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25.1.07
«Existe algo que me deixa perplexo nos defensores do sim ao aborto. O caso talvez mais paradigmático é o deste post e deste post do Lutz. Basicamente o raciocínio é o de que todas as formas de vida são equivalentes e que portanto matar um criança ainda por nascer é igual a matar um vitelo.» É curioso que uma pessoa de boa fé - e sabes, Timshel, que te tenho por uma pessoa de boa fé mais do que qualquer outra - consegue entender-me tão mal como é o caso. Pensei que fui cristalino, se não nos últimos dois posts que citas, no conjunto do que tenho escrito no QeP este ano sobre o assunto. O que tentei demonstrar é que o postulado da superioridade categórica da espécie humana é, sem mais suporte argumentativo, tão válido ou inválido como o postulado da superioridade da raça branca. Com outras palavras, se a vida humana vale mais do que a vida animal, isso tem que ser demonstrado. E apelos a sentimentos de pertença e instintos biológicos, como a resposta automática à “cuteness” (“Kindchenschema” segundo Konrad Lorenz) não são argumentos. Não decorre da recusa de reconhecer, à priori, o superior valor da vida humana que todas as formas de vida são equivalentes. Isso é da mais elementar lógica. Posso considerar e considero haver diferenças no valor de vidas, humanas ou animais, não em função da arrumação categórica - aqui humanos: absolutamnente válidos; ali animais: de valor inferior e relativo - mas dum critério universalmente aplicável. A humanos, animais, robots, extraterrestres, plantas e pedras. Como já disse repetidas vezes: este é a presença de consciência e sentimentos. Por isso não posso concordar com a tua hierarquia na defesa da vida: agora o embrião, e depois, porque não, certos animais. Não tenho duas gavetas, uma de cima para os O que é mais curioso neste modo de raciocínio é a conclusão. Em vez de avançar na máxima protecção da dignidade da vida (agora o embrião, e depois, porque não, a protecção da vida de certos animais e a proibição de comportamentos que provoquem sofrimentos aos animais) avança no sentido oposto: se a vida é toda igual vamos matar o mais possível. Disse lá em cima que estou confiante da tua boa fé, e continuo, mas seria melhor não escreveres muitas vezes coisas como esta última frase. Então eu algures tenho advogado matar o mais possível? Acho o meu critério melhor e mais humano, “humano” no sentido da empatia com quem sofre. E sim, acho que matar um bezerro é mais cruel do que matar um embrião. Porque ele sofre mais. Porque faz mais sentido falar dum “ele” que pode sofrer do que no caso do embrião sem sistema nervoso. E sim, já muitas vezes me perguntei se um dia os nossos trisnetos olharão com a mesma incompreensão para o nosso comportamento brutal perante os animais como nós para o esclavagismo dos nossos trisavôs. Nota: Não sou vegetariano, nem vegan, e não tenciono tornar-me num nos próximos tempos. Racionalmente decorre do meu critério (protecção de seres com consciência e sentimentos) uma defesa de animais contra o sofrimento, mas não o veganismo. E se um dia me tornaria num, porque, como admito aqui, a coerência, o respeito pela vida levado às últimas consequências me atrai, isso não mudaria a minha posição sobre a penalização do aborto. Pois seria uma decisão pessoal e religiosa. E basear nas minhas convicções religiosas, que não são fundamentáveis racionalmente e não precisam de sê-lo, a exigência a outros de mudar de vida, era o que faltava! Infelizmente não falta mesmo quem faz exactamente isso. |
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