<$BlogRSDUrl$>




  • 16.5.07
    Inconfidência matrimonial

    A mobília e a decoração da casa tem sido desde sempre um assunto muito delicado no nosso casamento. Uma vez contei as minhas amarguras a um amigo, e ele disse-me: “Dou-te um conselho, fundado em longa e dolorosa experiência: Desiste! Deixa este assunto inteiramente ao critério da tua mulher. É a única maneira de salvar a paz e a felicidade no casamento.”
    É no entanto preciso acrescentar que esse amigo é engenheiro e não arquitecto. E a mulher dele é economista, não pintora e professora de educação visual.
    Tenho essa desculpa para o facto de que ainda me custa seguir o conselho do meu amigo, embora hoje, depois de anos, já conseguir, apesar de isso significar umas paredes em cor de laranja berrante, outros azul céu, etc.
    O problema é que a Margarida ainda me pergunta a opinião, e fica ofendida quando a dou. Sei que a culpa é minha. Porque ainda não aprendi o que realmente significa «ceder». Já devia tê-lo feito, pois é uma verdade antiga e universalmente comprovada. Ceder não é deixar o outro fazer como quer. Isso não basta. Nem é metade do caminho. É preciso achar bem que o outro faz e admiti-lo publicamente. Senão, é uma submissão incompleta e quase como inexistente, em todo o caso inválida. Se tivesse tido uma educação decente, nomeadamente religiosa, sabia isso. Qualquer membro duma igreja tem essa verdade elementar no sangue. Eu não. Fui incapaz de não dizer a minha opinião, a verdadeira, quando a Margarida solicitou a minha aprovação expressa, a frente de amigos, na ânsia de extinguir o nosso conflito que - como não havia de ser, uma vez que nos amamos - também a ela custa.
    Isto foi a pintura da casa, no ano passado. A seguir havia de escolher um novo sofá, e concordámos bastante rapidamente e bem no modelo Hamra da IKEA, em pele. Mas quando queríamos chegar às vias de facto e encomendá-lo, ela já não o queria ou, pelo menos, não na cor que ambos preferíamos: castanho avermelhado.
    Parece que eu tenha repetido, quando ela sugeriu a cor castanho avermelhado, na altura, em tom irónico "castanho avermelhado???". Não me lembro nada disto, quanto muito, tenho repetido "castanho avermelhado?", numa auto-interrogação que juro foi inocente. Enfim. Este melindre levou a dois meses sem sofá em casa. Mas tudo acabou bem. Entretanto temos o sofá castanho avermelhado e todos gostamo-lo e é confortável também.


    (Aditamento: Não ficámos nada sem sofá. Temos mais juízo do que portarmo-nos como acima relatado. Mas para uma boa história a verdade, também ela, as vezes tem que ceder um bocadinho.)

    This page is powered by Blogger. Isn't yours?

    Creative Commons License