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  • 30.4.05
    Sobre este assunto (Professores)

    Ainda aluno no 11º ano, uma vez respondi à pergunta de que queria ser, que ainda não tinha a certeza mas que achava professor uma profissão especialmente meritória e gratificante.
    "Ah sim, pois claro. - Professor universitário, naturalmente!" respondeu o pai da minha namorada.
    Ficou muito desiludido e preocupado quando percebeu que não era isso o meu subentendido.
    Teve duplamente sorte. Acabei como arquitecto (que não dá aulas) e casei com outra mulher em vez da sua filha.

    Piet Mondriaan: A árvore cinzenta
    Mais uma inconfidência do almoço da Terra de ontem:

    Eu:
    Como sabem, sou do Borrussia Mönchengladbach, mas admito que admiro-vos os Benfiquistas: Como se pode ficar fiel ao clube, apesar do insucesso de tantos anos, comparado com as glórias de outrora (isso ainda compreendo), mas apesar também destas direcções que vocês insistem em ter!
    Conterrâneo:
    Da mesma forma como continuamos católicos.
    29.4.05
    O almoço da Quinta

    Hoje comemorou-se o aniversário da Terra da Alegria com um almoço dos autores. A reportágem encontra-se aqui.
    The Drop

    Peter Gabriel: Up.

    No player.
    28.4.05
    O meu chauvinismo:



    E anti-americanismo.
    27.4.05
    Visite a Casa da Música!
    A Terra da Alegria faz um ano!

    Tenho (tinha) muito pouco contacto com católicos empenhados. Com evangélicos sim, por via familiar, de resto, quase todos os meus amigos são agnósticos, ateus ou, como eu, pessoas com uma religiosidade de difícil denominação.
    Curiosamente, mal entrei neste mundo dos blogues, descobri uma especial empatia e proximidade com dois bloguistas católicos, o José do Guia dos Perplexos e Timshel, em contraste com a minha constante embirração com alguns blogues evangélicos (que não perdi apesar de reconhecer a sua elevada qualidade literária).
    Daí, quando fizeram com outros amigos católicos a Terra da Alegria, fiquei leitor interessado desde o primeiro dia. E foi uma das melhores coisas que me aconteceram na minha vida de bloguista, quando me convidaram para colunista visitante. Aceitei com entusiasmo. Sem este convite, não teria escrito uns dos que considero os meus melhores posts.
    Não digo que sou hoje mais católico, nem cristão, mas sem dúvida aprendi muito sobre mim e sobre os católicos empenhados, que tenho hoje em incomparável melhor consideração do que antes.

    Playmates da semana: Casal (Bhubaneshwar: Lingaraj Temple)
    26.4.05
    Mudaram-se os tempos...

    "... melhor que ir passear cravos de saudade na Avenida da Liberdade, prefiro comemorar o 25 de Abril com o cravo da minha alegria rubra ao ver os jovens indiferentes à banalidade de se ser livre. Eles acham que não pode ser de outra maneira. Então, a obra está feita. Valeu!"


    Creio que compreendo o João Tunes. Mais do que com bom senso, com o que aqui fala, é pudor.
    Com cada ano que passa, as comemorações do 25 de Abril ficam um pouco mais estéreis, um pouco mais déplacé, a alegria um pouco mais esforçada e os discursos, cujo conteúdo já há décadas sabemos de cor, um pouco mais enfadonhos. É um ritual, que uns fazem por necessidade, e que começam a ficar cada vez menos, dando mais peso a outros, que só nele participam por interesse ou obrigação.

    As mulheres e os homens de meia idade para cima, que desceram ontem a Avenida com cravos na mão, não são ridículos, mas por vezes suspeito que só a boa educação impede ao meu filho de quinze anos de sorrir com leve condescendência.
    Ele sabe que eles têm não só o direito, mas toda a razão para comemorar. Sabe que lhes assiste um grande e indiscutível mérito, e sabe também que este é um mérito exclusivo duma geração com o qual para ele é impossível competir, indiferente o que ele ainda fará no futuro.
    Mas para ele hoje é hoje e no fundo não se emociona por aí além com o que foi ontem. E a grande saudade que sentem os velhos, é destas saudades que o deixam especialmente impaciente: A saudade a sério, daquelas que se dirige ao inalcançável, o que é, neste caso, o irrecuperável passado.

    Talvez, se imagino que se mistura também uma certa inveja na condescendência do meu filho, a inveja de ter sido uma vez não telespectador, não um mero objecto mas sujeito da história, imagino demais e na verdade projecto a minha própria inveja nele.
    Pois eu sei que estes manifestantes emocionados tiveram um privilégio que calha a poucos, e toda a saudade parece-me pouca, se imagino como estes tempos devem ter sido para quem lutou e viu-se ganhar: Um tempo duma hoje inconcebível esperança. Todo o impossível passou a possível, já hoje, já amanhã, era só querer e fazer, solidariamente, generosamente querer e fazer.
    25.4.05
    MEIN BLAUES KLAVIER

    Ich habe zu Hause ein blaues Klavier
    Und kenne doch keine Note.
    Es steht im Dunkel der Kellertür,
    Seitdem die Welt verrohte.

    Es spielten Sternenhände vier
    - Die Mondfrau sang im Boote -
    Nun tanzen die Ratten im Geklirr.

    Zerbrochen ist die Klaviatur.....
    Ich beweine die blaue Tote.

    Ach liebe Engel öffnet mir
    - Ich aß vom bitteren Brote -
    Mir lebend schon die Himmelstür -
    Auch wider dem Verbote.

    (Else Lasker-Schüler)
    ___________________

    O MEU PIANO AZUL

    Em casa tenho um piano azul
    Embora não conheço nenhuma nota.
    Está no escuro da porta da cave,
    Desde que o mundo embrutou.

    Quatro mãos-estrela tocavam
    - A mulher lua cantava no barco -
    Agora ratazanas dançam no tinido.

    Partido está o teclado.....
    Choro o morto azulado.

    Ai Anjos queridos me abrem
    - Comi do pão amargo -
    A porta do Ceu já em vida -
    Mesmo que seja proibido.

    Do FotoBen.
    24.4.05
    Visitar o passado terrível

    É uma visita dos alemães ao seu passado. Um muito bom sinal. Conseguissem todos os países manchados pelo horror (é verdade que nenhum chegou onde chegou a Alemanha nazi) fazer o mesmo e dormiríamos mais descansados.


