Nunca estive em Islândia. Tenho pena, pois agora é tarde. Conservei o fascínio por um paraíso remoto desde muito pequenino, desde os meus quatro anos de idade, quando comuniquei a minha mãe a minha decisão de ser, em adulto, capitão de alto mar, e ela logo aproveitou para me solicitar uma viagem para esta ilha do seu sonho, e ma descreveu: no meio do mar, um porto com marinheiros barbudos e meninas bonitas, e uma paisagem selvagem, fria e quente ao mesmo tempo. Desde então, nunca mais deixou de ser um lugar mítico para mim. Às qualidades elencadas pela minha mãe - vulcões e glaciares e
geysires e lagos quentes - acabei, com o tempo, de juntar outras. O facto de ser ilha, e uma relativamente pequena, e de ser um país com uma sociedade próspera, tolerante, feliz, com um nível de igualdade real inalcançado por qualquer outra, onde as mulheres são senhoras da sua vida, e nem por isso menos bonitas ou disponíveis - antes pelo contrário; tudo isso me explicava porque Islândia figurava no índice mundial de felicidade no primeiro lugar. Natural que uma pessoa como Björk só podia ser oriunda dali.
E agora dizem que Islândia está na bancarota! Não só os seus bancos. O país, o estado inteiro! - Não sei como hei de viver com isto. Parece a confirmação dos desmancha-prazeres que insistem que em terra não pode mesmo haver paraíso e se, qual Babel, algum lugar feliz se atreve de aspirar a isso, inelutavelmente acaba por ser castigado com um fim cruel.
Agora só resta ver quem comprará a ilha arruinada. A lógica diz-me que será um país com capacidade financeira, com excesso de liquidez. Os Emirados Árabes Unidos, por exemplo.