«Existe, nalguns meios, uma presunção, artificial e enganadora, de se estar acima dos partidos e do Estado, ou, como alguns preferem, acima do regime. Trata-se de uma linha de pensamento que também esteve muito em voga no seio de certos movimentos há sensivelmente cem anos. É pura demagogia, populismo construído para desacreditar as instituições e lançar o clima adequado para a instauração de uma “nova era” messiânica. Na realidade, ao invés do programa regenerador anunciado, tem como principal efeito atrair o que de pior existe na sociedade e potenciá-lo a níveis desumanos. As grandes tragédias do século XX encontraram aqui um fiel gatilho para iniciarem o seu trajecto.»Há algum tempo exactamente isso me vem à alma, ao ler os descontentes com o «regime». Que ao declará-lo irremediável, preparam mais ou menos abertamente, mais ou menos intencionalmente, o terreno para os que não temem os sacrifícios necessários para
arrancar o mal pela raíz. Os radicais sempre têm sido generosos com o sangue e o sofrimento dos outros.