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  • 24.6.07
    Hitchens vs. Hitchens

    Através do Estado Civil descobri este artigo de Peter Hitchens, em que critica o livro do seu irmão Christopher “Why God is not great”. Peter, conservador e crente da confissão anglicana, refuta as teses ateístas do irmão.

    É um prazer lê-lo, independentemente de se concorde com ele ou não, pela sua elegância. Embora se centrando na questão da bondade ou não da religião, ele abrange mais do que os dois argumentos que aqui quero comentar. Todavia, cinjo-me aos dois argumentos.

    O primeiro é o conhecido princípio antrópico, que consiste basicamente na ideia de que algo tão maravilhoso como o universo, com as suas leis, a sua complexidade e riqueza, inclusive seres conscientes que reflectem sobre a sua existência, não pode ser um mero acaso. Partilho com os defensores deste argumento os sentimentos de espanto e gratidão pelo facto de que algo existe, e não antes nada, mas nunca percebi como a suposição de um criador diminuisse a inquietação intelectual que o milagre da existência provoca. Não há só o conhecido contra-argumento da regressão ad infinitum, que aliás acho válido: Se aceitamos como fonte do universo Deus, então como explicamos a existência de Deus? Há outro: Admitamos que se introduza Deus como explicação do inexplicável que é a nossa existência. Do ponto de vista lógico, o ganho desta operação é zero, pois não se vislumbra qualquer dedução possível desta suposição que não já esteja implícita nos seus pressupostos. Ou seja: logicamente, não posso fazer qualquer afirmação sobre as Suas características, consequências ou propósitos. Sempre que o faço, e todos os crentes obviamente fazem, estas não têm nada a ver com o argumento antrópico. Daí, não excluindo categoricamente a possibilidade da existência de Deus, prescindo por razões de economia de raciocínio de supor a sua existência.

    O outro argumento que Peter Hitchens apresenta, é o da sua utilidade moral e, por seguinte, social. Compreende-se que o apresenta, em resposta directa à tese do livro de Christopher, que atribui às religiões um impacto muito negativo na humanidade. Não me vou aqui alongar sobre se um ou outro está certo na sua opinião da bondade social ou não das religiões. Quero antes lembrar o facto de que este argumento, o da utilidade ou necessidade moral, é inútil como prova de existência de Deus em qualquer argumentação que aceita como base a razão. A verdade duma suposição não é mais ou menos provada pelo facto de ela ser conveniente. Não tenho muitos conhecimentos da religião anglicana, mas pelo que conheço, este segundo argumento assenta como uma luva no seu espírito, até poderia dizer, com alguma maldade: já na sua genese histórica. Pois a religião anglicana existe porque foi (é) conveniente.
    Não posso defender uma crença pelos seus supostos efeitos sociais, sacrificando o valor da verdade.

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