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19.10.05
Caro PMF, não fui eu que introduziu maniqueísmos no debate sobre o sentido ou não do apoio estatal a produção artística. Pode verificar isto através da leitura dos meus comentários ao post em questão. Digo o outra vez: O sucesso comercial duma obra de arte nem a desqualifica, nem a consagra, enquanto obra de arte. A arte e a produção cultural em geral, na qual incluo também a ciência pura, ou seja, aquela que não se destina a soluções de problemas para quais já se prevê procura, tem características que as distinguem de outros produtos ou serviços. O seu valor muitas vezes não é de hoje, mas um valor do futuro. É um investimento. Não me refiro, se falo de investimento, só ao mercado especulativo da arte, em que um Van Gogh que nem valeu pevido nos tempos da vida do seu criador, hoje vale milhões. Refiro-me, para além disso e antes de mais, ao valor do meme, que uma obra de arte ou de ciência pode constituir. Os girassois de Van Gogh, as ideias de Leonardo, as descobertas de Riemann ou até de Einstein tinham, quando foram feitas, um valor de mercado risível, se não zero, em contraste com o seu valor hoje universalmente reconhecido. Talvez seria mais fácil compreender isto se só falassemos da pesquisa científica. De que a nossa revolução informática e de comunicações, por exemplo, se fez baseada em investigações científicas que na sua altura não tinham nenhuma perspectiva realista de rentabilização: A teoria quântica. Felizmente houve universidades públicas, que permitiram a estes cientistas de fazer o seu trabalho inútil! Agora a minha convicção é de que as obras e descobertas artísticas contribuiram e contribuem tanto como as da ciência para a qualidade da nossa vida. E felizmente houve e há capitalistas inteligentes, seguramente não inimigos do mercado, que também o acharam e criaram fundações para assegurar condições de trabalho para aqueles que julgam potenciais criadores de memes valiosos. Que fizeram isto não pelo interesse no lucro, mas por interesse no futuro da comunidade humana e pelo motivo egoista e muito honroso de associar o seu nome a grandes proezas que o projectam para o futuro. Claro que este apoio às artes e às ciências é um investimento especulativo de alto risco, e que se paga uma descoberta válida com inúmeros investimentos falhados. Mas faz sentido investir. Também prefiro pagar menos impostos. Assim achava óptimo se o mecenato sozinho assegurasse a produção artística e a investigação científca. Em Portugal, não me parece ser isto o caso. E assim acho do interesse meu, e dos outros que vivem neste país, contribuir para preencher esta lacuna. Como investimento, para mim, para os outros, e para os nossos filhos. |
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