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  • 2.3.07
    A vida dos outros

    Não estou especialmente habilitado a pronunciar-me sobre o filme, por ter vivido onze anos, e na época em questão, em Berlim (ocidental). O filme não é, como outros já notaram, sobre a RDA. Ele é uma fábula que explora uma temática universal mas circunscrita, e por isso não precisa de retratar exaustivamente a sociedade que lhe serve como pano de fundo. E não o faz. Sem desrespeito pela manifesta competência com que foram feitos os figurinos, os cenários, a luz, para recriar o cinzentismo e antes de mais o vazio da RDA destes tempos, o filme não chega a criar mais do que um esboço abstracto do mundo em que se desenrola a sua história. Com poucas alterações ao script, o filme teria dado, na sua falta de dimensão épica, uma perfeita peça de teatro, o que não o impediria aparecer em cinema, como mostra o exemplo de “Dogville” de Lars von Trier.

    Mas uma vez tendo desistido de procurar verosimilhanças, para além em apontamento, com a vida real no país do Socialismo Real, o filme é magnífico. Pela fábula, e pelos actores: Ulrich Mühe, ao personificar com discreta intensidade o agente da STASI que se deixa corromper porque, voyeur por dever profissional, a vida dos outros lhe passa a ser o último amparo no absoluto vazio da sua vida pessoal, quando o cinismo dos seus colegas e superiores acaba por arruinar de vez o seu amparo ideológico. E Ulrich Tukur, insuperável como personificação do mal, no sentido de Arendt: do carreirista jovial, amigo de amigos, enquanto não inconveniente, e inimigo de quem quer que seja, se for necessário. Uma pessoa normal para qual encontro, sem qualquer esforço, numerosos exemplos nos meus conhecimentos pessoais na Alemanha de hoje, ou cá em Portugal.

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