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7.9.08
O Luis Jorge acha que, «ao rejeitar Palin por ser uma hockey mom provinciana e beata, a opinião pública europeia revela-nos um preconceito simétrico do que atinge as minorias raciais.» Falando de mim e não em nome da opinião pública europeia, vou explicar porquê o Luis não tem razão. De facto, não gosto do provincianismo, mas ao contrário do que o Luis afirma, o problema está apenas nas suas opiniões. Provinciano não é quem mora na província e partilha os seus valores, costumes, tradições. Provinciano é quem toma o seu estilo de vida, a forma de organização social e as regras da sua comunidade por universais. Identifico esta mentalidade, fruto de falta de experiência com estilos de vida diversos, mais frequentemente na província do que no mundo urbano. Resumindo, o meu “preconceito” contra a província consiste em achar que o valor da tolerância está nela em menor conta do que nas cidades. Menos em Wasilla ou na minha terra da infância, Brüggen, do que em Nova Iorque ou Berlim. Claro que não considero isso preconceito. Preconceito seria se identificasse qualquer pessoa oriunda da província como provinciana ou, para usar a analogia do Luis, qualquer turco muçulmano na Alemanha como fundamentalista islâmico. Mantenho contudo, mesmo perante o risco de ser chamado preconceituoso ou algo pior, que os fundamentalistas islâmicos encontram-se com mais frequência entre os turcos muçulmanos na Alemanha do que na população geral, e mantenho ainda que existe um nexo entre ser muçulmano e ser fundamentalista islâmico. Bom, isto é só uma parte da crítica do Luis. O que ele afirma, é que só nos EUA, e não na Europa, podem pessoas como Sarah Palin ou Barack Obama chegar aonde chegaram, graças a organização mais livre da representação política e a uma cultura que valoriza, acima de tudo, o sucesso. Para além de achar que o Luis está a exagerar na permeabilidade da sociedade americana – nem Senador Obama nem Governadora Palin são propriamente outsiders do "sistema" –, acho que está a extrapolar indevidamente o que pensa de Portugal para toda a Europa. Sem dúvida há diferenças, e na "velha" Europa as estruturas sociais poderão estar mais rígidas do que no outro lado de Atlântico, e admito que cá possa ser mais difícil para uma pessoa "diferente" chegar ao topo na política do que lá. Mas, bem visto, não tenho a certeza. É verdade que nos EUA chegaram a presidente pessoas de origem relativamente humilde como Lincoln, Truman ou Clinton, mas também há dinastias como os Roosevelt, Kennedy, e Bush. E na Europa chegaram ao poder Willy Brandt (filho ilegítimo de uma caixa de armazém), Joschka Fischer (sem curso superior e filho de um talhante, retornado húngaro), Gerhard Schröder (orfão de pai e cuja mãe o sustentou como trabalhadora agrícola, e que foi vendedor numa loja de retalho até aos 22 anos, até concluir, num curso nocturno, o liceu). E para não falar só da Alemanha, veja-se a biografia de Tony Blair ou de Sarkozy, todos pessoas que não fizeram as suas carreiras cumprindo um destino que lhes foi vaticinado no berço. E mesmo em Portugal um Cavaco Silva chegou ao Primeiro Ministro e Presidente de República. Não é assim tão impossível ter sucesso político na Europa, mesmo sem pedigree. Ou estará o Luis a falar de algo outro ainda, da excepcional originalidade de Palin e de Obama, que o "sistema" europeu nunca teria deixado passar? Eu não a vejo. |
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