    Daniel Oliveira, sobre o filme "A Queda" (Der Untergang).

    Já aqui escrevi que a Alemanha Ocidental, isto é, as gerações pós-guerra, tiveram imensa sorte. Pelo facto de que o seu país foi derrotado tão totalmente, mas ter sido poupado, desta vez, de reparações impagáveis, e ter recebido, em vez dum castigo colectivo, um sistema político pluralista e democrático, uma economia de mercado social e uma soberania vigiada.
    É verdade que este recomeço foi pago com o preço da imerecida amnistia de facto para dezenas de milhares de pessoas na administração pública, e por isso também com o silêncio incomodado sobre o passado nas primeiras duas décadas, ou seja, enquanto eles ainda tinham influência na vida pública da nova R.F.A.
    Mas foi possível que nesta república cresceu uma geração que não foi marcada pelo ressentimento aos vencedores aliados, e que teve a liberdade bastante para confrontar-se a si e antes de mais os seus pais com a terrível verdade do passado. Se não houvesse mais mérito nenhum, este bastava para reservar à geração de '68 alemã um lugar honroso na história. Porque é, de facto, extraordinário, como ela arranjou a auto-estima e o desprendimento necessário para assumir a herança de algo tão inassumível como o holocausto. Foram o bem-estar económico, e a já real experiência da integração europeia (na Europa dos seis: com a Itália, a França, e os estados Benelux), e foi o sonho socialista, o sonho do "novo homem" e do internacionalismo, que ajudaram, e não desfaz o mérito do alcançado o facto de que este último sonho hoje está muito de rastos.
    Em contraste, no Japão, a população aparentemente só reage ofendida às manifestações de chineses, que lembram os terríves crimes cometidos na ocupação japonesa.
    É verdade que me pergunto também, quando vejo os manifestantes chineses, se estes por sua vez têm noção do que se passa e passou em Tibete. Julgo que não têm. Aos chineses, como a tantos outros povos, ninguém ofereceu uma sociedade livre. Mas aos japoneses sim.
    23.4.05
    "La Bernadina"

    de Girolamo Frescobaldi
    (Il primo libro delle canzoni, Roma 1628)

    Frans Brüggen, discant recorder
    Anner Bylsma, violoncello
    Gustav Leonhardt, organ

    No Player.

    Vicente, Almograve 2005
    22.4.05
    Relativismo, Niilismo?

    João Miranda, Blasfemo e conhecido liberal radical, empenha-se na defesa do novo Papa contra a acusação da intolerância. Já tinha notado que ele acha o catolicismo conservador, como representado pelo Cardeal Ratzinger, compatível com o liberalismo, e admito desde já, que este facto continua a constituir para mim um dos mistérios da fé de outrem.

    No seu post Relativismo e Niilismo diz que "o Cardeal Ratzinger tem sido acusado pela esquerda bem pensante de intolerância e dogmatismo pelo simples facto de afirmar as suas convicções e de defender que elas são superiores a todas as outras."
    Não sei se me engloba a mim na "esquerda bem pensante". E normalmente não acho que vale a pena responder a posts que usam clichés como este para depois poder atacar à vontade o que não se consegue o não se quer identificar melhor.
    Mas, por hipótese, posso achar-me visado, como critiquei o slogan "ditadura do relativismo" de Ratzinger, embora que deixei claro nos comentários que a minha crítica ao slogan não significa uma defesa do Relativismo, muito menos como definido pelo João Miranda. (Diz ele que Relativismo é a ideia de que todos os valores ou crenças são equivalentes. O que é uma definição - bastante redutora - entre várias, como se pode comprovar aqui.)
    Mas é interessante notar que o Relativismo não é, ao contrário do Catolicismo, Marxismo, Liberalismo, Positivismo, Empirismo etc. nenhuma ideologia, que conhecemos através dos seus grandes teóricos (Sartre?), mas pelo contrário, através dos seus opositores, que assim usufruem do privilégio de (in)definí-la ao seu gosto.

    E, naquela indefinição intencional, o que defensores da Verdade absoluta como Ratzinger incluam no ataque ao Relativismo não é nada mais do que Pluralismo religioso:

    "Religious pluralism is the belief that one can overcome religious differences between different religions, and denominational conflicts within the same religion. For most religious traditions, religious pluralism is essentially based on a non-literal view of one's religious traditions, hence allowing for respect to be engendered between different traditions on core principles rather than more marginal issues. It is perhaps summarized as an attitude which rejects focus on immaterial differences, and instead gives respect to those beliefs held in common.

    The existence of religious pluralism depends on the existence of freedom of religion. Freedom of religion is when different religions of a particular region possess the same rights of worship and public expression. Freedom of religion is consequently weakened when one religion is given rights or privileges denied to others, as in certain European countries where Roman Catholicism or regional forms of Protestantism have special status.[...]

    Religious pluralism generally does not claim that all religions are absolutely true.
    Different religions make certain claims that logically contradict each other.[...]
    In contrast, most religious pluralists hold that no religion can claim to teach the only or absolute truth, arguing that religion is not literally the word of God, but rather is mankind's attempt to describe the word of God. Given man's finite and fallible nature, no religious text can absolutely describe God and God's will in absolute precision. On this view no religion is completely true and there is an infinite Reality, or God, that is beyond the ability of any single religion to capture with total accuracy. Instead, all religions make an attempt at capturing this Reality, but this always occurs within a cultural and historical context that affects the viewpoints of the faith's holders.

    Religious pluralists note that because nearly all religious texts are a combination of historical documents, journalist accounts, essays, and morality plays, distinctions must be made between the literal claims within religious texts, and those claims contained within spiritual metaphors. The differences between spiritual metaphors are seen as common."

    (Itálicos colocados por mim.)
    Sede fecundos, multiplicai-vos!

    Não aprecio nada o Blogspam, o aproveitamento da caixa de comentários para mensagens não relacionados com o assunto do post. Mas neste caso o texto recebido tem mesmo graça:

    "As sociedades que colocam restrições aos Direitos Cívicos das mulheres conseguem, SEM EXCEPÇÕES, alcançar a renovação demográfica.
    As sociedades penalizadas com a incapacidade de renovação demográfica são precisamente, SEM EXCEPÇÕES, as sociedades aonde as mulheres são dotadas de toda a Liberdade e Independência.
    Ora, como é óbvio, está UNIVERSALMENTE provado que as mulheres são dotadas de muito pouca disponibilidade emocional para se envolverem num Projecto de Luta pela Sobrevivência!...
    Portanto, podemos concluir que estas décadas de Liberdade e Independência das mulheres serviram para provar ( sem margem para dúvidas !!! ) que as mulheres NÃO SÃO DIGNAS de possuir tanto Poder !!!"


