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  • 20.6.07
    Confissão de fé dum revisionista empedernido

    «Essa conversa de quem destrói o regime são os fascistas (ou os estalinistas). Quem destrói o regime são os partidocratas - a senhora da DREN, que é o caso da moda, por mero acaso parece que antiga chefe de gabinete do Santos Silva. Vamo-nos deixar de merdas, o perigo para a democracia, para o regime, vem de dentro do regime. O PS é esta merda, o PSD não será muito menor, apesar de vestir melhor.

    Eu percebo a história de que os inimigos do regime são os fachos, skins, colonos, etc. Tem duas fontes, a desonestidade intelectual (vejam lá como somos belos democratas, dizem os do regime, dançando o can-can). E a imbecilidade».


    O comentário do JPT a este post, parece-me ser consequência duma leitura vesga do que escrevi, se não dum monumental malentendido.

    Então não me virei expressamente contra as pessoas e grupos que abusam do regime, de dentro, e que aliás enumerei - a título de exemplo, pois não duvido que são representativos para muitos outros?
    Defendi, sim, o "regime". Precisamente o regime vigente em Portugal, a democracia representativa. E insurgi-me contra o abuso da inocente palavra "regime", por pessoas como o João Gonçalves, que lhe conferem uma conotação depreciativa. Por duas razões: uma de princípio, linguística; e uma política. Quis primeiro salvar a honra desta palavra, que em si é, excepto para um anarquista radical, na pior das hipóteses, neutra. Mas antes de tudo quis contrariar que se transfere, sem mais, para as instituições o desprezo pelos seus agentes.
    Estas instituições são preciosas, e quem as critica, deveria fazê-lo, ou com o propósito de melhorá las, ou pelo menos assumindo o que quer em lugar delas. E já agora, com que meios quer realizar a sua substituição. Se não o faz, ou admite o caos, ou joga deliberadamente às escondidas.
    E sobre isto, não leio aqui nos blogues nada que me elucida, salvo algumas, na sua ingenuidade, imbecis invocações de homens fortes de ascendência húngara ou saudades do Dom Sebastião Salazar. Leio e oiço muitas invectivas, insultos, geralmente dirigidas ad hominem, cujos alvos as merecem ou não - o que em todo o caso não seria grave para aí além, se não se visasse igualmente, e talvez antes de mais, o "regime", que permitiu a esta "canalha" a legal chegada ao poder.

    (Não posso, nesta ocasião, deixar de manifestar o meu espanto pela violência da indignação com atitudes e práticas de hoje que não diferem em nada daquelas com as quais se mostraram muito mais complacentes quando o actual Presidente da República foi Primeiro Ministro. Enfim: coisas da tribo, se calhar.)

    O JPT diz que não são os fachos, os skins, os colonos etc. que destroem o regime. Ok. Pode ser que a experiência alemã me condicione a vista: aí foram mesmo as turbas – as da direita mas também as da esquerda – simultaneamente os agentes e o produto da derrocada do regime da primeira democracia alemã. É sabido: Esta derrocada deu-se, não através dum golpe de estado, mas como consequência do colapso da confiança no regime democrático. É sabido também que as instituições duma democracia não sobrevivem, ao contrário do que pode ser o caso noutros regimes, o colapso da confiança dos cidadãos nelas. É por isso, para um democrata, um imperativo defender também esta confiança.

    Admito que isto é um exercício de difícil e perigoso equilíbrio, em face dos óbvios defeitos do regime e dos seus abusos, que não devem ser varridos debaixo do tapete.
    É, já agora, também um exercício da melhor tradição conservadora, que alia uma visão sem ilusões do "que é" (a natureza humana) à continuada exigência do "dever ser".
    Não é fácil passar por este caminho com honestidade, mas para quem não acredita nas miragens de soluções radicais, seja através da vinda do homem providencial, seja através da felizmente igualmente ilusória reanimação do cadáver comunista, não tem outro a percorrer.

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