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  • 27.10.05

    A Rua da Judiaria celebra o seu segundo aniversário.
    Não lhe faltarão felicitaçãos dos seus muitos leitores e colegas bloguistas.
    Já eu e outros o disseram noutras ocasiões, a Rua da Judiaria é (concedida a grande diversidade de critérios em que se pode basear um juizo de valor destes) se não o melhor, um dos melhores blogues da blogosfera portuguesa. Seguramente é um dos poucos que merecem mesmo sobreviver a efemeridade deste meio. Não só porque é belo e bem-escrito. Também pela densidade e qualidade do seu conteudo, que se deve muito ao seu caracter monotemático, caracter que se revelou, contráriando o receio do Nuno, como vantagem em vez de handicap. Olhado a posteriori, este receio foi bastante ingénuo, tendo em vista qual é o tema.

    Dito isso permito-me umas considerações pessoais. Liga-me ao Nuno, para além de termos começado esta aventura blogosférica mais ou menos ao mesmo tempo, e de termos reparado num e noutro logo a seguir, algo de especial. Não que queira equiparar o meu modesto Quase em Portugues à Rua da Judiaria - e aqui não me refiro ao sucesso de audiências, mas à envergadura completamente diferente do projecto bloguístico, - o que não quero esconder é que me agrada olhar estes dois anos de bloguismo também como uma história duma relacão.
    Liga-nos, embora de forma naturalmente diferente e, por assim dizer, pelos lados opostos, que somos ambos perseguidos pelos mesmos fantasmas. Ele o judeu, eu o alemão. A memória da Shoah acompanhar-nos-á ambos para sempre.

    O projecto do Nuno inclui-se na longa tradição judáica do exercício da memória como forma de assegurar a identidade, contrariando a ameaça permanente pelas circunstâncias precárias exteriores da sua vida como povo.
    O proposito do Quase em Português não é algo semelhante. Mas também para mim a questão quem sou tem ganho uma importância acentuada pela experiência do meu "exílio"; sendo no meu caso uma escolha livre e individual, o que para os judeus, de certa forma, há milénios passou à essência da sua condição de vida.

    Não foi o Nuno que me levou a escrever, com uma reincidência que me surpreendeu a mim próprio, sobre o holocausto. Eu senti a necessidade de reflectir sobre a minha condição de herdeiro daqueles que cometeram/não impediram este crime inimaginável, e tomei consciência de que ele será para sempre o pano de fundo para qualquer encontro meu com qualquer outro cidadão do mundo. E muito mais com um judeu.

    Aí soube-me muito bem o eco do Nuno. Soube-me e sabe-me bem a experiência, em concreto, de me poder encontrar e relacionar com ele, sem contornar o assunto, sem azedume, sem, não digo totalmente, mas quase sem complexos, no terreno da simples decência e humanidade. O que, pode parecer que não, mas exige um esforço de ambos os lados, generosidade e boa vontade, que no Nuno encontrei.
    Por isso, a Rua da Judiaria foi e é mais para mim do que o excelente blogue de divulgação da história e cultura judia, que é.

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