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28.2.07
Não calculava, quando recentemente escrevi que há muito já não me senti tão estrangeiro em Portugal, que essa sensação se repetisse tão brevemente. Mas repetiu-se, ao assistir a essa curiosa discussão no Corta-fitas sobre o “cri-cri”: crianças e criadas. Pessoalmente nunca tive contacto com um mundo em que há criadas, no sentido como o João Villalobos aparentemente ainda tem. Julgava isso coisa de passado, uma ficção de telenovelas portuguesas, que exploram o sonho pequeno burguês da vida da “verdadeira” burguesia, ou de novelas inglesas como Bellamy, que exploram a nostalgia pelos tempos em que ainda vigorava a ordem natural das coisas. Disse que pessoalmente não conheço esse mundo, mas guardo memórias familiares: a minha avó paterna era criada no tempo do Imperador Guilherme II, tal e qual nos termos que o João descreve. O que me surpreende não é que há quem recorre hoje, se pode pagá-lo, a serviços domêsticos. Também o faço. O que me surpreende é a aceitação acrítica das relações de poder e dependência, que a elogiada familiaridade do mundo da criadagem inevitavelmente implica. Se terá as suas vantagens para ambos, tê-las-á com certeza mais para uns do que para outras. Olho para a ilustração bem-disposta do menino João, e é com arrepio que compreendo o alívio da minha avó quando, ao casar com um carpinteiro, finalmente pôde fugir às insinuações - ou mais: isso nunca me confessou - do Senhor da Casa, e às do seu filho varão. Que não sei se se chamou João. |
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