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  • 26.4.05
    Mudaram-se os tempos...

    "... melhor que ir passear cravos de saudade na Avenida da Liberdade, prefiro comemorar o 25 de Abril com o cravo da minha alegria rubra ao ver os jovens indiferentes à banalidade de se ser livre. Eles acham que não pode ser de outra maneira. Então, a obra está feita. Valeu!"


    Creio que compreendo o João Tunes. Mais do que com bom senso, com o que aqui fala, é pudor.
    Com cada ano que passa, as comemorações do 25 de Abril ficam um pouco mais estéreis, um pouco mais déplacé, a alegria um pouco mais esforçada e os discursos, cujo conteúdo já há décadas sabemos de cor, um pouco mais enfadonhos. É um ritual, que uns fazem por necessidade, e que começam a ficar cada vez menos, dando mais peso a outros, que só nele participam por interesse ou obrigação.

    As mulheres e os homens de meia idade para cima, que desceram ontem a Avenida com cravos na mão, não são ridículos, mas por vezes suspeito que só a boa educação impede ao meu filho de quinze anos de sorrir com leve condescendência.
    Ele sabe que eles têm não só o direito, mas toda a razão para comemorar. Sabe que lhes assiste um grande e indiscutível mérito, e sabe também que este é um mérito exclusivo duma geração com o qual para ele é impossível competir, indiferente o que ele ainda fará no futuro.
    Mas para ele hoje é hoje e no fundo não se emociona por aí além com o que foi ontem. E a grande saudade que sentem os velhos, é destas saudades que o deixam especialmente impaciente: A saudade a sério, daquelas que se dirige ao inalcançável, o que é, neste caso, o irrecuperável passado.

    Talvez, se imagino que se mistura também uma certa inveja na condescendência do meu filho, a inveja de ter sido uma vez não telespectador, não um mero objecto mas sujeito da história, imagino demais e na verdade projecto a minha própria inveja nele.
    Pois eu sei que estes manifestantes emocionados tiveram um privilégio que calha a poucos, e toda a saudade parece-me pouca, se imagino como estes tempos devem ter sido para quem lutou e viu-se ganhar: Um tempo duma hoje inconcebível esperança. Todo o impossível passou a possível, já hoje, já amanhã, era só querer e fazer, solidariamente, generosamente querer e fazer.

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