<$BlogRSDUrl$>




  • 18.3.07
    Irene Sendler



    Até hoje não sabia da existência de Irene Sendler. Agora sei, devido a um artigo do Spiegel.

    Irene Sendler era enfermeira quando os Nazis ocuparam Varsóvia e iniciaram a perseguição sistemática dos judeus. Começou a sua actividade de resistência ao falsificar documentos para possibilitar a judeus necessitados de continuar de beneficiar da segurança social. Em 1940, após o internamento dos judeus no gueto de Varsóvia, isso deixou de ser possível. Sendler e as suas colegas conseguiram então arranjar documentos que as autorizavam visitar o gueto regularmente, como técnicas de saúde, devido ao medo que os nazis tinham de epidemias, para quais as condições no gueto eram obviamente propícias. Quando em 1942 começaram as deportações para os campos de extermínio, Sendler criou um plano para salvar as crianças do gueto. Para que elas, depois da guerra, constituissem o núcleo duma nova vida judia, e assim contrariar o objectivo dos Nazis da aniquilação de tudo que era judeu. Contactou com a Zegota, uma organização de resistência que unia judeus e não judeus, e o director desta organização convidou Irene Sendler de criar e dirigir então o “departamento Crianças”.
    No gueto, iam de família em família e disseram-lhes que tinham a possibilidade de levar as crianças, clandestinamente, para fora. Muitos pais e mães não conseguiram separar-se dos seus filhos, e frequentemente, quando as enfermeiras voltaram no dia seguinte, para persistir na tentativa de convecê-los, já não encontraram ninguém.

    No total foram assim salvas cerca de 2500 crianças. Saíram escondidas debaixo da maca da ambulância, através do edifício do tribunal, que tinha uma entrada para a porta do gueto e outra para o lado “ariano”, ou pela canalização. Algumas foram anestesiadas com soporíferos e levado em sacos ou malas.
    As crianças foram primeiros levadas para “centros de segurança” clandestinos, onde lhes ensinaram de comportar-se como crianças polacas não judeus, depois foram distribuídas, com nova identidade, para famílias, orfanatos e conventos.
    Os nomes das crianças Irene Sendler guardou, em código, em papel de cigarro, que enterrou em garrafas no quintal. Assim queria assegurar a possibilidade da posterior restituição às suas famílias originais, que, como se sabe, todavia quase nunca sobreviveram.

    No 20 de Outubro 1943 a SS prendeu Irene Sendler na sequênçia duma denúncia. Desmontaram a sua casa até às fundações, mas não encontraram as listas. E Irene Sendler não cedeu os nomes nem na tortura, quando lhe esmagaram os pés e lhe partiram ambas as pernas. Foi condenada a morte, mas pouco antes do fuzilamento, a Zedoka conseguiu subornar um guarda da SS que a espancou e atirou para fora do camião que a ia levar para a execução.
    Conseguiu manter-se na clandestinidade até ao fim da guerra.

    Em 1965 foi homenageada por Israel, em Yad Vashem, como uma “justa entre os povos”. Mas na Polónia, nos cinquenta anos que se seguiram à ocupação nazi, ninguém lhe ligava muito. Era uma resistente, mas não era comunista. Só nos anos noventa começou a ser reconhecida no seu país e objecto de merecidas homenagens.
    Mas ela não se sente heroína. Diz que ainda hoje sofre com a sua consciência: porque não fez mais e melhor do que fez.

    Não foi eu que foi salvo por ela, mas mesmo assim, mais do que admiração lhe tenho ainda gratidão: São pessoas como Irene Sendler que são, como alguém disse, a beleza do nosso mundo.

    (Mais sobre Irene Sendler aqui, em inglês.)

    Etiquetas: , ,

    This page is powered by Blogger. Isn't yours?

    Creative Commons License