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1.6.07
Nunca vi uma tourada, senão na televisão. As que vi aí não me faziam impressão para aí além. Há todavia um assunto que me deixa perplexo, que é a proibição de matar o touro na arena. - Serão esses os famosos brandos costumes dos Portugueses? Devo presumir então que, depois da tourada, o animal exausto, debilitado e encharcado do próprio sange, é acolhido por uma equipa médica veterinária, que lhe administra analgesicos, lhe desinfecta e bandageia as feridas, e depois o envia de volta para a sua herdade, os seus pastos verdes e onde lhe espera uma ainda longa vida de procriação? Ou será que depois de reestabelecido a saúde e as forças, ele volta para outra tourada, outra luta desigual, mas desta vez com hipóteses um pouco melhoradas, porque mais experiente? - Honestamente, estrangeiro que sou, pergunto porque não sei. Mas admito que essa não é a questão central. Cresci numa cultura em que não há tradição de touradas ou coisa que se assemelha. Aí, o debate da protecção dos animais passa por outros exemplos: As condições de vida nos centros de criação de gado, a taxa de mortalidade dos suinos devido ao stress, as condições na industria de produção de frango onde se cunhou o termo sugestivo e bastante apropriado de "Hühner-KZ" (Campo de Concentração de frangos), e, naturalmente, o sofrimento dos animais que servem como cobaias para experiências medicinais, na indústria farmaceutica e na indústria cosmética. Não tinha, até há pouco tempo, dedicado muito pensamento a essa questão, e foi a recente debate sobre o aborto que me levou de clarificar as minhas ideias sobre o assunto. Apercebi-me que a protecção contra o sofrimento não deve depender duma classificação abstracta, em última instância sempre arbitrária, mas antes ser universal. A arbitrariedade das nossas classificações levou-me a fazer um post que dizia: «A superioridade categórica da Como escrevi então, essa superioridade para mim não é nada evidente. Tem que ser demonstrada. E quanto ao sofrimento: Se há sujeito que possa sofrer, seja ele animal, humano ou máquina, ele merece a minha solidariedade e protecção contra a dor. Não decorre dai necessariamente veganismo, nem o fim de experiências medicinais, embora que aquelas para fins cosméticos já acho difíceis de justificar. A questão passa por uma ponderação dos valores em ambos os lados. Benefícos medicinais para pessoas, seres conscientes, por um lado, contra o sofrimento de animais de consciência limitada ou inexistente, por outro. Aqui se pode fazer uma escolha eticamente fundamentada. Já no caso das touradas tenho muita dificuldade de reconhecer à tradição e aos benefícios que as touradas trazem aos aficionados, valor suficiente para predominar contra o fim do sofrimento gratuito dos touros. Assim, sem grandes emoções, mais por um sentimento de dever de coerência intelectual, não posso deixar de apoiar esta campanha. |
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