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  • 28.10.06
    A Verdade sobre a "Liberdade, Igualdade, Fraternidade"

    Timshel, admito que a tua resposta apanhou-me desprevenido. Há aqui tantas afirmações que oiço pela primeira vez, premissas e conceitos históricos tão longe daqueles que eu aprendi e tomei por mais ou menos consensuais, que ainda não rearrumei a minha cabeça.

    Aprendo que a máxima “liberdade, igualdade, fraternidade” está erradamente creditada à burguesia, pois na realidade devemo-la ao cristianismo - posso concluir: à Igreja? Será que a revolução burguesa, ao avançar em concreto com a implementação destes valores, foi afinal uma manifestação histórica deste nucleo duro do cristianismo de que falas, que, como dizes, sempre os tinha, apesar de até então pouco ou nada disto se tinha notado na vida dos fieis no decurso de milénio e meio? - Não pode ser, porque a burguesia é, como também dizes, a fonte de todos os males, logo, só por uma perversa e diabólica inversão dos sentidos pode ela ter usurpado estes valores, tão completamente, que hoje todos, excepto uma ínfima minoria esclarecida, acham que a liberdade, igualdade e fraternidade são valores da burguesia e filhos dum iluminismo tendencialmente anticlerical. Uma mentira histórica que ainda aguarda ser devidamente desmantelada.

    Aprendo que afinal o Nazismo e o Estalinismo são ideologias burguesas, só não se assumiram como tais! Que o Nazismo foi burguês porque defendeu o Darwinismo Social, sendo esse, como me ensinas, a característica principal da burguesia. (Vou pegar no meu Kant, Goethe, Thomas Jefferson, e re-arrumá-los na minha biblioteca. Por engano relacionei até hoje as suas ideias com a burguesia.)
    Também o Estalinismo foi burguês, aprendo eu, porque foi marxista! Sendo o Marxismo uma ideologia burguesa, porque é materialista e determinista e ainda porque o próprio Marx foi um burguês. Que nunca me lembrei disto antes!

    E assim acabo por compreender que, no fundo, devem-se à burguesia os milhões de mortos do Holocausto, dos delírios racistas, também os do Gulag, os das experiências económicas estalinistas, sejam elas reformas agrárias falhadas ou a bem sucedida, embora algo dispendiosa em vidas humanas, política de colonização forçada da Sibéria.

    Também a supressão do livre pensamento, a Gestapo, a Checa, os processos espectáculo de Moscovo dos anos 30 são fenómenos característicos da sociedade burguesa, dos que a humanidade teria ficado poupada, se ela se tivesse mantida no seio da Igreja, e se confiada ao seu tradicional guardião benevolente da liberdade, igualdade e fraternidade, que foi o Santo Ofício.

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