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12.11.08
«Para lá da conjuntura e da espuma dos dias nesta história toda do ministério da educação e dos professores, o que perturba mesmo é ver que a democracia portuguesa não soube, nestes trinta e tal anos, tomar decisões sobre a importância da classe dos professores. Lembro-me da saga anual das colocações; lembro-me de como “ir dar aulas” era uma “saída” pós-licenciatura e não algo para que se tivesse sido preparado; lembro-me dos salários baixos; lembro-me do tique cultural que estabelecia uma hierarquia de estatuto e prestígio entre professor do secundário e professor universitário; lembro-me do ambiente miserável e atamancado das escolas. Digo “lembro-me” mas de certo modo tudo isto continua a acontecer. Uma democracia a sério aposta na profissão de professor - sobretudo do ensino básico e secundário - como profissão digna, com estatuto e prestígio, bem remunerada, estável, aliciante e preparada. Em vez disso criou-se em Portugal um proletariado diplomado, um diplo-proletariat, e com ele um universo de infelicidades e ressentimentos, com a agravante de se estar a lidar com uma coisa tão preciosa como a educação pública.»
(Miguel Vale de Almeida)
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