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  • 22.2.07
    O embaraço

    Depois de treze anos já perdi a inibição de dizer o que penso do estado das coisas em Portugal. É que me habituei bem a vossa tolerância, que é, sem ironias, exemplar. Escudo-me também no facto de que cá trabalho, pago impostos e contribuições para a segurança social, e que os meus filhos são cidadãos portugueses. (O primeiro há de ir em breve para o Dia da Defesa Nacional.)
    Mas há casos em que ainda me imponho uma autocensura, onde por respeito pelos vossos sentimentos ainda me abstenho de dizer o que penso. Não é por receio de represálias que, como disse, não haveria. É por delicadeza. É por saber que o que diria não seria de todo novidade e já é motivo de embaraço de muitos dos meus amigos e, como julgava, de todos os portugueses civilizados, cultos e intelectualmente honestos, se eles alimentam um mais que legítimo sentimento patriótico.

    Como já devem ter imaginado, serve esta introdução precisamente para abandonar esta minha reserva. Decidi abordar o assunto melindroso, mesmo se fará corar quem goste de orgulhar-se do seu país, lhe crie comichão nos raízes do cabelo e lhe atrapalhe a respiração. Peço desculpa, mas tem que ser.
    Prescindo do recato porque vejo pessoas que até hoje não identifiquei como aliadas ou representantes deste objecto de embaraço, a sair em defesa aberta dele, admitindo aspectos incómodos, mas menorizando-os perante os alegados benefícios e méritos.
    A eles sinto me impelido de responder: caros amigos, vocês sabem melhor. Sabem que o problema não é só estético. Ver um líder político fazer aparições carnavalescas, haja carnaval ou não, dizer boçalidades e barbaridades intelectuais que ofendem a inteligência de quem concluiu o 4º ano é humilhante, é verdade, mas não é o pior.
    O problema também não é só político. Que ele conseguiu habilmente, e neste caso com todo o mérito, encaminhar o dinheiro dos contribuintes do continente para a sua ilha, é demérito dos políticos do continente e não o dele.
    O problema não é o Dr. Alberto João Jardim. É a cultura, o modelo civilizacional, que ele representa e impõe a sua ilha desde há trinta anos. O que mais envergonha é o que as crianças desta ilha aprendem com o seu exemplo e com a realidade por ele enformado sobre o respeito pela coerência, pela liberdade e pela dignidade humana.

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