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16.3.07
The Training of English Children (Arthur Rackham) A erotização das crianças não é de hoje, e até floresceu na cultura mais púdica de que há memória, na vitoriana. Terei uma twisted mind, ao sentir um apelo erótico nesta imagem? Acho que não, mas pelo seguro apresento ainda uma desculpa: A rapariga maior parece-se de forma perturbante com a grande paixão da minha adolescência. Também compreendo como os críticos da publicidade da Armani Júnior chegaram a lembrar-se da pedofilia. Não precisei de servir-me de deduções abstractas para perceber que a foto da rapariga de tronco nu com o soutien de rendas transporta uma menságem sexual. Mas não faço o curto circuito entre uma roupa provocadora e o horror do abuso sexual da criança. Entre estas duas paragens há um mundo - e um inferno - inteiro. Mas quem vive, como os apóstolos da virtude, no temor do plano inclinado, quem se mantém tão longe do Eros em todas as suas manifestações, que lhe falta o discernimento para sobrever esta distância, para este o deslize está perigosamente perto. E no entanto, a fotografia merece crítica severa: Que o salto duma imagem erotizada de duas crianças para o cenário do horror do seu abuso sexual é dado, a isso ajuda elas serem crianças asiáticas, e que nós assim somos convidados a associá-las ao turismo sexual e à prostituição infantil. Isto sim, é um cinismo repugnante. Agora que se vêem crianças em soutien de rendas, não me choca. Deixamos uma vez de lado que estamos perante um anúncio. Não me custa nada imaginar as crianças vestirem-se assim, se a roupa estiver disponível, por vontade própria e em toda a inocência. A brincar, ao imitar as mais velhas. Para se acharem sexy. Podem ainda estar a descobrir o que isso é: sexy. E isto pode ser totalmente inocente, e continuará inocente, mesmo quando descobrem pelo caminho o erotismo infantil, que é natural e existe. Devia impedir essas brincadeiras? – Só me ocorre uma razão: para protegê-las dos olhares impuros dos adultos, e de, Deus proíbe, outras coisas piores que se seguem. Como pai, este argumento não deixa de me fazer impressão, embora racionalmente sei, um pouco demais. Apesar das histórias que se lêem e que se vêem na televisão, não me convenço de que vivemos num mundo cercado por tarados, e que em cada adulto haja um pedófilo a espreita para violar o meu filho. |
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