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  • 15.4.05
    60.000.000 Euros mais ou menos, isso não interessa,

    ...o que interessa é ter uma Casa da Música igual ou melhor do que os outros têm!

    Acho espantoso que quase ninguém na imprensa portuguesa, nem na blogosfera, nem sequer os liberais Blasfemos - por serem do Porto?! - se incomodam por aí além com a derrapagem do custo deste equipamento público.* De 100% para os 250%, nota se!
    Todos preferem, quais crianças a experimentar o presente, qual pai que inspecciona o novo carro que comprou em prestações, a deleitar-se com as características do novo brinquedo nacional.

    Não me desentendam: Eu gosto imenso de brinquedos e respeito-os! Considero brinquedos até mais importantes do que as coisas úteis! E também não é nada irónico ou depreciativo, se chamo equipamentos para as artes brinquedos. Penso mesmo que são isso, nem mais, nem menos. (Ser artista é continuar a brincar como adulto.)
    Também não tenho nada contra o edifício. Conheço o mal ainda, pelas plantas e pelas fotografias. É capaz que justifique os seus elogios antecipados.

    Mas irrita-me ver agora toda a gente, que tem responsabilidades no processo da sua realização, contente e orgulhosa, e provavelmente já à espera da comenda à receber pelo seu desempenho neste imbróglio, como não se tratasse, do ponto de vista de gestão, dum descalabro total, e, como um amigo - também arquitecto - diz: se houvesse um mínimo de justiça, dum caso da polícia.

    O actual Presidente da Casa da Música, António Couto dos Santos, reclama que, em relação ao tipo e a dimensão do equipamento realizado, o custo não é excessivo; concluiu-se isso duma comparação com equipamentos semelhantes na Europa. Pode ser. Mas então porque não se calculou o custo já à partida? Quem tomou as decisões de ampliar de 9000m2 para 23.000m2 de área de construção? Com que legitimidade?

    Podem provar-me que foram mesmo sempre precisos os 23.000m2. Mas porque então não o disseram e calcularam-nos desde o início? Não sabiam? Não acredito. No que acredito é isto:
    O dimensionamento e o custo inicial eram o isco. Eram o valor que os promotores públicos então acharam ainda passível de ser politicamente aceite. Enquanto todos já sabiam que não chegava, nem de longe. Mas ninguém ficou muito incomodado, porque a experiência ensinava-lhes, que, no fim, ninguém acaba por ser responsabilizado. Daí todos podiam pensar alegremente: Logo se vê! (Este lindo termo tão típicamente português.)
    E uma vez que se está entalado no processo, com a chantagem dos prazos à cumprir (cumpriu-se prazo qualquer?) e do possível fracasso do projecto, entram os restantes desejos e necessidades, e começa-se a aplicar o produto mais caro da construção civíl, o famoso "já agora".

    Há tempos escrevi um post em defesa de edifícios faustosos, pagos pelo contribuinte. Continuo defendê-los. Mas realizados assim não.

    * Com excepção honrosa do Tugir. (Actualizado.)

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