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  • 7.4.08
    Respeito

    «E, sobretudo, não havia outra coisa: a rasura, na relação entre adultos e crianças, da ideia de que há uma diferença entre adultos e crianças e de que essa diferença se traduz numa relação de autoridade “natural”. Essa autoridade, que quando existe (ou existia) não advinha necessariamente do medo (físico ou outro), é uma espécie de “adquirido” que parece ser cada vez mais raro. Talvez porque o centro de gravidade social foi passando paulatinamente dos adultos para os mais jovens, talvez porque os adultos queiram que essa diferença não exista. Esta rasura é visível todos os dias em todo o lado – na sua casa ou numa casa perto de si, no restaurante, nos transportes públicos, na rua. Mas, porque a escola assenta toda na ideia dessa autoridade “natural”, porque é o lugar onde o confronto adulto/jovem é mais ritualizado, funciona como o espectáculo mais óbvio e público dessa rasura. Não pode haver quem creia, honestamente, que o problema se pode resolver só na escola, com mais ou menos castigos (mesmo se, é claro, tem de haver castigos). A tal autoridade "natural" tem de ser, como sempre foi, construída socialmente. Quer dizer: por toda a gente. Adulta, claro. É, digamos, uma questão de os adultos se portarem como gente crescida.» (Fernanda Câncio)

    Ora, aí está uma observação certeira que devia colher o aplauso dos comentadores da direita, que tanto gostam de zurzir na Fernanda. Porque o que ela diz, com outras palavras, é o que estes não param de berrar indignados: "Já não há respeito!" - Pois é isso: Já não há respeito. A geração de 68 acabou com ele de vez. É essa a vitória cultural de que Daniel Cohn Bendit falou, quando recentemente fez o balanço da revolta que já faz 40 anos. O que eles viram e não aceitaram mais era o respeito exigido por gente que não o merecia, reclamado como um direito inquestionado e inquestionável, adquirido do status ou pela simples antiguidade. Era absurdo, injusto, revoltante. Por isso a revolta. Para que não fiquem dúvidas: também me revoltei e ainda me revolto. Não posso com pessoas que exigem respeito sem o merecerem. E a apologia do respeito, porque sim, ofende a minha inteligência. Sou méritocrata.
    Mas o que fazer se o mérito é escasso, se tantos há, colegas, professores, pais, políticos - sim políticos - que não se dão ao respeito? Basta olhar à volta, não é preciso ser para dentro das salas de aula da Carolina Michaëlis, ou da actual sede do PSD, ou do Governo Regional da Madeira, ou do "Corredor do Poder".
    O respeito à antiga garantia alguma ordem, mesmo se era de prestar a bananas, tontos, hipócritas e filhos da puta. Continuamos com os bananas, os tontos, os hipócritas e os filhos da puta. Perdemos o respeito. Ficamos com quê?
    Onde, porra, se meteu o Homem Novo?!

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