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24.1.08
Estes dias, os autarcas alemães – e, antes de mais, os operários - saboreiam a medicina amarga que já muitos dos seus colegas portugueses tiveram de engolir. A Nokia, que no ano passado obteve lucros recorde, decidiu fechar a sua fábrica em Bochum e construir em vez disto uma na Roménia. Ca de 4.000 alemães perderão o emprego, 2300 trabalhadores da Nokia mais 1500 de outras empresas fornecedoras. É a lógica fria da globalização: O que está mal para os alemães, está bem para os romenos. E porque estes não hão de merecer um lugar ao sol também? Só há aqui um pormenor: O estado alemão pagou 88 milhões de Euros em subvenções à Nokia para se instalar em Bochum. E ao despedir-se agora, a multinacional não entende ter que devolvê-las. Pelos vistos, contratualmente, não tem que devolver mesmo. Isto convida a uma interessante reflexão sobre a prudência dos políticos que as pagaram, e sobre a bondade de subvenções em geral. Mas não tenhamos ilusões: A concorrência das regiões, dos municípios, para atrair um grande empregador como a Nokia é brutal, e para "criar empregos" os políticos estarão sempre dispostos de fazer o pino, e também de abrir o bolso, mais ainda sendo este não seu, mas dos contribuintes. O que convida a uma outra reflexão interessante: a desigual distribuição de competência e de poder entre representantes do interesse público, por um lado, e das multinacionais privadas, por outro. Resta aos alemães o peso que têm enquanto consumidores. Vários ministros já devolveram publicamente os seus telemóveis Nokia. E segundo um inquérito, 56% dos alemães vão ter, na próxima compra de um telemóvel, o cuidado que este não seja da Nokia. Alemanha tem 80 Milhões de habitantes. Talvez os 88 milhões de subvenções ainda vão sair caro à multinacional. E, de facto, o seu CEO já reagiu: pediu desculpas pela má gestão do encerramento e deixou entender que está disposta de pagar avultadas indemnizações aos despedidos. Mas da devolução das subvenções não falou, e a decisão da mudança para a Roménia é definitiva. |
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