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25.11.08
Vivemos tempos de decadência. E os lamentos são omnipresentes que o declínio civilizacional já verificado se acelerá graças aos erros da pedagogia moderna que, ao negligenciar o rigor, a disciplina e a autoridade, transformou os nossos filhos em ignorantes inúteis e desmotivados. Reproduzo aqui uma entrevista que o SPIEGEL fez a um neurobiólogo que investiga o desenvolvimento das crianças. Também Prof. Hüther verifica nos jovens de hoje falta de motivação e iniciativa, mas identifica outras razões. SPIEGEL: Prof Hüther, o raio de acção das crianças, a zona onde brincam e onde se podem movimentar livremente reduz-se cada vez mais. Como reflecte-se isso no seu desenvolvimento? Hüther: Crianças sob vigilância permanente, que sempre são guiadas pela mão de adultos, são como animais domésticos, burros de estábulo, que já não conhecem a vida em liberdade. Da neurociência sabemos que nestas condições o amadurecimento do cerebro não se realiza de forma ideal. O cerebro acaba por ficar uma versão atrofiada do que podia ter sido. SPIEGEL: O que é errado em que os pais se meterem nas actividades do seu filho? Hüther: As intervenções dos adultos muitas vezes são de forma que a criança perde a coragem para as suas próprias realizações e descobrimentos. A curiosidade intelectual é estragada pela ostentação de saber* do adulto. [...] SPIEGEL: Como podem pais que vivem com a sua criança no meio de uma cidade ainda ser uma inspiração? Hüther: Podem sentar-se na bicicleta e ir com os seus filhos para locais onde ainda há algo para descobrir. Não museus, mas ferro-velhos, lixeiras! Ou prados, riachos, florestas – há muitas possibilidades. Pais podem juntar-se para criar dentro da sua vizinhança zonas em que as crianças podem ser criativas. Pois isso é brincar de crianças: conjuntamente criar coisas que não são prescritos por adultos. [...] SPIEGEL: Em vez de mais liberdade está a ser exigido – nomeadamente no contexto escolar – mais disciplina no tratamento das crianças. O que acha disto? Hüther: Do ponto de vista neurobiológico – e isso também sabe qualquer pedagogo que tem o coração no lugar certo – mais exigência de disciplina não produz mais disciplina mas apenas obediência, se tanto. Quem quer disciplina tem de dar às crianças a oportunidade de experienciar a utilidade da disciplina. Deviam ter oportunidade de resolver tarefas que elas proprias se colocaram. Por exemplo a construção de uma casa numa árvore. Aqui elas aprendem que não o conseguem se não tiverem antes reunidas as ferramentas correctas e feitos um plano. Crianças devem ser convidadas de se exercer como descobridores e criadores deste mundo – e isso conseguem melhor ao brincar, não nas aulas. SPIEGEL: A escola é hoje considerada a instituição em que as crianças aprendem as coisas que precisam para a sua futura vida. Hüther: A maioria dos pais, muitas escolas e até algumas administrações de ensino ainda não repararam em que a economia e também as universidades sofrem o pior com o facto de que lá chegarem jovens que não trazem motivação suficiente. Eles perderam irreparavelmente o prazer na descoberta e na criação. Tentamos sempre ensinar às crianças na escola conhecimentos de matérias. Embora já há cem anos os pedagogos indicaram que não é importante apenas transmitir às crianças bens culturais, mas despertar cada vez de novo o espírito que cria estes bens culturais. Isto significa que no fim não interessava a nossas escolas em primeiro lugar que todos dominem perfeitamente matemática, inglês e alemão ou outra coisa qualquer, mas que acabem por ser aprendedores e descobridores entusiasmadas de tudo, que contém matemática, inglês e alemão. Isto é algo totalmente diferente. Já os velhos gregos disseram: não se trata de encher barrís, mas de acender tochas. * “Klugscheisserei”, literalmente traduzido é “cagança de saber” |
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