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  • 1.12.09
    A preservação de contextos identitários


    Samarra

    Num comentário ao post anterior, o JPT desafiou-me de explicitar a minha posição em relação à proibição dos minaretes na Suiça, tendo em conta a minha profissão de arquitecto. Depois a Maria João propôs que elevasse a resposta a post. Faço-o então. O post não é completamente idêntico ao meu comentário, e por isso não reproduzo aqui a pergunta do JPT. Também não o faço porque, nas caixas de comentários, o JPT e eu nos habituamos a discutir com ainda mais informalidade e confiança na mútua boa fé do que nos próprios blogues. E correspondentemente menos bem blindado do que talvez faríamos se nos soubéssemos num local mais exposto. Mas pode-se sempre consultar a conversa no local original.
    Aqui então vai:

    Estou a favor da preservação activa de contextos identitários, acho porém revelador se este contexto abrange o território integral de um país, e nem num canto duma zona industrial se encontra um lugar para um minarete. Proibir minaretes tout cour num país inteiro, ainda por cima com uma população muçulmana de 400.000 em 7.7 milhões, é discriminação religiosa.
    Como arquitecto, conheço bem e de perto os dilemas da preservação activa de contextos identitários (urbanos). Muitas vezes esta preservação, hoje prática corrente até na vila culturalmente mais insignificante, acaba por produzir kitsch no sentido de Kundera, que citei uns post mais em baixo. O desejo de nos acomodarmos em contextos conhecidos, facilmente descodificáveis e consensuais afasta a representação da nossa vida colectiva, que é e deve ser a cidade, da realidade dessa nossa vida de hoje. É uma coisa complicada que merece mais do que um post. Não defendo de todo que seja errado, por exemplo, que se use edifícios históricos por fins contemporâneos. Muito pelo contrário. O que quero dizer: As nossas sociedades evoluem, e isso deve ser acompanhado pela mudança dos contextos identitários. Se isso não acontece, entramos no domínio do kitsch e caminhamos em direcção à morte cultural. No caso da Suíca, um país tradicionalmente cristão, vivem entretanto 400.000 muçulmanos. 5,2%. Isso é uma evolução cultural significante? Com o voto do domingo a maioria dos Suiços disse ao mesmo tempo que é e que não quer que o seja.
    Voltando a falar como arquitecto: Se fosse responsável do urbanismo e instituído dos poderes correspondentes de uma câmara, imagino-me com facilidade a chumbar a pretensão da construção de um minarete. Por ferir a imagem consolidado do bairro, por violar parâmetros urbanísticos ou porque as emissões acústicas ultrapassam o aceitável na respectiva classe de espaço no PDM. Mas nunca o chumbaria simplesmente por ser minarete.

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