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26.1.08
Já se pode fumar na Portela, JPT. Aqui está uma foto da "zona de fumo" na área de embarque internacional que fiz ontem às 9.00h da noite. Mas ao contrário dos grupos bem-dispostos, que desde o 1.1.2008 indicam nas ruas lisboetas onde há um restaurante, os pobres utentes deste dispositivo sentiam visivelmente a humiliação de ceder, nestas condições e perante o olhar misericordioso dos outros passageiros, ao seu vício. (Aproveito para divulgar a nova morada do Blouge do JPT: http://ma-schamba.com) 24.1.08
Estes dias, os autarcas alemães – e, antes de mais, os operários - saboreiam a medicina amarga que já muitos dos seus colegas portugueses tiveram de engolir. A Nokia, que no ano passado obteve lucros recorde, decidiu fechar a sua fábrica em Bochum e construir em vez disto uma na Roménia. Ca de 4.000 alemães perderão o emprego, 2300 trabalhadores da Nokia mais 1500 de outras empresas fornecedoras. É a lógica fria da globalização: O que está mal para os alemães, está bem para os romenos. E porque estes não hão de merecer um lugar ao sol também? Só há aqui um pormenor: O estado alemão pagou 88 milhões de Euros em subvenções à Nokia para se instalar em Bochum. E ao despedir-se agora, a multinacional não entende ter que devolvê-las. Pelos vistos, contratualmente, não tem que devolver mesmo. Isto convida a uma interessante reflexão sobre a prudência dos políticos que as pagaram, e sobre a bondade de subvenções em geral. Mas não tenhamos ilusões: A concorrência das regiões, dos municípios, para atrair um grande empregador como a Nokia é brutal, e para "criar empregos" os políticos estarão sempre dispostos de fazer o pino, e também de abrir o bolso, mais ainda sendo este não seu, mas dos contribuintes. O que convida a uma outra reflexão interessante: a desigual distribuição de competência e de poder entre representantes do interesse público, por um lado, e das multinacionais privadas, por outro. Resta aos alemães o peso que têm enquanto consumidores. Vários ministros já devolveram publicamente os seus telemóveis Nokia. E segundo um inquérito, 56% dos alemães vão ter, na próxima compra de um telemóvel, o cuidado que este não seja da Nokia. Alemanha tem 80 Milhões de habitantes. Talvez os 88 milhões de subvenções ainda vão sair caro à multinacional. E, de facto, o seu CEO já reagiu: pediu desculpas pela má gestão do encerramento e deixou entender que está disposta de pagar avultadas indemnizações aos despedidos. Mas da devolução das subvenções não falou, e a decisão da mudança para a Roménia é definitiva. 23.1.08
É compreensível que os membros da Igreia Católica tendam a achar natural que o seu lider espiritual tenha um estatuto que lhe dá o direito de falar quando e onde quiser. E por vezes se esqueçam que a Igreja Católica não é o mundo. Não é estranho que também pessoas não católicas reconheçam ao Papa um tal estatuto que ele estaria, à partida, sempre bem vindo para discursar nos seus eventos. Mas a ideia de que todos têm obrigação de lhe reconhecer esse estatuto, é obviamente inadmissível e viola, ao querer impor um privilégio de um, a liberdade de expressão de outros. No mundo, o líder dos católicos tem tanto direito de falar como outra pessoa qualquer. Não menos, não mais. O caso do Papa na La Sapienza tocou, inesperadamente, nalgum nervo: de outra forma não consigo explicar-me que tantas pessoas, até umas de cujo juízo e boa fé normalmente não duvido, julgam estar perante um escândalo, um ataque vil contra a Igreja Católica e a liberdade de expressão dos crentes. Por isso vou tentar explicar com a maior simplicidade possível, porquê acho o incidente a todos os respeitos legítimo e banal, e a única coisa extraordinária o vendaval de indignação, que lhe se seguiu. 1. A direcção da La Sapienza convida o Papa para inaugurar o ano lectivo. - Má escolha, no meu entender, mas a direcção está no seu direito. 2. Um grupo de académicos desta universidade, liderado pelos físicos, manifesta-se contra este convite e exige que seja cancelado. - Tem razões compreensíveis para criticar a escolha, mas mesmo se não tivesse, tem o direito de contestar. 3. A direcção da La Sapienza mantém o convite. - Faz bem, por razões de coerência e educação, e, naturalmente, age com toda a legitimidade. 4. O Papa, perante a contestação, opta por declinar o convite. - Evidentemente, está no seu direito. Há quem ache que fez mal. Do ponto de vista do combate pela opinião pública, fez muitíssimo bem, para o que pretende. 5. Desconheço, em concreto, os eventuais planos dos contestatários de impedir ou perturbar o discurso do Papa na universidade por meios ilegítimos. - Como é evidente, consideraria ilegítimos meios ilegítimos. Caberia ao anfitrião, neste caso, tomar as medidas para assegurar que a contestação dentro do seu espaço se limite a meios legítimos. Cada um agiu dentro dos seus direitos. Os direitos de ninguém foram lesados. E é tudo. Simples, não é? Akt mit Handtuch (Otto Schatz) 21.1.08
