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12.6.08
Exemplar o post e as explicações nos comentários de Rui Bebiano sobre a gaffe de Cavaco Silva, referindo a "raça" portuguesa. Não só concordo com a sua interpretação do acontecimento, o que acho exemplar é o bom senso e a falta de histeria com que trata do assunto, ao contrário de muitos críticos e defensores do discurso do Presidente. Uma gaffe revela o inconsciente de quem a comete. Mas é injusto e hipócrita extrapolar do vislumbre que uma gaffe permite, uma leitura daquilo que a pessoa "verdadeiramente" pensa e sente. Para além do lapsus linguae genuino, ninguém é coerente até ao ponto de que não tenha sentimentos e ideias contraditórias, inclusive algumas de que genuinamente desaprova. Claro que, como o Rui bem assinala, não se pode saber ao certo onde acaba uma gaffe e começa uma convicção séria, que escapa de um disfarce conscientemente mantido. E também gaffes têm preços políticos que podem ser elevados e inevitáveis. Os políticos alemães da pós-guerra o digam. Lembro-me de um presidente do parlamento alemão, Philipp Jenninger, insuspeito de qualquer simpatia com o nazismo, que referiu no discurso na ocasião do 50º aniversário do pogrom do 9 de Novembro de 1938, o "Faszinosum" (objecto fascinante) que foi o nazismo. O homem foi vilipendiado e obrigado a não renovar o seu mandato que estava prestes a terminar. No ano seguinte, na ocasião do 51º aniversário da "Kristallnacht", o então presidente da comunidade judaica na Alemanha, Ignaz Bubis, fez no mesmo lugar um discurso em que integrou trechos inalterados do discurso de Jenninger, sem que alguém se incomodava. Fê-lo para demonstrar como aspectos alheios ao próprio texto têm um peso derterminante na sua recepção. Por receios destes, ainda não comentei até hoje esta gaffe de Cavaco, mas faço o agora: Imaginem os efeitos que tivessem tido palavras semelhantes pronunciadas pela Angela Merkel... |
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