    (O resto do Manifesto pode ler-se no comentário ao post Até os Futuros envelhecem.
    Só espero que não cometo um erro grave ao ecoar este Blogspam: Que não convido assim os Spammers a inundar o Quase em Português com as suas mensagens...)
    Os livros de Ratzinger

    "... o fenómeno moral perdeu a sua evidência. Na sociedade moderna, já só uma pequena porção de homens acredita na existência de mandamentos divinos (...) A única função que pode talvez ficar para Deus é ter dado início ao cosmos com o Big Bang. Que Ele opere no meio de nós e que o Homem viva na dependência da sua vontade é coisa que parece à maioria como concepção de Deus ingenuamente antropomórfico ..."

    (Cardeal Ratzinger)

    O Almocreve das Petas deu-se ao trabalho muito meritório de transcrever estas e outras partes do livro A Igreja e a Nova Europa.
    21.4.05
    Até os Futuros envelhecem!

    Mas muito bem. Manifestamente este é um blogue jovem, no melhor sentido! Parabéns pelo aniversário!

    «"Cristofobia" refere-se ao desprezo sem dissimulação que muitos intelectuais e políticos europeus sentem por tudo o que está relacionado com a Igreja.»


    (No Público de hoje, sem link gratuito.)

    As duas lições deste "Destaque" do Público, que se diz jornalismo - e não opinião:
    - Só há uma Igreja. (Vide a maiúscula.)
    - Quem não gosta da Igreja foge ao Cristo: "extra ecclesiam nullum salus".

    A autora (Anne Applebaum) diz-se não católica e não religiosa.
    Só me resta felicitar a Igreja (com maiúscula) pelo sucesso da sua propaganda!
    20.4.05

    Em homenagem ao novo Papa Bento XVI, uma edição especial de playmates:
    Girl on girl (Schiele)
    "Blogorreia papal"

    Assim chama o JPT, no seu Ma-Schamba, a produção bloguistica sobre este assunto. Coerentemente, fá-lo num post de duas linhas. Mas felizmente dá depois as suas razões num comentário longo ao próprio post, no seu estilo inconfundível. Vale a pena e é preciso lê-lo todo, porque o que cito aqui, que me parece mesmo digno de maior relevo, só é uma face da medalha:

    "...ver a vergonhosa e decerto ilegal comunicaçao ontem do correspondente da RTP em Bruxelas, Antonio Esteves Martins, pago por dinheiro estatal e a assumir a necessidade de reforco da ICAR vs as "seitas evangelicas" - o gajo trabalha para um Estado laico, devia ir para a rua."
    Haverá alegria na Terra de hoje?

    Playmates da semana: Namorados (Otto Mueller)

    Hoje, para comemorar o novo Papa, teria-me apetecido uma imagem mesmo hardcore, mas infelizmente não tenho actualmente nenhuma disponível. - Se alguém me queira facultar uma...
    19.4.05
    Yes!

    O novo Papa é meu compatriota! E ainda por cima chama-se Benedikt, como o meu melhor amigo da infância! Desde que Steffi Graf e Lothar Matthäus se reformaram, tinhamos só o Schumi como grande vulto no palco múndial.
    Seguramente vai ser um enorme incentivo para nós, dar-nos o muito necessário alento para resolver finalmente os conhecidos problemas económicos.
    E dá, naturalmente, muito jeito ter uma cunha no Vaticano, resp. ainda mais em cima.

    Lamento, caros Portugueses, mas esta vez foi nossa!

    Adenda:
    Depreendo dos comentários que mais uma vez falhei na tentativa de ser irónico: Levam-me a letra! Deus me livre de ter orgulho por ter entre os meus compatriotas um Ratzinger!

    Outra adenda (Não me apetece fazer já dois posts sobre o novo Papa):
    A última coisa que lhe ouvi antes de saber que foi eleito Papa, foi o inenarrável slogan da "ditadura do relativismo". Este slogan é muito esclarecedor sobre quem o profere. O termo "ditadura" significa - mas porque estou explicar coisas que qualquer criança sabe? - um regime de obrigação autoritária, e tem merecidamente uma carga fortemente negativa. O novo Papa queixa se de que hoje estamos obrigados a reconhecer a existênca de alternativas às nossas dogmas, a reconhecer outras formas de estar, pensar, viver...
    Para ele uma violência inaceitável. Estamos conversados.


    Última adenda:
    Estou mesmo triste para os meus amigos católicos! Imagino que para eles é um golpe duro.
    WATER is taught by thirst;
    Land, by the oceans passed;
    Transport, by throe;
    Peace, by its battles told;
    Love, by memorial mould;
    Birds, by the snow.

    (Emily Dickinson)
    18.4.05
    Logo se vê

    É verdade que a postura do logo se vê nem sempre é errada e também não é um exclusivo dos portugueses.

    Em tempos um amigo (gestor) contou-me esta hipotética experiência:
    Dois candidatos têm como tarefa levar um pequeno barco telecomandado a atravessar um tanque com pedregulhos, ainda sem água. Podem encher o tanque, mas a água é um recurso caro.
    O primeiro (alemão?) enche o tanque até que todos os pedregulhos estão submersos e o seu barco, após uma viagem sem problemas, chega ao outro lado à hora prevista e sem um único risco.
    O segundo enche o tanque com um pouco de água e inicia a viagem. Quando descobre, depois de emperrado em vários lados, que não há passagem possível, junta mais um pouco de água e retoma a tentativa. Quando finalmente chega, terá gasto menos água.
    Não é líquido, à partida, que o primeiro método é melhor. Embora que me deixava a mim, como candidato, mais descansado.
    17.4.05

    Picasso: Primeiros passos
    No player:

    Well my heart's in the Highlands gentle and fair
    Honeysuckle blooming in the wildwood air
    Bluebelles blazing, where the Aberdeen waters flow
    Well my heart's in the Highland,
    I'm gonna go there when I feel good enough to go

    Windows were shakin' all night in my dreams
    Everything was exactly the way that it seems
    Woke up this morning and I looked at the same old page
    Same ol' rat race
    Life in the same ol' cage.