Há uma admiração que se mistura com inveja: reconhecemos que já não chegaremos onde o outro chegou, mas sabemos que pisamos o mesmo solo. E há uma outra admiração que é livre disso, inteiramente feliz. É a que que sinto perante a série odi et amo do Filipe. 20.1.08
«Wow, ten whole years. It feels like yesterday to me. The Blue Dress. The Cigar. Linda Tripp. All to be wrapped up in the government-financed porn tome The Starr Report. Are you getting all misty-eyed? Those were good times. The hearings and impeachment. Floor speeches denouncing the loss of our country's innocence. The befouling of our Nation's Highest Office by tawdriness. That president - that nasty, naughty, dirty boy (h/t Sen. Craig) - brought this country to its knees in shame and utter debasement. Thank God that we recovered from that and now stand tall in the world, are respected by other nations, have a booming economy, live in blissful peace and have a righteous, scandal-free president who's soaring approval ratings and respect around the world are the model to follow for generations to come!» (via Arte da Fuga) Como ao Luis, seria-me impossível aceitar que se premeia o Partido Republicano, após oito anos de George W. Bush, com a eleição de um candidato seu. Já por isso não votaria em McCain, apesar do respeito que tenho por ele. À parte do seu programa que, na modesta medida em que o conheço, me parece bem, Hillary Clinton é inegavelmente a candidata mais bem preparada para ser a próxima presidente dos EUA. Acontece que não simpatizo propriamente com ela. Mas ninguém no seu bom juízo faz depender o seu voto da simpatia. Pois não? 18.1.08
Não deixa de ser irónico como o sucesso estrondoso, em que o Papa conseguiu transformar a iniciativa contra a sua palestra na universidade italiana, nega a própria ideia que conseguiu passar através deste episódio: de ser vítima de ostracização. E não deixa de ser interessante que ninguém reparou nisto. Se houvesse alguma dúvida sobre quem tem liberdade de falar e, o que mais importa, o poder de se fazer ouvir, ela está aqui desfeita. Não são os físicos com a sua indignação perante as honras previstas para um defensor da condenação de Galilei, mas o político Bento XVI que, sem esforço aparente, meteu os académicos no bolso. No plano do marketing político, note-se, não no plano moral, em que os subscritores do manifesto ingenuamente julgavam poder disputar. Adenda: O João Pinto e Castro faz-nos o meritório serviço de facultar o texto polémico de Ratzinger sobre Galilei. O comentário mais completo ao assunto escreveu o Vasco: Se questo è un saggista. 16.1.08
Venezianisches Epigramm (Wilhelm Busch) 14.1.08
Acabei de ver o documentário A Ponte sobre o Wadi, no canal Odisseia. Há muito não fui tão feliz por ter visto televisão. Westminster (Erik Sandberg) Admito que a apreciação que "El Solitário" faz à prisão de Monsanto seja interessada e parcial. Seria por isso bom ouvir uma entidade idónea e competente na matéria – o Provedor de Justiça? – refutar as acusações, fundamentada na sua própria monitorização. Não ouvi. Em vez disto li uma entrevista no DN, cuja primeira pergunta já quase me levou a pôr o jornal de lado: «Concorda que um detido estrangeiro use os meios de comunicação social para denegrir o sistema prisional português?» Não será possível comprimir mais preconceito e ressentimento nacional numa pergunta que é suposta de deixar a parte de opinar ao entrevistado. O Juiz Desembargador, Alexandre Baptista Coelho, ou partilha o preconceito ou deixa enrolar-se pela pergunta. Quer dizer, não faz boa figura em nenhum dos casos. Não lhe ocorre, tão pouco como ao jornalista, que as acusações do recluso não são jornalismo, mas uma opinião de um interessado e um testemunho - verdadeiro ou falso, espero que isso se verá. O Juiz Desembargador, seguindo o mote dado pelo jornalista, explica que uma prisão não é uma instituição de lazer, mas tem um objectivo penal. É bom ver que ainda não deixei de aprender: não sabia, até hoje, que a prisão preventiva podia ter um objectivo penal! (Que na prática tem tal efeito, é outra coisa.) Depois discutem os dois com o maior à-vontade se "o sistema deveria impedir a possibilidade de um detido prestar declarações para a comunicação social". Quanto sei, "el Solitário" aliás Jaime Giménez Arbe não chegou a realizar uma conferência de imprensa no estabelecimento prisional. Conseguiu, desconheço como, transmitir a sua apreciação das condições em que está detido ao jornalista. O simples facto de que possa ocorrer a um juíz português e um jornalista de um jornal de referência que isso podia ou devia ser impedido, faz me arrepios. Lembra outros tempos. Também fiquei a saber que os reclusos portugueses ainda mijam e cagam no penico. Outros tempos mesmo. |
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