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1.7.07
Já esgotei a lista dos livros que ultimamente li e acho recomendável, na ocasião das convites da Sabine e da Isabella. Assim aproveito o desafio do Rui Bebiano para recomendar livros que já li há algum tempo e para fazer campanha pelo escritor que, ao lado de Thomas Mann, me marcou mais: Max Frisch. Stiller de Max Frisch (1954) Um homem foi preso na Suiça sob suspeita de ser um tal "Stiller", que é procurado. O seu defensor oficioso dá lhe cadernos e uma caneta: para provar quem é. Se não é Stiller, então quem é? Frisch provavelmente não conheceu “Lisbon revisited” de Pessoa, quando escreveu o livro, mas o poema teria servido como lema perfeito. Um romance sobre a incapacidade de ser quem os outros acham que se é, sobre a incapacidade de ser outro do que aquele que se é, sobre o desejo e a impossibilidade de não ser ninguém. Mas também um romance de aventuras, repleto de histórias inesquecíveis. Gantenbein de Max Frisch (1964) “Um homem fez uma experiência. Agora anda a procura da história para esta experiência.” Este romance não tem uma história coerente e única. É um enredo de histórias dum grupo de personagens, que estão relacionadas umas com as outras, interagem, mas de repente são postos pelo autor nouto cenário, trocam os papeis, começam de novo noutro enquadramento. “Experimento histórias como roupa”. Um homem tem um acidente de viação. Suspeita-se que fica cego. Não fica. Mas ele finge que sim. Passa a vida como falso cego, “não vê” os casos da sua mulher, é cliente duma “manicure”, o único que realmente só faz manicure. A sucessão de situações hilariantes é alucinante, já a soma das peças faria do livro grande prosa. Mas o livro é mais do que a soma das histórias. Como num quadro do cubismo analítico, em que as perspectivas não encaixam, mas mesmo assim transparece a imagemdoretratado, aqui, apesar da negação do fio narrativo, pinta um quadro convincente: da impossibilidade da convivência entre homem e mulher. Ingeborg Bachmann, que viveu com Frisch os anos antes de este romance foi escrito, nunca lhe perdoou ter explorado assim a sua relação. Mas como leitor, agradece-se a traição. Outro livro da minha vida é The Lonely Sea and Sky de Francis Chichester (1964) Tenho este livro desde o meu décimo aniversário. São as memórias dum inglês que em 1919, aos 18 anoas, fugiu do ambiente pequeno burguês em que cresceu e emigrou para Nova Zelandia, alistando como operário das máquinas no vapor em que fez a viagem. Trabalhou como lenhador, fez dinheiro como vendedor de seguros, comprou um avião, fez o primeiro voo entre Nova Zelândia e Austrália, quase morreu na tentativa de voar de Austrália para Inglaterra, mas completou este projecto. Perdeu o seu dinheiro em 1929, alistou na Força Aérea na 2ª guerra mundial, como navegador. Fundou uma empresa de cartografia, começou a fazer vela, apanhou um cancro terminal, sobreviveu-o, ganhou a primeira regata transatlântica de vela one hand, deu a volta ao mundo como velejador solitário, com apenas uma paragem em Sidney. Between Good and Evil (Ein Meister aus Deutschland) de Rüdiger Safranski (1997) Uma biografia intelectual de Heidegger, magistralmente escrita. A Plea for Eros, uma colecção de ensaios de Siri Hustvedt. Depois de ler este livro, passei a invejar o Paul Auster por ainda outra razão. |
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