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  • 2.2.05
    Virtude pública?

    Em 1983 o ministro de defesa alemão, Manfred Wörner, foi informado que o general Günter Kiessling, vice-comandante das forças da NATO na Europa, era homossexual. Embora que o general sempre negou essa alegação, foi obrigado a demitir-se. O argumento era que o seu relacionamento com outros oficiais da NATO estaria, depois de se conhecer o facto, irremediavelmente comprometido. Mas o argumento mais pesado baseava-se no contrário: O general, como homossexual, ainda por cima não assumido, seria um alvo ideal para chantagem e por isso um insuportável risco para a segurança nacional!
    Mais tarde verificou-se que Kiessling, por acaso, não era mesmo homossexual, e a sua denúncia se devia a uma intriga de outros militares invejosos. Kiessling foi formalmente reabilitado, e depois de mais algumas semanas de serviço, posto na reserva.

    Dezoito anos mais tarde, em 2001, o candidato do SPD à presidência da câmara de Berlim, Klaus Wowereit, anunciou: "Eu sou gay e é bom que assim é." Foi eleito e ainda hoje é Presidente da Câmara de Berlim.
    Recentemente ele e o seu namorado receberam o novo Presidente da República, Horst Köhler, e a sua esposa no oficial jantar inaugural na câmara.
    Em 2003, Ole von Beust (CDU) governava em coligação com o partido Rechststaatliche Offensive de Ronald Schill o estado federal de Hamburgo. Quando pretendeu demitir um membro do seu governo pertencendo ao partido parceiro da coligação, por estar envolvido num escândalo, Schill ameaçou-lo, que neste caso tornaria pública a sua homossexualidade. Von Beust decidiu romper a coligação, tornar pública a tentativa de chantagem, e candidatar-se sozinho nas eleições regionais que se avizinhavam. Ganhou, como primeiro político do CDU, a presidência da câmara de Hamburgo com maioria absoluta.
    E em 2004 Guido Westerwelle, o presidente do partido liberal de Alemanha (FDP), assumiu como primeiro chefe dum partido no Bundestag a sua homossexualidade e mostra-se desde então em público com o seu namorado. (Mais sobre isto aqui.)

    Bastavam vinte anos para a mentalidade pública mudar profundamente, de forma que hoje, na Alemanha, nem para um político conservador é politicamente nocivo assumir a sua homossexualidade.
    Mas o que a história do General Kiessling mostra, é como é nociva e errada a cultura de "virtude pública, vicios privados", que aqui em Portugal ainda se advoga.
    Não ponho em dúvida, que ninguém tem o direito de expôr publicamente a orientação ou as preferências sexuais de outra pessoa, político ou não, mas que é mal, profundamente mal, continuar a viver numa cultura de tabu, de boato e da hipocrisia, isso é!

    (A ler: o post de Rui Tavares, no Barnabé)

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