    I don't want nothing from anyone, ain't that much to take
    Wouldn't know the difference between a real blonde and a fake
    Feel like a prisoner in a world of mystery
    I wish someone would come
    And push back the clock for me

    Well my heart's in the Highlands wherever I roam
    That's where I'll be when I get called home
    The wind, it whispers to the buckeyed trees in rhyme
    Well my heart's in the Highland,
    I can only get there one step at a time.

    I'm listening to Neil Young, I gotta turn up the sound
    Someone's always yelling turn it down
    Feel like I'm drifting
    Drifting from scene the scene
    I'm wondering what in the devil could it all possibly mean?

    Insanity is smashing up against my soul
    You can say I was on anything but a roll
    If I had a conscience, well I just might blow my top
    What would I do with it anyway
    Maybe take it to the pawn shop

    My heart's in the Highlands at the break of dawn
    By the beautiful lake of the Black Swan
    Big white clouds, like chariots that swing down low
    Well my heart's in the Highlands
    Only place left to go

    I'm in Boston town, in some restaurant
    I got no idea what I want
    Well, maybe I do but I'm just really not sure
    Waitress comes over
    Nobody in the place but me and her

    It must be a holiday, there's nobody around
    She studies me closely as I sit down
    She got a pretty face and long white shiny legs
    She says, "What'll it be?"
    I say, "I don't know, you got any soft boiled eggs?"

    She looks at me, Says "I'd bring you some
    but we're out of 'm, you picked the wrong time to come"
    Then she says, "I know you're an artist, draw a picture of me!"
    I say, "I would if I could, but,
    I don't do sketches from memory."

    "Well", she says, "I'm right here in front of you, or haven't you looked?"
    I say," all right, I know, but I don't have my drawing book!"
    She gives me a napkin, she says, "you can do it on that"
    I say, "yes I could but,
    I don't know where my pencil is at!"

    She pulls one out from behind her ear
    She says "all right now, go ahead, draw me, I'm standing right here"
    I make a few lines, and I show it for her to see
    Well she takes a napkin and throws it back
    And says "that don't look a thing like me!"

    I said, "Oh, kind miss, it most certainly does"
    She says, "you must be jokin.'" I say, "I wish I was!"
    Then she says, "you don't read women authors, do you?"
    Least that's what I think I hear her say,
    "Well", I say, "how would you know and what would it matter anyway?"

    "Well", she says, "you just don't seem like you do!"
    I said, "you're way wrong."
    She says, "which ones have you read then?" I say, "I read Erica Jong!"
    She goes away for a minute and I slide up out of my chair
    I step outside back to the busy street, but nobody's going anywhere

    Well my heart's in the Highlands, with the horses and hounds
    Way up in the border country, far from the towns
    With the twang of the arrow and a snap of the bow
    My heart's in the Highlands
    Can't see any other way to go

    Every day is the same thing out the door
    Feel further away then ever before
    Some things in life, it gets too late to learn
    Well, I'm lost somewhere
    I must have made a few bad turns

    I see people in the park forgetting their troubles and woes
    They're drinking and dancing, wearing bright colored clothes
    All the young men with their young women looking so good
    Well, I'd trade places with any of them
    In a minute, if I could

    I'm crossing the street to get away from a mangy dog
    Talking to myself in a monologue
    I think what I need might be a full length leather coat
    Somebody just asked me
    If I registered to vote

    The sun is beginning to shine on me
    But it's not like the sun that used to be
    The party's over, and there's less and less to say
    I got new eyes
    Everything looks far away

    Well, my heart's in the Highlands at the break of day
    Over the hills and far away
    There's a way to get there, and I'll figure it out somehow
    But I'm already there in my mind
    And that's good enough for now


    (Bob Dylan: Highlands)
    16.4.05
    Respostas ao inquérito, que a T. me enviou:

    Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser?

    - A História Interminável de Michael Ende. Por ser um livro mágico, que suga o seu leitor para dentro da sua história, para que ele salve o mundo, o que acaba mesmo por fazer!

    Já alguma vez ficaste apanhadinha(o) por um personagem de ficção?

    - Por Bastian, da História Interminável e por Stiller e Gantenbein, os narradores dos romances de mesmo nome de Max Frisch.

    Qual foi o último livro que compraste?
    - Die Ausgewanderten (Os Emigrantes)
    de W.G.Sebald

    Qual o último livro que leste?
    - Hannah Arendt
    de Ingeborg Nordmann

    Que livros estás a ler?
    - E agora José
    de José Cardoso Pires.
    - Histórias de Mulheres
    de Rosa Montero
    - Spuren (Traços)
    de Ernst Bloch
    - Der Geist der Utopie (o Espírito da Utopia)
    de Ernst Bloch

    Que livros (5) levarias para uma ilha deserta?

    - Um manual de sobrevivência
    - A Montanha Mágica
    de Thomas Mann
    - Predigten und Traktate ( Sermões e Tratados)
    de Meister Eckhardt
    - A Bíblia

    - A obra completa de Manara

    A quem vais passar este testemunho (três pessoas) e porquê?

    Ao Timshel
    À QED do Silsmaria
    Ao David do Linha dos Nodos
    Por ter curiosidade pelas suas respostas.
    15.4.05
    60.000.000 Euros mais ou menos, isso não interessa,

    ...o que interessa é ter uma Casa da Música igual ou melhor do que os outros têm!

    Acho espantoso que quase ninguém na imprensa portuguesa, nem na blogosfera, nem sequer os liberais Blasfemos - por serem do Porto?! - se incomodam por aí além com a derrapagem do custo deste equipamento público.* De 100% para os 250%, nota se!
    Todos preferem, quais crianças a experimentar o presente, qual pai que inspecciona o novo carro que comprou em prestações, a deleitar-se com as características do novo brinquedo nacional.

    Não me desentendam: Eu gosto imenso de brinquedos e respeito-os! Considero brinquedos até mais importantes do que as coisas úteis! E também não é nada irónico ou depreciativo, se chamo equipamentos para as artes brinquedos. Penso mesmo que são isso, nem mais, nem menos. (Ser artista é continuar a brincar como adulto.)
    Também não tenho nada contra o edifício. Conheço o mal ainda, pelas plantas e pelas fotografias. É capaz que justifique os seus elogios antecipados.

