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8.1.07
Como cliente da TV Cabo já me tinha deparado com o programa Extreme Makeover, que, ao que me disseram, agora também chegou a Portugal, numa versão local, com candidatas e candidatos(?) portugueses. Para quem não o conhece: É uma reality show em formato de reportagem e acompanha uma pessoa na transformação profunda do seu aspecto exterior. Nesta intervenção não só participam a esteticista e o cabeleireiro, mas também o estilista, e com destaque, o cirurgião plástico. Nós os telespectadores testemunhamos o processo, assistimos às conversas preliminares para definir as diversas intervenções, desde as correcções dentais, peelings, implantes, lipo-aspirações etc., segundo um plano que pretende concentrar o maior número de operações, que a candidata fisicamente aguenta, num espaço de tempo que por razões de dramaturgia é apertado. Pois o programa funciona assim: A candidata é retirada por algumas semanas do contexto da sua vida para regressar em apoteose. Marido, filhos, pais, amigos e colegas de trabalho são juntos num local para assistir à reaparição glamorosa da cinderela transformada. E não faltam caras incredulas, gritos de alegria e lágrimas de felicidade. O Programa termina com uma recolha de declarações finais dos envolvidos. E se não antes, aqui percebe-se que os candidatos sentem ter passado por uma experiência existencial da sua vida, com impacto comparável ao casamento ou ao nascimento dum filho. De facto, nunca posso deixar de reparar como a alocam, quase sem excepção, no plano do sublime, do espiritual. Visto por um não envolvido, os resultados são evidentes mas longe de milagrosos. Não são casos de cirurgia plástica reconstrutiva, de que se compreende um imperativo clínico. Não se transforma aqui monstros em beldades. Pelo contrário: como o programa se dirige ao mainstream, ou seja a pessoas como tu e eu, tem de ser e é de facto sobre pessoas como tu e eu. Admito que me faz impressão a enorme importância que todos os intervenientes no programa dão ao aspecto físico. Arrepio-me com as imagens das operações. E fico impressionado pela evidente disposição das candidatas para aguentar tamanha carga de dor física. Esta convida tomar como bitola para o sofrimento não físico, que as terá levado a submeter-se a este processo. Mas dá para entender também isto: A dor é um complemento necessário para possibilitar o efeito de catarse, que então valida e enobrece estas transformações. Quando, há uns anos, vi pela primeira vez fotografias do trabalho artístico da Orlan, achei-a, dispensando de tanga intelectual, uma doida varrida. Hoje, penso melhor. Não explora ela de forma lúcida e necessária as novas relações que estabelecemos com o nosso corpo? Adenda: Não devia esquecer o valor fundamental da sua arte, que consiste na autonomização estética. Se ela sofre, ela sofre como mulher livre, não é vitima, como as outras, da pressão de adaptar-se a critérios de aparência física que lhes são impostos por outros! |
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