era um inimigo cruel, inhumano e mau, que não lhe deixava alternativa, senão resitir até a morte.)

    Harris criou gabinetes de investigação que estudaram já desde 1940 cientificamente a melhor forma de matar um número máximo de pessoas nas cidades alemãs. O resultado era a descoberta de que se devia concentrar-se no uso de bombas incendiárias, e na sua distribuição calculada nas cidades alvo, no espaço e no tempo, tendo em conta em cada caso as suas especificidades urbanísticas e construtivas, para provocar o famingerado "firestorm".
    O "firestorm", pela primeira vez conseguido no raide de Hamburgo no verão de 1943, é o resultado da junção de vários focos de incêndio, que cria uma coluna ar quente que sobe com tanta força, que suga o ar fresco da envolvente, provocando uma tempestade de todos os lados com velocidades acima de 200km/h, que não só impede o afastamento de qualquer pessoa do centro do fogo como leva mais material combustivel para lá. Outro efeito é a combustão de todo o oxigénio respirável, a geração de gases mortiferos como monóxido de carbono, o que assegura a morte, se isso não fôr conseguido pelas temperaturas elevadas durante várias horas, das pessoas nos abrigos e nas caves dos edifícios.

    Embora que ainda há poucos anos lhe foi erguido um monumento em Londres, não tenho dúvidas que Harris é um criminoso de guerra. E na apreciação moral, que fazemos de Churchill, devemos também perguntar porque permitiu ao seu comandante da força aerea esta guerra sistemática contra civís.

    Por fim uma nota de redacção:
    Hoje é o dia 13 de Fevereiro de 2005. Hoje quero falar sobre o bombardeamento de Dresden. Sobre a sua impossível justificação. Não vou hoje falar sobre os crimes de alemães, dos Nazi. Também não vou falar hoje sobre se alguns Neonazi tentam aproveitar a memória deste crime para desculpar outros.
    Hoje falo sobre Dresden, um crime indesculpável.
    Amanhã voltarei a falar sobre outros crimes, como já falei antes.

    P.S.:
    Mudei o link para informações sobre o bombardeamento de Dresden (em cima, no post) para um artigo da Wikipedia em língua inglesa, que entretanto encontrei.

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    Fabian Marcaccio: Multiple site paintant

    Marcaccio é uma das minhas "net-descobertas" mais felizes. Visitem este
    site
    !
    12.2.05
    Recomendo

    a leitura deste post do Chuinga, sobre o aniversário da libertação de Nelson Mandela, e nomeadamente da discussão que se desencadeou nos comentários! Também a ler são os posts mais recentes que a Teresa escreveu sobre esta questão.
    Quem gosta do que faz, fá-lo melhor

    Há felizes, que conseguiram fazer da sua paixão profissão, como os músicos, os futebolistas, actores, mas também médicos, engenheiros, gestores, e até já ouvi dizer que há contabilistas ou merceeiros que exercem o seu ofício com gosto.
    Sem dúvida há militares que gostam do seu trabalho. E se achamos bem que há militares, não devemos admitir que tenham prazer no que fazem?
    Oiço os que dizem que sim, acrescentar apressadamente: Na camaradagem. Na ceremonia, na disciplina, no aspecto desportivo do seu trabalho. No planeamento e na sua execução rigorosa. Mas na matança? Não! Não queremos ouvir que um soldado diz que gosta de matar. Quem gosta de matar é um monstro. E não queremos que os nossos soldados sejam monstros. Por isso exigimo-lhes que não gostem de matar, ou pelo menos, que não o digam. Embora que isso é o acto profissional mais nobre genuino, aquele em que se manifesta a essência do seu ofício.
    Perguntem às crianças, que sabem-no:
    O bombeiro apaga fogos, o polícia apanha ladrões, o cirurgião opera, a bailarina dança e o soldado mata o inimigo.