    Mas irrita-me ver agora toda a gente, que tem responsabilidades no processo da sua realização, contente e orgulhosa, e provavelmente já à espera da comenda à receber pelo seu desempenho neste imbróglio, como não se tratasse, do ponto de vista de gestão, dum descalabro total, e, como um amigo - também arquitecto - diz: se houvesse um mínimo de justiça, dum caso da polícia.

    O actual Presidente da Casa da Música, António Couto dos Santos, reclama que, em relação ao tipo e a dimensão do equipamento realizado, o custo não é excessivo; concluiu-se isso duma comparação com equipamentos semelhantes na Europa. Pode ser. Mas então porque não se calculou o custo já à partida? Quem tomou as decisões de ampliar de 9000m2 para 23.000m2 de área de construção? Com que legitimidade?

    Podem provar-me que foram mesmo sempre precisos os 23.000m2. Mas porque então não o disseram e calcularam-nos desde o início? Não sabiam? Não acredito. No que acredito é isto:
    O dimensionamento e o custo inicial eram o isco. Eram o valor que os promotores públicos então acharam ainda passível de ser politicamente aceite. Enquanto todos já sabiam que não chegava, nem de longe. Mas ninguém ficou muito incomodado, porque a experiência ensinava-lhes, que, no fim, ninguém acaba por ser responsabilizado. Daí todos podiam pensar alegremente: Logo se vê! (Este lindo termo tão típicamente português.)
    E uma vez que se está entalado no processo, com a chantagem dos prazos à cumprir (cumpriu-se prazo qualquer?) e do possível fracasso do projecto, entram os restantes desejos e necessidades, e começa-se a aplicar o produto mais caro da construção civíl, o famoso "já agora".

    Há tempos escrevi um post em defesa de edifícios faustosos, pagos pelo contribuinte. Continuo defendê-los. Mas realizados assim não.

    * Com excepção honrosa do Tugir. (Actualizado.)

    Etiquetas:

    14.4.05
    Pecado

    No Metro meio vazio, Domingo ao meio-dia.
    - Senta-te ali!
    A menina negra, com talvez nove anos, senta-se à minha frente. A sua mãe, com as compras, fica no outro lado do corredor.
    É uma criança muito bonita, num vestido de bombazina preta, camisola de gola alta e colãs azul céu. As suas tranças compridas são dobradas para formarem laços.
    Podia contemplar os olhos grandes e a boca de beijo com prazer descontraido, se não fossem os lábios maquilhados. Com bom gosto, diga-se, com muito bom gosto: num castanho alaranjado que identifico só à segunda vista como não natural, e que cria um contraste discreto, mas irresistível, com a sua tez escura.
    Por causa dos lábios pintados desvio a vista, mas volto a olhar de novo, furtivamente, num impulso, que, devido ao baton, já não é inocente.

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    13.4.05

    Playmate da semana: Serpente (Fabiola Narváez)

    Encontrado no Plasticina.
    O Pula já não pula.

    É pena. Mas já ando nisto tempo suficiente para não chorar a morte dum blogue antes de que cheira mesmo mal...
    12.4.05
    Muito boa conversa!

    Não por ter referido e criticado o meu post anticlerical, mas pela excelente série de posts sobre a religião, sobre Buchenwald e sobre Dietrich Bonhoeffer, vale muito a pena visitar o blogue 2 Dedos de Conversa!

    No 9. de Abril 1945, há 60 anos, Dietrich Bonhoeffer foi assassinado pelos Nazi. Em homenagem atrasada, posto este poema, que escreveu na prisão:

    Wer bin ich?


    Wer bin ich? Sie sagen mir oft,
    ich träte aus meiner Zelle
    gelassen und heiter und fest
    wie ein Gutsherr aus seinem Schloß.

    Wer bin ich? Sie sagen mir oft,
    ich spräche mit meinen Bewachern
    frei und freundlich und klar,
    als hätte ich zu gebieten.

    Wer bin ich? Sie sagen mir auch,
    ich trüge die Tage des Unglücks
    gleichmütig, lächelnd und stolz,
    wie einer, der Siegen gewohnt ist.

    Bin ich das wirklich, was andere von mir sagen?
    Oder bin ich nur das, was ich selbst von mir weiß?
    Unruhig, sehnsüchtig, krank, wie ein Vogel im Käfig,
    ringend nach Lebensatem, als würgte mir einer die Kehle,
    hungernd nach Farben, nach Blumen, nach Vogelstimmen,
    dürstend nach guten Worten, nach menschlicher Nähe,
    zitternd vor Zorn über Willkür und kleinlichste Kränkung,
    umgetrieben vom Warten auf große Dinge,
    ohnmächtig bangend um Freunde in endloser Ferne,
    müde und leer zum Beten, zum Denken, zum Schaffen,
    matt und bereit, von allem Abschied zu nehmen?

    Wer bin ich? Der oder jener?
    Bin ich denn heute dieser und morgen ein andrer?
    Bin ich beides zugleich? Vor Menschen ein Heuchler
    und vor mir selbst ein verächtlich wehleidiger Schwächling?
    Oder gleicht, was in mir noch ist, dem geschlagenen Heer,
    das in Unordnung weicht vor schon gewonnenem Sieg?

    Wer bin ich? Einsames Fragen treibt mit mir Spott.
    Wer ich auch bin, Du kennst mich, Dein bin ich, o Gott!

    _____________________

    Quem sou eu?

    Quem sou eu? Dizem-me muitas vezes,
    que saio da minha cela
    calmo e bem-disposto e seguro
    como o conde do seu palácio.

    Quem sou eu? Dizem-me muitas vezes,
    que falava com os meus guardas
    de forma livre e simpática e clara
    como se fosse eu quem manda.

    Quem sou eu? Dizem-me também,
    que carregava os dias da desgraça
    impassível, sorridente e orgulhoso,
    como um que está habituado a vencer.

    Sou eu isso mesmo, o que outros dizem de mim?
    Ou só sou o que eu próprio sei de mim?
    Irrequieto, saudoso, doente, como um pássaro na gaiola,
    lutando pelo sopro da vida, como se algo me estrangulasse,
    faminto de cores, de flores, de vozes de pássaros,
    sedento de palavras boas, de proximidade humana,
    tremendo de ira sobre arrogância e ofensa mesquinha,
    atormentado pelo esperar por coisas grandes,
    impotente na angústia pelos amigos infintamente distantes,
    cansado e vazio para rezar, para pensar, para criar,
    abatido e disposto de despedir-me de tudo?

