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16.8.08
11 de manhã. Estou num café-esplanada na Meia Praia, grato pela sombra, comprada com uma água tónica com gelo que derreteu há muito no copo, e tento ler "Possession" de A.S.Byatt. Não é fácil. As conversas nas mesas vizinhas são todas em línguas que compreendo – português, alemão, inglês – e de som bem alto. Finalmente os ingleses da mesa a frente saem, com os seus dois cães-de-água e um cuja raça desconheço. Passam pelo sinal que mostra um cão riscado por uma barra vermelha e dirigem-se ao mar. A conversa em alemão atrás de mim, agora sem concorrência, impõe-se na minha percepção: - Já viste estes cães tão giros? - Hmmm. - Mãe! - Hmmm? - Já viste estes cães tão giros? - Sim. - Viste como o cão-de-água pequeno olhou para mim? Tão lindo! - Hmm. - Mãe! - Sim? - Viste como o cão pequeno olhou para mim? Com se quisesse falar comigo! Viste, mãe? - Hmm. - Como se quisesse falar comigo! Sempre tive imenso jeito com animais, não é verdade mãe? - ... - Mãe! - Sim? - Sempre tive imenso jeito com animais, mãe, não tive? Viste mesmo como este cãozinho me olhou? - Sim, sim. - Lembras-te da cadela da Christina, mãe? - Hmm? - Da Christina, mãe! Da minha amiga Christina. Lembras-te da cadela dela? - Hmm. Não. - Ó mãe! Da minha amiga Christina! A cadela. Sissy! A cadela chamava-se Sissy! Claro que te lembras, mãe! Aquela que tiveram de levar ao veterinário para matar, porque não parava de borrar a casa toda, as alctifas e tudo! Não te lembras mesmo? Ela era tão querida, mãe, a cadela. Tão querida! E olhava-me exactamente como este cãozinho aqui. - Hmm, hmm. - Exactamente com os mesmo olhos tristes, como este cãozinho aqui. - Hmm. - Tenho mesmo jeito com animais, mãe, não tenho? - Sim, sim. - Gostava de saber onde se meteu o Klaus. - Hmm. - Devia já ter voltado.... Ó mãe, viste aquela com este chapeu amarelo? - Hmm. - Mãe, viste aquela lá com o chapéu amarelo? - Sim, vi. - A Anna disse que não me fica bem o chapéu que comprei ontem! - Hmm. - Mãe, sabes que a Anna disse que não me fica bem o chapéu que comprei ontem? - Hmm. Não, filha. - Mas fica-me bem, não achas, mãe? - Sim, acho. - Gostava de saber onde se meteu o Klaus. - Hmm. - Já devia ter voltado há muito. - Hmm. - O Klaus disse que queria ir sozinho. Vê-lá, mãe, isto lá ao fundo não é ele, ou é? - Não. Não é. - Não sei onde o Klaus se meteu. O Klaus gosta de fazer passeios na praia sozinho, sabes, mãe? - Hmm. - O Klaus disse que gosta de fazer passeios na praia sozinho, mãe. - Não sei porque gosta de fazer passeios na praia sozinho. Viro-me para olhar as minhas compatriotas, protagonistas do diálogo. A mãe, uma matrona na casa dos sessenta. A filha perto dos quarenta. |
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