    A propósito desta notícia, encontrada via A Quinta Coluna.
    11.2.05

    Hanna Hoech: Collage
    O Ma-Schamba acabou

    Já suspeitava isso quando começou a série "Última Safra". Como já conhecia o significado de "Ma-Schamba", bastava-me verificar no dicionário que adivinhei correctamente o significado de "safra".
    Não sabia que nos trópicos também assim é: Na Alemanha - e também aqui, creio eu - antigamente, antes do tempo dos adubes industriais, que são responsáveis pela total ausência de carácter e sabor nos legumes, nos tempos que recordo ainda da minha infância, quando comiamos os frutos da nossa horta, deixava-se o campo, depois duns anos de cultivo, descansar, para que a colheita seguinte tivesse a qualidade e o sabor forte como dantes.
    Se assim fôr, consolar-me-ei e dou-lhe um abraço.
    Bom descanso e até um dia, José Flávio!
    A ler:
    10.2.05

    Descobri o blogue ontem na lista dos referrers aqui em baixo. Hoje fui lá e acabei de lê-lo para trás até ao início/fim. Gostei muito. Vai directamente para a lista dos links.
    Verdade

    Desde que me consigo lembrar, o meu pai, que tinha de preocupar-se com a educação de tantas crianças, nunca se encarregou especialmente da minha educação ou da da minha irmã, mas gostava de interromper a leitura do seu jornal ou a correcção de testes, quando um de nós contou algo ou a nossa mãe lhe contou dalguma asneira ou dalguma desavença nossa, e ele então perguntava inevitavelmente: Isto é verdade? Era o inventor da palavra «verdade» em todas as suas variações e aplicações, [...] e todas as formas [que a lingua alemã permite] e todas as suas possibilidades de ligação, amor a verdade, amante da verdade, verdade pura, fiel à verdade – essas palavras vieram dele e ele era a origem do espanto e da admiração que estas palavras me suscitavam, desde pequeno. Já antes de poder compreender essas palavras, elas adquiriram uma fascínio ao qual sucumbi.
    Como outras crianças nesta idade se esforçam para juntar cubos de construção, seguindo exactamente dum padrão pre-estabelecido, eu esforcei-me para cumprir exactamente o padrão do dizer-a-verdade, e pressentia, que o meu pai entendia com isto, que devia dizer «exactamente» o que aconteceu. Para que fim isso servia, concedidamente não sabia, mas cheguei, tanto como permitia uma cabeça tão pequena, ao ponto de sempre dizer a verdade, menos por medo do pai do que por causa dum desejo sombrio. «Uma criança honesta» chamavam-me por isso. Mas em breve já não me chegava o que satisfazia o meu pai, por exemplo, dizer que me demorei no caminho de volta da escola ou que ter chegado atrasado ao almoço por causa duma briga com colegas, mas comecei a dizer a verdade ainda mais verdadeira. Porque percebi subitamente também - julgo que foi no primeiro ou no segundo ano da escola - , o que o era que me era exigido, e eu percebi que estava justificado. O meu desejo encontrou-se com uma exigência, uma exigência boa e distinta entre todas as outras, que os adultos me fizeram. À minha frente estava uma vida fácil, maravilhosa. Não só podia, teria que dizer a verdade em todas as circunstâncias! Então quando o meu pai pergutava porque cheguei tão tarda da escola, tinha de dizer, que o professor, para castigar-nos por conversar e serem barulhentos, obrigara-nos para ficar mais uns quinze minutos de castigo. E tinha de dizer também, que no caminha para casa encontrara a Senhora Simon e me atrasei ainda mais por isso.
    Mas não, tinha de dizer: Perto do fim da aula de matemática, provavelmente cinco minuto antes, o Senhor Professor disse, porque fomos irrequietos...
    Não: Porque havia agitação nas últimas mesas, poruqe na última mesa o Anderle e eu fizemos aviões de papel dobrado, e porque tinhamos arrancado folhas dos nossos cadernos para fazer os aviões e ainda tinhamos feitos duas bolas de papel, que tiraramos do meio dos cadernos de matemática o papel das bolas e dos aviões de papel e que para isso tinhamos aberto os agrafos dos cadernos para que o professor não descobrisse...