    Quem sou eu? Este ou aquele?
    Então sou hoje este e amanhã outro?
    Sou os dois ao mesmo tempo? Perante os homens um fingidor
    e perante de mim próprio um fraco, desprezível e queixoso?
    Ou assemelha-se, o que ainda está dentro de mim, do exército derrotado,
    que cede em desordem perante a vitória já alcançada?

    Quem sou eu? Perguntas solitárias fazem troço de mim.
    Quem sempre serei, Tu me conheçes, Teu sou, oh Deus!
    Uma proposta - de graça! - ao Louvre

    Façam dez ou vinte reproduções da Mona Lisa, suficientemente perfeitas para não poderem ser distinguidos do original - atrás do vidro de segurança é coisa fácil - e expõe-nas em diversas salas do Louvre, sem revelar em qual se encontra o original.
    Libertado da confusão a frente da obra, o público certamente agradece.

    (Essa ideia não é nova nem minha. Já está a ser praticada, com indiscutível sucesso, pela Igreja desde a Idade Média, com as Relíquias.)

    Etiquetas:

    11.4.05
    Em vez da resposta,

    que ainda devo ao Timshel (post Correspondência atrasada do 2.4.05) no debate sobre a minha recusa das Igrejas, entidades administrativas e reguladoras da Fé, só tenho tempo para referir um link.
    Não responde a todas as questões, mas explica boa parte do meu anticlericalismo.
    10.4.05









    As hipóteses de encontrar um blogue extraordinário por mero acaso não são muito grandes. Mas acontece. Encontrei o PostSecret entre os referrers do QeP. Frank Warren lançou o seu projecto em Novembro passado e ele ainda está em curso:

    You are invited to anonymously contribute your secrets to PostSecret. Each secret can be a regret, hope, experience, unseen kindness, belief, fear, betrayal, desire, feeling, confession, or childhood humiliation. Reveal anything - as long as it is true and you have never shared it with anyone before.

    Create your own 4-inch by 6-inch postcards out of any mailable material. But please only put one secret on a card. If you want to share two or more secrets, use multiple postcards.

    Please put your complete secret and image on one side of the postcard.

    You may mail your postcard inside an envelope if you prefer.

    Tips:
    Be brief - the fewer words used the better.
    Be legible - use big, clear and bold lettering.
    Be creative - let the postcard be your canvas.

    PostSecrets are more likely to be displayed if they are short, easy to read, and creative.

    Mail your secrets to:
    PostSecret
    13345 Copper Ridge Rd
    Germantown, Maryland
    USA 20874-3454
    9.4.05

    Para quem sofreu isto, há muitas razões para chorar. Mas quer parecer-me que não a menos forte é a (quase absoluta) impossibilidade de comunicar aquilo.

    Lyle Carbajal: For John

    Descoberto via Quartzo.
    8.4.05
    Não há nada que não há debaixo do sol

    Sabiam que um engraçadinho teve a ideia de fazer um

    TERRI SCHIAVO'S BLOG
    com o sub-título:
    "nnnngnnggh"

    Claro que colheu centenas de links - mas nenhum meu! - e de comentários que são ainda mais inqualificáveis do que o blogue!
    Alguém que esteve nele, encontrou o Quase em Português. Os caminhos do Blogger são insondáveis...
    Injustiças

    Quando vi o famoso documentário The wonderful, horrible life of Leni Riefenstahl, de Ray Muller, fiquei muito impressionado pela energia, pela coragem e pela força de vontade da realizadora. Proscrita e impedida de fazer filmes, e sem grandes meios económicos, encontrou forma de continuar a trabalhar como artista, entre outro na África, e comecou aos 70 anos a fazer fotografia subaquática. Para poder aprender mergulhar, teve de falsificar a sua idade no BI para os 50.
    Não se pode negar que a sua própria vida foi um triunfo da vontade. Embora que também sobre a sua consciência, como Jens Jessen muito bem diz.

    Até ao fim Riefenstahl sentia-se muito injustiçada pelo castigo "McCarthyista", que sofreu depois da guerra. Não lhe ocorreu comparar essa injustiça àquela que aconteceu aos seus comparsas ciganos, mas antes - aqui admito que especulo - ao destino dum outro alemão, contemporáneo seu, que também tinha uma paixão e uma vontade indomável. Que também não se interessava pela política a não ser que ela lhe fosse útil para ajudar à realização dos seus projectos.
    Não foram umas dúzias de ciganos, foram milhares de trabalhadores forçados, presos de campos de concentração, que pereceram nas condições mortíferas e nos bombardeamentos dos Aliados das fábricas de Peenemünde, onde construia os misseis V1 e V2. Para não falar dos habitantes civis de Londres, que eram os seus alvos.
    Wernher von Braun sempre alegou, o que é absolutamente credível, que não era o Endsieg, que o fez correr, mas a sua obsessão com os foguetões, o sonho de viagens no espaço.
    A carreira pós-guerra do pai do Saturn V, que levou os americanos à Lua, e de outros foguetões, que transportam ogivas nucleares, é conhecida. Não foi marcada pela ostracisão.

    Etiquetas:

    Podem ver mas não gostar!

    O bombyx mori (que nome intrigante!) convida-nos a dizer a nossa razão sobre isto:

    A questão (uma questão!) que a obra de Riefenstahl – intimamente ligada à própria construção do regime nacional-socialista como regime de matriz estética para realizar a grande epopeia do renascimento do povo alemão – suscita é saber se devemos e/ou conseguimos apreciar um trabalho artístico, no caso cinematográfico, autonomizando-o das injunções políticas (monstruosas) que ele transporta.

    Desprezo particularmente quem me quer pre-escrever, por razões morais, de que devo ou não gostar!
    Longe vão os tempos quando andava, como estudante de arquitectura do primeiro ano, de consciência pesada por descobrir que gostava do Estádio Olímpico de Berlim. Algo devia estar terrivelmente errado comigo, pensei. Mal saído do lar da família, revelei me um proto-fascista... Enquanto todos os meus colegas falavam da responsabilidade social das artes em geral, e da arquitectura em especial, eu perdi-me em longos passeios solitários e excitava-me com a construção monumental do aeroporto de Tempelhof, em vez de aprender aplicar as receitas de Lucien Kroell e de Günter Behnisch, como fazer "arquitectura democrática".
    Mas viver em Berlim também tem as suas vantágens: incentiva uma pessoa a assumir-se. Se os homossexuais podem fazer o seu coming out, porque então não podia confessar os meus gostos suspeitos? - Também não era verdade que estava tão só: Ungers, Rossi e Grassi estavam bem presentes, embora que a sua arquitectura estava proscrita, entre os meus colegas, como "arquitectura fascista".

