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  • 13.6.07
    Ainda o "vinhedo do amor"

    Tenho estado a reflectir sobre o meu embaraço com a aventura erótica da Igreja Evangélica Alemã.
    Este advém de algo mais do que da contradição óbvia entre a tradicional postura anti-sex da igreja e desta iniciativa. Advém também, acho eu, de algo mais do que da igualmente óbvia falta de jeito, tanto dos organizadores com o seu programa eroto-artístico, como dos participantes, para entregar-se a essa aventura. Tem no entanto a ver com as razões desta falta de jeito.
    É fácil rir-se dos participantes da missa, das suas posturas tensas e dos seus olhares confrangidos na fotografia. Mas não sei se eu, sentado naquele banco, teria feito figura melhor. Dez vezes mais fácil agarrar as mamas da modelo da feira erótica, do que assistir a esta bailarina sem embaraço, do que massajar a testa da/do meu/minha vizinha/o. - OK, admito: dependeria muito da vizinha. Ou vizinho. Mas, como diria o outro, não é essa a questão. A questão é que o Pastor Beuscher quer muito mais de mim do que a animadora na feira. Não só quer mexer no meu sexo, quer mexer na minha alma! Pior: quer mexer nos dois ao mesmo tempo! E aqui embate nas barreiras do meu pudor.
    Subjaz a este happening um pressuposto incontornável da igreja, que é a ligação entre sexo e o amor. É essa a fonte do embaraço: Erotismo, até sexo em público ainda vai, mas erotismo com amor em público, ainda por cima com estranhos, não é coisa fácil para qualquer um.
    Mesmo com a ajuda do Pastor.


    Adenda:
    A Helena lembra, e bem, que a Igreja Evangélica Alemã não é pioneira em tentar ligar experiências espirituais a experiências eróticas, ou melhor, em integrar as segundas nas primeiras, objectivo que - sem ironias - admito como nobre e válido. Referiu a comunidade do "Burning Man" que, pelo que entendi ao visitar o seu website, faz parte do movimento libertário-espiritual com origens na cultura hippie. Digo isto sem me querer comprometer com uma opinião sobre o Burning Man, que não conhecia. Conheço contudo razoavelmente bem esta fauna em geral.
    Não creio que uma vez a Igreja Evangélica fará concorrência ao "Burning Man". O movimento hippie faz (fez) esta aventura à sério, isto é, com open end, como comprovam as muitas derivas e os muitos fracassos que coleccionou. Enquanto os hippies dançam despidos no deserto de New Mexico, os evangélicos alemães dançam descalços (ou em peúgas) e de mãos dadas no "vinhedo do amor", ou seja em volta da macieira no quintal da paróquia do centro sul de Colónia. E, pelo descanso do Pastor Beuscher, se ficarão por aí.

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