    (Ingeborg Bachmann, de Ein Wildermuth)
    9.2.05

    Playmates da semana: Ninfas (Delvaux)
    Tenho que começar a ler mais depressa

    O drama instalou-se e é já oficial: tenho ejaculação precoce. É fácil de explicar apesar de ser de difícil solução. Ultimamente não consigo acabar os livros. Assim, sem mais, os livros. Não falo dos romances de cabeceira que, por estarem sempre à cabeceira, insistem e insistem até se verem terminados. Falo dos outros, daqueles que compro devido a uma sede de descobrir o que se revela atrás do título. Teoria, história, crítica. Enfim, essa puta chamada cultura. Mas não me lembro da última vez que consegui levar a tarefa até ao seu clímax. A única solução é passar a fazê-lo de um só fôlego. Mas não sei se aguento.

    Post em construção. Vou almoçar. Já cá volto.

    ______________

    Voltado das férias, precisei com urgência dum bom post. Sem tempo para escrevê-lo, optei por roubar este, escrito pelo Lourenço.
    8.2.05

    Vida sem blogue
    5.2.05
    Bons blogues

    Vou estar - provavelmente - sem net até Terça-feira. Por isso quero recomendar uns bons blogues, que (ainda?) não estão na lista das minhas leituras regulares, mas que aprecio muito:
    Enchamos tudo de futuros
    Chuinga
    Avioneta malabarista
    Os (In)separaveis
    a vida é larga

    E os clássicos:
    Klepsydra
    No Arame
    Um blogue sobre Kleist
    Fora do mundo
    4.2.05

    Petrus Christus: Jovem dama
    Mais posts-porque-sim

    Concluindo aqui este post sobre posts que não têm outro propósito do que serem "postados", agradeço aos que contribuiram para esta pequena recolha:

    save as draft

    He: What do you think of this question?
    She: What do you think of this answer?


    Porque não?

    http://maschamba.weblog.com.pt

    finja que não está a ler isto
    No mundo dos blogues sigo uma regra. Só escrevo quando tenho algo a dizer.
    Por isso este post nunca devia ter sido escrito.


    Wrong Post
    X


    Não Post
    Este post tem por finalidade exclusiva ajudar a enterrar os antecessores.


    Encerro a lista parafraseando e referindo o Prémio de Consolação da Voz do Deserto:
    Há sempre quem escreve um post ainda mais fútil do que este.
    O debate

    Do Santana já sabia o que esperar, o que vi e ouvi de Sócrates, serviu para rever as minhas expectativas em baixo.

    P.S.:
    Escuso-me de dizer mais, porque a síntese exaustiva, incluindo análise, está escrito no Tugir!
    3.2.05

    dum jornalista da BBC, que comecou a escrever um blog sobre a sua vida e doença, quando lhe foi diagnosticado um tumor no cérebro, em 2002.

    (via Adufe)
    «Are my methods unsound?»

    A ler: Ainda Auschwitz, o método na loucura no Blogo...Existo.

    O problema é que o indesmentível fracasso do iluminismo, que o holocausto representa, não reabilita as ideologias por ele vencidas, nem se vislumbra uma alternativa.

    A cultura e a razão não nós protegeram do mal, e a razão foi o instrumento que tornou o mal inauditamente eficaz. Mas o mal não continha a razão. É preciso não esquecer que o mal, o nacional-socialismo, era uma ideologia profundamente irracionalista e anti-racional. De facto, o que ele visava e acabou por exterminar em primeiro lugar era exactamente a cultura da razão, representada pelos intelectuais judeus europeus. Só depois veio o resto.

    Auschwitz retirou ao iluminismo o seu caracter salvífico. Mas estamos condenados a viver com ele, mesmo assim: sem garantia de salvação.

    Home from work our Juliet
    Clears her morning meal.
    She dabs her skin with pretty smells
    Concealing to appeal.
    I will make my bed,
    She said, but turned to go.
    Can she be late for her cinema show?

    Romeo locks his basement flat,
    And scurries up the stair.
    With head held high and floral tie,
    A weekend millionaire.
    I will make my bed
    With her tonight, he cries.
    Can he fail armed with his chocolate surprise?

