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13.3.08
A demissão do Governador de Nova Iorque por ter contratado os serviços de uma prostituta, tem me levado a tentar perceber porque na América um político num caso destes cai e na Europa não. A questão, antes de ser legal, é política, e antes de ser política, social, ou seja, uma questão dos costumes. Do domínio do que se faz e do que não se faz numa situação destas. Isto é tanto mais claro como a demissão não é a única consequência que Eliot Spitzer, à semelhança de outros antes, entendeu dever tirar. Os costumes exigiram-lhe não só a demissão, mas que a consuma através de um mea culpa público e - o mais estranho de tudo - que à essa humilhação à frente das câmaras da nação se submeta também a sua mulher. Porquê o casal Spitzer o faz? - A resposta óbvia, como contenção dos danos para a carreira política do ex-governador, não me satisfaz. Pode soar ingénuo, mas penso que entre outros motivos existe um que é não desprezível: Eles acham - toda a gente acha - que isso é the right thing to do nestas circunstâncias. O mea culpa público é um ritual de expiação, na melhor tradição evangélica, não perante Deus (perante Ele estamos perdidos ou justificados, faremos o que for), mas perante a sociedade. É um ritual de reafirmação do código moral vigente, dos valores que foram postos em causa pela infracção do homem. Assim está também explicada a importância da participação da mulher. Não é que se lhe atribua qualquer culpa neste drama, mas ela é indispensável para o ensaio da reparação da ordem. O pecador arrependido volta para o seio da família, e a família está lá para o acolher. Porquê este ritual parece tão natural aos americanos e tão dispensável, ou até abjecto, à maioria de nós europeus, tem uma explicação histórica e sociológica. A jovem e plural sociedade americana depende mais do que as europeias, que têm instituições e costumes milenares, do exemplo vivo das suas comunidades. E um político nos EUA, um detentor de um cargo público, é muito mais do que aqui o seu representante, a quem esta confiou o cargo e a quem exige não só que o exerce bem, mas também e antes de mais que continue a representá-la! Notem: não falo dos interesses que deve representar, mas da própria comunidade. É lhe exigido que seja um exemplo. Por ser um exemplo, ou ter pretendido com sucesso de ser um membro exemplar da sua comunidade, chegou onde chegou. Se falhou a ser exemplo, perdeu a legitimidade. Ora bem, por cá, quem quer saber da vida privada de um político, para além da habitual cusquice alimentada pelas media? Queremos, antes de mais, que ele faça o seu trabalho bem, e se lhe exigimos que seja honesto, fazemo-lo porque não queremos que nos engane no âmbito do seu ofício. Mas não porque queremos poder rever-nos nele. |
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