    Voltando à Leni Riefenstahl. Claro que ela não só serviu ao Nazismo com uma propaganda muito eficáz; a sua arte era efectivamente adequada à sua ideologia. Também é verdade que ela tirou proveito do apreço que o Führer tinha por ela, até ao ponto de usar presos de campos de concentração (ciganos) como comparsas para o seu filme Tiefland. E é verdade que nunca assumiu responsabilidade pela sua parte no desastre humano e moral que o Nacional-Socialismo foi. Isso terei em conta para apreciar a pessoa Leni Riefenstahl.
    E a obra?
    Triumph des Willens e Olympia são obras primas. Não é possível ver um filme de Hitchcock, e os de todos que aprenderam com ele, sem reconhecer a dívida que este tem com Riefenstahl. E não há nenhuma transmissão dum evento desportivo, que não deve a Olympia.
    Leni Riefenstahl acrescentou novas palavras, uma nova gramática, à linguagem cinematográfica. É hipócrito não admitir isso. É estúpido não querer ver a arte na sua obra, não querer aprender com ela. É legítimo entusiasmar-se com ela. (Só é preciso não esquecer para que foi usada e para que podem servir os meios que inventou e empregou.)
    Quem limita a sua percepção artística por considerações moralistas, demite-se do território das artes, e escolhe passar a sua vida como um castrado no recreio da criatividade condicionada.

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    7.4.05
    Aprendo com a necessidade de serviços mínimos

    Ser auténtico é o que dá muito trabalho.
    EIN BLATT, baumlos,
    für Bertolt Brecht:

    Was sind das für Zeiten,
    in dem ein Gespräch
    beinah ein Verbrechen ist,
    weil es soviel Gesagtes mit einschließt?

    (Paul Celan)
    ____________

    UMA FOLHA, sem árvore,
    para Bertolt Brecht:

    Que tempos são estes,
    em que uma conversa
    quase é um crime,
    porque inclui tanta coisa dita?
    Machamba Ma-Schamba

    Por enquanto.
    I wish I had a talking book
    That told me how to act and look
    A talking book that contained keys
    To past and present memories

    A talking book that said your name
    So if you were gone, you'd still remain
    More than a picture on a shelf
    In imagination I could touch

    A talking, talking book

    I wish I had a talking book
    Filled with buttons you could push
    Containing looks and sights, your touch
    Your feel, your breath, your sounds, your sighs

    How much I'd bluster to ask it why
    One must live and one must die

    I wish I had a talking book
    By my side so I could look
    And touch and feel and dream, a look
    Much bigger than a talking book
    A taste of loving future and past
    Is that so much to really ask
    In this one moment's time and space
    Can our love really be replaced
    By a talking book

    Can our love really be replaced
    By a talking book
    Can our love really be replaced
    By a talking book
    Can our love ever, forever be replaced
    Can our love ever be replaced

    Can our love ever be replaced
    (can our love really be replaced)
    By a talking book

    (Lou Reed: A Perfect Night in London. No player.)
    _____________

    O Quase em Português nos próximos dias só prestará serviços mínimos.
    6.4.05
    Leituras:

    Toma lá, dá cá, de Gabriel Silva. Pertinente!
    Quando a publicidade fala mais fundo, de Nuno Guerreiro. Relato dum belo sinal de esperança, e um grande elogio ao Internet. Também na coluna ao lado "Em português".
    E, a não perder, a segunda parte das Reflexões Pascais do José no seu Guia dos Perplexos, também publicada na Terra da Alegria de hoje.

    Playmates da semana: As Sabinas (Rubens)

    "O rapto das Sabinas - qual pessoa saudável e razoavelmente honesta, homem ou mulher, não está ao lado dos raptores? Em vão procuro recordar-me duma obra de arte, que nos mostra os pobres Sabinos, para comover-nos.
    E a virtude?
    Sabinos, que têm de depender da virtude das suas Sabinas, metem-nos dó, mesmo se a virtude resiste. Eles são os proprietários das suas mulheres, protegidos legalmente, segurados pelo Estado e pela Igreja contra qualquer comparação, e com isto agora é suposto que estejam felizes: até que os raptores virão de lá das montanhas, até que o mundo ouvirá, como as Sabinas jubilam, quando a sua virtude finalmente não pode nada contra que acabarem nos braços dos mais fortes.
    Ai esse medo deste júbilo!"

    (Max Frisch: Ciúme, em Tagebuch 1946-49)
    5.4.05

    Num estado de direito, numa sociedade liberal como deve ser, um bom cidadão não pertence a uma sociedade secreta.
    Persegue os seus interesses legítimos abertamente. Presta serviço público, se optar para o fazer, para prestar serviço público. (Como seria arquitecto, se optar para isso, para fazer arquitectura.) E é recompensado pelo que faz, em serviço público. Não é recompensado pela nascença, pela filiação partidária, pela pertença a seja o que fôr o grupo. Não deve lealdades, para além à causa pública que serve, e à sua consciência.
    Certamente um funcionário público leal não pertence a uma sociedade secreta.
    4.4.05
    A boa morte

    A ler: o excelente artigo de Eduardo Cintra Torres no Público de hoje. (Leitura online à pagar)
    Porquê este homem nu está atado ao avião na parede?

    L., 4 anos, ao visitar uma tia-avó católica.

    (Contributo para o debate sobre os símbolos religiosos no Barnabé.)
    3.4.05

    Georgia O'Keefe: Black Iris

    "Oh mama, let me go back to where I came from!" (John Lennon)
    Para que serve o Ministério da Cultura?

    De acordo com o que me ensinou o meu pai, de que não há pergunta tão estúpida que não merece resposta, vou esclarecer o Jão Pereira Coutinho, que quer saber (no Expresso de ontem) para que serve o Ministério da Cultura, se não é "para adquirir e preservar o espólio considerável de um português ilustre".