    Take a little trip back with father Tiresias,
    Listen to the old one speak of all he has lived through.
    I have crossed between the poles, for me there's no mystery.
    Once a man, like the sea I raged,
    Once a woman, like the earth I gave.
    There is in fact more earth than sea.

    (The Cinema Show)

    Selling England by the Pound, sem dúvida a mais bela capa de todos os discos dos Genesis, e o seu mais belo disco também - há outros tão bons ou melhores, mas não tão belos.
    2.2.05
    Virtude pública?

    Em 1983 o ministro de defesa alemão, Manfred Wörner, foi informado que o general Günter Kiessling, vice-comandante das forças da NATO na Europa, era homossexual. Embora que o general sempre negou essa alegação, foi obrigado a demitir-se. O argumento era que o seu relacionamento com outros oficiais da NATO estaria, depois de se conhecer o facto, irremediavelmente comprometido. Mas o argumento mais pesado baseava-se no contrário: O general, como homossexual, ainda por cima não assumido, seria um alvo ideal para chantagem e por isso um insuportável risco para a segurança nacional!
    Mais tarde verificou-se que Kiessling, por acaso, não era mesmo homossexual, e a sua denúncia se devia a uma intriga de outros militares invejosos. Kiessling foi formalmente reabilitado, e depois de mais algumas semanas de serviço, posto na reserva.

    Dezoito anos mais tarde, em 2001, o candidato do SPD à presidência da câmara de Berlim, Klaus Wowereit, anunciou: "Eu sou gay e é bom que assim é." Foi eleito e ainda hoje é Presidente da Câmara de Berlim.
    Recentemente ele e o seu namorado receberam o novo Presidente da República, Horst Köhler, e a sua esposa no oficial jantar inaugural na câmara.
    Em 2003, Ole von Beust (CDU) governava em coligação com o partido Rechststaatliche Offensive de Ronald Schill o estado federal de Hamburgo. Quando pretendeu demitir um membro do seu governo pertencendo ao partido parceiro da coligação, por estar envolvido num escândalo, Schill ameaçou-lo, que neste caso tornaria pública a sua homossexualidade. Von Beust decidiu romper a coligação, tornar pública a tentativa de chantagem, e candidatar-se sozinho nas eleições regionais que se avizinhavam. Ganhou, como primeiro político do CDU, a presidência da câmara de Hamburgo com maioria absoluta.
    E em 2004 Guido Westerwelle, o presidente do partido liberal de Alemanha (FDP), assumiu como primeiro chefe dum partido no Bundestag a sua homossexualidade e mostra-se desde então em público com o seu namorado. (Mais sobre isto aqui.)

    Bastavam vinte anos para a mentalidade pública mudar profundamente, de forma que hoje, na Alemanha, nem para um político conservador é politicamente nocivo assumir a sua homossexualidade.
    Mas o que a história do General Kiessling mostra, é como é nociva e errada a cultura de "virtude pública, vicios privados", que aqui em Portugal ainda se advoga.
    Não ponho em dúvida, que ninguém tem o direito de expôr publicamente a orientação ou as preferências sexuais de outra pessoa, político ou não, mas que é mal, profundamente mal, continuar a viver numa cultura de tabu, de boato e da hipocrisia, isso é!

    (A ler: o post de Rui Tavares, no Barnabé)

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    Playmate da semana: Frau mit Orchideen (Beckmann)
    1.2.05
    Estas integrações difíceis

    Dois contributos para o debate intenso sobre a integração de muçulmanos que se está a travar de momento na Alemanha:

    1. Vindo de um muçulmano: "Que mais tenho de fazer para ser finalmente aceite por esta sociedade?"

    2. Vindo de uma alemã: "Os judeus estavam de tal modo integrados na nossa sociedade que a eles se devem inúmeros momentos importantes da história e da cultura alemãs. Foram exterminados."

    (Um post da Helena no Dois Dedos de Conversa)
    Choque de Valores

    Aceito cheques, mas prefiro notas.

    Há sempre ainda uma outra last great adventure...

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