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  • 20.5.05
    "Mostra!"

    No início dos anos 70 - nos tempos áureas da libertinagem pós-68, ainda sem ser abalado pelo choque da SIDA e inconscientes dos perigos da pedofilia - os meus pais progressistas, que já duma forma mais técnica nos (dois filhos e uma filha) tinham "esclarecido", compraram um livro de educação sexual e deixaram-no disponível, sem mais comentários, entre os outros da divulgação científica na respectiva estante na sala. Chamava-se "Zeig mal!" (="Mostra!") e era um livro de formato grande - maior do que A4 - com fotografias a preto e branco em tamanho de página inteira: dum homem e duma mulher nus; uma sequência impressionante dum nascimento; e de dois adolescentes da minha idade (ca. de 14 anos), rapaz e rapariga, a masturbarem-se, a fazerem fore-play - ainda hoje tenho a imagem bem presente, como ela beija, com carinho, a ponta do pénis erecto do rapaz - e também, no fim, uma sequência deles a copular, em close-up. Tudo acompanhado por um texto explicativo não muito longo - um parágrafo por página - numa fala directa, casual, simpática.

    Achava óptimo ter este livro disponível, e li-o repetidas vezes com imensa curiosidade, e também utilizava-o pelos fins para que se utiliza pornografia, embora, apesar das imagens mais do que explícitas, ele não era nada, mesmo nada pornográfico. Não eram imagens de que se sente a intenção do apelo erótico. Eram imagens documentais de actos eróticos.
    O que queria dizer era, que li-o – sempre - em privado. (Uma vez, li o com amigos também.) Mas mesmo se não me dava ao trabalho de esconder aos meus pais, quando levava o livro para o meu quarto, era claro que não quis ser abordado por eles sobre ele. Estava complexado por (de)formação cristã? Não sei. Tímido, sim. A comunicação sobre o sexo com os meus pais incomodava-me, é verdade, embora eles foram tudo menos repressivos ou moralistas connosco.

    O livro está hoje em casa da minha irmã, onde está a ser aproveitado da mesma forma pelas suas duas filhas, de 12 e de 14 anos. Ele há muito já não está a venda. Quem se atrevia hoje, nestes nossos tempos supostamente tão liberais, produzir um livro destes, arriscava-se a vários anos de prisão, por abuso sexual de crianças.

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