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8.4.05
O bombyx mori (que nome intrigante!) convida-nos a dizer a nossa razão sobre isto: A questão (uma questão!) que a obra de Riefenstahl – intimamente ligada à própria construção do regime nacional-socialista como regime de matriz estética para realizar a grande epopeia do renascimento do povo alemão – suscita é saber se devemos e/ou conseguimos apreciar um trabalho artístico, no caso cinematográfico, autonomizando-o das injunções políticas (monstruosas) que ele transporta. Desprezo particularmente quem me quer pre-escrever, por razões morais, de que devo ou não gostar! Longe vão os tempos quando andava, como estudante de arquitectura do primeiro ano, de consciência pesada por descobrir que gostava do Estádio Olímpico de Berlim. Algo devia estar terrivelmente errado comigo, pensei. Mal saído do lar da família, revelei me um proto-fascista... Enquanto todos os meus colegas falavam da responsabilidade social das artes em geral, e da arquitectura em especial, eu perdi-me em longos passeios solitários e excitava-me com a construção monumental do aeroporto de Tempelhof, em vez de aprender aplicar as receitas de Lucien Kroell e de Günter Behnisch, como fazer "arquitectura democrática". Mas viver em Berlim também tem as suas vantágens: incentiva uma pessoa a assumir-se. Se os homossexuais podem fazer o seu coming out, porque então não podia confessar os meus gostos suspeitos? - Também não era verdade que estava tão só: Ungers, Rossi e Grassi estavam bem presentes, embora que a sua arquitectura estava proscrita, entre os meus colegas, como "arquitectura fascista". Voltando à Leni Riefenstahl. Claro que ela não só serviu ao Nazismo com uma propaganda muito eficáz; a sua arte era efectivamente adequada à sua ideologia. Também é verdade que ela tirou proveito do apreço que o Führer tinha por ela, até ao ponto de usar presos de campos de concentração (ciganos) como comparsas para o seu filme Tiefland. E é verdade que nunca assumiu responsabilidade pela sua parte no desastre humano e moral que o Nacional-Socialismo foi. Isso terei em conta para apreciar a pessoa Leni Riefenstahl. E a obra? Triumph des Willens e Olympia são obras primas. Não é possível ver um filme de Hitchcock, e os de todos que aprenderam com ele, sem reconhecer a dívida que este tem com Riefenstahl. E não há nenhuma transmissão dum evento desportivo, que não deve a Olympia. Leni Riefenstahl acrescentou novas palavras, uma nova gramática, à linguagem cinematográfica. É hipócrito não admitir isso. É estúpido não querer ver a arte na sua obra, não querer aprender com ela. É legítimo entusiasmar-se com ela. (Só é preciso não esquecer para que foi usada e para que podem servir os meios que inventou e empregou.) Quem limita a sua percepção artística por considerações moralistas, demite-se do território das artes, e escolhe passar a sua vida como um castrado no recreio da criatividade condicionada. Etiquetas: alemanha, antisemitismo, sel |
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