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  • 14.2.07

    Um blogue ao que até então injustamente não tenho prestado a devida atenção. Um membro daquela irmandade pequena e discreta que zela pela honestidade intelectual, através do único meio disponível: o seu exercício.
    Como exemplo, deixo aqui uma longa citação:

    «Quando falamos para um universo indiscriminado de destinatários, há sempre o risco de sermos mal recebidos e entendidos pelo último dos boçais. É um dos riscos do proselitismo, nunca sabemos se verdadeiramente conseguimos uma partilha de valores através da simples partilha de palavras, porque elas podem ter sentidos muito diversos para muito diversas pessoas – para pessoas com bases culturais muito variadas. É por isso que sou profundamente avesso a partidos, doutrinas e camaradagens ideológicas – temos que fingir que aturamos gente que não interessa para nada e que imaginamos que não nos entendeu, tudo para a contarmos entre «os nossos».
    Daí também a restrição necessária das «comunidades de discurso», a perspectiva levemente elitista e etnocêntrica que têm sido adoptada pelas últimas evoluções do modernismo e do pós-modernismo – significando-se que não vale a pena pensarmos que é possível um diálogo útil e frutífero para lá de um círculo de educação (e por vezes de alfabetização).
    Se usamos de humor, levam-nos à letra; se usamos argumentos a contrario, concluem o contrário do que queríamos provar; e se recorremos à reductio ad absurdum, julgam-nos capazes das convicções mais absurdas e repugnantes, aquelas mesmas que queríamos repudiar. E então em termos de ironia nem vale a pena falar: basta pensar na infindável procissão de «inteligentes» que ainda hoje tentam ferrar nas canelas de Voltaire, incapazes de captarem o «registo» da ironia...
    Nada a fazer, é excluí-los do discurso, por muito que isso magoe as suas vaidades e as suas solidíssimas convicções de semi-alfabetizados.
    +++
    Isto a propósito de um intruso qualquer que se esconde por detrás de um apelido simpático (se é o dele, devo confessar que conheci o ramo honrado da família em Lanhelas, a caminho de um passeio na Serra de Arga) e que exprimiu a sua frívola convicção de que Peter Singer é um abortista e infanticida. Belo sintoma de ignorância e estupidez: qualquer pessoa que tenha lido qualquer coisa de Peter Singer sabe que ele usa os argumentos do aborto e do infanticídio como «argumentos moralmente repugnantes» para nos alertar para a grave incongruência da nossa moral selectiva, que se indigna (justamente) com umas coisas ao mesmo tempo que aceita (injustamente) outras, como por exemplo o sofrimento gratuito infligido aos não-humanos. Exactamente o contário da apologia do aborto e do infanticídio, talvez mesmo o argumento mais poderoso contra estas aberrações morais.
    +++
    A imbecilidade e a superficialidade não têm limites. Não há diálogo possível.»


    Aditamento:
    Ao aperceber-me, entretanto, da pessoa eminentemente culta que é o autor deste blogue, quero acrescentar que considero uma genuina honra poder contá-lo entre os meus leitores.

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