    Penso eu de que o Ministério da Cultura português serve para promover e preservar a cultura portuguesa.
    Não vejo porque não acreditar no Ministério, quando diz que o espólio em questão (do Sr. Champalimaud) não tem mérito para aí além, mesmo contendo obras de Guardi e Canaletto, de que gosto particularmente, mas cuja posse não faz propriamente falta à documentação e ao desenvolvimento da cultura portuguesa. A condição de ilustre do Sr. Champalimaud, que não advém, ao que sei, da sua qualidade de coleccionador ou mecenas das artes, não é para aqui chamado.
    Como é na Inglaterra, o João Pereire Coutinho seguramente saberá... Posso dizer-lhe que na Alemanha o Ministério da Cultura serve para preservar o patrimíonio cultural alemão, e serve para melhorar as condições para a actividade cultural alemã, promover a criação e o usufruto das artes e a sua projecção internacional.
    Para isso adquire obras de arte, mas não considera cultura como algo que se possa comprar.
    Não é possível comprar cultura. Tão pouco como comprar fatos na Savile Row e adquirir os tíques da upper class dum país estrangeiro me torna mais aristocrático.
    João Paulo II, pelo Vasco Pulido Valente
    2.4.05
    Querer

    Gostei muito de ler este artigo (de autor não identificado na versão online) no Público sobre a agonia do Papa João Paulo II:

    O mundo está a ver um homem a viver, até ao fim, uma das convicções que modelaram a sua vida e o seu impacto na história: a convicção de que a luz da Páscoa é sempre precedida pela escuridão da Sexta-Feira Santa, não só no calendário, mas no reino do espírito. [...]
    Abraçar o sofrimento é um conceito que nos é estranho. E, no entanto, o sofrimento abraçado em obediência à vontade de Deus está no centro da cristandade. [...]
    O Cristo dos Evangelhos abraça o sofrimento como o seu destino, a sua vocação - e é recompensado por esse sacrifício na Páscoa.


    Não gosto de sofrer. Acho o sofrimento, quase sempre, e certamente nos casos da agonia mortal, inútil e sem sentido. Não acredito na necessidade do sofrimento. Não sou Cristão. Mas compreendo a frase:

    Ser testemunho da verdade de que o sofrimento encarado com obediência e amor pode ser redentor.

    Como aprendi com Nietzsche (Do eterno retorno):
    Sou verdadeiramente livre e feliz se consigo querer, com todo o meu ser, o que inevitavelmente me vai acontecer.
    1.4.05
    A terrível língua alemã

    Via Last Tapes descobri o site maravilhoso de Arlindo Correia, onde ele disponibiliza grandes poemas de várias línguas (com traduções), entre outro a alemã. Alguns ainda podem ouvir-se, como este, lido pela autora, Ingeborg Bachmann, que é para mim a maior poeta da língua alemã do século XX:




    Die gestundete Zeit

    Es kommen härtere Tage.
    Die auf Widerruf gestundete Zeit
    wird sichtbar am Horizont.
    Bald musst du den Schuh schnüren
    und die Hunde zurückjagen in die Marschhöfe.
    Denn die Eingeweide der Fische
    sind kalt geworden im Wind.
    Ärmlich brennt das Licht der Lupinen.
    Dein Blick spurt im Nebel:
    die auf Widerruf gestundete Zeit
    wird sichtbar am Horizont.

    Drüben versinkt dir die Geliebte im Sand,
    er steigt um ihr wehendes Haar,
    er fällt ihr ins Wort,
    er befiehlt ihr zu schweigen,
    er findet sie sterblich
    und willig dem Abschied
    nach jeder Umarmung.

    Sieh dich nicht um.
    Schnür deinen Schuh.
    Jag die Hunde zurück.
    Wirf die Fische ins Meer.
    Lösch die Lupinen!

    Es kommen härtere Tage.

    ________________

    O tempo aprazado

    Vêm aí dias difíceis.
    O tempo até ver aprazado
    assoma no horizonte.
    Em breve terás de atar os sapatos
    e recolher os cães nos casais da lezíria,
    pois as vísceras dos peixes
    arrefeceram ao vento.
    Mortiça arde a luz dos tremoceiros.
    O teu olhar abre caminho no nevoeiro:
    o tempo até ver aprazado
    assoma no horizonte.

    Do outro lado enterra-se-te a amante,
    a areia sobe-lhe pelo cabelo a esvoaçar,
    corta-lhe a palavra,
    impõe-lhe silêncio,
    acha-a mortal
    e pronta para a despedida
    depois de cada abraço.

    Não olhes em volta.
    Ata os sapatos.
    Recolhe os cães.
    Lança os peixes ao mar.
    Extingue os tremoceiros!

    Vêm aí dias difíceis.

    ____________________

    Obrigado ao excelente Last Tapes, que só agora vi com a devida atenção!
    A direita não é liberal

    "Porque, no fundo, o grande problema da direita portuguesa é este: a direita ideológica ou subsiste como restos inapresentáveis do salazarismo, ou existe nos grandes negócios feitos à sombra do Estado e não confunde, de forma alguma, ideologia com oportunidades de negócio. O que os faz de direita não é mais do que a defesa do dinheiro e dos privilégios. Paulo Portas gastou sete anos da sua juventude convencido de que era possível restaurar, reabilitar e apresentar como alternativa uma direita de valores e de ideias. Foi o primeiro a perceber que ela, afinal, não existe, e daí o seu desânimo e a sua desistência."

    (Miguel Sousa Tavares, no Público)
    Gotham City or The Face of Hope



    Andreas Feininger: New York
    Talvez porque hoje morreu Terri Schiavo...

    No (In)Firmus a Marvi diz três coisas simples sobre o que a orienta no tratamento de doentes. Uma posição clara, responsável e humana. Mas não totalmente coincidente com a minha. No ponto dois, onde diz "Por razões de consciência não admito a morte de um ser humano por acção deliberada de outro, mesmo que a pedido deste" discordo.
    Claro que merecem todo o meu respeito as suas razões de consciência. Essas razões de consciência não devem, porém, no meu entender, sobrepor-se à liberdade do doente, que quando se encontra no seu cuidado, também se encontra, de facto, no seu poder.
    Nas minhas regras simples constava, em vez da frase citada, esta:
    "A decisão de viver ou morrer cabe ao doente, e é de respeitar se for séria. Ninguém pode ser obrigado a participar activamente na morte de um doente, mesmo se isso for o desejo dele. Mas deve ser assegurado que a vontade do doente é comunicada a quem esteja disposto de fazê-lo e esta pessoa não deve ser impedida da nem penalizada pela assistência activa na sua morte."

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